O Pássaro do Gelo escrita por MaNa


Capítulo 26
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Eu sei. Eu disse que Camila viria nesse capítulo, mas resolvi deixa-la para o próximo capítulo. Bom, as aulas voltaram, o que significa que vou ficar mais lenta do que já sou. Mas prometo que vou terminar essa fica. Ela NÂO vai parar. Mesmo com longos intervalos não a abandonem e comentem, por favor, preciso saber quem está lendo e o que está achando.

Aproveitem!



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Capítulo 24

Mayta estava quase morta. De novo. Foram cinco horas de tortura. O velho queria que ela se transformasse em pássaro, mas o pássaro do gelo resistiu. Só a lua sabia de onde tirara tanta força. Tinha sido judiada, furada, agredida fisicamente e psicologicamente. Ele lhe dizia que se não cedesse iria sentir mais dores, piores, do que a de seus dedos quebrados um por um em duas horas. Afirmava que ela não devia lutar. Por alguma razão a ele desconhecida fora expulsa por seu povo, ninguém a queria ou amava, então por que resistir? Por quem? Seria tão mais fácil se entregar...

Mayta quase morreu três vezes, quando a faca a perfurou na barriga. Porém o monstro a manteve viva nos últimos segundos com lágrimas de fênix que tinha guardado dentro de um frasco. Mayta não queria nem imaginar o que aqueles pássaros deviam ter sofrido para haver tantas lágrimas em um recipiente.

Ele queria que ela se transformasse antes de morrer e ressuscitasse. Mas a garota decidira que seria melhor morrer de vez e permaneceu na forma humana. Antes isso do que se entregar a aquele louco.

Contudo, por mais forte que fosse, não conseguiu conter as diversas lágrimas que o infeliz teve o prazer de coletar. Ele depositou uma gota nas feridas que provocara em seu corpo e percebeu que não surtiu efeito algum. Olhou intrigado para a mulher.

–Será que você é mesmo uma fênix? Tudo em você grita ser apenas uma mulher comum. Extremamente resistente, devo admitir, e muito, muito bonita, mas comum.

– Eu sou só uma mulher humana. Você está perdendo o seu tempo. - Ela o olhou nos olhos. Se ele acreditasse naquilo talvez a matasse de uma vez. Sabia que não a libertaria, não depois de quase a ter matado três vezes.

Ele pareceu pensar.

–Não, não minha cara. Você pode até ser diferente, mas é um pássaro. Seus olhos...

–Não são vermelhos.

–Não, mas trazem um brilho intrigante... Algo diferente! E meu amigo jura que já a viu transformar-se. Ele não costuma estar enganado.

Mayta sentiu muita raiva com a referência ao caçador. Fora ele. Ela sabia agora. Ele matara sua tia Almira. Sem perceber seus pés congelaram uma parte do piso da sala. O “açougueiro” (como ela denominava o homem nojento a sua frente) arregalou os olhos.

–Ora, ora... Vejo que a erva que lhe demos está perdendo o efeito. Que interessante... Você congela as coisas, não é, senhorita?

A garota percebeu tarde demais. Quando ia tentar usar congelá-lo o homem foi mais rápido e forçou mais da erva a entrar no organismo de Mayta. Logo não tinha acesso aos seus poderes. Aquela maldita planta agia muito rápido.

–Pronto. Assim é melhor. Vamos continuar? Isso está ficando interessante.

Mayta fechou os olhos em desespero, apesar de ter mantido o rosto sério. Não daria a satisfação de deixa-lo ver seu medo.

...

Horas depois Ícaro foi chamado e levou a mulher para a cela, a prendendo como antes. Notou hematomas e alguns dedos quebrados que começavam a se curar por causa das lágrimas de fênix ministradas pelo açougueiro.

“Só para serem quebrados de forma pior amanhã”, não conseguiu evitar o pensamento.

A moça se encolheu o máximo que as correntes permitiam.

–Já vou. Você pode ficar de olho nela? Vou fazer uma viagem de três dias. Quando voltar retomaremos o que começamos. - Sorriu.

O rapaz apenas assentiu e o velho saiu.

Ele se virou para a garota.

–Você escapou de ser torturada por mais três dias consecutivos.

Ela não disse nada em resposta, apenas virou o rosto fechando os olhos. Ícaro reparou na ferida que causara no ombro da moça. Não estava cicatrizando, o velho provavelmente queria que alguma coisa permanecesse aberta para enfraquecer a mulher. Imprudente. Afinal podia pegar uma infecção e matá-la. Também já perdera sangue demais, mas o “cientista” tinha plena confiança nas lágrimas de fênix que tinha guardado no armário.

Ícaro sentiu pena da mulher, por breves segundos, antes de lembrar que sua família fora destruída pelas fênix. Sentou do lado de fora da cela e ignorou-a . Apenas cumprindo sua função de guarda.

Mayta dormiu.

...

Quando acordou já era noite novamente.

–Quanto tempo eu estive dormindo?- Perguntou para si mesma.

–Um dia inteiro.

Ela virou-se assustada e percebeu o rapaz encostado na grade. Calou-se. Recusava-se a conversar com qualquer humano.

–Você fala.

–...

– Ou falou. Enfim, por pouco não achei que era muda. Gritos não contam como palavras.

Ele arrepiou-se quando se lembrou dos berros que vinham da sala do velho.

–...

–Ah, por favor. Eu também não gosto de você e sei que o mais prudente seria ficar calado. Mas passar um dia inteiro como seu guarda e não falar com ninguém é desgastante. Sinto falta de ar puro.

–Imagine eu.

Ícaro se surpreendeu. No fundo não acreditava que aquela criatura o responderia. Ela o olhou nos olhos e o rapaz notou novamente o quanto achava o brilho deles inquietante. A moça era diferente de tudo que já vira. Não parecia um pássaro em nada, mas era mágica, não tinha como ser completamente humana. Aqueles olhos eram as evidencias perfeitas.

–Estou presa, com dor, sendo torturada e sem ninguém. Eu nunca fui “livre”. Nunca me senti livre. Eles não deixavam... Mas não era presa, agredida ao ponto de quase morrer ou maltratada dessa forma. – Ela não entendeu bem o motivo de ter respondido. Talvez estivesse com raiva pelo rapaz achar está sofrendo só por passar um dia sem falar com ninguém. Que idiota. Ele não fazia ideia do que era sofrimento.

– Sua espécie a agredia?

–...

–Então?

–Não é da sua conta.

Silêncio.

–Quem é você?- Perguntou quase para si mesmo.

Ela apenas se virou e voltou a ignora-lo.

...

Algumas poucas horas depois o rapaz falou novamente.

–Sabe, pássaro, acho que você devia comer o que lhe trouxe ou vai morrer de fome.

Ela fitou o pão seco e a água.

–É o que planejo.

–O quê?

–...

–Morrer de fome?

–...

–Por quê?- Perguntou intrigado.

–Porque não existe razão para viver.

O rapaz observou atentamente a garota. Estava com os olhos nublados. O corpo estirado no chão de forma desconfortável.

“Ela desistiu”. Pensou.

–Coma.

Silêncio.

–Coma, pássaro imbecil. Se você morrer de fome as lágrimas não a trarão de volta. Você sabe que elas só curam feridas...

A menina sorriu pela primeira vez. Um sorriso seco.

–Já disse que é o que quero. Vou ser livre.

O rapaz encostou-se à grade calado. Ela tinha esse direito. Por alguma razão se colocou no lugar da garota. Faria o mesmo.

Então a deixou em paz.

...

Durante a noite Mayta tremeu violentamente. Ícaro a ignorou por longas horas, mas logo a visão da moça contorcida em agonia o tirou do sério. Era um caçador, mas nunca permitiu que uma criatura, por mais nojenta que fosse, tivesse uma morte agonizante. E era isso. A garota estava morrendo.

–Chega.

Entrou na cela e a segurou nos braços com cuidado. Estava muito quente e pálida. Queimava de febre. O ferimento tinha infeccionado afinal. Ele pegou as poucas lágrimas de fênix que tinha guardada e derramou sobre o ferimento que começou a cicatrizar. Sentou, logo em seguida deitou com cuidado a moça em seu colo.

“O que raios estou fazendo?” Se perguntava frustrado consigo mesmo. “Ajudando uma pessoa”, algo dentro dele respondia. “Ela não é uma pessoa...”, mas seu subconsciente não aceitava aquela última sentença de modo que se manteve cuidando da garota.

...

Já era manhã quando ela abriu os olhos e deu de cara com o seu carcereiro. Percebeu que a cabeça estava apoiada na perna do rapaz e que as mãos dele acariciavam seus cabelos.

–Finalmente acordou. – Ele notou que ainda passava os dedos pelos longos cabelos da moça e parou abruptamente. Começara aquilo a noite, enquanto tentava acalma-la. Não sabia bem porquê, mas mesmo depois dela ter parado de tremer ele manteve a caricia.- Agora, você precisa comer.

–Não. – Respondeu com a voz rouca. Sentia como se tivesse um bolo na garganta.

–Está certa, precisa beber água primeiro.

–Não quero. - Resmungou de novo e tentou levantar, mas estava muito fraca e sentiu pontadas na cabeça antes mesmo de conseguir se mexer.

–Não está em posição de escolha. Não passei essa noite acordado cuidando de você para permitir que morra.

– V-você ... Cuidou de mim?

Ele suspirou e pegou um copo de barro com um pouco de água o depositando nos lábios da mulher que tentou, em vão, protestar. Logo estava engolindo o líquido com ânsia.

–Calma, pássaro, vai se afogar!- Ele riu involuntariamente.

Talvez tenha sido a risada leve dele, talvez fosse o cuidado quase carinhoso, talvez fosse apenas a solidão e a saudade de um amigo que a fez pronunciar suas próximas palavras.

–Mayta.

–O quê?

–Você me perguntou quem sou. Mayta. Não me chame mais de pássaro, por favor.

–Seu nome?

Ela assentiu e voltou a beber a água.

Ele a fitou por um longo instante antes de pegar o pão.

–Muito bem, Mayta, me chamo Ícaro. – Deu um pequeno riso- Chega de água, hora de comer alguma coisa. - Ele ofereceu o pão e a garota comeu, dessa vez, sem protesto algum.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?

Bjs



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