O Pássaro do Gelo escrita por MaNa


Capítulo 20
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Então, espero que gostem!! Estou tentando me redimir com vocês. ;)



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Camila acordou ainda cansada. Andou até o quarto da mãe, pegou os capítulos no armário.

“Vou ler só mais um e depois vou a escola”. Pensou.

Deitou-se e abriu na página marcada.

Vougan voou durante horas pensando no que poderia fazer para salvar Mayta, aonde arranjaria as tais provas de que tudo não passara de um acidente? Que, de fato, a prima tivera apenas a intenção de ajudar?

Elvira acreditava que ele era um insensível, mas não o era. Estava louco com a morte da mãe. Sempre achou que aquela mulher, uma das fênix mais poderosas que já conhecera, sobreviveria a tudo. No fim bastou uma flecha.

Seu peito ainda ardia com a lembrança da pena entre as cinzas e os olhos de desespero da prima. Ele também desconfiou de Mayta, por um instante, pensou que ela traíra a todos. Escutara a voz da moça do lado de fora da caverna e a vira antes de todos saírem do esconderijo. Quando a encontrou, debruçada sobre as cinzas de sua mãe, um lado do rapaz gritou que Mayta tivera a tão especulada vingança.

Mas os olhos verdes azulados, quando ela começou a contar o que ocorreu na clareira, não conseguiam esconder o desespero, a tristeza e a vergonha. Ele soube. Mayta não fizera de proposito.

E só tinha um jeito de provar. Precisava encontra-lo, a única pessoa que chegou antes deles e viu a mulher morrer: seu pai. Precisava encontrar, com urgência, Breno. Mayta não tinha muito tempo.

...

Elvira tomou um bom banho no lago perto de casa. Deixou que a água lavasse a alma rancorosa. Logo em seguida foi ao delas.

A Vila estava lotada. Todas as vinte uma Vilas estavam ali, mais de 6000 fênix. Elvira observou curiosa a aglomeração na “praça”. Tão diferentes...

As pessoas costumavam contar apenas as características em comum da sua espécie: Cabelos vermelhos nas mulheres, olhos vermelhos em ambos os sexos, peles variando do dourado ao negro... Os homens sempre negros.

Bom, que estava naquele espaço comprovava que não era bem assim. Mulheres com cabelos encaracolados, cacheados, lisos, volumosos, ralos, curtos, longos, carecas... De fato todas tinham cabelos em diferentes tons de vermelho e peles variando de escuro com tons dourados e vermelhos até o negro. Os homens, apesar de serem todos negros, traziam a pele levemente dourada e às vezes até avermelhadas, cabelos em diferentes formas, assim como as mulheres. Lábios, nariz, olhos... Todos tinham dezenas de características próprias. Traços negroides, asiáticos, indígenas, europeus, latinos, entre uma infinidade, em suas expressões.

“Mas ninguém se parece com Mayta”. Pensou a mais nova Rainha. A prima era branca como a neve, com aqueles cabelos da cor do ébano e os olhos esverdeados com tons gritantes de azul.

Quando jovem a moça tinha viajado entre as Vilas. Sua mãe fizera questão de fazê-la conhecer todo o reino. Conhecer seu povo. Entretanto, já fazia anos desde então e agora Elvira estava em uma posição muito importante e complicada. Estava com medo.

Quando perceberam a presença da jovem todos pararam as conversas, os afazeres, e esperaram.

Ela respirou fundo.

–Sejam bem-vindos nesse dia fatídico. Os ritos de morte por aqueles que faleceram nessa batalha serão feitos assim que a lua surgir. As famílias terão de acender uma vela para cada parente caído no campo e, ao fim da noite, todas as Damas acenderão uma fogueira logo que as primeiras horas de amanhã chegarem – respirou fundo- para a Rainha Almira Nix de Fe. Nossa décima rainha desde que o mundo foi criado e iluminado.

Todos a fitaram com pesar. Olhos tristes, expressões cansadas.

–Em seguida, eu entrarei em todas as vinte e uma fogueiras, uma delas acendida por mim. Passarei uma hora dentro de cada. As manterei vivas enquanto dentro delas estiver e as apagarei assim que sair. Ao fim, dormirei pelas três horas restante, formando o ciclo de um dia. Então, virei a vocês, não mais como a princesa Elvira, mas como sua Rainha.

O povo aplaudiu. A tristeza pela rainha caída sendo mascarada pela empolgação de se ter uma nova líder.

Elvira, por sua vez, estava muito nervosa. Aquele ritual era cansativo e perigoso. Não por causa do fogo. Fênix não se queimavam. Porém era exaustivo, ela precisaria de muita energia para manter as fogueiras acesas... E houve uma Rainha, há muitos milênios atrás, que não conseguiu completar o rito e morreu no caminho. Na decima quinta fogueira.

“Eu vou estar com você.” Vougan prometera na noite passada, antes de dormirem. Aquilo há reconfortava um pouco. Saber que ele estaria lá.

A futura governante saiu lentamente, sendo seguida pelas vinte Damas. Estava na hora de julgar a prima e o grande salão as aguardava.

...

Mayta tinha sido presa na manhã anterior. Um dia inteiro durara até as Vilas chegarem. Um dia inteiro de caminhada até o seu destino. Muitas lágrimas já haviam rolado e grande parte fora da fênix negra. Estava dentro de uma das “celas” na primeira caverna do silêncio. A menos profunda das três, mas, mesmo assim, absurdamente funda.

Entrar nas cavernas do silêncio era como andar para dentro de um abismo sem fim. E, se chegasse ao fim, pensaria que não veria mais a luz do sol ou escutaria nada além de gostas de água escorrendo de alguma pedra perdida. Imploraria por misericórdia quando entendesse que seria jogado em um poço. Poderia gritar, chorar, berrar. Ninguém o escutaria. Você perderia a noção do tempo. Da vida. De si próprio.

Enlouquecia.

Não existe luz alguma, a não ser que levasse uma tocha. Contudo, prisioneiros não tinham direito a luz.

Dizem que a terceira caverna do silêncio, a pior de todas, com metade de um dia já tirava do prisioneiro toda a vontade de viver. Morreria em três dias, de puro desespero.

Entretanto, (acredite se quiser) Mayta não implorou. Não gritou. Não tentou resistir. Estava apavorada e resignada demais.

Seus pés estavam ralados, machucados pela longa caminhada (parte da tortura, pois poderiam ir voando e fazer o trajeto em uma hora). Vinte e quatro horas andando sem parar, rumo a um poço. Quando chegaram, e lhe enfiaram a erva goela a baixo, ela ameaçou desmaiar. Porém manteve-se firme. Desceram-na pelo poço. Seu coração apertou-se. Seu estômago embrulhou. Ela rezou. Rezou para manter a sanidade apesar de tudo.

Estava perdida.

A erva anulava todos os seus poderes. Poderia virar um pássaro, a única habilidade que mantinha... Mas para quê? O poço era gradeado em cima. Preferiu permanecer na forma humana, mesmo sentindo-se fraca e submissa graças aquele veneno. Muito fraca.

Ficar de olhos abertos ou fechados não fazia diferença.

Dormiu.

Sonhou que estava sufocando. Morrendo sem ar em diversas situações. Na forca, condenada pelo povo, no poço ou afogada.

Mayta não soube ao certo quanto tempo passou dormindo. Quando finalmente abriu os olhos (com tristeza, pois aquele lugar era de longe muito pior do que morrer) escutou uma voz.

–Pássaro do Gelo?

Ela sorriu, pela primeira vez, sabe-se lá desde quando.


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Notas finais do capítulo

E então? Tenham pena dessa pobre alma e comentem!!

Bjs



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