No mesmo instante em que o sol brotou no céu, ele se prontificou:

–Então, vamos? -Perguntou ele.

Ela que estava fingindo estar dormindo surpreendeu-se:

–Como você sabia que eu estava acordada?

–Pela sua respiração. -Sorriu ele.

–Eu sabia que você viria me incomodar mal o sol nascesse... -Reclamou Marwolaeth se levantando. -Já está pronto?

–Prontíssimo!

–Eu continuo não achando isso uma boa ideia mas...acho que não tenho o direito de te proibir de ir...

–Não se preocupe...vai dar tudo certo...provavelmente... -Respondeu ele.

Ela apenas riu levemente e dirigiu-se para a porta. Ele fez o mesmo e no momento em que iria fechar a porta, algo o impediu:

–Esperem aí! -Gritou Sasesu. -Nós vamos com vocês!

–Não...isso é algo meu...vocês não precisam vir... -Respondeu Kurokawa.

–Cara, poderia parar de nos tratar como crianças? -Continuou Sasesu. -Nós não precisamos da sua proteção, nós não somos tão fracos quanto você pensa! Você tem que entender que não é só você que se preocupa conosco, não é só você que quer nós estejamos seguros...

–Dói, Kurokawa...dói. -Interferiu Lizzy. -Dói ver você lidando com todos os seus problemas sem nunca pedir a nossa ajuda, dói não poder ajudar você mesmo que você tenha nos ajudado tanto...

Ele não soube como responder:

–Lizzy...

–Então...nos deixe te ajudar...dessa vez? -Perguntou ela.

–É isso...nós também queremos ajudar! -Exclamou Ike se projetando na porta.

Não havia como recusar:

–Seus chatos...-Reclamou ele estendendo sua mão. -Venham!

Os três deixaram um grande sozinho escapar...

Todos eles caminharam em direção àquele objetivo...

No caminho, a cabeça de Sasesu encheu-se de pensamentos. Ele mantinha uma relação de amizade e ódio com Kurokawa, eles haviam vividos vários momentos felizes juntos e Sasesu também admirava a força de Kurokawa. Mas perdido no meio disso morava um sentimento de ódio...Ele invejava a força de Kurokawa, ele odiava a forma de como tudo dava certo para Kurokawa...

Mas além disso tudo, ele odiava a forma como Kurokawa não entendia os outros, ele simplesmente pisava em qualquer um que entrasse em seu caminho. No fundo, ele temia que a hora em que ele fosse simplesmente descartado por Kurokawa chegasse...

Essa era uma das faces de Kurokawa que não aparecia com frequência, mas Sasesu havia visto-a uma vez. Kurokawa possui um grande talento e é capaz de realizar a grande maioria das atividades sem muito esforço, mas por isso ele nunca foi capaz de entender aqueles que não conseguiam realizar algo. Por ser talentoso ele não entendia aqueles sem talento.

Ao ver uma pessoa falhar um atividade que ele considerava simples, ele logo jogava seu desprezo sobre esta, Sasesu odiava...e temia isso. Mas Sasesu considerou que naquele momento, estes pensamentos eram desnecessários e apenas se focou em seu caminho.

O caminho não era nada irregular e apenas algumas fracas criaturas apareciam até que um outro trecho se iniciou. A partir dali, avançar nesse mesmo ritmo tornou-se quase impossível. O trecho que vinha a seguir era repleto de animais fortes e agressivos, um inclinação elevada, um terreno pantanoso e várias armadilhas:

–Ei, Marwolaeth, porque o terreno ficou repentinamente tão difícil de se atravessar? -Perguntou Kurokawa.

–Aqui é onde começa o território do Blut, ele soltou essas bestas e colocou armadilhas para dificultar a passagem. -Respondeu Marwolaeth. -Podemos dar a volta e entrar pela ponte que é por onde as pessoas entram, mas isso vai levar um bom tempo...

–É...eu estou com pressa...façamos assim, eu vou na frente com o Sasessu limpando as armadilhas e monstros que encontrarmos e vocês vêm depois.

–Certo...Vamos! -Aceitou Sasesu.

Os dois avançaram com bastante dificuldade naquele terreno pantanoso enquanto lutavam com várias criaturas e desativavam armadilhas. Era óbvio que apenas o cansaço os esperava, mas Kurokawa mantinha-se imponente. Ele recuperava sua energia muito mais rápido do que gastava e logo não se cansava.

Rapidamente ele já se encontrava aproveitando a situação, desviando dos ataques de seus inimigos com um sorriso estampado no rosto, de fato, um maníaco por adrenalina. Ele rapidamente limpou todos os monstros e armadilhas da área sem muitas dificuldades:

–Foi mais rápido do que eu pensei...-Disse ele sem demonstrar muito cansaço.

Ele olhou para frente e estendeu sua mão para Sasesu:

–Vamos, ainda temos que limpar a próxima área!

Mas ele não possuía tais habilidades, apenas lutar contra todos aqueles monstros já foi suficientemente desgastante para deixa-lo muito cansado:

–Espera aí...deixa eu descansar...um pouco...-Transpirava Sasesu.

–Ah, pare com isso, vamos logo! Não temos para perder! -Insistiu Kurokawa.

–Espere...

Ao perceber que a situação de Sasesu era verdadeira, seu olhar mudou:

–Sério? Você realmente está cansado? Pare com isso...isso é impossível!

Sasesu tentava falar mesmo estando extremamente cansado:

–Qual é a parte disso...que você...não entende? -Retrucou Sasesu. -Nem todos são fortes...ou talentosos como você...

–Pare com isso você, Sasesu! -Gritou Kurokawa. -Se você se concentrasse em treinar mais...com certeza não estaria assim agora...

–Não fale do que você não sabe! -Gritou Sasesu com seu último fôlego. -Você não sabe o quanto eu me esforço para ficar mais forte...

Kurokawa apenas ignorou o que Sasesu disse e continuou falando:

–Se você continuasse treinando...não estaria tão FRACO.

O mundo de Sasesu parou ao ouvir aquela palavras. Tudo em que ele acreditava se enfureceu. A pessoa que ele mais admirava acabara de o humilhar, acabara de insulta-lo da pior forma possível. O ódio corrompeu seu corpo e ele retirou forças do impossível para atacar Kurokawa. Ele levantou-se e desferiu um soco com todo seu ódio e força no rosto de Kurokawa.

Kurokawa foi ao chão rapidamente e Sasesu apenas pode deixar seu corpo cansado ajoelhar-se em cima dele. Ele respirou fundo para dar a suas palavras iradas vida:

–Não ouse dizer isso! -Gritou ele com todas as suas forças. -Eu aguentaria ouvir isso de qualquer um por mais que me ferisse, menos de você! Você que sempre teve talento e tudo o que desejou! Você que desconhece a frustração continua! Você que consegue tudo o que quer com facilidade! Você...você não tem o direito de dizer isso...

Por mais irritado que Kurokawa estava por ter sido atingido, a tristeza nas palavras de Sasesu impediam-no de contra-atacar. Ele simplesmente manteve-se calado e imóvel debaixo dos lamentos de seu amigo.

Passado alguns segundos, ele empurrou Sasesu para longe de si e levantou-se:

–Não espere que eu vá pedir desculpas...eu não acho que estava errado... -Falou Kurokawa sem hesitar. -Vamos deixar essa discussão para outra hora, agora temos coisas a fazer.

Sasesu ignorou aquele ódio que percorria seu corpo e trancou-o bem fundo em coração:

–Você tem razão...

Mesmo cansado, ele continuou seguindo em frente...