O Enigma do Semideus escrita por Lyli


Capítulo 6
Capítulo Cinco – Alguém Para Chamar de Pai


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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À medida que Andrew voltou para os amigos, o homem avançou pelo recinto e sua presença foi ignorada pelos cães infernais que rosnavam para o grupo de heróis. Isso porque ele obviamente os controlava. Os jovens o observavam sem conseguir acreditar. A sua aura de comando ecoava pelo local e fazia com que todos tivessem medo e admiração ao mesmo tempo, junto de uma incontrolável vontade de adorá-lo. Andrew, ainda tremendo, correu até seus amigos. O homem não era nada como tinham imaginado, mas mesmo assim o reconheceram. Ninguém precisava falar para que soubessem que aquele era Hades.

O senhor do submundo deu mais dois passos a frente, fazendo com que o grupo desse dois passos para trás. Logo estariam com as costas na parede. O olhar sério e frio de Hades deixava todos inseguros e Doug chegou a pensar que ele fosse exterminar todo o grupo de novos heróis ali mesmo. Num gesto impensado, abriu os braços protegendo seus novos amigos sob sua aba. Hades riu debochado. Ele fez com que ia sentar e um bocado de fumaça negra saiu do chão, formando o desenho de um trono que acolheu Hades. O homem se sentou confortavelmente no seu trono improvisado e tratou de observar os semideuses na sua frente. Seu olhar caiu sobre cada um deles julgando e quase rosnando quando encontrava semelhança de um de seus parentes nos olhos dos garotos e garotas. Para a maioria ali, ele não se parecia em nada com o que você imagina que Hades possa ser. Ele usava uma calça jeans com os joelhos rasgados e coturnos marrons, junto de uma blusa branca de mangas curtas. O corpo magro tinha uma tatuagem aqui e ali e o cabelo preto de tamanho médio era acolhido por um chapéu cinza. Além disso, ele usava algumas correntes, pulseiras e cordões. Parecia um velho roqueiro e não o senhor do Mundo Inferior. Mas mesmo assim conseguia intimidar a todos apenas com seu olhar. O primeiro movimento que fez depois de sentar no trono de fumaça foi estender uma mão ao seu lado para receber a cabeça de um cachorro infernal e fazer carinho no animal. Olhou pra Doug parecendo que o esperava falar. Este respirou fundo e começou uma explicação.

– Senhor Hades, eu... – Ele não sabia como explicar sem dizer realmente que tinha acabado de traí-lo. – Estes são meus amigos e os trouxe aqui para...

Hades levantou uma mão, rindo de Doug com o canto da boca. Quando o rapaz se calou, o homem se levantou e foi andando até o grupo com as mãos nas costas. Parecia assustadoramente calmo. Chegou bem perto dos heróis, que agora tinham as costas na parede e tremiam de medo. Abaixou a cabeça para olhá-los de perto e se entreter com o medo deles, deixando que seu hálito de enxofre os intimidasse. Os olhos negros e cheios de morte de Hades deixaram as pernas de todos bambas. Quando ele se cansou de amedrontá-los, deu meia volta e virou as costas para o grupo, falando pela primeira vez.

– Eu chamo meu assistente para lhe dar mais uma tarefa que não passa de sua obrigação... – Quando ele falava, o chão parecia tremer e era como se três ou quatro vozes ecoassem ao mesmo tempo, deixando a cena bem macabra. – E, além de não ser atendido, recebo de uma das minhas bestas a notícia de que um garoto idiota invadiu meu palácio. – Virou-se novamente para o grupo. – Um garoto vivo. – Pronunciou a última palavra com desgosto. – Por enquanto. – Sorriu pela primeira vez e todos preferiram que ele tivesse permanecido sério. – Eu deveria queimar a todos agora mesmo, principalmente o que tentou entrar na minha sala.

Lançou um olhar para Andrew que o entregou. Todo o grupo pareceu confuso, menos Pam, que perdeu a compostura mesmo estando na frente de Hades. De repente ela esqueceu que o deus estava presente e segurou Andrew pela gola da camisa em um súbito de fúria.

– Você tentou invadir a sala de Hades? – Ela o puxava com força e seus olhos transbordavam raiva. – Vamos morrer porque você não conseguiu segurar a droga da bunda no chão? O que você tem na cabeça? – Avançou nele com socos. – Nós temos uma porcaria de missão e você estragou tudo!

Henry foi o único que se prontificou a separar a briga dos dois, porque não gostava de confusões. Os outros ainda estavam bastante assustados com a presença de Hades ou – no caso de Callie – riam e batiam palmas.

– Sim, eu tentei! Ele nos descobriu por minha causa. – Andrew admitiu, se soltando de Pam. – Mas eu precisava saber. – Foi corajoso o suficiente para dar um passo a frente, mas seu corpo se retraiu quando encarou Hades. Mesmo assim, respirou fundo e se dirigiu ao deus raivoso. – Você me reconheceu, não foi? – Hades franziu a testa, mas não negou. – Quando me viu, quando olhou nos meus olhos. Eu sei que você me reconheceu, eu senti. – Ensaiou dar mais um passo a frente, mas se contraiu. Hades o olhava calado e pensativo. – Eu sempre soube... Aqui dentro eu sempre soube. – Bateu no lado esquerdo do peito. Aos poucos, todos entendiam o que estava acontecendo. – Caramba, você é exatamente como eu imaginava...

Sorriu pra Hades e, por mais incrível que possa parecer, o deus pareceu desconsertado.

– Não sei do que falas, garoto. – Respondeu, sem acreditar nas próprias palavras. – Acredito que a loucura já tenha lhe acometido. Não é qualquer um que aguenta o Mundo Inferior.

– SABE SIM! – Andrew gritou, sem medo de ofender a presença de Hades. Estranhamente, quando o grito saiu, pareceu que duas ou três vozes o acompanhavam, exatamente do jeito que Hades falava. Dessa vez o deus arregalou os olhos e todos os presentes tiveram certeza, inclusive ele. – Não haja como se não fosse meu pai, porque eu sei que você é! – Os gritos de Andrew agora começavam a se unir a lágrimas que refletiam a vida difícil que ele teve. – Um pai idiota que me abandonou, mas meu pai!

– Não fale assim comigo, garoto! – Hades o repreendeu e, por um instante, ele realmente pareceu um pai dando bronca no filho. Agora os dois se encaravam com as costas tensionadas. – Exijo que me respeite!

– Você não me respeitou quando me abandonou sozinho na rua! – Hades arregalou os olhos. – Acha que não sei? Posso não me lembrar da vida que eu levava antes, mas lembro muito bem de ter sido jogado num beco qualquer aos sete anos de idade! – As revelações sobre a vida de Andrew tornavam tudo ainda mais intenso e o grupo de heróis se limitava a apenas observar o acerto de contas entre pai e filho e sentir pena do amigo. – Eu tive que trabalhar desde cedo pra não morrer de fome! Eu durmo no chão frio e ainda tenho que agradecer porque tenho um teto, já que antes eu não tinha! Você tem noção do que é uma criança se abraçar até dormir todas as noites porque não tem uma família pra fazer isso? – Ele parou a gritaria para respirar por um segundo. Voltou a falar perdendo a voz, quase sussurrando. – Porque não tem alguém para chamar de pai?

O deus não ia chorar. Não, claro que não. Essa era uma peculiaridade servida apenas aos seres mortais. Mas, mesmo dentro de sua superioridade sombria, ele pareceu ao menos... tocado com as palavras de Andrew. Pareceu que ele sentia tudo o que seu filho sentia. Abriu a boca diversas vezes para que nenhum som se materializasse. Quando ele finalmente disse algo, apenas uma voz se manifestou, soando menos macabra que antes.

– Vão. – Deu as costas ao grupo, saindo da caverna de Doug. O seu assistente se apressou para mostrar uma saída alternativa ao grupo, mas Andrew não quis saber disso. Ele avançou sem medo e pegou no braço de seu pai, impedindo que ele partisse.

– Por favor, eu só te peço uma coisa. – Falou, agora num tom que implorava por atenção e carinho.

– Permito que se vão sem que os mate e ainda ousas me pedir favores? – Hades perguntou, querendo parecer amedrontador.

– É uma coisa ridícula pra você... Mas muito importante pra mim. – Disse entre lágrimas. – Me reclame, por favor. Me assuma como seu filho, mostre que tem orgulho de mim. – O lábio tremia de insegurança diante da face fria de Hades. – Eu lhe imploro, por favor.

Pai e filho ficaram em silêncio por um momento de tensão enquanto o resto do grupo deixava o recinto com ajuda de Doug.

– Não. – Hades falou sem pena. – Enquanto caminhar com este grupo de propósito tão ordinário, nem pensar.

Hades se foi, levando consigo sua fumaça maligna e seus cães infernais, não se dignando a olhar para trás. Quando o homem sombrio desapareceu, Doug puxou um Andrew chorão e partido ao meio.

– Hoje não, amigão. – Tentou fazê-lo se sentir melhor. – Dê um tempo pro velho Hades.

Andrew foi seguir o grupo que ele tinha deixado para trás e os alcançou enquanto ainda tentava secar o rosto com as mãos. Ninguém soube o que dizer para fazê-lo melhorar daquela difícil situação. Henry colocou uma mão em seu ombro e Callie se limitou a lhe enviar um meio sorriso de longe. Mesmo sendo gestos simples, se tornaram importantes e significativos para Andrew.

– Subindo essa rampa vocês encontrarão uma saída de Hermes lá em cima. Um toque de Andrew abre a porta. Ou de... – Sorriu pra Pam, que já sabia de quem o rapaz poderia estar falando. – Bom, na hora certa vocês saberão.

Abraços e apertos de mão marcaram a despedida do grupo. Curiosa, Pam indagou ao amigo:

– Ele não vai te punir por nossa causa?

– Provavelmente. – Doug deu de ombros. – Mas qual a pior coisa que ele pode fazer? Me matar e me mandar pro Mundo Inferior? – O grupo soltou uma gargalhada alta que até amenizou os sentimentos de Andrew. Começaram a subir uma rampa de pedra colada numa parede. Antes que Henry subisse, Doug parou ao seu lado. – Atena, huh? – Henry lhe respondeu com um sorriso e acenou positivamente com a cabeça. – Legal. Mande lembranças pra mamãe quando vê-la.

Deixou uma mão no ombro de Henry e logo partiu. O coração do rapaz se apertou ao perceber que Doug era seu irmão.

Já lá no alto da rampa, Pam deu passagem para que Andrew abrisse a porta. Bastava que ele tocasse a parede. Todos do grupo – ao menos os que ainda não sabiam de quem eram filhos – tinham vontade de tocar na parede para saber se talvez eram filhos de um certo deus mensageiro. Andrew, ainda inseguro sobre cada sentimento borbulhando dentro de si, aproximou-se da parede, mas não teve a chance de tocá-la. A parede se mexeu quando ele estava a cerca de dez centímetros dela. Uma passagem oval se abriu e o grupo arregalou os olhos com a elegância do homem que entrou.

Era um senhor alto e magro que aparentava beirar os trinta, mas todos sabiam que ele tinha alguns milênios a mais que isso. Usava um terno azul que demarcava sua cintura fina e uma gravata vinho. Segurava uma caixa grande debaixo dos braços com o desenho de um caduceu nela. Quando notou os jovens, passou uma das mãos grandes de dedos finos pelo cabelo castanho-escuro que tinha um grande topete e sorriu pra eles.

Mas o sorriso maior era de Joe, que não parava de encarar aquele que obviamente era Hermes, seu pai.


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Notas finais do capítulo

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