O Enigma do Semideus escrita por Lyli


Capítulo 7
Capítulo Seis – Sob a Benção de Hermes


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Todos se calaram na presença do deus. Mesmo os que não consideravam o cargo de mensageiro dos deuses assim tão importante ficaram admirados com sua magnitude e beleza. Ele com certeza era divino. Bonito e com um sorriso e olhos cativantes, Hermes chamava a atenção sem se esforçar. Era inevitável notar o quão óbvia era a semelhança entre ele e Joe. Desde o início todos sabiam que ele era uma criança de Hermes, desde os clichês até as habilidades menos específicas como a capacidade de dobrar qualquer um com sua lábia. Agora a semelhança física também os assustava. A pele do ser imortal não era bronzeada como a de Joe, mas se podia notar como o formato dos rostos era parecido, especialmente pelo queixo e nariz. Também tinham aquele mesmo brilho cativante nos olhos, um brilho que os ajudaria a convencer qualquer um de qualquer coisa.

– Acho que conheço vocês. – Hermes disse, segurando um sorriso no canto da boca. Parou um segundo para pensar e levantou um dedo indicador, apontando para Pam. – Seu pai. – O corpo dela gelou ao pensar nele. – Está furioso comigo. Pra variar. – Ele deu de ombros, tranquilizando a garota. Mas no fundo dos olhos azuis de Pam podia-se ver a insegurança da certeza de ter desapontado seu pai. – Permitam que eu me apresente. Eu sou...

– Hermes. – Finalizou Joe, com um sorriso admirado. Ele observava o homem sem nem mesmo piscar. O deus lhe respondeu o olhar com um sorriso tímido. Definitivamente Hermes o reconheceu. – O mais maneiro de todos os deuses de todos os tempos.

Hermes riu, passando a mão pelo cabelo mais uma vez.

– É... É o que dizem. – Callie não se conteve e precisou revirar os olhos para o jeito meio convencido de Hermes, ao som das risadas de Andrew. – Realmente é difícil se comparar a isso tudo.

– Não exagera. – Callie respondeu. – Achei o Hades bem mais gatinho.

Hermes a olhou e apertou os olhos por um segundo. Inclinando-se a Pam, sussurrou:

– É quem eu to pensando? – Ela arregalou os olhos para a sagacidade do deus e assentiu. Hermes assoviou sarcástico. – Boa sorte. – Riram juntos mais uma vez. Voltando para a postura intacta, Hermes observou o grupo. – Temos aqui um belo time de heróis, hein. – Disse com sarcasmo, colocando a mão livre no quadril. Observou a todos e pôde reconhecer a semelhança física com seus pais. Quando viu a pequena Lillie, que segurava papel e lápis de cor nas mãos, teve a certeza imediata de que seu pai devia ser muito orgulhoso dela. – Aposto que são todos filhos de Zeus! Saudações, meio-irmãos!

Risadas altas ecoaram. Ninguém dali podia deixar de se encantar com a irreverência do imortal. Era o alívio que precisavam depois de toda aquela tensão com Hades.

– Acho que não há irmãos seus aqui, mas sobrinhos, com certeza. – Pam informou. – Bem, além de mim. – Henry, Julian e Andrew se entreolharam, pois a dúvida sobre quem seria o pai de Pam permanecia. Era um filho de Zeus. Nem Apolo e nem Hermes. Joe teria entrado no momento também, caso ainda não estivesse hipnotizado pela presença de Hermes. – Henry é de Atena e Andrew de Hades.

– Hades? – Hermes levantou uma sobrancelha. – Isso faz de você meu... primo? Desculpe, toda essa desordem familiar me confunde muito facilmente. – Olhou para Henry agora. – E você é a cara dela. – Deu-lhe um soquinho de leve no ombro. – Vai ver quando conhecê-la. Se tudo der certo e o Enigma for revelado ao mundo, todos os deuses poderão assumir seus filhos sem problemas. – Piscou pra Joe nada discreto. – Eu mal posso esperar por esse dia. – Todo o grupo ficou em silêncio por um momento. – Então, vieram ver o belzebu emburrado? Achei que ele não gostasse muito de seu propósito...

– E não gosta mesmo. Quase nos queimou e jogou no Tártaro. – Pam riu. – Só estamos vivos graças a Andrew. – Colocou uma mão no ombro do rapaz que sorriu fraco, ainda decepcionado com sua primeira experiência paterna. – Viemos aqui ver Doug, ele continua trabalhando nos livros e nos disse para ir até o Alasca. Rick pode estar lá.

Hermes riu, abaixando a cabeça e a balançando.

– Aquele safado. É tão óbvio, como não pensou nisso antes, Pam? – A garota se encolheu envergonhada porque não teve inteligência o suficiente para adivinhar e chegou até a duvidar daquela informação. – Como vocês pretendem ir? – A animação do grupo se esvaiu aos poucos quando pararam para pensar. Até mesmo o grande sorriso de Joe chegou a se fechar. Não faziam ideia de como chegar ao Alasca. Hermes riu da expressão perdida deles. – Que beleza, hein! Acho que posso ajudá-los. – Soltou a caixa que tinha debaixo do braço, mas esta ao invés de cair no chão flutuou no ar e girou no próprio eixo, diminuindo de tamanho até sumir. Colocou uma mão dentro de seu paletó e retirou um celular. Os olhos de todos brilharam, mas ele fez que não com a cabeça, sinalizando que não iria lhes mostrar como um celular se torna um caduceu hoje. Digitou alguma coisa no telefone e uma luz azulada começou a sair da tela, quase cegando o grupo de semideuses. A luz se expandiu e desenhou um retângulo no ar. Foi se tornando cada vez mais espessa até que virou matéria. Hermes pegou o pedaço de papel que o foco de luz havia se tornado e guardou o celular. – Isso é um mapa da rota mais simples possível até o Alasca, saindo da Califórnia.

– Califórnia? – Perguntou Callie, se intrometendo. – Mas estamos em Michigan.

O deus dos ladrões levantou a sobrancelha ao mesmo tempo em que a saída atrás dele se fechou. Poucos segundos depois se abriu de novo e a paisagem do lado de fora era completamente diferente. Era de manhã e parecia ter uma praia ensolarada na frente deles.

– Minha porta, minhas regras. – Ele riu junto do time de heróis. Entregou o mapa nas mãos da líder do time e sorriu de boca fechada para Pam. – Desejo-lhes toda a boa sorte do mundo.

A menina olhou pro papel na sua frente sorrindo, mas estranhou quando não viu nada além de um pedaço de pergaminho velho completamente intacto. Abriu o mapa e nada. Nadinha. Nem sequer uma palavra escrita.

– Espera, isso não é um mapa.

– Como não é? – Joe se meteu, olhando também pro papel. – Ficou cega? Olha aqui as rotas, dicas... Caramba, esse mapa é o máximo!

Pam estava prestes a esfregar o papel em branco na sua cara, porque não ia deixar que debochassem dela, mas Henry resolveu se meter e tirar o papel da sua mão.

– Acho que o mapa não é pros seus olhos. E nem pros meus. – Entregou o papel a Joe, fazendo Hermes sorrir. Ele era mesmo filho de Atena.

– Que seja. – Ela respondeu com um olhar raivoso. – Obrigada, tio.

Sorriram um para o outro. Hermes passou uma mão em seu cabelo, como um irmão mais velho que bagunça o cabelo da irmã pirralha. Adoraria conhecê-la melhor e sem dúvida faria isso quando tivesse a chance. O que Apolo lhe contara era incrível, e sua boa impressão sobre a sobrinha apenas aumentava ao saber que tinha incluído um de seus filhos em sua equipe. A caixa que havia sumido se materializou na sua frente e ele a pegou. Piscou para o grupo e seguiu seu caminho sem dizer mais nenhuma palavra.

– Espere! – Parou no caminho e olhou para trás, encontrando Joe lhe chamando. – Eu acho... Acho que vou precisar de uma ajuda.

– Sim? – Hermes respondeu, imaginando que o rapaz iria pedir para ser reclamado. Ele tinha essa regra de apenas reclamar uma criança que lhe trouxesse extremo orgulho, porque senão só viveria andando por aí colocando caduceus na cabeça de todos os seus os filhos, que não eram poucos.

– Bom, eu... – Meio envergonhado, Joe continuou. – Eu peguei um par de tênis de uma pilha de tranqueiras de Hades e botei a gente em encrenca. Acho que isso pode ter colocado maldição no grupo. Tem como ajudar? Não quero atrasar a gente.

Perplexo, Hermes voltou a se aproximar. Olhava fundo nos olhos de Joe e reconhecia o verde tão igual ao seu. Viu que o rapaz estava inseguro, mesmo que pedisse algo tão bom. Sorriu com o canto da boca, orgulhoso de ver um filho seu pensando em alguém além de si mesmo pra variar.

– Deixa eu adivinhar, aquele par velho de All Stars alados? – Joe acenou positivamente. Hermes riu do momento. Levantou a mão livre ao grupo e falou alto o suficiente para que todos o escutassem. – Pois agora vocês têm a benção de Hermes, que olhará por todos durante essa viagem.

Sorriram ao sentir algum tipo de ar diferente rondando-os. Aquela sensação foi deliciosa e os fez confiar mais na sua capacidade de sucesso.

– Muito obrigado. – Joe respondeu, sorrindo. Depois deu as costas para Hermes, verdadeiramente feliz.

– Joe. – Virou-se de volta, adorando ter seu nome pronunciado pelo deus. – Pode me fazer um favorzinho quando encontrarem Rick? – O garoto assentiu. – Diga a ele que sou um pai bem melhor do que ele escreveu naqueles livros.

Piscou e foi embora, ainda rindo. Todo o grupo exclamou, mas Joe acabou sendo o último a notar que sobre sua cabeça um caduceu girava e brilhava. Quando ele olhou pra cima e viu, teve que segurar suas lágrimas.

O grupo deixou o Mundo Inferior e com apenas um toque de Andrew a porta se fechou. Saíram por uma pedra no meio da areia de uma praia perto da saída de esgoto que infestava o mar. O garoto parecia abalado depois do encontro com Hermes, escondendo sua inveja de Joe. Desejava lá no fundo que a primeira experiência com o pai tivesse sido tão boa quanto a do amigo. Sorriu pra Joe, ainda super animado, e ateve-se a olhar pra areia. Nesse momento, encontrou uma caixa no chão com o desenho do caduceu, exatamente igual à que Hermes segurava mais cedo.

– O que é isso? – Pegou a caixa do chão e olhou pra etiqueta em cima dela. – “Para Joe. Use com sabedoria”.

Joe o encarou intrigado e pegou o embrulho. Abriu a caixa e seus olhos brilharam ainda mais, de lágrimas e de emoção, quando viu o par de tênis Reebok pretos de cano alto com duas asinhas em suas laterais traseiras.

Com os tênis amarrados pelo cadarço em seus ombros, Joe guiava o grupo. O mapa que seu pai lhe dera era engraçado, veio cheio de anotações divertidas do deus como “cuidado com a estrada, está cheia de Poseidons!” e “há uma fazenda perto daí. Se vir uma vaca, seja gentil. Pode ser sua avó”. Depois de uma rápida caminhada, entraram num estacionamento quase vazio, exceto por um caminhão com a porta traseira escancarada. Joe viu um desenho de palitinho se movendo no mapa, bem amador, indicando que os jovens deveriam entrar no carro. Ao lado, um recado: “desculpe, o dom do desenho ficou com Apolo”.

Invadiram o caminhão e se esconderam até que funcionários dos correios fechassem as portas sem prestar muita atenção no que tinha lá dentro. No escuro da caçamba fechada, Callie começou a reclamar do desconforto e da falta de luz. Pam, já um pouco impaciente, entrou na dela e as duas começaram uma discussão que duraria a viagem inteira.

Sentados abraçados num canto, Julian e Lillie ainda cuidavam um do outro. Estava escuro demais para desenhar, mas eles ainda podiam conversar.

– Será que vamos descobrir quem são nossos pais, sweetheart? – Julian perguntou para a pequena amiga. Ela apertou sua mão e sorriu, mesmo que ele não pudesse vê-la.

– Com certeza. Eles devem estar esperando a hora certa de nos reclamar.

– Sim, com certeza. – Ele a apertou mais no abraço. – Espero que você seja minha irmãzinha. – Beijou-lhe a testa em sinal de amor e proteção.

Agradeceram pelo escuro, pois assim ninguém foi capaz de ver suas lágrimas.


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Notas finais do capítulo

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