O Enigma do Semideus escrita por Lyli


Capítulo 5
Capítulo Quatro – O Assistente de Hades


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/538645/chapter/5

A fumaça se retraiu como se tivesse medo do rapaz. O grupo de jovens desbravadores sentiu o mesmo e por um segundo quiseram ser aquela fumaça do mal para poderem fugir do olhar dele também. Quando os olhos verdes de Doug caíram sobre Pam, ele fez que não com a cabeça. A garota baixou a guarda e foi até ele, já sorrindo tranquilamente, como se não tivesse acabado de quase ser morta.

– Invadindo o Mundo Inferior, Pam? O que você tem na cabeça? – Doug falou, contrariado. – Era só me contatar que eu abria uma porta.

– Não invadimos. As portas se abriram para nós. – Com um gesto da cabeça, ela levou o olhar de Doug até Andrew, que estava afastado com o resto do grupo. Doug observou o rapaz e depois sorriu, voltando a olhar pra Pam.

– Alguém pode me dizer que diabos está acontecendo aqui? – Callie gritou, contrariada. – Quem é você?

– Este é Doug, o assistente de Hades. – Pam respondeu. – Ele é o amigo de quem falei.

– Espera. – Henry se meteu na conversa, dando um passo a frente. – Se ele podia abrir os portões daqui pra nós, pra que serviu aquela aventura com o cão de três cabeças?

– Enfrentaram o Cérbero? – Doug perguntou, segurando uma gargalhada.

– Na verdade eu o acalmei. – Respondeu Andrew prontamente. Depois parou um segundo para pensar. – Ele não era pra ser mansinho?

– Acho que vocês andaram lendo ficção demais. – O negro deixou escapar, zombando de quem achava que ia brincar de bola com o animal. – Eu realmente esperava isso de você Pam. Sabia que um dia você ia simplesmente aparecer aqui do nada com um monte de crianças, esse tipo de surpresa é bem típico dos filhos irritantes do seu pai. Mas eu esperava sinceramente que não fosse hoje. – Puxou a amiga pelo ombro e lhe sussurrou. – Se ele descobre que estão aqui... Não vai ser muito agradável. Ele não anda de bom humor...

– É por minha causa?

– Por você e pelos deuses que vigiam o seu caminho. – Pam levantou as sobrancelhas, incrédula. – Ou você acha que teria chegado aqui viva sem o olhar de nenhum deus sobre você?

Todos se entreolharam, perguntando-se internamente quem os teria ajudado indiretamente. No fundo, todos sonhavam que talvez fossem seus pais ou mães.

O grupo partiu para o refúgio de Doug no Mundo Inferior. Ele os guiou por caminhos escuros, onde as criaturas soturnas não pudessem vê-los. Doug ia na frente com Pam, colocando seus assuntos em dia e fofocando sobre os deuses. Alguns poucos prestavam atenção no assunto da frente, quando outra conversa igualmente interessante acontecia lá atrás.

– Hey. – Joe chamou os colegas. – Vocês já se perguntaram quem é o pai da Pam? – O garoto parecia animado com o assunto.

– Ela com certeza é filha do deus da chatisse. – Callie, que não sabia segurar sua língua, falou.

– Acho que o pai dela é um dos grandes. – Lillie disse, em uma das poucas ocasiões em que falava. – Com certeza ela é muito corajosa e poderosa.

– Ela é neta de Zeus. – Henry falou, com certeza.

– Como você sabe disso? – Julian perguntou.

– Bom, ela chama Apolo de tio. – Henry continuou. – Então ela só pode ser filha de algum irmão dele e Apolo é filho de Zeus. Logo, não é filha de nenhum dos grandes.

– Ela pode ser sua irmã. – Andrew comentou. Henry se colocou a pensar nisso. Ela realmente era inteligente e eles se davam bem, mas será que a garota era filha de Atena?

– Não, não é. – O rapaz alto falou. – Ela tem um pai. Apolo e Doug comentaram isso, lembram? Ela mesma disse que esperava que ele lhe desse um lugar pra morar algum dia.

A conversa foi interrompida por Doug, que mostrou ao grupo a entrada de uma caverna. Com o auxílio de uma palavra em grego, ele fez com que a pedra que fechava a caverna se movesse e abrisse caminho para todos.

Na “casa” de Doug, se é assim que se pode chamar, tudo parecia simples e bem arrumado. Tinha alguns assentos de pedra que pareciam bem desconfortáveis. O grupo preferiu sentar no chão, que era de pedra. As paredes, também de pedra, era adornadas por estantes de pedra cheias de livros, a maioria deles com as capas já gastas, significando que foram lidos várias vezes. Sobre uma enorme mesa de pedra, diversos rolos de pergaminho cheios de anotações e todos os livros da série Percy Jackson.

– Eu achava que as coisas eram mais luxuosas por aqui. – Andrew deixou escapar, encostando-se numa parede.

– Não para o assistente. – Doug riu. – Nada de luxo para um escravo.

– Como assim escravo? – Henry perguntou, mantendo-se em pé com as mãos nos bolsos, despreocupado.

– Eu vivo aqui porque vendi minha alma para Hades. – Ele respondeu como se aquela fosse a coisa mais normal do mundo. – Cumprindo o décimo quarto ano de minha pena de um milênio.

Os olhos de todos se arregalaram ao perceberem que Doug não tinha a idade que aparentava. O rapaz parecia beirar os vinte anos, mas com certeza tinha bem mais que aquilo. Talvez tivesse vendido a alma aos vinte e ficaria assim até o fim de seu martírio. Doug se sentou à sua mesa de pedra e pegou os pergaminhos, observando as anotações. Ainda curiosos, o grupo não hesitou em lhe perguntar.

– Mas... Por que alguém faria isso? – Julian perguntou, com medo da resposta. Esperava que Doug lhe dissesse que queria a morte de alguém ou pra ganhar muito dinheiro, qualquer motivo horrível desses.

– Pra salvar alguém que precisava. – Ele olhou pro chão, lembrando dos momentos tristes do passado. – Acho que preciso contar essa história, não é? – Olhou pra Pam, que acenou positivamente com a cabeça. Doug respirou fundo e começou a falar para o grupo de curiosos. – Foi pouco antes do lançamento de O Mar de Monstros. Eu era o assistente de Rick Riordan e o ajudava, sempre trazendo informações sobre o mundo dos deuses gregos, eu sempre encontrava uma maneira. – Riu consigo mesmo do passado. – Os deuses tinham acabado de descobrir tudo sobre os livros e o Enigma e estavam possessos. O pai de Rick quase foi massacrado! – Olhos se arregalaram, pois ninguém tinha imaginado que o tio Rick também fosse um semideus. – Sim, ele é um de nós também. Mas não compete a mim falar sobre uma vida que não é minha. – Respirou fundo e continuou. – Dois dias antes do lançamento do livro, a coisa mais incrível e absurda da minha vida aconteceu. O próprio Ares se materializou na casa de Rick. Eu estava lá e só de me lembrar da presença dele, tenho arrepios. – Fingiu um calafrio e depois assoviou. – Ele segurou Rick pelo pescoço e o apertou até que o homem ficasse azul. Eu vi tudo e foi bem ruim. Chorei muito naquele dia. – Queixos caíram quando todos perceberam que Ares havia... matado Rick. – Quando o deus da guerra se foi, eu juntei todo tipo de conhecimento que tinha e rezei pra minha mãe me ajudar também. Consegui descer aqui e implorei pra Hades me deixar levar Rick de volta. Pra minha sorte, o senhor do submundo gosta de acordos. Primeiro ele quis que Rick prometesse nunca mais escrever, mas isso não podia acontecer. O Enigma precisava ser revelado. Então eu ofereci a mim e disse que seria o melhor assistente que Hades poderia pensar em ter. Engraçado como, para ele, uma alma vale mais do que o segredo dos deuses.

Doug riu sozinho, enquanto todo o grupo permanecia boquiaberto. O rapaz voltou às anotações enquanto todos se olhavam diante da sombria história. Pam, pouco impressionada porque já tinha ouvido aquilo antes, se juntou a ele nos pergaminhos que ninguém sabia ainda o que significavam. O grupo sentou-se junto, no fraco aconchego do chão de pedra. Todos pareciam procurar o que fazer, menos Lillie que desenhava em seu caderninho. Já tinha pintado vários desenhos de Julian desde o começo da viagem.

– Pessoal... – Julian falou, virando o rosto de maneira certa para ser modelo para Lillie. – E vocês, já pararam pra pensar nos nossos pais? – Os olhos do rapaz pareciam obviamente assombrados pela ínfima possibilidade de ter algum filho do deus medonho que Doug acabara de citar ao seu lado.

– Eu só penso nisso, dia e noite. – Joe falou, deixando que um semblante triste tomasse conta de sua atmosfera sempre alegre. – E espero mesmo que o meu pai seja quem eu penso que é. Caramba, seria incrível. – Sorriu, ainda parecendo meio triste por dentro. – Ter um pai... Seria incrível mesmo.

– Imaginem... – Lillie deixou escapar, com um sorriso de esperança. – Ter uma família. Alguém para chamar de pai.

– Parem com essa palhaçada! – Callie gritou, interrompendo os devaneios da menininha. – Não leram os livros? Os deuses não ligam pra seus filhos. Se nas histórias são daquele jeito, na vida real deve ser muito pior. – Sem pena, ela disparava o que pensava, parecendo ter raiva de seu progenitor. – Nem ao menos temos um sátiro e nem todos tiveram a sorte de ter pais adotivos. Fomos mesmo abandonados. Isso significa que nossos pais não ligam pra a gente.

Todos abaixaram as cabeças depois da fala de Callie. Henry se sentiu muito mal com tudo aquilo e de alguma maneira culpado. Se tudo desse errado pra ele e sua mãe não quisesse saber dele, ainda teria seus pais adotivos em um lar confortável. Mas tinha quase certeza de que Atena gostaria de conhecê-lo, afinal, ela o reclamou como filho indicando que estava orgulhosa. Isso fazia com que ele tivesse o dobro da sorte e o resto do grupo, o dobro de inveja. Sentindo-se incomodado com o clima, ele saiu do grupo. Foi para perto de Doug e Pam que discutiam algo entusiasmadamente.

Um que também se afastou foi Andrew. Não precisava ficar no meio daquela sessão de lamentação. Tinha certeza absoluta de quem era seu pai e ia olhar nos olhos dele. Ninguém percebeu quando o rapaz roqueiro saiu da caverna.

– Isso não faz sentido nenhum, Doug! Alasca? Por que o Enigma seria desvendado lá?

– Não faço ideia! Mas foi o que consegui por enquanto, toda vez que leio e releio os livros encontro uma mensagem que me manda levá-los ao Alasca.

– Posso me meter? – Henry chegou no meio da conversa de Pam e Doug. – Pelo que entendi, os livros mandam a gente ir pro Alasca, a terra além do poder dos deuses?

– Na verdade ninguém sabe se essa parte da história é real ou não. – Pam falou. – Mas não faz nenhum sentido pra mim, o que vai estar escrito nos livros do Alasca que não está escrito aqui?

– Não sei, Pam! Me dê mais tempo para estudar!

– Não temos mais tempo, precisamos ir agora! A vida de Rick está em perigo e você sabe disso!

– Acalmem-se. – Henry colocou uma mão no ombro de Pam, que já começava a se alterar. O rapaz que estava sempre calmo soube fazer com que ela não se exaltasse. – Talvez devamos ir pro Alasca. – Pam franziu a testa. – Sabe, ele escreveu aquele lugar como a terra além dos deuses, deve haver um motivo. Se o poder dos deuses não chega lá, talvez seja um lugar seguro para nós e...

– Para o Rick... – Doug sussurrou, continuando a ideia de Henry. – Será que é possível que Rick esteja lá?

– Então ele não foi sequestrado? – Indagou Pam. – Ele... Ele se escondeu? – Bateu na mesa com raiva, ignorando a dor de bater na pedra. – Mas que porcaria, ele não podia ter dado um jeito de avisar?

– Ele avisou, sua besta! – Doug pegou um livro e o levantou ao nível dos olhos de Pam. – É isso mesmo! O Alasca é o local onde devemos ir caso tudo dê errado, é o único local seguro! É onde Rick está, com certeza!

Doug e Henry se encaravam em um sorriso, encantados de terem encontrado uma mente brilhantemente semelhante à sua.

– Ok, mas como vamos encontrá-lo? – Pam perguntou preocupada.

Henry cruzou os braços e pensou olhando para o nada por um segundo. Quando voltou a si, parecia radiante.

– Posso estar errado, muito errado, mas... – Olhou pra Doug e Pam, que pareciam curiosos. – Será que pra encontrar Rick, primeiro não precisamos encontrar ele?

Os olhos de Pam se arregalaram.

– Ele quem? – Perguntou Doug.

Com um enorme sorriso, Henry respondeu.

– Percy Jackson.

Silêncio se fez no trio, encantado com a possibilidade. Será? A probabilidade talvez fosse pouca, mas imaginar era incrível. Percy Jackson era o seu ídolo, aquele que todos os presentes sonharam tantas vezes em ser. Viveu as aventuras e lutou as batalhas que todos os semideuses invejaram porque eram apenas parte de um livro. Agora tudo havia mudado e a magia dos livros era real. Então, seu herói também era real.

– Impossível. – Pam disparou, sendo realista. – Nunca o vi e nem conheci ninguém que o viu. E você, Doug?

– Também nunca o vi pessoalmente, mas sempre desconfiei que Rick se comunicava com ele. – Pam o olhou incrédula. – Talvez Henry tenha razão. Sabe, qual seria o melhor lugar para Percy Jackson se esconder do que na terra além dos deuses? – Mais uma vez o grupo ficou em silêncio. Sentiram o chão tremer e todos ficaram com medo, mas Doug ficou tranquilo. – Acho melhor vocês irem. – Falou para todos. – Esse é o sinal de que o meu chefe está me chamando. – Todos se levantaram e se ajeitaram, alongando seus corpos doloridos por causa dos minutos sentados em pedras.

– Estávamos conversando aqui e chegamos à conclusão de que precisamos ir ao Alasca. – Ao som de protestos, ela continuou. – É o caminho certo, pessoal. Tenho certeza quase absoluta de que Rick está lá.

– Quase? – Callie levantou uma sobrancelha. – Não é melhor partirmos quando tiver certeza totalmente absoluta?

– Eu tenho. – Doug respondeu, unindo-se ao grupo. – E Henry também. – Calou a boca de Callie. Ele olhou nos olhos de cada um e lhe deu uma última orientação. – Sigam seu caminho sem olhar para trás, ele é o caminho correto. Tenham certeza de que os deuses estão com vocês, ao menos alguns deles. Quando a coisa se apertar, saibam com quem se pegar. Apolo, Hermes, Atena, Poseidon, Artemis e Afrodite estão do seu lado. Os outros não.

Todos os outros? – Perguntou Joe, com medo. – Isso inclui Zeus, Hades...

– Ares. – Falou Julian, causando um arrepio na espinha de todos.

– Exatamente. – Doug respondeu, com pena do grupo. – Não hesitem em rezar para os seus pais pedindo ajuda. Se eles puderem, farão o que for possível. No caso de seus pais estarem contra sua missão, eu sugiro que... – Passou os olhos pelo grupo, procurando uma pessoa em especial. Interrompeu-se, curioso. – Vem cá, cadê aquele garoto roqueirinho?

Todos olharam para os lados procurando-o e a maioria só percebeu seu sumiço naquele momento. Nem sequer tiveram tempo de obter uma resposta, pois entrando na caverna de Doug, Andrew caiu no chão completamente assustado. Seus olhos arregalados indicavam que ele não esperava ver o que viu. O grupo presenciou vários cães infernais entrando no recinto, com os olhos tão famintos quanto possível. Nesse instante, todos ficaram em guarda, com medo de Doug não poder dar conta das bestas do submundo. Andrew, ainda no chão, olhava assustado para frente, ignorando os animais avançando no lar de Doug. Levantou a mão trêmula e apontou para onde seus olhos arregalados não podiam deixar de olhar com muito medo e certa admiração.

E os corpos dos heróis tremeram diante da presença ilustre e sombria que entrava na caverna, calando a todos com sua atmosfera de poder e autoridade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ler e não esqueça de deixar seu comentário!
Nos encontramos aqui:

Twitter: https://twitter.com/raindancelyli
Ask: http://ask.fm/raindancelyli
Tumblr: http://whenastarisborn.tumblr.com
Grupo: https://www.facebook.com/groups/664248566950582
Mais fics: http://whenastarisborn.tumblr.com/fanfiction



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Enigma do Semideus" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.