O Enigma do Semideus escrita por Lyli


Capítulo 4
Capítulo Três - No Mundo Inferior


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/538645/chapter/4

O dia estava agora começando a clarear. O grupo de jovens desbravadores tinha encontrado a escola Rav Good Hellinway que, mais cedo, tinham descoberto ser a entrada para o Mundo Inferior. Henry, que guiava o grupo até sua escola, percebeu que estava demorando um pouquinho mais para amanhecer naquele dia e teve que agradecer mentalmente a Apolo, pois sabia que se tratava de uma ajuda dele. Mesmo achando aquilo muito estranho, não podia deixar de aceitar que se sentia bastante empolgado. A imagem do símbolo da deusa Atena girando sobre sua cabeça não lhe saía da mente. Caramba! Atena! Ele sempre quis isso e de alguma maneira sempre soube. Estava tão concentrado nessa ideia que nem sequer percebeu quando Pam franziu a testa na frente do local onde ele havia trazido os colegas.

– Ok, primeiro desafio. – Pam parou na frente da porta da garagem dos fundos da escola, observando o cadeado que a trancava. – Como vamos entrar nesse lugar?

O grupo parou logo atrás dela, perguntando-se o mesmo. Por sorte, tinham um rapaz bem esperto consigo.

– Espera, dou jeito nisso. – Joe tomou à frente do grupo e pegou o cadeado, observando-o por um tempo. Depois retirou de sua pochete uma caixinha de palitos de dente. – Isso aqui é brincadeira de criança.

Joe levou um palito à boca e entortou um pouco sua ponta de madeira com o dente. Depois, enfiou o palito na entrada de chave do cadeado e o girou por alguns segundos, abaixado perto do objeto e com o ouvido bem atento. Quando ouviu um clique bem alto, abriu o cadeado. O ato foi comemorado com sons de surpresa e admiração exclamados em tom baixo por todo o grupo. Mas sempre tem alguém que estraga tudo.

– Impressionante. – Disse Callie, em tom de deboche. – Pra um trombadinha.

– Olha só quem fala, a garota que mora num reformatório!

Andrew ousou responder Callie para defender a honra de Joe, mas se arrependeu quando a garota mal educada empurrou seu corpo contra o portão com toda a sua surpreendente força e o prendeu com um braço, falando com raiva em seu rosto.

– Você não sabe nada da minha vida, esquisitão! – Disse para Andrew, querendo lhe arrancar os olhos. – Não fale do que não sabe!

Callie soltou Andrew ao som dos protestos do resto do grupo. Ainda contrariada, a garota entrou na escola antes de todos. Quando voltou a respirar normalmente, Andrew sentiu um ombro bater no seu e viu que era Julian ao seu lado. O rapaz afeminado sorria para ele. Utilizando de uma intimidade que ainda não tinham, Julian sussurrou:

– Parabéns, você está fazendo tudo certo.

– Do que você tá falando? – Andrew perguntou, se fazendo de desentendido.

– Você quer conquistá-la, não é? – Assustado com a dedução do rapaz, Andrew ateve-se a ficar em silêncio. – Está indo pelo caminho certo. Garotas como essa gostam de ser desafiadas. – Andrew negou furtivamente com a cabeça, com vergonha. – Não precisa tentar esconder de mim, tá? Disso eu entendo.

Julian foi andando mais rápido na frente e deixou Andrew para trás, sendo o último do grupo. Este ria de si mesmo e da sua incapacidade de disfarçar o que sentia pela jovem mal humorada.

Dentro da escola, o grupo prosseguiu em silêncio. Estavam todos bem próximos um do outro, deixando transparecer o medo que sentiam. Henry liderava o grupo pelos corredores que ele conhecia bem e Pam ia ao seu lado, como a líder do time. Joe ia abrindo as portas quando era necessário e assim passaram por várias salas da escola. Ouviam nada além de um som grave e esquisito que ecoava por todo lugar, mas ninguém sabia dizer de onde vinha. Henry tinha certeza de que aquele som não estava ali na última vez em que tinha entrado na escola.

– Tá, e agora? – Callie falou, deixando sua voz ecoar pelo corredor. – Não to vendo nada além de uma escola normal.

– Quer aprender a falar baixo? – Pam deixou escapar, irritada. Callie esteve a ponto de responder gritando, mas foi cortada. – Segundo desafio: encontrar a entrada do Mundo Inferior.

– Tá pensando que isso aqui é RPG ou o quê? – Callie respondeu. – Acho que vocês se enganaram e não é aqui porcaria nenhuma.

– Você não viu o que nós vimos? – Andrew se meteu. – Henry é filho de Atena. Se ele disse que é aqui, então é aqui.

– Só porque o nerd é filho da nerd maior não significa que ele não possa errar nunca! – Callie falou, decidindo que não ia conter seu tom de voz.

– Pelo amor dos deuses, cale essa boca! – O grito de Andrew foi ainda mais alto e seguido por uma gargalhada entusiasmada dela.

– Cala a boca você, esquisito! Já tá falando assim igual a outra esquisita? Você não tem noção, não?

– Quem não tem noção é você!

A briga de Callie e Andrew se estendeu por muitos mais gritos. Pam e Henry tentavam abafa-los, mas acabavam gritando também, de frustração. O resto do grupo apenas observava, querendo rir. Num momento de muita raiva, Henry se viu obrigado a gritar mais alto que todos e mandou seus companheiros calarem a boca. Quando o silêncio os envolveu novamente, ele estranhou.

– Galera, vocês por acaso notaram que o som que a gente tava ouvindo... parou?

Assim que todos perceberam o que Andrew observava, o silêncio foi interrompido violentamente.

Um brado alto e forte invadiu seus ouvidos ameaçando estourar seus tímpanos. O som parecia ter vindo bem da frente deles e era como se uma porta os separasse do grande urro. Mas não parecia exatamente um urro. Parecia mais com um latido.

– Será que é o que eu to pensando? – Henry soltou, já tremendo de medo, observando a porta da quadra de esportes da escola bem na sua frente.

– Só tem um jeito de saber. – Um Andrew empolgado demais para a sua própria segurança correu na frente do grupo e irrompeu pela porta sem medo do que podia estar atrás dela. Temendo pela sua segurança, Pam foi atrás, seguida por seu time de heróis.

Assim que passaram pela porta, o medo os paralisou. Na sua frente, ele rosnava tão alto que quase os deixava surdos. A baba que escorria de seu focinho cheio de dentes afiadíssimos batia no chão encharcando-o. O cão de três cabeças os encarava com seus três pares de olhos furiosos.

– Notícia boa: aqui é a porta do Mundo Inferior. – Andrew falou, encarando o animal. – Notícia ruim...

Um latido bem alto na cara de Andrew o calou, terminando sua frase. Todo o grupo tinha medo, menos o rapaz gótico. Este parecia adorar o acontecimento. Sorria para o cão dos infernos, como se vivesse o dia mais feliz da sua vida.

Tomando as rédeas da situação, Pam deu um passo a frente. Puxou Andrew para trás pelo ombro e ficou na frente do animal que parecia querer devorá-los. Sacou da bota uma faca com o cabo enrolado em um pano e a segurou com bastante força nas mãos e rezou para que tivesse herdado mais do que apenas a cabeça dura de seu pai.

– O que você tá fazendo? – Andrew se aproximando, brigando pela posição de liderança. – Tá pensando que vai vencer o cão de três cabeças com isso aí?

– Tem uma ideia melhor? – Pam lhe gritou, impaciente.

– Tenho sim!

Andrew deu mais passos a frente, deixando todos curiosos com sua atitude. Pam tinha certeza de que ele seria devorado, mas isso não aconteceu. Por mais incrível que possa parecer, o cão não avançou contra Andrew.

– Hey, garotão. – Assoviou para o cão, que ficou imediatamente alerta, como se fosse um cachorro qualquer. – Sem treta! Só queremos entrar no Mundo Inferior.

O animal latiu mais uma vez na sua cara, mas Andrew não recuou. Assustadoramente, o chão pareceu tremer. Como num terremoto de escala altíssima, uma enorme fenda se abriu sob cada um dos adolescentes e o chão os engoliu sem pena, deixando que a escuridão os acolhesse. Gritavam no vácuo da negritude em que caíam, com medo de irem parar em qualquer lugar – ou de nunca pararem.

Num súbito, caíram com as costas no chão. Enquanto alguns acariciavam suas cabeças que tinham sofrido com a queda brusca, Andrew levantou os olhos e abriu um grande sorriso.

– É aqui! – Ele gritou. – Estamos no submundo!

Quando olharam a sua volta, seus estômagos reviraram. Parecia outra dimensão e, de fato, era. Tudo era exatamente igual à descrição dos livros de Riordan, porém mais assustador e sombrio, porque eles estavam lá. Quando todos olhavam a imensa fila dos mortos com um nó em suas gargantas, foram surpreendidos por latidos que não eram mais do cão de três cabeças.

– Cuidado! – Advertidos por Pam, conseguiram se levantar e correr a tempo, antes que um grupo de cães os alcançasse. Os animais não eram normais, eram maiores que simples cachorros e tinham os olhos vermelhos e a boca espumante. – Ali, atrás daquela coisa!

Esconderam-se depois de uma grande estátua quebrada, que poderia ter sido algo que sobrou de uma guerra grega. Abaixaram-se sob a sombra do objeto gigante e esperaram que os animais passassem correndo por eles sem notá-los. Só conseguiram respirar fundo ao ver o grupo de cães infernais sumindo.

– Caramba! Que legal! – Joe se levantou e foi o primeiro a se desvencilhar do grupo. Atrás do fragmento de estátua, havia um monte lotado de objetos aparentemente inúteis, mas que reluziam como ouro no olhar de Joe. – Vem ver isso gente.

O rapaz subiu na montanha de objetos sem cerimônia e começou a desvendá-la, abrindo mais seu sorriso a cada coisa nova que via.

– Tudo que reluz você quer pegar, né? – Henry disparou, rindo para o rapaz empolgado que observava o monte de cima. – Eu notei sua admiração com as calotas do carro do Apolo.

– Aquilo é fichinha perto disso aqui! – Joe pulou da montanha, tentado a explorá-la toda, desde a base. – Será que consigo uma bolsa pra pegar tudo isso?

– Nem pensar! – Pam se aproximou, dando um tapa na mão de Joe que já se dirigia a um dos objetos. – Isso aqui é território de Hades, não pegue nada. Não sabemos como ele poderia reagir.

Joe deixou que os ombros caíssem em frustração. Pam chamou o grupo com um sinal de cabeça e seguiram em frente, enquanto a garota observava bem o caminho na sua frente, procurando a pessoa que precisava encontrar e também observando se os cães infernais apareceriam de novo.

Mas atrás do grupo, ele não tinha desistido. Que mal poderia fazer? Não é como se ele fosse pegar tudo, mas só queria aquilo. Precisava daquilo, estava chamando seu nome. Sem medo das consequências, Joe aproximou-se novamente do monte e sacou dele com as mãos um par de tênis All Star surrados que tinham asinhas em sua parte traseira. Sorriu para os tênis, que responderam à gentileza batendo as asas na sua frente.

No segundo seguinte, a atmosfera amistosa sumiu. Ao redor de Joe, envolvendo-o em uma emboscada, fumaça negra começou a sair do chão e crescer ao seu redor. A fumaça parecia conseguir segurá-lo fisicamente e Joe sentia golpes atingindo-o toda vez que tentava sair do local. Mesmo que tentasse revidar. Ouviu seus amigos voltando correndo e tentando penetrar na fumaça, mas ninguém conseguia. Sentiu o ar se esvaindo e o corpo desfalecendo. Joe imaginou que sua hora tinha chegado e achou engraçadíssimo que estivesse no Mundo Inferior no momento. Poupou a grana do barqueiro, ele pensou, brincando consigo mesmo a ponto de dar seu último suspiro.

Bem na frente de seu rosto, ele viu uma fenda se abrir na fumaça quando estava quase desmaiando. O reflexo de luz forte do corte na fumaça maligna a consumiu e fez com que ela se esvaísse, voltando para o chão de onde saíra. Na sua frente, ele viu Andrew com uma espada que ele tinha certeza de ter visto no monte de objetos atrás de si. Ofegante e com os olhos fundos, caiu de joelhos no chão, olhando pro amigo.

– Valeu, cara. Este ladrãozinho te deve a vida.

Andrew sorriu de volta, ainda portando a espada que tinha roubado da montanha de objetos amaldiçoados.

– Acho que agora todos aprendemos a lição. – Henry disse pra Joe, arriscando uma bronca. Depois se virou pra Andrew, com uma sobrancelha levantada. – E você... Você viu o que fez? – Andrew negou com a cabeça. – Quando Joe pegou os tênis, a fumaça pegou ele, mas nada aconteceu quando você sacou essa espada. – Pam e os outros começaram a seguir o raciocínio de Henry, que fez com que o coração de Andrew começasse a pular involuntariamente. – Você não foi atacado pelo cão de três cabeças, você abriu a porta pra que a gente chegasse aqui... Não é óbvio?

Andrew chegou a abrir a boca para dizer o que pensava, mas foi impedido. Mais daquela fumaça do mal começou a sair do chão e dessa vez ela parecia querer todos. Foram envolvidos pela maldade dela e não adiantou que corressem, pois eram puxados de volta pela força maligna da coisa.

O grupo inteiro se viu na mesma situação que Joe estivera segundos antes, mas não chegaram a quase desfalecer, porque a fumaça sumiu ao som de um grito de comando em grego. A coisa maligna se esvaiu rapidamente fugindo para os lados aos comandos de um rapaz mais velho negro muito alto e magro que vestia calça social preta e uma camiseta branca suada. Longos dreads caíam sobre seus ombros e ele tinha brincos em suas duas orelhas e tatuagens espalhadas pelo corpo. Cruzou os braços na frente do grupo e fechou os lábios grossos em um bico, como se perguntasse o que diabos estavam fazendo ali. Os olhos verde-claros bem incisivos.

Os jovens heróis se perguntavam quem era aquele rapaz, mas Pam já sabia que se tratava de Doug, o assistente de Hades.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ler e não esqueça de deixar seu comentário!
Nos encontramos aqui:

Twitter: https://twitter.com/raindancelyli
Ask: http://ask.fm/raindancelyli
Tumblr: http://whenastarisborn.tumblr.com
Grupo: https://www.facebook.com/groups/664248566950582
Mais fics: http://whenastarisborn.tumblr.com/fanfiction



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Enigma do Semideus" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.