O Enigma do Semideus escrita por Lyli


Capítulo 12
Capítulo Onze – Sangue do Meu Sangue


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Entre golpes desferidos com audácia e coragem, o trio continuava tentando defender o pequeno pedaço de terra. Percy ia na linha de frente com a experiência ao seu lado, derrubando um grande número de soldados por vez e tendo também a água que os envolvia ao seu lado. Aqueles que desviavam de Percy iam direto a Henry e Pam, que os enfrentavam em um perfeito trabalho em dupla. Mesmo a inexperiência dos dois pareceu irrelevante diante da sua capacidade de se dar bem em dupla. Em poucos minutos, o soldados de pele rala e elástica estavam se desfazendo em pó no chão, seus ossos se fundindo com o nada. Percy virou para Pam e Henry e sorriu tímido fazendo um sinal positivo com a mão. O casal de amigos sorriu abertamente um para o outro. Mas os sorrisos não duraram muito.

Logo, a areia começou a se mover e a poeira dos soldados espartanos assustadores se tornou maior e mais forte, além de dobrar de número. O exército morto se levantou mais uma vez, dessa vez com o dobro de integrantes. A maioria avançou em Percy, que defendia a entrada do casebre, mas alguns foram na direção de Pam e Henry. Sem pensar, a menina correu na direção dos soldados a fim de se mostrar forte. Pam avançou nos primeiros que viu de maneira irresponsável. Em seu encalço, Henry tentava proteger sua retaguarda enquanto gritava algo que a menina não conseguia assimilar em meio a toda aquela adrenalina. Pam foi bem sucedida nos primeiros soldados, mas logo a imprudência da afobação a jogou no chão. Quando a menina se viu encurralada por quatro soldados ela pensou que era seu fim, mas uma onda gigante os afastou e os puxou para o mar. De longe, Percy nem olhou pra eles. Henry puxou a menina pelo braço, mas seu semblante calmo de sempre não estava lá.

– Quando vai parar com essa loucura de achar que pode vencer tudo e todos sozinha?

– Quando eu conseguir! – Ela respondeu jogado sua obsessão por vitória na cara de Henry.

– Você nunca vai vencer ninguém desse jeito! – O rapaz gritou contrariado. – Se seu objetivo é ser uma campeã e não defender este grupo, então se contente com a derrota. Jamais vencerá se continuar lutando pelos motivos errados.

Henry deixou uma última expressão raivosa pra Pam enquanto voltava a lutar. Avançou em dois soldados que conseguiu vencer facilmente. Mesmo que o exército fosse grande, não pareciam muito fortes, como se a magia que os gerasse não fosse das melhores. Levantando-se do chão, Pam ainda pensava na lição que tinha acabado de levar. É bem verdade que a garota estava constantemente atrás do título da vitória, mas será que deixava a ambição entrar na frente da sua necessidade de ajudar os amigos?

Mais uma onda subiu na ilha tomando conta de quase toda a costa. Quando se foi, ela arrastou consigo os soldados que faltavam. Henry e Percy – que estava ofegante de tanto lutar e usar seu poder – estavam secos, mesmo depois de terem ficado submersos pela onda. Pam foi andando até eles, na intenção de ajudar com possíveis problemas futuros, mas foi impedida de se mover ao ouvir uma voz conhecida.

– Vocês ainda são um bando de fracassados. – A frase provocadora fez com que toda voltassem o olhar para Callie. – Com ou sem mim.

A filha de Ares que havia sumido há tempos apareceu como se estivesse escondida em algum lugar observando e arquitetando tudo desde o começo. Tinha os olhos fundos e o semblante pesado, como se não tivesse dormido desde o dia em que os abandonou. Talvez tivesse passado todo esse tempo treinando, o que explicaria a pele mais machucada e os músculos um pouquinho mais visíveis.

– Encrenca sempre volta. – Henry divagou. Deu uma cotovelada em Percy. – Essa é Callie, uma desertora. É filha de Ares.

Percy já tinha notado que a menina era filha de seu inimigo. Tinha as feições dele e também sua arrogância. Callie se aproximou, mostrando extrema determinação nos enormes olhos azuis. Vestia uma blusa preta de mangas curtas com desenho de caveira em branco e uma calça camuflada.

– Cadê o resto do grupinho? Ninguém mais aguentou seguir suas ordens idiotas ou conseguiram matar todos? – Perguntou com sarcasmo.

– O que você quer? Pensei que ia embora e nos deixar em paz! – Pam gritou com raiva.

– Não se valorize tanto, estou aqui cumprindo ordens. – Ela falou dando de ombros. – Meu pai não quer que vocês consigam e me mandou porque eu sou muito competente.

O corpo de Pam congelou. Meu pai.

– O seu... – Soltou um sussurro que mal conseguiu ser ouvido. – O seu pai...

– Ares, o deus da guerra e senhor supremo de todas as batalhas. – Callie respondeu orgulhosa. – Ele me assumiu e me deu um lar e tudo que eu queria. Coisa que eu jamais teria se continuasse ao lado de vocês.

Pam sentiu seu corpo todo dormente. A raiva tomou conta de si ao perceber que Callie agora tinha tudo que ela sempre sonhou em ter. Não era justo que ela tanto se preocupasse em agradar o pai e ser uma vitoriosa quando uma garota encrenqueira que jamais valorizou os deuses ou sua origem conseguisse o que ela merecia. Seu sangue ferveu ao lembrar do dia em que Callie foi reclamada diante de seus olhos. Dessa vez ela não ia chorar. Ia brigar.

Partiu pra cima da irmã com toda a raiva do mundo e que se dane qual era seu propósito real. Não se importava de ter um pensamento ético, só queria expurgar sua raiva. A luta das meninas começou de maneira intensa. Percy e Henry até pensaram em fazer alguma coisa, mas perceberam que Pam merecia o privilégio de lutar contra sua irmã. Não tiveram tempo para discutir isso quando um número assustador de soldados espartanos brotou das cinzas e avançou contra eles em uma batalha muito mais intensa e perigosa.

Dentro do barco Annabeth, Julian estava no chão sentado sobre a desconfortável bolsa de Percy, rezando pra que aquilo não fosse algo de quebrar. Queria abrir a bolsa e matar sua curiosidade, mas de jeito nenhum ia desobedecer Percy Jackson. Perri fazia a guarda da única porta da cabine do capitão com as costas eretas e o arco e flecha em punho. Joe e Lillie estavam sentados no chão da cabine, tentando ignorar sua imaginação que criava imagens para ilustrar o som de gritos e bater de espadas do lado de fora. Em dado momento, Lillie se levantou pra matar a curiosidade e levou os olhos até a janela com cuidado. A menina soltou um grito ao notar que Percy e Henry mal conseguiam dar conta dos soldados que os cercavam e que estes já começavam a escalar e tentar penetrar no casebre da ilha. Ao notar Pam e Callie travando uma luta física que parecia não ter fim, a menina se desesperou e pegou sua mochila.

– O que você está fazendo? – Julian perguntou assustado com a determinação da criança.

– Alguém precisa ajudá-los! – A menina que raramente falava disse sem hesitar enquanto pegava suas folhas e começava a desenhar.

– Lillie, isso é perigoso, é coisa de gente grande. – Joe falou receoso. – Melhor a gente não se meter e ficar aqui como o Percy mandou.

– NÃO! – A menininha se impôs enquanto rabiscava com pressa. – Não vamos deixar mais ninguém morrer, mais ninguém, mais ninguém... – Ela continuou repetindo a última parte da frase baixando o tom de voz e obviamente se lembrando de Andrew.

Na areia, a luta entre Callie e Pam levava as meninas até seus extremos. Ambas pareciam cansadas e os socos e golpes já saíam meio sem jeito, mas mesmo assim nenhuma das duas orgulhosas desistiria.

– Tudo isso é só pra provar que é uma rebelde? – Pam perguntou depois de um golpe desajeitado e de uma gravata mal sucedida. – Já tem a aprovação de Ares, não precisa fazer isso!

– Eu faço o que eu quiser! – Callie gritou. – Agora que tenho uma família, não vou jogá-la pro alto!

Pam sentiu a garganta da menina embargando enquanto ela dizia a frase.

– Você não precisa nos matar pra agradá-lo. – Pam disse abaixando os ombros. – Não precisa tentar agradá-lo. Ser você mesma e se aceitar é mais importante do que a aceitação de qualquer família.

– Você diz isso porque não sabe quem é seu pai... – Callie falou num tom baixo e impiedoso. – Porque você não sabe o que é ter uma família. – O lábio de Callie tremeu. – Eu senti o que Joe sentiu. Eu vi que é possível ter alguém, mesmo que essa pessoa não ligue muito pra você, ela existe. Eu senti que não estou sozinha.

Callie deixou que uma lágrima caísse por sua bochecha, mostrando o lado emocional que Pam já conhecia. A outra, também com os olhos cheios d’água, não aguentou mais segurar seu segredo.

– Eu realmente não sei como é ter uma família. – Pam falou com a voz trêmula. – Mas eu sei quem é meu pai. E eu sei que ele não liga pra mim, mas só o fato da existência dele já muda tudo. Ou da sua existência, Callie. – Callie arregalou os olhos e franziu a testa. – Você nunca esteve sozinha. Desde o começo da missão eu sempre estive aqui. Você foi a única que não viu.

Depois de um momento de silêncio, Callie deixou que o queixo caísse.

– Quer dizer que você é minha...

A menina encrenqueira não conseguiu terminar a frase quando um maço de folhas de papel caiu sobre ela. As folhas se espalharam pela areia e começaram a brilhar de maneira incrível. Logo a luz cresceu e começou a tomar forma, criando pessoas. Uma barreira de Perris se ergueu em volta de Callie. A menina se assustou num primeiro momento, mas depois se lembrou que a pequena Lillie conseguia fazer isso. Ela começou a lutar contra as criações da garota, enquanto Pam apenas observava e deixava que lágrimas caíssem. Depois recolheu a espada que estava jogada por ali e foi até os rapazes que ainda enfrentavam um exército de soldados.

Percy e Henry lutavam com toda a sua garra, mas estavam começando a se cansar. As criaturas criadas pela filha de Ares estavam se tornando mais fortes e resistentes. Pam se juntou a eles, mas tudo parecia demais. Era impossível vencer. A esperança diminuiu ainda mais quando ouviram um grito agudo. O olhar de Pam foi até onde Callie estava cercada por uma barreira de ilusões que representavam Perri. As ilusões – muitas delas caídas no chão – começaram a se desfazer, mas uma não se desfez. Uma das Perris estava caída no chão com um corte no lado da cabeça. A verdadeira Perri. Callie estava parada ao seu lado com uma pedra na mão depois de um golpe covarde. A menina correu até o casebre, onde os soldados preparavam sua chegada afastando Percy, Henry e Pam com toda a sua capacidade e abrindo caminho para o objetivo da garota. Ela correu até a casa e escalou sua parede frágil, na intenção de quebrar uma janela ou encontrar alguma falha na construção.

Observando pela janela do barco, Julian, Lillie e Joe estavam de mãos dadas. Infelizmente seu plano de enganar Callie com uma barreira de Perris enquanto a verdadeira Perri a encurralava deu errado. Lillie não soube fazer nada além de fechar os olhos com força e rezar para os deuses que sabia que estavam ao seu lado ou qualquer deus que pudesse ter os olhos sobre o grupo naquele momento. Ela desejou do fundo do coração que soubesse quem era seu pai pra poder lhe implorar por ajuda naquele momento.

Uma luz fortíssima brotou do chão da ilha bem no meio do exército de soldados que atacavam Pam, Henry e Percy. A luz que puxava para um amarelado brilhou tão intensamente que os semideuses presentes precisaram virar os rostos e apertar os olhos para a presença brilhante e viva da enorme supernova. Os soldados que estavam mais próximos explodiram e todos souberam que eles não voltariam das cinzas. Uma presença incrível e majestosa intimidou a todos, especialmente quando o ser brilhante e poderoso foi andando até Callie, fazendo com que a menina paralisasse de medo diante do olhar raivoso do homem.

O deus Apolo arregalou os olhos pra ela e gritou ecoando nas mentes de todos os presentes.

– MINHA FAMÍLIA NÃO!


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Notas finais do capítulo

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