Tudo que ele não tem escrita por , Lis


Capítulo 13
Doze - Matheus


Notas iniciais do capítulo

Hey, gente! Tudo bem? Comeram muito chocolate nessa páscoa? hahaha Espero que sim!

Bom, aqui está mais um capítulo pra vocês ♥ espero que gostem e boa leitura!



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M A N I P U L A Ç Ã O

(s.f. É tratar uma pessoa ou grupo de pessoas como se fosse objetos, a fim de dominá-los facilmente)

 

Eu dei o primeiro soco.

Depois de entrar no carro de Theo naquela madrugada de sábado e ouvir ele falando ladainha sobre o corpo de Anna, eu absolutamente tinha que dar o primeiro soco. Fiz isso assim que saímos do carro, dando de cara para  um estacionamento de um bar próximo a minha casa. Só que eu não notei que tinha mais gente por perto.

Theo Gonzalez era o típico garanhão que achava que podia fazer tudo. E eu queria provar pra ele que não podia. Então quando comecei a socá-lo, em uma raiva cega por ele ter sequer pensado em tocar intimamente Anna, esqueci que ele também era o típico garanhão que tinha idiotas que o seguia. Então aí sim eu fui derrubado.

Eram três caras. Ambos altos, fortes e babacas o suficiente para protegerem Theo. Não era a primeira vez que eu iria levar uma surra, então lutei o máximo que eu pude. Socando rostos e cuspindo sangue, enquanto Theo se levantava do chão completamente acabado.

Só que o idiota foi capaz de rir.

— Você tem menos de um mês pra divulgar as malditas fotos, Matt. Você sabe disso. - ele se inclinou pra frente enquanto eu estava no chão, sendo chutado nas costelas - E agora você também sabe que eu tenho poder suficiente pra saber onde sua garota está e o que ela está fazendo. E eu a quero. Ah, pode apostar que eu quero aquele corpo dançante.

Solto um grunhido, tentando em vão me levantar pra bater mais nele. Aquilo era nojento. Era cruel. Theo Gonzalez precisava ser detido.

— Você não vai enconstar um dedo nela! - falo rouco, a dor nublando meus olhos por um momento.

Ele gargalha. Porra.

— Nunca entendi essa necessidade de proteção que você tem com ela, mas agora... Agora eu vejo. Você gosta dela. Você se sente em dívida com ela, não é? Ah, caralho,  você gosta da garota que humilhou! Se sente culpado. Tem como ficar mais idiota?- os caras param de chutar e eu faço força para me levantar, apesar da dor. Theo pega meu rosto nas mãos - Não se preocupe, amigo. Eu vou tratar ela com carinho em consideração a você. Talvez ela até grite seu nome, não é? Vai que o desejo é mútuo?

Antes que eu possa atacá-lo de novo, ele esmurra minha cabeça com força, meu foco se perde e sinto meu olho direito latejar com uma dor aguda. Céus e se eu pensei que nesse momento eu estava lascado, imagina ver Luiza Stahelin na porta da instituição olhando pra mim. Depois de uma surra daquelas,  eu imaginaria que Deus iria me dar algum tipo de crédito, mas não. Ali estava eu. Completamente ferrado.

— Theo? - cuspo a palavra - Theo Gonzalez ligou pra você? Desculpa mãe, mas a última coisa que ele seria é meu amigo e ele nunca estaria ligando por mera preocupação.

Ela cruza os braços. Dava pra notar pela postura e pelo leve tremor em suas mãos que ela estava fazendo de tudo pra não me abraçar. Ou me bater. Às vezes eu tinha essa dúvida. O terninho amassado e o cabelo bagunçado demonstravam o quanto ela havia ficado preocupada, fazendo-me sentir um pouco mal pelo sumiço.

— Bom, ele foi o único que me falou onde e como você está. Pra mim ele é um amigo. Um excelente amigo.

Rio. Realmente gargalho.

— Então você tem que conhecer melhor meus verdadeiros amigos, dona Luiza. Ou saber melhor o que está acontecendo comigo antes de perguntar pros outros. - respondo ríspido, atento para o leve movimento que Anna faz ao meu lado - Além disso, não preciso de médico nenhum.

— Matheus... - dessa vez meu nome é soado pelas duas figuras femininas que estão comigo. Uau, quanta preocupação.

Olho para Anna. As bochechas estavam rubras por ter presenciado a discussão com minha mãe, mas os olhos atentos me diziam que ela ficaria ali ao meu lado até que eu a mandasse embora. Jesus. Aquela menina era um mistério tentador que estava me deixando louco aos poucos, tanto por estar metida na parte confusa da minha vida, quanto pelos pequenos vislumbres da verdadeira Anna que eu tinha quase todas as tardes.

Eu já tinha comprovado que gostava de verdade dela. Mas sequer imaginar um cara como Theo tentando violentá-la, deixava-me insano. Louco. Imaginar ele fazendo uma coisa dessas com qualquer outra mulher me deixava irado. Anna Clara Bennet era uma garota boa demais, que merecia coisas boas demais depois de tudo que a vida fez com ela.

— A Anna já me ajudou com os ferimentos - digo, em um agradecimento silencioso transmitido pelo olhar - Não preciso de médico.

Minha mãe olha para a garota ao meu lado, sua expressão suavizando aos poucos enquanto ela se vira pra mim e observa as ataduras que aparecem quando eu levanto a camisa.

— Tem certeza que não quer ir à um médico? - sussurra Branca em meu ouvido - Eu fiz o básico, mas ainda acho que você tem que ver se tem alguma costela quebrada.

— Não precisa, já quebrei costelas antes - respondo e lhe dou uma piscadela - Eu não sou louco, Anna. Se eu tivesse mesmo fraturado alguma coisa, eu seria o primeiro a correr para o hospital agora.  Mas se você quiser me tratar de outra maneira especial...

Ela dá um tapa de leve em meu ombro e se vira pra minha mãe.

— Ele estava comigo - comunica e eu ergo as sobrancelhas pra sua expressão concentrada. O quê?

Os olhos castanhos de Luiza se arregalam, assemelhando-se aos meus. Minha mãe estava claramente surpresa e eu não sabia o que diabos aquela garota estava fazendo.

— Desculpa, Clara - fala minha mãe e sua testa se franze - Eu sei que Matheus estava com você no sábado, Maria me disse quando ele saiu com o carro.

— Ela disse? - questiono, meio confuso. Pensei que Maria nunca falava das minhas idas e vindas pela madrugada, ela nunca falava nada quando me via, mesmo trabalhando lá em casa há anos.

— Sim e também disse que o carro estava na garagem no domingo quando ela acordou, mas você não. - responde e dá um sorrisinho pra mim - Você pensa que só por eu estar no trabalho eu não sei o que se passa com você, Matt?

— Bom, não sabe tudo. - falo com frieza - Theo não é meu amigo, mãe. E eu e a Anna...

— Saímos juntos no sábado e ele dormiu lá em casa depois. - conclui minha parceira de dança, olhando de esguelha pra mim enquanto sua mente começa a articular o que aconteceu - Fomos até sua casa guardar o carro, já que a senhora poderia precisar dele. Então voltamos andando para pegar o ônibus da madrugada.

Minha mãe olha desconfiada pra ela e eu analiso sua expressão concentrada em inventar uma mentira convincente. Não sabia porque Anna estava fazendo aquilo. Ela não precisava, mas mesmo assim estava fazendo.

— Só que lembra aquele bar lá perto de casa? - completo por ela e encaro minha mãe - Passamos por lá. Alguns babacas que estavam lá perto começaram a assediar a Anna, de maneira bastante nojenta. E eu... Eu...

— Me protegeu - Branca me encara por um momento. Ironicamente em uma mentira chegamos mais perto da verdade do que eu imaginava - Você tentou me proteger.

De novo. Vejo seus lábios concluírem a frase silenciosamente. E, de uma forma inusitada, uma parte daquela história já estava pronta na mente de Anna. Ela sabia através do meu olhar uma parte do que havia realmente acontecido. Eu sei que sabia.

— Juro que tentei levá-lo pra casa, dona Luiza. Juro. Mas, desculpe o palavreado, o seu filho sabe como ser um idiota e ele não queria te preocupar. Então fomos pra minha casa e eu... Eu... - Anna gagueja.

— Cuidou de mim. - complemento - Você cuidou de mim.

Os olhos castanhos, tão diferentes da parte italiana do meu pai, me encaram com desconfiança. Vamos lá, mãe, foi uma boa história. Até melhor que a original. Acredite.

— E como Theo sabe disso? - pergunta, cruzando os braços - Por que foi aquele menino que me ligou?

— Ele estava com a gente... No bar. Quando tudo aconteceu - respondo. Não queria colocar Theo naquilo, pois eu teria que explicar a Anna tudo que aconteceu para que eu estivesse com ele naquele sábado à noite. E, diabos, eu não estava pronto pra dizer que eu dei uma de herói por ela novamente.

— Sim. E eu estava tentando levar o Matheus pra casa agora. - complementa Anna.

— Estava? - Não sou capaz de conter a pergunta e ganho um soquinho discreto nas costas.

— Com certeza estava - fala e olha para a minha mãe  - Aproveitamos a deixa para estudarmos um pouco, já que eu estou ajudando Matheus com algumas matérias. Mostre pra ela a nota de geografia depois, Stahelin.

— Claro, mostro sim - concordo e não sou capaz de conter o sorriso - Fechei a prova.

Ah, como eu queria emoldurar a expressão de Luiza Stahelin nesse momento. Sim, mamãe. Sou eu mesmo, Matheus. E sim eu tirei dez em uma prova.

— Eu... Parabéns, filho. Caramba, eu...

— Bom, eu preciso ir  - Anna interrompe e ajeita a mochila nos ombros enquanto aponta para o lado direito da rua - Meu pai está me esperando e eu ainda vou pegar o ônibus.

— Você não quer que eu...

— Não - responde rápido demais. E sorri timidamente - Obrigada, mas eu preciso mesmo ir. O ônibus chegará logo.

Eu sabia, pelo horário, que ela estava mentindo, o ônibus iria demorar um pouco para chegar. Só que pelo seu olhar antes de ir, percebi que ela não queria outra intervenção. Ônibus é bom pra pensar, clarear a mente. Eu mesmo preferiria estar indo com ela pra casa do que enfrentar mais uma conversa confusa com minha mãe.

Porém, quando me viro para encarar novamente a mulher que me gerou, apenas vejo um sorriso pequeno, antes de seus braços me envolverem confortavelmente e inesperadamente.  E as surpresas não param.

Demoro um minuto para reagir, mas seguro os ombros pequenos da minha mãe contra meu peito. É estranho pensar quanto tempo aquilo não acontecia,  um abraço espontâneo desses. Fazia tanto tempo que eu nem lembrava do seu cheiro direito, uma mistura de mel e flores que me faziam relaxar. Desde que o desastre aconteceu e ela foi se escondendo aos poucos entre pilhas de papéis do escritório, eu me distanciava cada vez mais.

Eu sabia que a culpa não era só dela por não ser uma mãe presente, nem só minha por me afastar e tentar ocultar dela minha dor. Mas passamos tanto tempo fazendo essas coisas que eu não conseguia lembrar mais de como era essa sensação de abraço de mãe, de relação materna. Passamos tanto tempo enterrados em nossas dores que esquecemos de nos reerguermos juntos.

— Desculpe - sussurra contra meu peito e eu apoio meu queixo em sua cabeça. Mesmo com saltos, ela continuava sendo bem mais baixa. Meu pai costumava chamá-la de boneca por causa disso. - Por tudo, Matheus. Sei que não estou sendo uma boa mãe nesses últimos anos, mas quando você sumiu eu...

Não sou forte o suficiente pra vê-la chorar. Não de novo.

— Ei, eu tô bem aqui. Me desculpe também, ok? - murmuro - Por tudo. Eu deveria ter voltado pra casa. Na verdade, acho que está na hora de finalmente nós dois voltarmos pra lá. De encararmos nossa casa sem ele.

Sem meu pai. Ela assente e desvio o olhar enquanto ela enxuga os olhos com as costas das mãos. Ainda sinto meus hematomas latejarem no rosto e no abdômen, minha mente ainda vagueia por Anna Clara Bennet e seus mistérios, mas tinha uma coisa que eu precisava finalmente fazer: investigar aquelas malditas fotos e ajudar Helena Sanchez.

E para isso eu precisaria de ajuda. Helena merecia justiça e as mulheres perto de Theo Gonzalez mereciam segurança. E elas teriam.

***

— Voce fez o quê?! - a exclamação de Leandra é seguida por um tapa agudo na mesa. Gustavo olha pra ela instantaneamente, pensando, provavelmente, no que poderia fazer para acalmá-la. - Mio Dio! Como você pode ser tão idiota?

Reviro os olhos para minha prima. Eu sabia que seria desse jeito, mas encarar Leah irada não era minha coisa favorita.

— Você queria que eu fizesse o quê? - questiono - Que eu deixasse que ele divulgasse as fotos da menina? Ou ainda, que eu não fizesse nada em relação a Anna ser a próxima vítima dele? Eu precisava fazer algo, Leah!

Seus ombros relaxam por um momento e ela se inclina pra frente, segurança a cabeça nas mãos. Noto que com o movimento, seu decote ficou mais visível e ergo as sobrancelhas, contendo um sorriso malicioso quando Gus focaliza os olhos naquele lugar e desvia depois de ruborizar imediatamente. Ah, Gustavo.

— Olha, em parte eu estou orgulhosa. Você fez algo e não ignorou a situação. Sério, minha vontade é de te abraçar. Porém, o que você fez foi impulsivo e idiota, tipo assumir a publicação das fotos correndo o risco de ser preso? PorraMattAí sim eu tenho vontade de te esganar.

A ironia da coisa era palpável. Fito o pequeno objeto metálico que está no centro da mesa, o pendrive que iniciou tudo isso. Eu ainda me considerava um tolo por ter ofertado a aposta, mas não consigo imaginar as fotos íntimas daquela menina publicadas por aí como se fosse um filme pornô de quinta categoria. Eu abri o arquivo pra saber se eu podia tirar alguma informação que me ajudasse, mas o que eu decifrei era que as posições de Helena eram medonhas e o fotógrafo focou apenas nela, Theo praticamente não aparecia. Se fosse uma gravação com certeza teria soado gritos, era desumano.

— Você vai falar com o Rodriguez, não é? - pergunta Gustavo, é a primeira vez que ele fala depois de eu ter revelado tudo aos dois - Nessa cidade, ele é um dos únicos com integridade para um caso como esse. Ainda mais, com você e o Gonzalez envolvidos.

Tamburilo os dedos na mesa.

— Eu já procurei por ele, estava ocupado investigando um caso de assassinato nas redondezas. - olho para Leah - Eu pensei na Delegacia da Mulher também, mas eu não sou mulher. Helena teria que fazer a denúncia e bom... Considerando tudo que aconteceu, não sei se ela irá confiar em mim com as fotos.

Leah analisa cuidadosamente nossas opções. Era noite de terça-feira, dia que ela ficava até tarde nos ensaios do teatro. Foi um sacrifício fazê-la participar dessa reunião, porém agora,  depois que contei tudo,  posso ver claramente que seus problemas ficaram em suspenso para me ajudar. Como ela sempre fez com aqueles que ama.

— Precisamos focar na Anna e no delegado. Mas também no estupro de Helena. - ressalta, desenhando com os dedos cada parte envolvida - Anna é a próxima correndo perigo aqui, constantemente ameaçada e observada por Theo.

— Ela sabe lutar,  não sabe? - pergunta Gus olhando pra mim - Ela sabe se defender.

— Nem a mulher com faixa preta em todas as artes marciais merece ser constantemente ameaçada de violência sexual, Narcoli. Independente do quanto ela se defenda. - responde minha prima com rispidez e foca o olhar para me encarar - Você precisa contar pra ela e pedir pra ela tomar cuidado, Matheus. Aquela bosta humana que é o Theo pode fazer qualquer coisa se descobrir que estamos mexendo com isso. Ela é o que está mantendo esse acordo idiota que vocês fizeram vivo, caso algo aconteça, toda a situação dela muda.

— Eu sei - solto um grunhido exasperado - Mas Anna é cabeça dura, tenho medo que...

— Você está protegendo ela demais - responde minha prima - Ela está envolvida nisso sim, mas você não é o superman da parada, ok? Esta mais para um Batman burro!

— Qual é, Leah! - bufo e ela sorri.

— Ok, então iremos formar uma investigação? Massa, sempre quis dar uma de Sherlock Holmes. - comenta Gustavo.

Leah ri. E seu sorriso muda para uma expressão séria em uma questão de segundos.

— Garotos, uma mulher foi violentada. Isso aqui com certeza não é Sherlock. Precisamos saber mais sobre esse dia horrível. Quando, onde e como Theo foi capaz de fazer um ato horrendo desses. E pra saber disso, precisamos procurar a fonte de tudo: a vítima.

Concordo, já começando a arquitetar meus pensamentos de como contatar Helena Sanchez. A mesma Helena que era fantástica e tão popular quanto eu, mas nunca mais foi vista no colégio. A tal Helena que sofreu um trauma inimaginável que nenhuma mulher - ou mesmo ser humano - no mundo deveria sofrer. Uma violação.

Assim que penso isso, minha mente vibra com mais alguém que sofreu um grande trauma, um trauma de humilhação e luto. Alguém feminino que pode conversar com Helena sem julgá-la.

Alguém que atende pelo nome de Anna Clara Bennet e está me olhando agora com a maior cara de brava do mundo. Coço os olhos com força, tentando me livrar do sono.

— Eu estou esperando -  fala Branca.

— O quê?

— Você me beijar, sua anta!

Arregalo os olhos e viro-me no mesmo instante pra ela.

— Como é que é?

O sorriso surge rapidamente nos lábios rosados. Anna ri e entorta a boca em desaprovação.

— Só é falar em beijo que você acorda, hein? Uma pena que física não se aprende assim, babaca. - joga a lista de exercícios  pra mim - Precisa treinar mais, você está errando as questões mais básicas.

Olho com desdém para as milhares de perguntas no papel e ergo as sobrancelhas pra sua expressão. Já passou dois dias desde a reunião que eu tive com Leah e Gustavo.

— Você está tão carinhosa comigo com esses nomes maravilhosos, Branca. Idiota?  Babaca? Tem mais outra expressão encantadora?

Seu humor estava um verdadeiro inferno hoje e, ironicamente, combinava com meu próprio humor que só vem piorando desde terça-feira. Parecíamos duas granadas nadando em um mar de pólvora, competindo pra ver quem explodiria primeiro.

Helena estava difícil de ser contatada. Percebi isso quando perguntei sobre seu bem-estar a Peter, seu irmão e meu colega da natação há anos, mas este apenas  me respondeu um "não é da sua conta" mais agressivo que um leão. Só pelo olhar de Peter percebi que ele tinha me enquadrado na categoria "Theo e sua trupe" e aquilo demoraria pra ser desfeito.

Gus pegou umas fofocas que ela iria sair do colégio e eu ouvi murmúrios comentando sobre escola de freiras, xingamentos e até gravidez, todos com a pauta em Helena. Se aquela menina passava por aquilo sempre que vinha a escola, compreendo totalmente o motivo de suas faltas. Aquilo era degradante. Meninas a chamavam de puta, impura e vadia, especulando sobre o que aconteceu com a sensibilidade de uma pedra.

Volto meu pensamento para a garota que virou peça-chave para meus planos. Anna está começando a guardar suas coisas e seu suspiro baixo é acompanhado por uma frustração gritante.Desde segunda algo estava estranho. Não falei nada sobre sua mentira ter me ajudado com minha mãe, mas também ela não falou mais nada comigo sobre a briga em que me meti. Nem sobre mais nada.

Como eu estava ainda meio quebrado, as aulas de dança foram suspensas temporariamente e compensamos o resto do tempo antes do serviço comunitário com estudos. Porém, além disso,  era como se ela estivesse se fechado pra mim de novo. E eu não sabia o que fazer para concertar a situação.

E diabos aquilo era horrível. Era um caos. Viver nessa agonia de estudos e provocações vazias era o cúmulo em comparação ao avanço que demos nas últimas semanas.

— Ok, você precisa me falar o que está acontecendo. - me exaspero. -Você não está normal.

— Ah, é? Qual é o meu normal, gênio?

Cristo. Levanto-me do sofá maltratado do primeiro andar e puxo sua mão para levantar também, antes que ela sequer reaja  eu a abraço de um jeito que eu nunca fiz antes. Seus punhos batem em minha costas na tentativa de se soltar, mas meus braços firmes passam por sua cintura e seguram suas costas contra meu abdômen. Dane-se a dor.

— O que diabos você está fazendo? - murmura com irritação e eu sorrio quando ela ergue o olhar.

— Quando meu pai brigava com sua parceira de dança, ele sempre fazia isso. Ele pregava que a dança era uma conexão, então não poderia fazer isso com a outra pessoa carrancuda no meio do salão. Lembro-me que ele segurava minha mãe exatamente desse jeito ou talvez um pouco mais intimamente, mantinha o ponto de equilíbrio e dizia que só sairia dali quando ela o perdoasse por qualquer merda que ele tivesse feito. - encaro seus olhos - Eu não sei que merda eu fiz, Anna. Mas me perdoe por qualquer merda que tenha sido.

— Você não...

— Não me diga que eu não fiz nada. Tem algo errado e eu quero saber.

Afrouxo o aperto para que ela não pense que sou um idiota controlador. Agora ela sairia fácil se quisesse.

— Estou só confusa, Matheus...

— E cansada. Frustrada. Carrancuda... Você está muitas coisas diferentes desde segunda. - ergo seu queixo para que eu possa encará-la nos olhos - O que está acontecendo? Você pode me contar o que quiser, pode confiar em mim.

As íris cinzentas clareiam por um momento e vejo uma mistura de dor, desconfiança e cansaço no seu olhar. Confiança ainda era uma palavra difícil para nós dois.

— Bom, acho que quem deveria contar o que diabos está acontecendo é você - responde, se livrando do meu abraço e cruzando os braços com raiva - Confiança é uma via de mão dupla, Matheus.

Antes que eu possa abrir a boca pra responder, batidas são soadas da porta lá de baixo. Eu e Anna nos encaramos. Quase ninguém sabe que ficamos aqui. Desço as escadas com cautela e abro a porta de madeira para encontrar Helô com os cabelos roxos bagunçados e uma expressão desesperada.

— A Gisele desapareceu - comunica e seus olhos castanhos me encaram com seriedade - E eu acho que ela está muito lascada.






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Notas finais do capítulo

Faltam agora quatro capítulos para o fim da primeira parte e até lá muita coisa irá acontecer hahaha estou adorando ter esse contato com vocês, responder teorias e acompanhar o processo de leitura, então comentem! Isso é tipo um energético pra escritor hahaha ficou bastante inspirada com cada palavra que chega.

Ah, e considerando que muitas águas irão rolar ainda, é bom que minha inspiração venha para o bem, viu? hahaha as tretas estão só começando.

Até mais ♥



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