Tudo que ele não tem escrita por , Lis


Capítulo 12
Onze - Anna


Notas iniciais do capítulo

Buenos dias, pessoas! Como vocês estão?
Infelizmente não pude manter a regularidade semana passada, porém aqui estou eu com mais um capítulo! Acho justo falar que estou tentando sempre manter um dia fixo de postagens (que é o dia que eu tenho acesso a um computador), então as vezes ocorre algum imprevisto hahaha.
Espero que gostem do capítulo!
Boa leitura ♥



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C O M P E T I Ç Ã O

(s.f. concorrência a uma mesma pretensão por parte de duas ou mais pessoas ou grupos, com vistas a igualar ou esp. a superar o outro.)

 

Gustavo Narcoli olha pra mim.

O melhor amigo de Matheus me abordou assim que eu entrei no colégio naquela manhã de segunda-feira. Os olhos levemente arregalados, a respiração irregular e o bagunçado dos seus cabelos comprovavam o quanto ele correu pra chegar perto de mim. Uau, agora os garotos atléticos da escola correm pra me encontrar.

— Você viu o Matheus? - questiona, ainda meio afobado.

Rio de seus olhos arregalados e me aproximo de um dos bancos de mármore que ficam entre as salas.

— Não, são 6:15 da manhã, Gustavo - ressalto - Matheus nunca chega cedo, lembra?

Ele passa as mãos no rosto e se senta ao meu lado no banco.

— Não estou falando de hoje. Você viu o Matheus nesse final de semana?

Ergo as sobrancelhas. A confusa situação "eu + Matheus + boate" não era algo que eu gostaria de me lembrar agora.

— Por que a pergunta?

— A mãe dele ligou pra mim às 5 da manhã de hoje. Disse que ele não dormiu em casa no sábado, nem no domingo. Ela está muito preocupada e me designou como o cara designado pra encontrar seu filho. - responde e suspira - O problema é: eu não sei onde diabos aquele idiota se enfiou.

Dei de ombros, apesar de estar um pouco incomodada. Matheus ainda é Matheus, Anna. Ele ainda é o cara festeiro, que pega todas e não dorme em casa na maioria das noites.

— Se te ajudar, eu estive com ele no sábado à noite - digo e sorrio para tranquilizá-lo, mesmo querendo fazer uma careta - Ficamos juntos até a madrugada e eu pensei que ele ia pra casa depois.

Gustavo franze a testa e eu noto o indício de um sorriso surgir no canto dos seus lábios.

— Vocês ficaram juntos até a madrugada? Sério? - seu ombro bate no meu quando o sorriso se completa - Aconteceu alguma coisa?

Reviro os olhos.

— Se você estiver falando de algum tipo de interação amorosa, pode ir tirando o cavalinho da chuva - respondo e me levanto - E você já falou com as outras pessoas que poderiam estar com ele? Alguma outra menina talvez?

Tipo Larissa. Reviro os olhos com meu pensamento e fito Gustavo rir.

— Anna, Matheus não sai com nenhuma menina há muito tempo. A última vez que eu vi ele junto com outra garota foi antes do incêndio na biblioteca. - ele me lança uma piscadela - Não se preocupe quanto a isso.

Surpreendo-me com a resposta, mas, antes que eu tente argumentar, ele começa de novo:

— Já falei com todos que podem ter estado com ele. O pessoal amigo: colegas do meu time, colegas da equipe de natação dele e tal. Ninguém sequer falou com ele nesse final de semana.

— Você acha o quê? Que o "pessoal inimigo" pegou ele? Estamos na Guerra Fria agora? Dois extremos?

Gustavo se chateia e bufa. O casaco vermelho que ele está usando destaca suas bochechas levemente rubras.

— Eu não sei o que pensar, ok?

— Bom, ele tem serviço comunitário comigo hoje. Se ele aparecer, eu falo. - comunico, pronta pra entrar na minha sala - Até lá, desejo-te sorte para encontrá-lo. Você disse que nunca mais viu ele com nenhuma garota, mas parece que tem algumas coisas sobre ele que você não sabe.

Como eu também não sei. Argh.

Eu sabia que eles eram melhores amigos, mas, pelo pouco que conheço de Matheus, também sei que ele tinha um histórico de esconder coisas das pessoas. Gustavo se levanta também e segura meu braço.

— Do que diabos você está falando?

— Não sei, Gus - respondo - Ele está escondendo alguma coisa e não me conta! Ah, dá uma vontade de agarrar ele e...

— Beijar? - uma voz fala atrás de mim - Abraçar? Dá uns pegas? Lamber?Comer? Tem vários sinônimos que se encaixariam tão bem nessa frase, Branca.

Viro-me no exato momento em que seu sorriso surge. Este que, dessa vez, parecia uma máscara mal feita para esconder um aglomerado de sentimentos controvérsios. Um sorriso que não se encaixava com o rosto desfigurado que ele exibia. Matheus estava ali, com seu cabelo castanho caótico e seu aspecto de presunçoso, mas parecia uma versão acabada de um lutador que perdeu a luta.

— Eu ia dizer socar, esmurrar ou mesmo bater - cito e ergo as sobrancelhas para seu olhar esverdeado - Mas parece que outra pessoa já fez isso por mim.

Ele estava realmente acabado. A camisa preta e a jaqueta que ele usou no sábado comigo agora estava amassada e suja, como se ele tivesse rolado no chão por um tempo.

— Ah, mas eu iria preferir mil vezes que você tivesse me batido - Ele dá de ombros e ajeita a mochila nas costas. - Pelo menos seria mais prazeroso.

Faço uma careta. O olho direito mal abria tamanha a pancada que ele deve ter levado, ao redor uma grande mancha roxa se alastrava, esta que cobria uma parte da bochecha. Além disso, os lábios estavam rachados com sangue seco.

— Não me olhe assim - diz - A outra pessoa está bem pior do que eu, sabia?

— O que aconteceu? - É Gustavo que pergunta. As mãos inquietas ao lado do corpo sem saber o que fazer. Percebi que ele ficou estranho quando Matheus chegou, o olhos arregalados com cada hematoma visível.

Matheus olha pra ele e um entendimento mútuo se passa entre os dois amigos. Ótimo! Estou sobrando na conversa telepática. Respiro fundo e pego a mão de Matheus antes de arrastá-lo pelos corredores em direção a enfermaria do ginásio. Era muito cedo ainda e, como quase ninguém chegara, era fácil percorrer as áreas comuns até chegarmos ao local.

— O que você está... - Matheus tenta perguntar, mas eu puxo ele para dentro da salinha mal iluminada antes que termine.

— Cala a boca - alerto e jogo a mochila em uma dos armários, depois de acender uma luz de emergência que fica no canto da parede. Não sabia se o que eu estava fazendo era o certo, só não podia deixar os dois panacas sentados esperando um milagre cair do céu.

Gustavo, que havia nos seguido por todo o caminho percorrido, chama Matheus pra se sentar em uma das macas para analisar os ferimentos.

— Isso está muito feio, cara. - comenta e olha pra mim - Como você sabia que essa enfermaria estaria aberta? A direção só usa quanto tem jogos oficiais.

Pego um pouco de gaze e soro no armário, deliberando um pouco sobre a resposta.

— Eles sempre esquecem de fechar - respondo e me aproximo de Matheus - E eu já tive que vir aqui uma vez.

Os olhos verdes me analisam concentrados. Claramente tentando entender o que se passava em minha mente. Faço o mesmo, observando os traços de cansaço e dor dos ferimentos mal cuidados. Vamos ver quem esconde os sentimentos melhor, Stahelin. Analiso o aspecto dos cortes, todos com sangue praticamente seco.

— Você tinha se machucado? - ele pergunta.

Ergo o olhar e sorrio.

— Isso não é importante agora, certo? - rebato - Como pode ver, agora eu não sou a machucada aqui.

— Você devia ter ido a um hospital - declara Gus, exasperado - Sua mãe está morrendo de preocupação, sabia? Imagina a cara dela quando encontrar você desse jeito depois de dormir duas noites fora de casa? Vai pensar que você entrou em uma boca de fumo, Matt.

Matheus tenta sorrir, mas acaba saindo uma careta desengonçada.

— Queria eu ter ido a uma boca de fumo - responde - Não sou fã de drogas, então largaria fácil.

Gustavo revira os olhos.

— Você é impossível, caralho! Não brinca com uma coisa dessas.

— Gus... - Matheus começa, mas é interrompido com um grunhido quando eu pressiono o algodão no seu olho direito. Com mais força que o necessário.

— Isso aqui foi de sábado, não foi? - pergunto e reviro os olhos com a constatação - Claro que foi! Você ainda está com as mesmas roupas daquele dia. Devia ter passado gelo nesse olho assim que recebeu a pancada, Matheus.

— Desculpa, enfermeira — resmunga - Você acha que se eu pudesse não teria passado alguma coisa? Eu não sou idiota, Branca. Sobre o que você disse, Gus: Não preciso de hospital, os cortes não são tão profundos e em alguns dias o olho melhora. Porém, realmente, dona Luiza iria surtar se me visse assim, você sabe como ela é.

— Por isso não voltou pra casa - concluo sua linha de raciocínio - Aonde você estava, Matheus? Quem fez isso?

Ele grunhe e tenta afastar minha mão quando eu a aperto sobre o ferimento.

— Método de tortura? - sussurra meio rouco, ignorando totalmente a última pergunta que fiz - Você é agressiva, mas nunca pensei que você fosse dessas, Branca.

Suspiro e tiro a gaze do local para pressionar na bochecha machucada. Noto seus músculos se retesarem quando ele se inclina e por um momento pergunto-me se os ferimentos foram só no rosto.

— Preciso que você pegue gelo pra ele, Gustavo - peço - Como não é muito utilizada, essa enfermaria não tem muita coisa pra passar nesses machucados roxos.

— Deveríamos levar ele para a enfermaria oficial então - propõe Gus, ele estava quieto e fazia careta cada vez que Matheus gemia. Pelo visto alguém não era muito fã de ver machucados.

— Gus, você sabe que eu... - Matheus começa.

— A enfermeira sempre chama os pais - interrompo Matheus e olho pra Gustavo. Este que tinha se acalmado da afobação de mais cedo, mas agora estava tão desesperado quanto um maratonista - E já ficou claro aqui que o Stahelin não quer a mãe dele envolvida nisso.

Gustavo bufa, olha pra Matheus e depois pra mim de novo, perguntando implicitamente se eu ia apoiar o seu amigo nessa. Quando se dá por satisfeito, ele suspira e caminha para a porta a fim de pegar o gelo que eu pedi.

— Obrigado - minha companhia não tão prazerosa fala alguns minutos depois - Gustavo não lida muito bem com ferimentos ou qualquer coisa que envolva sangue. Se eu tivesse sangrando de verdade ele teria desmaiado.

Dou de ombros porque aquilo não foi nada demais diante do que eu vou fazer agora. Afasto-me e o encaro.

— Tira a camisa - mando.

O olhar esverdeado foca em mim por um momento, a malícia evidente. E, pela primeira vez naquele dia, o indício de riso que sai dos seus lábios é genuíno.

— Sério? Foi por isso que mandou Gus sair? Se quer me ver sem roupas, posso fazer isso a qualquer dia e qualquer hora, Anna. Até te mando alguns nudes. Mas...

— Matheus! - repreendo e ele ri.

— Hoje você não terá o prazer de ver meu abdômen, sinto muito. - responde.

Largo a gaze e o soro em um canto, franzindo as sobrancelhas para a camisa suada que começava a grudar em seu corpo. Ele tinha tirado a jaqueta quando chegou e o modo como ele se curvava e protegia o lado direito do corpo me fazia supor algumas coisas. Sorrio do meu jeito mais diabólico e me aproximo do seu corpo.

— Eu acho que não - falo - Querendo ou não, sua camisa vai sair daí.

— Anna. - murmura em tom de alerta

Acho engraçada a maneira como seus olhos se tornam mais escuros por um momento, como se tentasse conter alguma coisa. Minha mão toca primeiro seu joelho e a outra eu deslizo por sua bochecha áspera por causa do machucado.

— Você está escondendo muita coisa de mim e, considerando a instabilidade da nossa relação, você sabe o quanto isso me afeta - mordo o lábio tentando conter a raiva por ele ser tão idiota - Mas eu não vou deixar você ser um babaca egoísta que negligencia seus ferimentos.

Desço minha mão com rapidez e aperto o mais firme que posso meus dedos contra o lado direito de sua cintura. O grunhido dessa vez é quase instintivo.

— Porra!

Sua mão contém a minha no mesmo instante e eu fito seus olhos.

— Se você não quer ir para um hospital, nem pra enfermaria, tem que me deixar ver isso. Se não eu serei a primeira a chamar sua mãe aqui.

Ele respira fundo. Os olhos nublados de dor.

— Um fato: você fica muito sexy bancando a preocupada - afirma, tirando a camisa pela cabeça com um gemido contido - Está aí sua obra de arte, princesa.

Arquejo por um momento, um arquejo nada de princesa. A coleção de marcas vermelhas e roxas é bem maior aqui, principalmente nas costelas do lado direito. A princípio pensei que ele tivesse brigado com uma pessoa, mas as feridas são mais parecidas com quatro pernas que chutaram seu corpo demoradamente. Meu Deus, Matheus. O que foi que você fez?

— Nada de hospitais - confirma quando vê eu encarar seu abdômen sem qualquer pudor. - Eu sei que você está pensando nisso.

— É que eu não sou milagreira, sabe? - falo, sem saber por onde começar - Eu não consigo cuidar de uma ou mais costelas quebradas aqui nessa espelunca, Matheus.

— Você não precisa cuidar - responde segurando meus dedos quando eu começo a passa-los em torno de um dos machucados e ele estremece - Eu não pedi por isso, Branca. E nem quero. Você sabe como eu sou, você me julga desde a educação infantil. Se eu apanhei tanto, talvez eu merecesse.

Puxo minhas mãos das suas e começo a enfaixar o ferimento com gaze e uma pomada muscular que achei em um dos armários velhos.

— Dane-se o motivo, ninguém pode ser espancado assim de uma hora pra outra! Isso é crime, ok? Se você me disser o que realmente aconteceu...

— Não posso, não agora. Não posso te explicar mais do que já te falei.

— Você disse pra Helô! - revolto-me.

Eu estava cansada daquela enrolação. Fazia duas semanas desde o dia em que fomos parar na delegacia e até aqui eu descobri coisas sobre ele que eu nunca desconfiaria. De fato, nossa relação estava melhor do que antes, já que eu soube mais coisas sobre o lance do nono ano e sua mentira. Mas ser enrolada de novo? Eu não deixaria isso acontecer.

— É diferente quando a pessoa não está envolvida, Anna - rebate e toca minha bochecha com os dedos calejados - Tudo mudou agora. E eu vou te explicar tudo, mesmo achando que eu vou acabar te metendo em uma enrascada.

— Eu aceitei uma enrascada quando aceitei o nosso acordo de estudos, não foi? Ainda é uma missão impossível, mas eu estou aqui, não estou?

Ergo os olhos para observar o seu foco permanecer em meus lábios por um momento tão longo que eu fico meio perdida. Um leve murmúrio é exalado da sua garganta e meus olhos se arregalam, mesmo sem saber o que estávamos prestes a fazer. Ele se inclina e eu apoio minha mão no seu joelho novamente quando um assobio soa da porta da frente.

Gustavo está em pé olhando pra nós, o sorriso astuto era tão visível que ele nem parecia o cara desesperado de minutos atrás. Uma bolsa de gelo está pendurada em uma das mãos.

— Eu jurava que não tinha rolado nenhum tipo de interação amorosa - dá ênfase nas minhas palavras - Me enganou direitinho, Clara.

***

Depois de perder a primeira aula e uma parte da segunda, finalmente entramos na sala de aula. Tive que dar uma desculpa boba pra professora que estávamos estudando no ginásio, pelo visto ninguém desconfia da estudante benevolente que ajuda os garotos do esporte a estudar. Típico.

Matheus se sentou ao meu lado e estava inclinado com a cabeça nas mãos, provavelmente para que o pessoal não reparasse muito nos machucados. Depois que Gus chegou, nossa conversa chegou ao fim como se nada tivesse acontecido e eu cuidei dos ferimentos dele com mais vigor que o esperado tamanha a raiva que me acometeu.

Caramba, eu só queria saber o que diabos estava acontecendo!

Quando enfim chegou a aula de geografia, o professor Marcos começou a chamar todos os nomes para entregar as notas. No final, antes de terminar de entregar tudo, ele se sentou na bancada e riu pra gente.

— De todas as provas que eu já fiz, essa com certeza foi a mais surpreendente. - ele olha demoradamente para o cara ao meu lado - Surpresas muito boas, acreditem.

Tento não sorrir com isso, mas falho quando vejo Matheus levantar o rosto e erguer as sobrancelhas. Dessa vez você vai tirar uma nota boa, Stahelin.

— Anna Clara Bennet - chama e eu pego minha prova rapidamente com ele. Marcos sorri - Como sempre, prova fantástica, Clara! Teve uma besteira no final, mas isso não afetou tanto sua nota. Não se preocupe.

Assinto e volto pro meu lugar. Eu sabia que tinha chances de eu não acertar todas dessa vez, a avaliação estava mais complicada que o normal. Noto os dedos do cara ao meu lado se mexerem com nervosismo. Vamos lá, que você tenha tirado uma boa nota também.

— Matheus Stahelin, venha aqui - pede o professor e Matheus se levanta - Pensei que iria ter que te reprovar esse ano, rapaz. Fico feliz com meu erro. Parabéns, você gabaritou a prova! Respostas perfeitas e inesperadas. - Marcos dá outra risadinha - E surpreendemente, nessa prova, você superou a Clara.

Arregalo os olhos no mesmo momento . Como é que é? Matheus vira o corpo para me encarar e o sorriso presunçoso que surge em seus lábios me faz ficar irada. Filho da mãe. Quando ele volta a se sentar ao meu lado, eu sorrio amavelmente enquanto meus dedos torcem a pele do seu braço em um beliscão.

— Seu cretino! - ralho baixinho - Aposto que nem precisava eu ter ido no feriado, precisava? Você sabe geografia!

Ele faz uma careta misturara com sorriso e solta um grunhido silencioso quando tenta tirar minhas mãos de perto de si.

— Eu precisava tirar algumas dúvidas, mas não estava tão desesperado, confesso. - murmura pra mim e ri - Veja pelo lado bom, me passar de ano não é tão impossível assim em geografia.

Reviro os olhos e não falo com ele pelo resto da manhã. Imbecil. Quando finalmente chegamos na Terra da Sobriedadeentrego uma das minhas maiores listas de física, a que contém mais exercícios, e explico o assunto com mais mau humor do que o habitual. Porém, inesperadamente, ele se diverte e, depois que terminamos, caminhamos juntos até a sala de recreação.

Hoje era dia de grupo terapêutico e a doutora Angela preferiu se reunir em um local mais dinâmico dessa vez. Quando entramos, quase todos estão reunidos em um círculo no chão, todavia noto a a ausência de Gisele. Sento com eles e sorrio para Helô que segura um estojo de pintura enorme no colo.

— Caralho, riquinho! - exclama ela - Quem te deu essa surra?

— Heloísa! - doutora Angela repreende.

— Mas, doutora, o menino está parecendo um saco de pancadas. - responde e se inclina pra frente - Alguém daquele lance doido fez algo contra você?

Noto Matheus arregalar de leve os olhos e disfarçar com um sorriso sacana.

— Não, esse não é um assunto que eu queira conversar aqui, Helô - responde e lança-lhe uma piscadela - Mas como ninguém pergunta, eu digo: Eu tô assim, mas o outro cara está pior, sério.

Yago ri.

— Nem quero imaginar o pior, cara.

Angela solta um grunhido e interrompe a conversa com um assobio. Sorri quando todos se calam e tenta se acalmar.

— Bom tarde, pessoal - começa, os olhos atentos em cada um dos seus pacientes - Depois de toda essa conversa, posso finalmente perguntar como passaram a semana?

Cada um dá um breve resumo de resposta e Helô interrompe Angela com um gritinho.

— Desculpa, doutora - pede e abre a caixa que agora está aos seus pés - Mas olha isso aqui! Está vendo todas essas cores? Tem cor que eu nunca vi na vida!

Angela ri da animação de Helô.

— Fico feliz que tenha gostado do presente, Heloísa - responde e passa os olhos por mim e Matheus antes de se virar para encarar todos novamente - Na verdade, pelo que eu vi, todos ganharam presentes interessantes nesse final de semana.

Todos riem.

— O Papai Noel chegou adiantado, doutora - fala Yago, mostrando a coleção de DVDs de Star Wars que ele ganhou - E ele ainda sabe minha saga favorita.

Helô ri e deita a cabeça no ombro de Yago.

— Você é um nerd, Yago - afirma e ele dá de ombros com um sorriso, claramente adorando a aproximação.

Olho Pedro enconstado no sofá da sala. Ele estava observando tudo com um olhar neutro, mas um breve sorriso ilustrava seu rosto moreno. Notei que a camisa que ele estava usando era claramente nova, como também os CDs de Coldplay Imagine Dragons que estava em suas mãos.

— Eu só tenho a agradecer - fala, parando o olhar em mim por um momento - A quem quer que seja a pessoa misteriosa que fez isso pela gente.

— Com certeza ele fez muita gente feliz - afirmo e olho Matheus. Ele realmente faz muita gente feliz, só não nota a importância disso. Ao invés dessa ideia, prefere se esconder quando se fere ou se curar sozinho, não notando a importância que tem pra outras pessoas.

Quando pergunto o porquê de Gisele não está, eles respondem que ela estava indisposta e preferiu ficar no quarto. Pelo que eu me lembro, Matheus tinha dado um vestido florido pra ela, junto com dois livros que eu mesma escolhi. Eram presentes legais, não tão elaborados, mas legais para demonstrar que eles ainda podiam fazer o que gostavam e se sentir bonitos, independente se estavam em reabilitação.

Ao final de tudo, recebemos um comunicado de Dr. Lucas que o presente peculiar (o vibrador) foi liberado com algumas restrições e já tinha sido encaminhado para a pessoa que o receberia. Matheus sorriu com isso e caminhamos juntos até a porta da frente.

— Você vai pra casa? - questiono, mesmo achando que a situação não era da minha conta.

Ele olha pra mim minuciosamente, como se tentasse extrair a natureza daquela pergunta. Preocupação? Curiosidade? Eu podia ver as interrogações aparecendo em sua mente. Porém, antes que ele responda, uma voz feminina e bem reconhecível interrompe:

— Com certeza ele vai. Para casa ou para o hospital, depende do quanto você se machucou - Luiza Stahelin cruza os braços - Seu amigo Theo ligou pra mim, Matheus. Com certeza temos muitas coisas pra conversar.


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Notas finais do capítulo

Eu só consigo rir da quantidade de ameaças a Theo Gonzalez hahaha se vocês entrassem na história, o menino já estaria morto há muito tempo! Mas, realmente ele faz muita coisa ruim... O que será que aconteceu no sábado á noite?

Bom, já entramos no capítulo onze da história, logo, estamos caminhando para as tretas realmente acontecerem. Espero que estejam gostando!

Beijão e até mais,



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