Assim que acordei, já era de manhã. Levantei, fui até o banheiro e lavei meu rosto, utilizando a privada também. Olhei para meu perfil no espelho e meus olhos estavam vermelhos. Parecia que eu tinha fumado a droga que a Naomi havia fumado na Sala de Música dias atrás. Desci para tomar meu café de pijama mesmo, já estava me acostumando com a presença do sr. Jonson em casa.

Assim que desci as escadas, senti um cheiro muito gostoso de café vindo da cozinha. Ao chegar no cômodo, vi o sr. Jonson bem vestido, com uma blusa branca normal em baixo de uma blusa de flanela vermelha xadrez por cima e uma calça jeans e calçava tênis all star, fazendo café e depois vendo o fogão. Sinceramente, o look do sr. Jonson estava mais para meu look (no qual apelido carinhosamente de “Roupa largada mas confortável”) ao invés do dele.

– Bom dia - disse eu.

– Bom dia, Ayumi! Chegou bem na hora. Estou fazendo café e o bolo está quase pronto.

Bolo? Hmm... Fazia tanto tempo que não comia um bolo de caseiro. Depois que a cafeteira parou de funcionar, ele pegou a jarra e colocou em cima da mesa, enchendo a sua e minha caneca.

– Vai querer com leite? – perguntou e eu assenti, ele encheu a caneca até a metade.

Em seguida, ele abriu o forno e retirou lá de dentro a bandeja com o bolo. Acho que era de laranja. O aroma estava muito agradável, além da sua cor também. Bem douradas devido ao caramelo caseiro que ele tinha colocado junto. Havia raspas de laranja por cima. Comecei a salivar.

– É bolo de laranja. Espero que goste. Minha vó que me ensinou essa receita. – ele cortou um pedaço do bolo ainda quente e serviu no meu prato.

– Obrigada! – cortei um pedaço, assoprei e comi. AI MINHA LÍNGUA! Que coisa mais deliciosa! Não contive em expressar minha satisfação para ele. – Hmmmm... Está delicioso, sr. Jonson! Sua vó o ensinou muito bem – dei mais uma garfada no bolo.

– Só cuidado para não se engasgar com os pedaços de laranja dentro dele.

– Tem laranja dentro? – eu cortei o pedaço no meio e encontrei a laranja. Espetei a fruta e levei à boca. Nunca havia comido um bolo tão gostoso assim. Supera de primeira os cookies de chocolate da sra. Lee.

Ele sentou-se comigo à mesa, tomando um grande gole de café e puxando assunto comigo.

– Hoje é o último dia de aula, estou certo?

– Sim, ainda bem.

– Vai dormir até o Fim do Mundo chegar?

– Você vê o futuro, rapaz – disse eu colocando mais um pedaço de bolo na boca e saboreando a deliciosa fruta cítrica.

– Rapaz? Estou bem na idade então, não? – ele riu e eu deixei soltar um fio de riso também.

Ao terminar a refeição, eu agradeci ao sr. Jonson e subi para me trocar e arrumar minhas coisas. Acabei fazendo a tarefa bem rápido. No fim das contas, mamãe não acordou eu fui para o colégio mesmo assim. No final, o Tatsuo disse se ia me ver no festival, e eu assenti. Marcamos um ponto de encontro e fomos nós. Perguntei se o Hayato e a Naomi iam e ele negou.

Ao chegar em casa, eu recebo uma carta. Com envelope muito bonito e um selo lindo na frente. Vi o nome no selo: Família Shon. Ah, é da Naomi! Por que ela ia me mandar uma carta?! Abri e li o conteúdo.

“Querida, Ay-chan

Sei que você vai ficar muito brava comigo por isso, mas acho que você percebeu que eu não fui no colégio hoje de manhã, certo? Eu sinto muito pela minha falta. Também digo que não precisa pegar nenhuma papelada do conteúdo dado hoje em sala de aula. Quero informa-lhe que eu não estarei com vocês essas férias, pois durante a minha apresentação no palco com o Tatsuo, havia um olheiro e este estava de olho em mim. Ele acabou falando comigo e com meus pais de eu concorrer a prêmios em diversos países orientais e ocidentais! Meus pais e eu acabamos aceitando a oferta. Sinto muito não poder ter feito uma despedida apropriada para você e para meus amigos, mas já enviei uma carta a todos. Também estarei ocupada durante cinco meses na Europa por competir em Hipismo Clássico. Ou seja, estarei durante as férias todas fora do Japão. Espero que você possa me dar muita sorte assim como eu dou muita sorte para você aí. Ah, e não esquecendo: Feliz Ano Novo! Manteremos contados, tudo bem?

Com amor,

Naomi.”

Mas que desgraça. A menina vai para o infinito e além sem nem dar um abraço? Eu suspirei fundo e abracei a carta, falando em voz alta: “Boa sorte, Nao-chan!”. Recebi uma mensagem do Tatsuo perguntando que horas nos encontraremos no festival. Disse que poderiam ser umas 18:00 e ele concordou. O tempo passou rápido. Próximos das 17 horas eu comecei a me arrumar. Tomei meu banho e pedi à mamãe que me ajudasse a arrumar o cabelo e principalmente o kimono. Ficamos até umas 17:56 arrumando tudo. Depois, mamãe entregou-me uma bolsinha com o mesmo tom da cor do kimono, vermelho com uns detalhes em dourado.

Ao sair de casa, peguei um táxi até o festival de Fogos de Artifício. Ao chegar, fui até o local marcado e encontro o Tatsuo. Acenei para ele e tentei correr (mesmo com meus chinelos de estaca de madeira atrapalhando). Vi o Tatsuo arregalar seus olhos ao me ver.

– Desculpe-me o atraso! Minha mãe teve que me ajudar a arrumar essa roupa.

O Tatsuo estava com uma roupa normal, calça jeans com uns rasgos de “charme”, um cinto preto estilo bad boy, uma camisa de mangas compridas brancas com um detalhe de uma caveira na frente preta e uma jaqueta azul escuro xadrez por cima. Vestia tênis estilo skatista.

– Está tudo bem? Não está bravo comigo, está? – disse eu.

Ele olhou para mim de baixo à cima. Corei.

– Desculpe-me a vestimenta. Não costumo usar isso no dia-a-dia e mamãe decidiu que eu usasse isso.

– Está linda – disse ele depois de um tempo com um sorriso meigo no rosto.

– O-o-obrigada! – eu desviei meu olhar dos seus belos olhos verdes.

Em seguida escuto alguém gritar meu nome.

– AY-CHAAAN!! - Hayato. Tinha certeza que era ele, e não é que era mesmo? – Uou, Ay-chan! Você está linda!

– Vocês receberam a carta da Naomi? – perguntei tentando mudar de assunto.

– Sim... – disse Hayato abaixando a cabeça.

– Também – respondeu Tatsuo.

– Vamos desejar boa sorte para ela nessa carreira, não acham bom? – disse eu.

– Claro! – respondeu Hayato.

A tarde foi bem animada. Os fogos iriam ser lançados exatamente às 00:00 no céu. Enquanto isso nós acabamos indo em barraquinhas de comidas, de jogos e eu e o Tatsuo tivemos que ficar tomando conta do Hayato porque ele se perdia facilmente. Ele obrigou Tatsuo comprar uma máscara de um personagem de mangá e depois de muito encher o saco, Tatsuo comprou. O Tatsuo acabou tendo que levar o Hayato nas costas, adormecido, porque ele acabou comendo demais e passando mal. Fomos até um campo que não havia muitas pessoas lá, Tatsuo havia falado que era ótimo ficar ali por causa da vista dos fogos de artifício. Largou o Hayato, sem delicadeza nenhuma, no gramado e nos sentamos ao lado dele, um de cada lado da fábrica de baba.

– Ayumi...? – Tatsuo chamou minha atenção enquanto eu tentava colocar um fio de cabelo que se soltara da presilha.

Olhei para ele e ele pegou a mecha solta, com a maior delicadeza, e prendeu meu cabelo. Nossos rostos estavam muito próximos. Não podemos nos beijar aqui!, pensei. E o pior: o Hayato está entre nós! Não mesmo! Assim que ele prendeu meu cabelo eu agradeci e me afastei, ajeitando meu tronco.

– Ayumi...? Eu tenho algo importante a falar. – olhei fixamente para seus olhos. Ele estava com uma expressão séria.

– O quê?

– Eu... Sei quem matou Emi.