Assim que terminou a aula, Tatsuo disse que ia a pé para casa junto com o Kazumi e me convidou para ir também, pois era caminho. Agradeci o convite, mas recusei, pois queria muito falar com a Naomi, ter “um papo de menina”. Esperei a Naomi guardar seu material e assim fomos para a linha do trem.

– Então, Ay-chan... Queria falar comigo?

– Érr... Sim...

Por que estava hesitando tanto? Ela não deixou bem claro que esta afim do Hayato? Como amiga, acho que não deveria guardar segredos. Respirei fundo e falei.

– A senhora Lee morreu!

– O quê? Quem?

Por que falei isso??? Por que não fui forte o suficiente para falar? Será que não é o momento?

– Ah, minha vizinha... Faleceu...

– Minha nossa... Meus sentimentos. Morreu do quê?

– Oh, ela caiu da escada fraturando sua medula.

– Minha nossa...

Não sei estava com uma cara envergonhada, mas a Naomi ficou me olhando por um bom tempo, me deixando muito nervosa e corada.

– Ay... Você está bem?

– C-claro! P-por quê?

– Você está... Diferente...

– Eu?! Na verdade VOCÊ está. – disse passando meu nervosismo para ela.

– Por que estaria diferente? Não estou diferente!

– Sim, você está. Aconteceu alguma coisa?

Ela suspirou e ficou mais corada ainda. Ela disse que era um segredo, me deixando curiosa. Perguntei o que era e ela disse que gostava do Hayato Kazumi. Nossa, sério? Olha... Isso é novidade para mim – sarcasmo 100% -. Disse que já sabia disso e ela me olhou preocupada.

– Ah, não. Ninguém me contou nada, sabe? Mas é que fica tão na cara.

– Tão... “na cara”?

– Sim... É muito fácil saber por quem e quando você está apaixonada, feliz, triste, magoada, com raiva, tranquila, com fome, entre outros. Digamos que... Você mostra demais seus sentimentos.

– Isso é... Ruim?

– Oh... Tuchê! Essa pergunta não sei bem responder.

Depois que ela falou que gostava de Hayato-kun dês da quarta série acho que fiquei na obrigação de contar o que eu sinto sobre o Tatsuo. Mas não sabia se contar para alguém, Tatsuo ficaria sabendo.

– Naomi!

– Sim?

– E-eu também tenho.

– Tem o quê?

– U-um segredo. É, tenho um segredo que também quero contar para você.

Ela parou e me olhou com olhos de um cão fiel ao dono. Senti-me segura com ela e então respirei fundo e falei.

– Eu realmente estou gostando do Tatsuo, acho...

– Sério?! Mas que bacana! Por que não me contou antes? Sabe que pode confiar em mim, né?

– Claro.

Naquele momento, o trem tinha chegado à estação. Embarcamos e durante a viajem toda nós duas ficamos quietas. Será que lá no fundo do coração da Naomi sentia magoas ao meu respeito? Ao chegar ao ponto em que Naomi tinha que descer, ela se despediu de mim e dizendo para que me preparasse amanhã, pois ficaríamos no colégio. Com todo o tédio e saco do mundo concordei, dando tchau a ela também. Minha casa era um pouco longe, e durante aquele todo tempo tinha que ficar em pé, pois não havia lugar. Quando escuto alguém me chamar. Era a voz de Tatsuo. Mas o que ele estaria fazendo no trem? Não ia a pé para casa?

– Tatsuo, o-oi! Não iria a pé para casa com Hayato-kun?

– Pois é... Acho que o “lado esportivo” dele não está ativo, e disse que iria pegar o trem.

Mas que droga! Por que ele não me chamou e chamou a Naomi antes? Poderíamos tentar juntar os dois.

– E cadê ele? – perguntei.

– Dormindo... Ainda tem um lugar ali, quer se sentar?

– Ah, obrigada, mas estou bem. - recusei por educação.

Olhei entre as pessoas até localizar Hayato. Ele era hilário até dormindo. Quando ele tombou em uma senhora e ela o empurrou fazendo-o bater a cabeça no banco.

– Ai! Quem foi o ser desgraçado que me... empurrou? – disse baixo depois de olhar à senhora ao seu lado. – Mil perdões minha senhora por ter te usado como encosto. O que poderia fazer para te recompensar com essa minha atitude rude?

– Saia desse lugar. - disse a senhora seca e grossa sem hesitação.

– É o quê?!

– Minha amiga está prestes a subir no trem, então saia.

Sem reclamar, ele saiu e veio em nossa direção de cabeça baixa, abraçando o Tatsuo como uma criança abraça sua mãe ao perder seu brinquedo. O Tatsuo acaricia seu cabelo e fica repetindo “Tudo bem, está tudo bem”. Gente, aquela cena era para rir ou era para censurar? (daqui a pouco vai virar uma história de yaoi... u.u)

– Tatsuo-senpai... Me leva para casa? – pergunta Hayato.

Naquele momento não aguentei e fui a única no trem a gargalhar. Aquela carinha e aquela voz... Quantas faces e vozes Kazumi poderia fazer?

– Ok, chega de brincar Hayato. Você é um homem, certo? Se comporte como um. Se não as pessoas desse trem vão criar humores estranhos entre nós, entende?

– ... Hã...

– Casal gay, cara.

Ele se desgrudou do Tatsuo e se endireitou rapidamente, limpando a garganta.

– Então desistiu de ir a pé, jogador de basquete? – perguntei com uma voz provocadora.

– Ah... Estou cansado. Hoje tivemos várias reuniões e treinos. A única coisa que quero é dormir, mas não do lado de uma velha senhora rude. E onde está sua amiga? Não vieram juntas?

– Ah, a Naomi. Ela acabou de descer na linha anterior.

Ele olhou com um olhar com chamas comendo a alma do Tatsuo.

– Pô, cara! Por que não me chamou?

– Porque eu não vi as garotas e porque não sou seu despertador.

Hayato acabou dando uma cotovelada de leva no braço de Tatsuo fazendo-o revidar com um cascudo.

– Ok! Para! Está queimando meu lindo cabelo! Ai meu cérebro!

– Que cérebro? – disse Tatsuo rindo.

– Ayumi, socorro!

Não sabia o que fazer, então pedi ao Tatsuo que parasse. Acho que eles são grandes amigos, pois não estavam fazendo isso para machucar.

– Pessoal, descerei aqui. Obrigado pela companhia. – disse Hayato.

O trem parou e ele se despediu acenando. As portas se fecharam e eu fiquei de um lado e Tatsuo do outro. Novamente teve aquele silêncio que doía a alma.

– Amanhã poderá ficar no colégio? – disse Tatsuo.

– Ah, sim; claro. Hm... Descerei nesse ponto. Espero não deixá-lo sozinho.

– Não, minha linha é duas estações depois da sua. Mas mesmo assim obrigado.

As portas do trem se abriram e eu sai, me despedindo do Nagashima acenando. Ele acenou de volta para mim e lá se foi o trem. Enquanto subia as escadas do metrô, meu cérebro trabalhava a mil, pensando na mamãe, na Naomi e principalmente no Tatsuo. Em questão à Emi, hesitei em saber se falava ou não com mamãe. Então decidi que se não falasse com ela tomaria um banho com água gelada à noite.