Karina POV

Eu estava nervosa, acordei ansiosa pra ver Pedro, mas não sabia como devia me portar perto dele, afinal, o que estava rolando exatamente entre nós dois?

Quando abri a academia deixei a porta encostada para ele poder entrar, a cada minuto que passava e ele não chegava eu ficava mais nervosa ainda.

Eu já estava pensando que ele não viria mais, quando ouvi a porta se fechar.

_Bom dia, esquentadinha!

_Bom dia. – respondo.

Ele parece não saber mais o que falar, então eu digo:

_Achei que você não vinha.

_E te privar da minha companhia? Nunca.

_Menos, bem menos.

_Só to brincando esquentadinha, gosto de te ver toda irritadinha, admite, cê também gosta.

Então ele está agindo como se nada tivesse acontecido? Okay, se era assim que ele queria, que fosse, eu que não ia falar nada, não sei o que eu pensei que ia acontecer, eu nem sei ao certo o que eu sinto por ele, ta eu sei, eu gosto dele, talvez mais do que eu queria, mas eu que não iria deixar ele ficar sabendo disso, e essa atitude dele me decepcionou um pouco.

_Cê é muito convencido mesmo.

_To pronto pra dar uns socos.

_Primeiro as luvas né mané, toma coloca essas aqui.

_De quem é?

_Não sei, foi as únicas que achei.

_Nossa valeu.

_Pronto? – Pergunto.

Ele acena afirmativamente.

_Uma mão na altura do queixo, a outra um pouco atrás, afasta essa perna. – digo dando um tapinha na perna dele. – Isso, agora na hora que você for dar o soco cê impulsiona o corpo pra frente juntamente com seu braço. Entendeu?

Ele acena e faz o que eu falei.

_Ai! – ele grita.

_Para de ser mole cara, o que foi?

_Acho que torci o pulso.

Reviro os olhos, fala sério, acho que não vou conseguir ensinar nada a esse garoto.

_Tira a luva, deixa eu ver. – ele faz o que eu mando.

_Dói? – pergunto apertando um ponto em seu pulso.

_Um pouco.

_Não torceu não, só pegou de mal jeito mesmo, coloca as luvas e tenta de novo. Só que dessa vez endurece o braço, se ficar desmunhecando desse jeito vai acabar torcendo o pulso, e um aviso, cê não vai querer sentir essa dor.

Ouço alguém bater palmas, quando olho pra trás meu pai está nos observando.

_Essa é minha filha. – ele diz. E Pedro fica mais vermelho que um tomate.

_Que cê ta fazendo aqui pai?

_Só to dando uma passada pra ver como vão as coisas por aqui.

_Sei. – digo.

_Já to de saída, continua assim Karina, não facilita pra esse ai não. Divirtam-se.

E ele sai rindo. Me viro para Pedro.

_Ta esperando o que? – pergunto e aponto para o saco de pancadas.

_Desmunhecando? Isso lá é uma palavra?

_Eu não to aqui pra te ensinar português e sim pra te ajudar a não ser tão frouxo.

_Nossa você é mesmo filha do Gael.

_Claro que sou moleque, agora para de enrolar e mete a porrada.

Depois de algumas tentativas falhas de Pedro ele desiste.

_Sabe. – ele começa. – Não posso machucar minha mão, como é que vou tocar minha guitarra com a mão toda arrebentada?

_Que desculpinha mais esfarrapada. – digo ironicamente.

_To falando sério, vou tocar hoje no Perfeitão.

_Só tocar né?

Eu não iria aguentar se ele começasse a cantar lá também, alias ninguém iria, com certeza espantaria todos os clientes.

_Sim, esquentadinha. Se eu começar a cantar meu pai me demite!

_Bom mesmo. Quem vai cantar então?

_Ninguém, o pessoal da banda foi para SP então...

Pedro POV

Eu pensei seriamente em não ir até a academia para “treinar” com Karina, mas estava ansioso para ve-la, então mesmo com os nervos a flor da pele, fui, quando cheguei lá eu ainda não sabia como agir, mas depois de um tempo já estávamos numa boa, confortáveis até um com o outro, apesar de ela estar me xingando toda hora, pois não acerto uma, luta não é pra mim, disso eu tenho certeza. Quando Gael apareceu por lá quase morri de vergonha, mas tudo bem né.

Logo desisti de atacar o saco de pancadas com a desculpa de que iria tocar o Perfeitão naquela noite.

_Então já que não vai mais querer aprender nada, eu vou treinar.

_Pelo menos posso ficar aqui?

_Cê que sabe.

E então ela começou a socar e chutar os sacos de pancada.

_Quer ajuda? – pergunto.

_Quer ficar no lugar dos sacos.

_Não valeu.

_Então, fica quieto ai.

Cara ela é bonita, e enquanto ela lutava eu a observava mais atentamente, o corpo dela era perfeito, escultural, claro que como ela treinava todos os dias a bastante tempo não podia ser diferente, mas eu nunca tinha reparado muito nela dessa maneira. Então Karina para bruscamente e me pega a olhando.

_Limpa a baba. –diz ela.

_Depois o convencido sou eu né. – digo tentando disfarçar meu desconforto por ter sido pego.

Ela sorri e se senta ao meu lado.

_Acabou por hoje? – pergunto.

_Acho que sim. Vou tomar um banho e fechar a academia, nos vemos no Perfeitão?

Eu queria chamar ela pra fazer algo mais tarde, pois ainda era de manhã, e eu não tinha nada pra fazer durante a tarde, mas estava sem coragem pra perguntar.

_Esquentadinha? Nós somos amigos certo? – pergunto.

_É, eu acho que sim.

_Então por que ainda não tenho seu número?

_Por que você não pediu.

_To pedindo agora.

_Promete não ficar me ligando a cada cinco minutos?

_Não.

_Então não.

_Esquentadinha, por que eu te ligaria a cada cinco minutos?

_Você ficaria surpreso com o tanto de pessoas que fazem isso às vezes.

_Ta eu prometo então.

Trocamos números, e depois de apenas alguns minutos após eu ter saído de lá, decidi ligar pra ela.

Karina POV

Meu celular está tocando, quando leio o nome que aparece na tela não posso deixar de sorrir, atendo no segundo toque.

_Mas já?

_haha, sabe o que é esquentadinha, não tenho nada pra fazer hoje a tarde que tal você e eu assistirmos um filme?

_Por que não perguntou isso quando estava aqui?

_Só pensei nisso agora.

_Tá então, mas eu escolho o filme.

_Olha aqui, eu sei que sou homem e que devia ficar feliz com a sua escolha de assistir um filme cheio de morte e sangue e luta e qualquer outra coisa que envolve pessoas se machucando, mas eu ficaria muito agradecido se você não escolhesse nada desse tipo, afinal de contas sou um músico sensível.

_Nossa mais é frouxo mesmo em. – digo rindo.

_Não é isso, é só que... ah não tenho que me explicar.

_Ta bom, que tal “Efeito Borboleta”? Meu filme favorito.

_Nunca assisti.

_O QUE? CARA CÊ TEM QUE ASSISTIR TIPO JÁ.

_Me recuso a assistir filmes com aquele Ash não sei o que.

_Ah só por que ele é mais bonito que você?

_Ele não é mais bonito que eu! Só me recuso por que vocês garotas não param de babar assistindo a um filme dele, é irritante.

_Sim ele é mais bonito, muito mais muito mais bonito que você. – brinco.

_Então é por isso que esse filme é seu favorito? Só por que o ator principal é bonito? Ah esquentadinha, me enganei a teu respeito, você é igualzinha às outras garotas.

_Em primeiro lugar, eu NÃO sou igual a ninguém e em segundo lugar, não é por causa do ator que esse filme é meu favorito.

_E em terceiro?

_Que terceiro? – Pergunto confusa.

_Sempre tem um terceiro.

_Pois eu não tenho um terceiro.

_Ah, enfim, na minha casa ou na sua?

_Cara isso soou meio estranho.

_Você tem a mente muito suja esquentadinha.

_Cala a boca. – digo envergonhada. – Na minha casa.

_Seu pai não vai ta lá não né?

_Não, mas e se tivesse?

_Ele me deixa desconfortável, sempre penso que ele vai me bater ou sei lá.

Com isso não consegui me controlar, não conseguia falar de tanto que ria.

_Nossa não é pra tanto né esquentadinha.

Quando finalmente paro de rir respondo.

_Relaxa palhaço ele não vai estar lá.

_Ta bom, até mais tarde então.

_Até.

_Tchau. – ele diz.

_Tchau. – respondo.

_Esquentadinha eu não vou desligar primeiro é falta de educação.

_Da onde cê tirou isso?

_Da minha própria cabeça.

_Aff moleque desliga logo.

_Primeiro as damas.

_Cê é muito estranho.

_Um estranho cavalheiro.

Reviro os olhos e desligo.

Trinta segundos depois vem uma mensagem.

De Pedro: Grossa!

Mas é muito bobo mesmo, nem me dou ao trabalho de responder.