Estou tentando ainda voltar a si, mas a única coisa que tenho em foco é o momento presente. Eu nos braços do Rodrigo e o beijando como há tanto tempo desejava. Mas isso não pode continuar, não é certo me deixar levar pelos meus impulsos, essa não sou eu. Mas mesmo assim ainda continuava a beijá-lo. O seu gosto, a forma como ele me acarinhava me fazia perder todo o domínio que eu tinha de mim mesma. Não era eu quem estava no controle, era o meu desejo.

Quando enfim nos separamos para recobrar o fôlego, tento me manter racional:

– Rodrigo, isso não deveria ter acontecido. Não é dessa forma que vamos resolver as coisas.

– Mas Manu eu te amo! E senti neste beijo que você também me ama. Por que então não nos darmos uma nova oportunidade?

– Porque não é assim que se resolvem as coisas. O beijo aconteceu, mas não deveria ter acontecido. Não se repetirá mais.

– Manu, pelo amor de Deus, me diz o que eu posso fazer, o que eu tenho que fazer pra te ter de volta?

– Ir embora, Rodrigo. Por favor, me deixa sozinha.

– Manu, espera, vamos conversar...

– Rodrigo, me deixa processar tudo o que aconteceu. Eu preciso pensar.

–Tá bom, eu não vou mais insistir, não hoje. Eu vou embora, mas quero que saiba que eu tenho certeza do que eu sinto. Você é a mulher da minha vida.

Rodrigo então sai de casa e me deixa na sala impactada com tudo o que aconteceu. Já no meu quarto, dormir parece impossível. As palavras do Rodrigo se repetem mais e mais na minha cabeça e ainda posso sentir o gosto do seu beijo nos meus lábios. Meu Deus o que eu faço? Eu ainda o amo, nunca o esqueci, mas será que deveria dar a ele uma nova chance? Não, seria muito complicado, eu não poderia mexer mais na vida da Júlia. Ela já havia passado por muitas mudanças, não merecia mais essa novidade agora. E se o Rodrigo voltasse a ter dúvidas sobre o seu amor? Não, esse sentimento deve morrer dentro de mim. A coisa mais sensata a fazer é dizer não ao Rodrigo.

...

No dia seguinte, depois de levar a Júlia à escola, volto pra casa para buscar uns documentos do Buffet que eu tinha esquecido quando a campainha toca:

– Vó, que bom que a senhora está aqui! Até parece que adivinhou que eu estava precisando desabafar.

– Manu, minha filha, que aflição é essa? O que aconteceu?

– Ai, vó, a senhora nem sabe. Ontem o Rodrigo veio aqui e... ele se declarou. Ele disse que me amava e que me quer de volta.

– Sei, sei... e você o que disse?

– Quer era um desatino, que estava muito tarde pra isso e que era melhor deixar as coisas como está. Mas ai ele me beijou e... eu retribui. Eu quis o beijo, vó, mas foi um erro, essa historia acabou! É isso, acabou!

– Acabou mesmo, minha filha?

– Claro que sim, vó, por quê? A senhora viu alguma coisa sobre isso nas cartas?

– Não, meu bem, eu não vi nada nas cartas, mas estou vendo dentro dos teus olhos. Manu, você sempre amou o Rodrigo. Quando eu disse que ele era o seu parceiro de vida, não foi só por aquele momento, foi pra sempre. Você é mulher de um único amor. E mesmo depois da separação, você continuou o amando. Você sofreu muito, mas sobreviveu. Depois conheceu o Gabriel, um homem maravilhoso e que tenho certeza que foi importante na sua vida. Ele te ajudou a se valorizar, a te fazer perceber o quanto que é uma mulher excepcional. Porém mesmo tendo um homem maravilhoso ao seu lado, você nunca esteve inteira.

– Me diz do que adiantou tudo isso? Deus sabe como eu queria ter amado o Gabriel, mas não consegui. Eu nunca deixei de amar o Rodrigo, confesso, mas não consigo confiar nele como antes. Eu tenho medo de sofrer, vó, e se eu passar por toda aquela dor de novo, eu sei que não vou agüentar.

– Eu sei o que o que você passou foi doloroso demais, mas não deixe que essa dor atrapalhe uma chance de você ser feliz novamente.

– E ainda tem a Júlia, vó. Ela já passou por muitas mudanças e agora que está voltando a ter um equilíbrio na rotina dela, eu não quero bagunçar tudo de novo. E tem a Ana também. Agora que fiz as pazes com minha irmã, não quero ter aquele clima de culpa ou de desconfiança entre a gente. Vó e se a Ana e o Rodrigo ainda se amarem? E se.,.

– Chega, Manu! Não me venha colocar a Júlia como desculpa. Tome uma decisão por você, somente. E sobre a Ana e o Rodrigo, eles terminaram. Eles tiveram uma história e sempre terão, mas agora o que os une é um imenso carinho e a Júlia. Eles seguiram em frente, minha filha.

– Sinceramente, não sei. Eu estou tão confusa. Estou precisando tanto do seu colo, dos seus conselhos.

– Oh meu amor, meu colo você sempre terá, mas infelizmente preciso ir. Fiquei de me encontrar com o Laudelino e se eu demorar é capaz desse homem me deixar aqui e voltar sozinho pra Gramado.

– Que exagero! Tá bom,vou te deixar na porta e obrigada por ter vindo me visitar.

Quando abro a porta para me despedir da minha vó dou de cara com um mensageiro segurando um lindo e enorme buquê de rosas vermelhas.

– Bom dia, a senhora Manuela Fonseca, por gentileza? – pergunta o mensageiro.

– Sim, sou eu.

– Entrega pra senhora. Pode assinar aqui para receber, por favor?

–Sim, claro. Obrigada.

Quando recebo o buquê vejo que há um cartão. Ao abrir pra ler, fico sem palavras e levemente rubra:

– “Eu avisei que não iria desistir de você. Janta comigo esta noite?

Do seu,

Rodrigo”