– Angeles?

– German.

Todas as pessoas presentes na sala se entreolharam e voltaram a prestar atenção no homem em estado decadente olhando para a loira de porte elegante e de olhar superior. Mal sabiam eles o quão confuso e atordoado estava o coração da mulher e quão confuso, triste e angustiado estava o coração do homem.

– O que você faz aqui? – O homem murmurou e cambaleou enquanto entrava na sala. German estava completamente bêbado.

– Eu estou a trabalho. – Angeles falou e foi até um dos advogados e sussurrou algo em seu ouvido, em seguida ela abaixou-se e assinou um dos papeis.

Violetta e os demais estavam confusos com tudo aquilo e não sabiam como reagir. A garota olhava para a tia e só queria correr até ela e abraça-la para matar a saudade mas ao olhar para o pai ela sentia pena e dor. Ela sabia o quanto German estava mal e acabado. Mas beber... ele não era homem de beber pra esquecer as coisas. Violetta olhava para ambos e tentava entender tudo aquilo.

– Senhoras e senhores, - Um dos homens de terno se levantou e pegou os papeis – eu preciso da atenção de todos. Eu preciso que todos os que estão a favor da venda do Studio para Angeles Carrara Saramego assinem os papeis. – Ele olhou em volta da sala e ia voltar a falar só que German o interrompeu.

– Você vai comprar o Studio? – German balbuciou e encarou Angie.

– Prossiga, Rodriguez. – Ela falou para o advogado e ignorou German completamente.

XXX

– Angie! – Violetta quase gritou ao sair da sala e abraçar a tia com toda a força que podia – Como eu senti a sua falta, tia!

– Minha princesinha! – Angeles falava enquanto abraçava a sobrinha e acariciava os cabelos dela – Eu também senti a sua falta, pequena.

– Eu não acredito que você comprou o Studio, Angie. – Violetta falou rindo e olhando para a tia. – Depois eu quero saber tudo sobre Paris.

– Pode deixar, Vilu! – Angie sorriu e olhou para Leon que se aproximava delas – Vai lá com seu namorado, depois a gente sai pra almoçar, que tal?

– Combinado! – Violetta soltou um gritinho e abraçou a tia mais uma vez. Violetta e Leon se afastaram e deixaram Angie sozinha no zoom do Studio, ela teria que resolver mais alguns problemas e pagar umas dívidas.

Angeles sentou-se no batente do palco e olhou fixamente para um ponto qualquer na sala. Ela estava com uma tempestade em sua cabeça, seu coração estava um caos e sua vida também. Rever German foi como um banho de água fria, acordou todo aquele sentimento e a deixou em cacos. A dor e o ódio ainda estavam em seu coração, mas o amor e o desejo por German, os quais ela achava que haviam morrido, estavam de volta e cada vez mais intensos. Ver o homem que ela amou por tanto tempo naquele estado deplorável partiu seu coração, ele estava com olheiras profundas, seus cabelos bagunçados e cheirava a uísque. Ele estava acabado e trazia um leve sentimento de culpa, mas ele logo se dispersava ao lembrar de tudo o que German já fez com ela.

– Angeles... – A mulher deu um pulinho e olhou para o homem que havia tirado-a dos seus longos pensamentos.

– Saia daqui. – Angie se levantou e andou rapidamente para fora do zoom, mas German conseguiu detê-la segurando firme em seu braço e colando-a em seu corpo. – Me solta German.

– Espera, Angie, por favor. – German fechou os olhos e respirou fundo – Eu preciso falar com você.

– German, me solta. Eu estou mandando. – Ela disse entredentes e respirou fundo. Ela precisava se controlar ao estar tão perto dele.

– Angeles, me perdoa. – German encostou a testa na da mulher e sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto. – Eu não estou te pedindo pra voltar para mim, eu só quero o seu perdão, Angeles.

O coração da mulher se partiu em milhares de pedaços. O homem que ela mais amou estava chorando e pedindo perdão. Ela não conseguia imagina que ele choraria por ela alguma vez... mas isso não faria com que ela esquecesse tudo o que havia acontecido. Esse perdão era impossível. Angeles estava amargurada e seu coração estava congelado e aquele homem a sua frente era o responsável por tudo aquilo. Angie olhou fixamente nos olhos do homem e respirou fundo, isso iria doer tanto nela quanto nele. Ela conseguiu se afastar um pouco mais dele e apontou o dedo para o rosto do homem.

– Não, German. Eu não te quero nem perto nem longe de mim. Você morreu pra mim, entendeu? Você morreu, German.

Angie empurrou o homem e saiu andando quase correndo para a diretoria e trancando-se lá. German ficou paralisado, seu coração estava aos cacos e ele só tinha vontade de morrer. Nada mais valia a pena, nada tinha sentido. Sua vida estava por um triz. Tudo que ele mais queria naquele momento era que o tumor devastasse todo o seu corpo e sua cabeça. Ele só queria uma anestesia. A morte.

XXX

– Angeles, o papai não está bem. – Violetta suspirou e olhou para a tia que antes estava com um sorriso e agora olhava fixamente para a toalha da mesa do restaurante que estavam almoçando.

– Isso não me diz respeito, Violetta.

– Claro que sim, tia! Ele te ama tanto que só por você não estar aqui ele está quase morto. – Angeles suspirou e desviou o olhar.

– Se ele me amasse não teria mentido.

– Você também mentiu pra ele, Angie. – A loira bufou e cruzou os braços.

– Não tem nada a ver uma coisa com a outra.

– É óbvio que tem, tia. Meu pai te ama muito e eu sei que você também o am...

– Amava. – Angeles cortou a garota e ficou séria. – Eu amava o seu pai, Violetta. Acostume-se com isso.

– Mas, Angie...

– Nada de “mas”. – Ela sentou-se e encarou Violetta – Eu e seu pai nunca existiu, não existe e nem vai existir. Esquece. – A garota ia se manifestar mas Angie interrompeu e olhou-a com tristeza e raiva no olhar. – Chega desse assunto, Violetta. Não vai adiantar de nada. Acabou.