Olhei ao meu redor. Nunca imaginei algo assim. Um namorado que é um anjo caído, uma irmã que não é humana e eu, que sou menos humana ainda. Por que continuava a pensar no que eu já deveria ter me conformado? Pedro dissera algumas coisas para mim, mas o ponto chave, a informação necessária ele não dizia. Fiquei irritada duas vezes com ele por estar trocando de assunto. Quer dizer, eu ainda estava. Se ele não me contasse eu iria descobrir.

Eu e Julieta ficamos três dias sem treinar. Ela dissera algo sobre meu corpo descansar e absolver as habilidades adquiridas. Ela também dissera que o próximo treinamento não seria totalmente físico. Seria para testar meus reflexos e capacidade de ver sem ver. Um ponto de interrogação se formou diante dessa resposta, mas preferi não falar nada. Perguntei a ela se tinha algum poder especial, ela sorriu mas não respondeu. Eu vou socar os dois. Odeio quando as pessoas escondem as coisas de mim. Mas se ela também daria uma de Pedro, eu iria descobrir tudo sozinha. Ah se vou.

Julieta nos levára para a floresta. Num lugar próximo a estrada. Ela vendou meus olhos e sussurrou dicas no meu ouvido.

–Ouça o que não é para ser ouvido, Preste atenção em volta, veja através da venda. Sinta os movimentos do adversário. Veja sem ver, mas só ataque quando tiver pronta.

–Ok.

A floresta estava silenciosa. Senti meus sentidos se aguçarem. Prestei atenção. Senti uma mão acertar meu rosto. Gemi com a dor. Me concentrei. Ouvi a respiração de Julieta próxima de mim. Forçei minha atenção. Um pé acertou minhas costas e eu fui para frente. Ouvi o suspiro de decepção de Julieta. ''Concentre-se! Concentre-se!'', gritei para mim mesma mentalmente. Senti que Julieta estava próxima, me preparei. Algo se aproximou do meu rosto, fechei minhas mãos em volta. Era a mão de Julieta. Senti seu sorriso. Desviei de dois golpes seguidos. Mas no terceiro cai feio no chão.

–Preste atenção!-Julieta gritou.-Adivinhe os movimentos do adversário antes dele fazê-lo.

Fiz que sim com a cabeça. Pressionei as unhas contra as palmas das mãos ignorando a dor que estava sentindo. Obriguei-me a me concentrar. Tirei da cabeça todos os pensamentos e me concentrei no aqui e agora. Meus sentidos se aguçaram fortemente então senti a mão de Julieta se aproximar, desviei do golpe. Sua perna rastejou silenciosamente pelo chão e eu pulei. Incrível, eu via os movimentos dela. Julieta improvisou dois golpes em direção ao meu rosto e eu agarrei seus pulsos, girei e a empurrei soltando-a de mim. Ela suspirou e levantou-se. Tentou bater na minha cabeça e eu desviei, mas então rapidamente ela veio por baixo com o pé vindo em direção ao meu rosto. Agarrei sua perna e a joguei longe.

–Uau, tenho que admitir, concentre-se mais e você vai longe.

Sorri. O resto do treino foi meio dolorido pois Julieta começou a atacar seguidamente com armas. O pior golpe que ela deu acertou minha coxa, fazendo um tremendo corte. Doeu, porém não me preocupei. Lembrei dos primeiros treinos, os machucados desapareceram junto com a sujeira. Será que o corte sumiria assim também? Julieta tocou no assunto sobre as asas, sobre o que eu sabia sobre elas. Mas logo cortou o assunto. Ela parecia ter se lembrado de algo, como se o final do assunto fosse proibído. Desconfiei. Eu precisava ir para casa e ler aqueles livros do papai. Era arriscado, mas eu precisava saber de muita coisa que não estavam me contando.

No apartamento, Pedro fazia a janta enquanto eu e Julieta tomávamos banho. Depois do banho, o corte se tornou uma cicatriz quase invisível. Fiquei feliz. Eu vesti um vestido cor de pele e um short preto por baixo. Pedro estava pondo as coisas na mesa, ele vestia nada mais e nada a menos que uma bermuda e sandálias. Ai minha nossa, ele estava sem camisa. Fingi não me importar com o fato de estar quase pirando ao vê-lo sem camisa. Aqueles musculos definidos, a pele com uma leve camada de bronzeamento, sem cicatrizes ou tatuagens. Julieta passou por mim e me cutucou. Olhei para ela que sorria maliciosamente para mim. Ri.

– Bom galerinha vou comer no meu quarto, e Castiel?

–Hãm?

–Amanhã eu e a Laura sairemos para fazer compras. Sinceramente preciso de armas novas e roupas de batalha, e ela também.

–Sempre vaidosa. Tomem cuidado ok?-Ele olhou para mim que afirmei com a cabeça.-Hum.

–Não tem nada a dizer?-Julieta ergueu as sombrancelhas e pôs as mãos na cintura.

–O que? Só darei dinheiro para ela.

–Acho bom mesmo, é mais que sua obrigação.

–Olha só não precisa ficar falando o que eu já sei.

Olhei para ela e depois para ele. Eles nunca conseguiriam conviver em paz? Ela pôs sua janta no prato e saiu. Pus a minha e sentei-me à mesa. Pedro sentou-se ao meu lado. Jantamos em silêncio. Quando terminei minha janta, lavei meu prato, dei um beijo no rosto de Pedro e fui me preparar para dormir. Eu já estava prestes a dormir quando Pedro entrou no meu quarto e sentou-se na minha cama. Olhei-o.

–Como foi o seu dia?-Ele perguntou.

–Cansativo e o seu?

–Extressante.

Silêncio.

–Posso dormir aqui com você?

Surpresa demais para responder, apenas afirmei com a cabeça.

Nos ajeitamos na pequena cama de solteiro, deitamos de conchinha. Pedro fuçou meu cabelo e ficou com o rosto ali mesmo. Em baixo das cobertas senti o familiar cheiro de baseado e sabonete comum. Sorri. Se tudo não tivesse se transformado em um caos, eu bem que acharia esse momento bom. Não, perfeito.