Serpentarius escrita por Stormy Raven


Capítulo 3
0.2 - O Dia-a-Dia na Selva


Notas iniciais do capítulo

No mínimo uma advertência, seguida de detenção e limpeza de sala por um bom tempo.



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“0.2”
O Dia-a-Dia na Selva


Aquela não foi uma boa noite de sono para Isao: perturbado com tudo o que aconteceu antes de chegar em casa, não conseguiu fechar os olhos e relaxar decentemente. O sol já começava a despontar no horizonte e os pássaros treinavam timidamente o canto para celebrar o novo dia. Seu avô já produzia sons na cozinha, preparando o café da manhã.

“Não consigo mesmo dormir. Melhor me levantar e ficar pronto pro colégio de uma vez. Chegando lá eu mato algumas aulas e vou pra enfermaria tentar descansar.”

Sem muito ânimo Isao se levantou e, como de costume, tomou uma ducha fria para ‘acordar’. Era um hábito antigo ensinado – no início, obrigado – por seu avô, que dizia que “não há nada melhor para acordar um homem e deixá-lo preparado para o dia que um banho frio”. Era óbvio que não faziam isso no inverno, seria suicídio, mas nas demais épocas do ano todas as manhãs eram iniciadas com aquele hábito. E não é que dava certo?

Após o rápido banho o jovem se dirigiu até a cozinha para usufruir do ótimo café da manhã que Iwao fazia. Um dos grandes talentos do Senhor Koyanagi era a culinária; se ele abrisse um restaurante certamente lucraria muito. Mas a idade já começava a se tornar um peso em suas costas, seria perigoso começar algo dessa magnitude.

Iwao Koyanagi era um respeitado senhor na vizinhança. Já com setenta e cinco anos, trabalhou a vida inteira para que criasse seu neto da melhor maneira que pudesse. Seu filho Hisoka faleceu quando o pequeno Isao ainda tinha um ano de vida, e sua nora fugiu quando o rapazinho completou três anos de idade. Não era de demonstrar sentimentos com palavras, mas sim com atos. Sua personalidade era um tanto quanto antiquada, valorizando o respeito às tradições acima de tudo. Era uma das poucas pessoas que Isao respeitava e tinha liberdade para conversar sem preocupações. E agora era exatamente um desses momentos...

- Ojii-san, preciso te falar uma coisa.

Iwao olhou o neto, curioso. Era raro que ele ficasse tão sério nesse horário, normalmente os assuntos eram descontraídos – ou, caso a noite tivesse sido ruim, não haveria assunto algum.

- Sou todo ouvidos.

- Ontem à noite eu vi... Bem, depois do fracasso de ontem eu estava vindo pra casa e vi...


“Como eu vou dizer isso pra ele? Na certa vai rir da minha cara...”

- Diga logo, você viu o que? E que fracasso foi esse?

- O senhor não vai acreditar, mas... Eu vi um Guardião!

“Ok, falei, é agora.”

Iwao ficou sério, e por alguns momentos analisou a expressão do jovem. Não parecia ser uma brincadeira. Além disso, já tinha percebido algo de estranho ocorrendo na cidade – a intuição dos Koyanagi ainda era forte, mesmo que não estivessem mais ligados aos Guardiões.

- Tem certeza disso Isao?

- Tenho!

- Sabe que isso é algo sério e que pode trazer muitas desgraças, você tem absoluta certeza do que viu? Não foi uma ilusão de ótica, efeito de álcool ou outra coisa?

- Ojii-san, sabe que eu não bebo mais. Já disse que tenho certeza.

- Isso é problemático, muito problemático – o velho japonês fez uma pausa, pensando - Quero que mantenha distância de qualquer coisa ou pessoa relacionada a esse assunto.

“Qualquer pessoa? Mas, se a Hikari está envolvida, então...”

- Mas ojii-san, essa pode ser a nossa chance de voltar à ativa!

- Voltar à ativa? Está louco Isao? – levantou-se, visivelmente irritado – O destino do clã foi selado e não há nada que possamos fazer para mudar a situação. Não temos contato com mais nenhum Guardião, nem mesmo com os de apoio. Não temos habilidade nem equipamento para suportar uma ameaça youkai, seja qual for. Faremos o que os Koyanagi sempre fizeram em casos assim: ignorar. Esqueça do que viu, Isao. Para o seu bem.

“Esquecer? Como eu esqueceria aquilo?”

- Mas não tem perigo de os youkais nos caçarem?

- Não se preocupe quanto a isso, nossa energia não é forte o suficiente para atraí-los. E chega desse assunto, você já me preocupou o bastante por hoje.

- ...

-~~~*

No caminho para o colégio, Isao pensava desanimado no ocorrido da manhã e na reação de seu avô. Não fazia sentido; agora que chance de reerguer o clã estava perto o suficiente para ser agarrada Iwao preferia simplesmente ignorar. Não fazia sentido mesmo...

“Eu não posso deixar essa chance escorrer pelos dedos. Preciso pensar em algum modo de me aproximar novamente dos Guardiões, eles precisam de toda a ajuda possível. O problema é como fazer isso, não conheço nenhuma família que faça parte...”

Parou no meio da rua, iluminado por uma idéia, e sorriu:

“Espera aí, conheço sim. Ou melhor, eu quero conhecer. É a chance que eu precisava com ela!”

Tudo levava a crer que Hikari Gautier estava envolvida; logo, ela seria a ‘ponte’ que Isao precisava para se conectar ao mundo dos Guardiões. Uniria o útil ao agradável: caçaria youkais em companhia de sua amada, e até tentaria impressioná-la com suas habilidades. Sim, era o plano perfeito! - se Isao ao menos conseguisse conversar com a garota, já que depois do que aconteceu no bar ela provavelmente não iria querer vê-lo nem que ele fosse o guerreiro mais poderoso do mundo, além é claro da hipótese de ela não estar envolvida e tudo ser uma terrível coincidência. Somando tudo isso ao fato dele mal conseguir se aproximar dela sem ter uma síncope...

“Eu sou um idiota mesmo, como pude fantasiar coisas felizes? Antes de tudo, preciso ao menos mostrar pra ela que eu existo!”

- No que você tanto pensa, Koyanagi? Quase tropeçou aí na entrada.

Isao ouviu uma voz arrastada e sarcástica, e quase ignorou o gracejo e passou reto se a pessoa que era dona da voz não fosse um dos rapazes mais temidos da região.

- Shirogumi-senpai, bom dia. Eu só estava um pouco distraído.

Akira Yamashirogumi, - Yama-sama para os subordinados, Shirogumi para os ‘de fora’ - um banchou* de um dos braços da Shinjuku Babel, respeitado por praticamente um terço de Tokyo. Apesar de ser alto e robusto – praticamente um ‘armário’ – era extremamente inteligente. Há boatos de que ele atraiu até mesmo a atenção da Yakuza em suas atividades e agora é um possível candidato para futuro membro da máfia. Ainda está no colégio por vontade própria: repetiu de ano algumas vezes propositalmente para poder manter vigilância sobre seu ‘rebanho’ e controlar a rede de informações que os jovens alunos formam sem perceber. A direção do colégio fazia vista grossa em troca de ‘paz com a Babel’ – claro, tudo extra-oficial.

- Já sei no que estava pensando, Koyanagi. Shinji me contou sobre sua noite perfeita. Uma pena... – a voz se tornava cada vez mais sarcástica, atingindo níveis insuportáveis.

- Sim, foi uma pena. Shinji-san já deve ter lhe contado tudo em detalhes.

- Ele me contou apenas sobre a briga. Mas não sabia nada sobre o mais interessante daquela noite.

- E isso seria o quê?

Yamashirogumi encarou profundamente os olhos de Isao, que já sabia o que aquilo significava: estava sendo interrogado. O banchou era especialista nesse tipo de coisa, detectava mentiras como uma máquina policial. Seria um ótimo detetive caso não houvesse seguido o caminho mais fácil.

- Você realmente não sabe nada sobre as três mortes que aconteceram naquele bar?

- Morreu gente? Houve um tumulto quando o Shinji começou a brigar, mas nada mais que isso. Ao menos até sairmos de lá.

Akira olhou fixamente para Isao por mais alguns instantes, até que por fim deu-se por satisfeito e voltou a se apoiar no muro do colégio.

- Sim, três pessoas morreram ontem enquanto vocês defendiam a honra de suas donzelas. No início pensaram que era efeito de bebidas ou drogas, simples desmaios por algum exagero; mas depois constataram que estavam mortos. Uma funcionária da boate está desaparecida, deram pela falta dela logo depois do tumulto. Muitos acham que as mortes estão ligadas ao desaparecimento.

Isao engoliu a seco. Ele sabia muito bem o que havia acontecido com a tal funcionária... Sua sorte é que Yamashirogumi não estava mais interessado no interrogatório, olhava um grupo de garotas que atravessava a rua.

- Eu não sabia de nada disso, Shirogumi-senpai.

- Pois agora sabe. É um dos assuntos preferidos do colégio, rivaliza apenas com o tal loiro que está andando com a vadia da Isono. Ao menos ela não me causa mais problemas como antes...

- Shirogumi-senpai, eu preciso ir agora. A aula vai começar logo.

- Não precisa pedir permissão, Koyanagi. Você é quase um dos nossos, só falta se convencer disso. Se souber de alguma coisa estranha sobre ontem – os olhos semi-cerrados do banchou se fixaram novamente em Isao – me avise, ou peça para Shinji me avisar. Eu te pago por qualquer informação útil.

- Ok.

Isao se afastou rapidamente da entrada do colégio, deixando o grande japonês de braços cruzados em sua pose de ‘macho alfa dominante’. Não gostava muito de Shirogumi, era calculista demais para se confiar; mas como o outro demonstrava uma pequena dose de respeito sobre sua pessoa, o tratava bem e conversava normalmente, como se fosse apenas um conhecido que freqüenta o mesmo lugar que ele todos os dias.

“Ainda bem que ele não é da minha sala. Não suportaria aqueles olhos de peixe morto em cima de mim o dia inteiro.”

Aquele não era o dia de Isao. A conversa com o avô, o encontro com Yamashirogumi... E logo na primeira aula, um pequeno teste surpresa de história antiga. Não é preciso nem dizer o quão mal o jovem se saiu no teste e nas aulas subseqüentes. O sinal do horário do almoço nunca foi tão desanimadamente recebido.

“Só me resta tentar comer alguma coisa em paz. Maldito seja quem inventou o teste surpresa.”

Isao não tinha amigos no colégio, apenas companheiros que muitas vezes só queriam se beneficiar de algum modo dele, logo, ele sempre almoçava sozinho. Não era fácil conseguir novas amizades com a fama que tinha, muito menos conseguir admiradoras. Mas ele não reclamava de sua situação: gostava da paz no local onde sempre passava o recreio. Cansado dos constantes atritos entre os vários valentões do colégio – “Mas que escola mais complicada esse complexo Kusari!” – procurou um local reservado para ao menos poder relaxar e comer. Acabou achando um canto intocado entre a cafeteria e um dos muros que separavam as diferentes áreas do complexo estudantil. Era um cantinho feio, um pouco sujo, mas bem silencioso e deserto.

Um oásis em meio ao caos.

Um templo que hoje sofreria uma profanação: mal chegando lá, Isao já viu que haviam três pessoas de braços cruzados, apoiadas na parede, esperando-o.

“Já sei quem é um daqueles ali...”

Ueda Takahashi, o rapaz que Shinji havia socado durante a noite na boate, estava esperando por Isao acompanhado de mais dois garotos mal-encarados. Era óbvia a intenção deles...

“Mais problemas. Essa é a sua vida, Isao Koyanagi...”

Ueda Takahashi, considerado uma das pessoas mais desejadas pelas garotas de todo o complexo. Era bonito, tinha boa condição financeira e era dono de uma lábia exemplar. Não se envolvia com a Babel ou qualquer outra gangue, mas gostava de impor respeito – especialmente sobre os ‘lobos solitários’ como Isao, mesmo que às escondidas. Tinha proteção por parte dos professores por “ser um aluno sem igual, um verdadeiro exemplo a ser seguido”. Não costumava se envolver em brigas, deixando o serviço sujo para seus ‘amigos’.

- Olá, Koyanagi-san. Preciso conversar com você sobre um assunto muito desagradável...

Isao se aproximou cuidadosamente, praticamente medindo a distância de seus passos. Estava preparado para o conflito que sabia que ia acontecer.

- E o que seria?

Os dois amigos de Ueda sorriram sarcasticamente. A conversa civilizada seria bem curta, aparentemente...

- Eu gostaria de resolver nossa pendência causada por seu amigo ontem. Não sei por que fui atacado, tampouco me interessa a razão; apenas quero deixar nossa situação ‘equilibrada’, se é que me entende.

- Sim, eu entendo. Pode vir.

Aquilo foi rápido, mais rápido que o de costume. Os dois ‘capangas’ de Ueda avançaram agressivamente ao mesmo tempo, sem dar chance à Isao. Em dois minutos o jovem Koyanagi já os havia nocauteado.

Isao podia ser desastrado, azarado, ignorado, quase um marginal; mas ao menos força ele tinha de sobra. O treinamento que seu avô lhe dera havia garantido a capacidade de sobrevivência pela força. Não era algo exagerado e nem visível, mas ajudava muito a enfrentar os terríveis dias escolares. O problema é que isso alimentava sua má-fama ainda mais...

- Isao Koyanagi, o que pensa que está fazendo?

A conhecida voz do inspetor Nakano fez-se presente no “oásis” de Isao. O rapaz virou-se suspirando, já conformado com a situação. Ueda não estava mais lá: havia sumido, talvez nem tivesse visto a derrota de seus companheiros. Era incrível como os inspetores farejavam confusão, sobretudo se o pseudo-guardião de apoio estivesse envolvido.

É desnecessário detalhar muito o que aconteceu depois: levado diretamente para a sala de detenção – na verdade um pequeno cômodo com umas poucas cadeiras e mesas velhas usado mais como depósito do que qualquer outra coisa – Isao teve de ouvir o sermão de costume, dessa vez de três pessoas diferentes. Coisas como “você não tem jeito mesmo”, “porque faz isso com seus colegas”, “o que quer provar?” já nem entravam mais em sua cabeça – a mente do estudante voava nessas horas. Não adiantava mais tentar explicar suas razões, os tutores simplesmente ignoravam o que ele falava.

Por fim o esperado ocorreu: Isao foi ‘condenado’ a fazer a limpeza de todos os terceiros anos do andar onde estudava – eram dez salas. Todos os dias após as aulas ele deveria se apresentar a um dos zeladores, agarrar uma vassoura e limpar a sujeira dos outros. Claro, isso sem falar na advertência – seria a décima? – por escrito que seu avô deveria assinar. A única razão pela qual Isao não tinha sido expulso ainda era a sorte de seu avô conhecer uma pessoa na direção do complexo. Ao menos isso garantia sua permanência ali...

Quanto a suas ‘vítimas’, estavam descansando na enfermaria e seriam liberados mais cedo do colégio.

“Ao menos o castigo só começa amanhã. Hoje ainda posso vagar livre por aí.”

-~~~*

- ...e foi isso o que aconteceu.

Isao e Shinji perambulavam desanimados por uma movimentada calçada nas imediações do colégio. Ikagara estava pensativo, absorvendo tudo o que seu amigo tinha acabado de contar.

- Limpar salas não é tão mal assim Isao-san. Eles poderiam ter te obrigado a retirar o lixo da escola inteira.

- Sim, ao menos mantenho a forma, não será de todo mal. Não pertenço a nenhum clube mesmo, não vai me atrapalhar. Só que não vou mais poder andar por aí logo depois da aula, não até suspenderem a detenção.

- Tem idéia de quanto tempo isso vai levar?

- Não.

- Planeja se vingar de algum modo do playboy que te meteu nessa confusão?

- Não, fui eu que comecei a confusão. Na verdade, foi você quem começou tudo, atacando ele daquele jeito!

- Eu não pude me segurar, o cara magoou aquela estrangeira bonitinha. Sabe que eu não suporto quem maltrata mulheres, né?

- Shinji, você não suporta metade de Tokyo, e por razões bem menos nobres que essa.

- Não posso fazer nada quanto a isso, não tenho culpa de essa cidade ser cheia de babacas!

Os dois pararam em frente a um estabelecimento comercial com paredes pintadas de cores chamativas e vários grupos de jovens entrando e saindo. Em uma placa néon acima da porta dupla do lugar lia-se “Game Panic”. Shinji retirou a carteira do bolso e a checou, enquanto Isao olhava distraído para um casal de namorados que passava por ali no momento.

- Isao-san, não sabia que você gostava de observar também.

- Não é nada disso que você está pensando, Shinji.

- Sei... Falou com sua musa hoje?

- Parece que ela não foi na aula.

- Será que aconteceu algo ontem?

Isao engoliu a seco e se calou. Não tinha contado e nem planejava contar o que tinha visto na ponte naquela madrugada. Seu amigo certamente ia rir de tudo, e dificilmente acreditaria em youkais bizarros e humanos com poderes andando por aí calmamente.

- Porque o silêncio?

- Não to a fim de entrar aí hoje Shinji, tá lotado. Vou aproveitar mais um pouco o ar livre enquanto em posso.

- Você ta é com medo de perder...

- Que seja, não vou entrar aí hoje.

- Cara, como você é complicado. Ainda está de mau humor por causa de ontem?

- Não, só quero aproveitar meu último dia de liberdade. Depois só poderei sair à noite mesmo, e bem tarde.

Shinji guardou a carteira e olhou desconfiado para os lados antes de se aproximar de Isao e comentar em voz baixa:

- Na verdade, é até uma boa você estar nesse serviço na escola. Coisas estranhas estão acontecendo pelas ruas ultimamente.

- Coisas estranhas? Isso tem a ver com as mortes de ontem à noite?

- Tá informado ein? Não sei, só sei que alguma coisa grande está pra acontecer. Hoje mesmo teve confusão lá pros lados de Shinjuku. Há boatos de que houve até morte. Eu não duvido que você se defende bem, Isao-san, além do mais você é amigo da Babel; mas essas mortes estão muito estranhas, todo mundo que morreu não tinha ferimento algum.

“Isso só pode ser coisa de youkai. Mortes sem ferimentos... Preciso saber mais.”

- Que coisa mais estranha Shinji. O que a Babel pensa disso?

- Estranho é você ter interesse no que a Babel pensa! Ta mudando de idéia a respeito do convite?

Isao gaguejou e não sabia o que responder. Como ele queria ter habilidade em interrogar agora... Não podia deixar que Shinji desconfiasse que ele sabia de algo mais sobre o assunto, mas ao mesmo tempo precisava de mais informações para que começasse a agir; além disso não queria entrar novamente para a Shinjuku Babel... Precisava inventar algo e desviar a atenção do amigo, e rápido:

- Não mudei de idéia, eu só... Só queria saber se... As ruas serão seguras pra...

- Pra?

- Pra... Hikari?

Ikagara teve de se apoiar em um poste para conter as gargalhadas. Só depois de uns cinco minutos é que conseguiu articular algumas palavras compreensíveis para o envergonhado adolescente japonês ao seu lado:

- Seu virgem! Tem tanto o que aprender ainda, Isao-chaaaan!

- Para de me chamar assim! E é uma preocupação verdadeira!

- Sua preocupação verdadeira está escondida pela calcinha dela, Isao-chan!

- Shinji!

Uma nova sessão de gargalhadas teve início, dessa vez com a contida participação de Isao. Ao menos assim conseguiu distrair Shinji do assunto em questão...

- Acabo de ter uma idéia Isao-san! Pode resolver uma parte de seus problemas.

- E qual é a idéia?

- Tem o endereço da mestiça?

- O que você tá planejando...

- Tem ou não tem?

- Tenho.

- Certo. Amanhã, depois da tua detenção, encontra comigo na porta do colégio. Eu tenho um plano.

As últimas palavras ditas por Shinji causaram um medo imensurável em Koyanagi. Quando o outro dizia que tinha um plano, nunca era boa coisa...

- Eu vou sair tarde da escola, tem certeza?

- Tenho. Será uma boa coisa pra você. Vai te acalmar, se entende o que eu digo. Agora eu tenho que ir, Isao-san, o dever me chama!

- Dever? Chama de dever viciar os outros e rouba-los aos poucos, além de ameaçá-los com violência caso não paguem?

- Chamo – Shinji nem mesmo pensou por um segundo na resposta – E vai me dizer que você não gostava antes, quando fazia isso?

- Eu só fazia a parte de ameaçar, nunca vendi nada pra ninguém.

- Que seja, é trabalho como qualquer outro e eu gosto de fazer. Te vejo amanhã, virgem.

Sem muita pressa, Isao acabou indo para casa – não sem antes comprar três jornais diferentes. Queria reunir o máximo de informações que pudesse e começar a agir o mais rápido possível.

“Mortes sem ferimentos...”

Ele queria começar a caçar youkais e evitar a morte de inocentes, se possível naquela mesma semana.

“Investigações inconclusivas...”

E claro, o principal: queria se aproximar de Hikari logo.

“O que Shinji planeja me levando até lá?”



*Banchou: Termo que designa um líder de gangue (geralmente school gangs) em idade escolar. Conseqüentemente, é sempre respeitado e temido pela vizinhança e colegas.



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