Serpentarius escrita por Stormy Raven


Capítulo 4
0.3 - A Reviravolta Dourada


Notas iniciais do capítulo

Eu vou sair tarde da escola, tem certeza?



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“0.3”
A Reviravolta Dourada


Sorte. Uma palavra tão rara no dicionário de Isao. Podia-se contar nos dedos de uma mão a quantidade de vezes que o jovem fora presenteado com tal bênção em toda a vida.

Bem, neste momento era mais uma para a conta.

No dia seguinte a esse seria a tradicional Feira Cultural do complexo Kusari, um evento grandioso e, até certo ponto, aguardado pela maioria dos alunos e responsáveis. O tema deste ano era “Países”, o que renderia, além de muito divertimento, um pouco de cultura aos visitantes – que era justamente o objetivo do evento.

A preparação de tudo era feita pelos próprios alunos, que trabalhavam há semanas nisso. Os últimos preparativos seriam feitos naquele dia, e as aulas depois do almoço foram suspensas para tal. E foi aí que a sorte de Isao surgiu: como ele não ia participar do que quer que os grupos de sua sala fossem fazer na feira cultural – por motivos já listados aqui – decidiram que seu “castigo” seria limpar as salas dos terceiros-anos daquele andar.

Exatamente, o mesmo que sua detenção. Já nem conseguiam criar mais punições para Isao, então decidiram dar esse ‘prêmio’ para tentar fazer com que o rapaz não criasse problemas durante os preparativos do evento. Se ele fizesse o serviço sem demora, poderia ir embora no horário normal de saída.

“Quem diria, livre da feira e sair mais cedo... Bom demais para ser verdade.”

A tarde passou rápida enquanto o jovem fazia seu serviço. Como o terceiro andar daquela parte da escola não seria usado no dia seguinte, estava completamente deserto. A paz e o silêncio deixavam a mente flutuar, e não mais de uma vez Koyanagi perdeu-se em pensamentos – grande parte deles, claro, centralizados ‘nela’.

“Ela não veio na escola hoje de novo... Isso só reforça minha teoria. Ela está envolvida com os Guardiões, tenho certeza. Eu preciso me aproximar... Eu preciso sair por aí caçando youkais. Mas como vou achá-los? Segundo os jornais, os ‘ataques misteriosos’ estão ocorrendo em locais diferentes e sem nenhuma ligação um com o outro. Se ao menos eu tivesse um localizador ou algo parecido... Maldito sangue fraco!”

- Com licença...

Quase derrubando um saco de lixo com a vassoura que estava segurando, Isao se virou assustado e viu um anjo na porta da sala. Sim, ela era um anjo...

- Você poderia... Me fazer um favor?

Cabelos dourados, medianos, lisos.

- Eu estou perdida, poderia me mostrar a saída?

Voz aguda, sutil e agradável.

- Meu nome é Ligea. Prazer em conhecê-lo.

Traços levemente orientais, misturados com um pouco de Europa; uma mestiça, na certa. Tinha um pouco de sotaque, mas nada que atrapalhasse o entendimento de sua fala. Ajeitando os discretos óculos, a garota – visivelmente envergonhada – continuou:

- Se estiver ocupado, pode deixar que eu... Eu procuro a saída sozinha.

Foi aí que Koyanagi se deu conta de que estava paralisado na mesma posição, meio abaixado e segurando uma vassoura de modo desajeitado.

“Ela é linda!”

- Eu sei aonde é a saída, digo... Eu posso te ajudar a encontrar, não se preocupe, não estou fazendo nada importante mesmo.

Sorrindo com timidez, a garota entrou na sala e se curvou polidamente. Isao fez o mesmo, largando a vassoura:

- Me chamo Isao Koyanagi, prazer em conhecê-la. É nova no pedaç... Digo, na escola?

- Sim, fui transferida. Mas só começarei a assistir as aulas depois da Feira Cultural.

- Por que está andando pela escola hoje? Não tem ninguém nesse horário, todos estão preparando-se para amanhã.

- Eu sei. – sorriu – Por isso mesmo vim aqui hoje, queria aproveitar a ausência de pessoas e conhecer melhor o complexo. Mas é grande demais e os corredores são confusos, acabei me perdendo.

Tendo suas perguntas respondidas, Isao acabou por silenciar-se. Estava nervoso, muito nervoso – já fazia um bom tempo que uma garota conversava com ele na escola. Ainda mais uma garota bonita como aquela...

“Calma Isao, se concentra em não falar bobagem. Nossa, como ela é linda!”

Tentando ser discreto, o jovem percorreu ligeiramente os olhos pelo corpo da garota: ela tinha formas belas e suaves, sem curvas muito acentuadas. Deveria estar no primeiro ou no máximo no segundo ano. Não estava de uniforme: usava um comportado vestidinho rosa repleto de fitinhas e rendas florais vermelhas, parecia uma cosplayer de algum personagem de anime...*

“Aonde foi que eu vi isso antes?”

- Koyanagi-senpai, algo errado?

Isao saiu do estado de contemplação com essas palavras, sua tentativa de ser discreto aparentemente havia falhado...

- Desculpe, me perdi em pensamentos e...

“Não idiota, assim ela vai achar que você é um pervertido!”

- ...Digo, desculpa, me distraí. As escadas ficam aqui perto, siga-me.

“Bela primeira impressão, Isao.”

Guiando a bela mestiça pelos corredores Isao a levou até uma das escadarias do prédio sem trocar mais nenhuma palavra. A garota também não aparentava estar à vontade: olhava para os lados, curiosa, checando o ambiente que teria de freqüentar até o final do ano, mas procurava não olhar na direção do rapaz...

“Fala alguma coisa, idiota, esse silêncio só piora tudo!”

- Hã, bem... Você veio de onde? Digo, de que escola?

Ajeitando os óculos, a pequena respondeu:

- Eu acabei de me mudar para o Japão; antes eu morava na Grécia. Lá eu estudava em um internato feminino, mas não era tão grande como essa escola...

“Internato! Calma, não fantasia, não fantasia... Mas Grécia? Era impossível ela ser perfeita mesmo.”

- Grécia, é? Mas seu japonês é fluente, aonde aprendeu?

- Minha mãe é japonesa. Ela me ensinou desde que eu era bem pequena. Sempre me falou muito do Japão, e de como ela amava este país; e de como ela queria me trazer até aqui. Acho que acabei me fascinando pelo país e sua língua por causa dela... Mesmo antes de vir pra cá.

- O Japão realmente é um belo país.

“Mas que raio de resposta é essa? Seja interessante, Isao, interessante! E tente não assustar a moça...”

- Sim, um belíssimo país!

A garota sorriu, finalmente olhando na direção do jovem com uma mistura de desconforto e curiosidade. Haviam descido as escadarias e seguido até a saída, Isao já se preparava para voltar - a contra gosto - para sua tarefa.

“Droga, ela está bem nervosa, deve ser por causa da minha maldita fama. Acho que arruinei tudo de algum modo... Melhor voltar e terminar o serviço antes que aconteça alguma coisa ruim.”

Na verdade Ligea não conhecia a má-fama como ele imaginava, o nervosismo era causado por outra razão. Ela mais parecia estar incomodada com a simples presença de Isao do que qualquer outra coisa, como se radioatividade estivesse pulsando dele e a fazendo se sentir estranha... Andou atrás dele o tempo todo e manteve certa distância, evitando tocá-lo. Somente quando já estavam na movimentada saída é que a jovem passou à frente, ansiosa:

- Hm, Koyanagi-senpai?

O garoto a olhou, curioso. Ela continuava nervosa, mantendo as mãos unidas atrás das costas:

- Amanhã é a feira cultural e... Eu não tenho companhia para vir, não conheço ninguém daqui ainda. Será que você poderia me acompanhar na feira, amanhã?

Imagine um hamster, enclausurado em sua gaiola correndo à toda velocidade em sua rodinha. Imagine agora que o hamster tenha parado subitamente, deixando-se levar pela citada rodinha até que esta parasse por completo. Esta é uma bela representação do cérebro de Isao deixando de funcionar ante a pergunta da jovem. E por alguns segundos o garoto continuou assim, não acreditando no que tinha acabado de ouvir, completamente sem ação. Ligea esperava a resposta, fitando-o ansiosamente.

- Eu... Por que eu?

“NÃO! Reponde primeiro depois pergunta, estúpido!”

- Você parece um cara legal, Koyanagi-senpai, e como eu disse não conheço ninguém daqui...

“Um cara legal?”

- Eu, hã, posso te acompanhar sim. Não tenho nenhum compromisso amanhã.

O rosto da loira iluminou-se de alegria:

- Obrigada Koyanagi-senpai! Pode me passar o número do seu celular? Assim podemos combinar melhor o horário, e se acontecer alguma coisa nós nos avisamos.

“Isso é sério?”

- Ok.

Assim que terminaram de trocar os números os dois se separaram: Ligea, sorridente, saiu do prédio e Isao, atordoado, se apoiou em uma parede com as costas e deslizou lentamente até se sentar no chão. Seu coração estava disparado.

“Certo, agora eu acordo, não é? Não dá pra acreditar... O Shinji não vai acreditar quando eu contar. Aliás, vou dar o fora pra encontrar com ele agora, ninguém vai notar se eu sair mais cedo hoje. Cara, isso realmente aconteceu?”

-~~~*

- ...E por fim trocamos os números dos nossos celulares. Acha que ela vai ligar, Shinji?

- Se ela pediu o número, é porque vai ligar. A menos que seja uma armadilha. Eu acharia melhor você ligar, só não sei se isso seria bom ou ruim, depende muito das intenções dela.

Os dois passeavam pelas movimentadas ruas de Tokyo, animados e falantes. Isao contava e recontava sobre Ligea, e Shinji ouvia pacientemente tudo o que lhe era relatado, dando conselhos quando achava necessário.

- Não acho que seja uma armadilha, mas... Acho que ela só pediu isso por estar sozinha. Quando fizer amizades nem vai olhar pra minha cara de novo.

- E isso é um problema?

- Não sei...

Shinji sorriu maliciosamente:

- Não vai me dizer que já esqueceu da sua musa francesa?

- É claro que não Shinji, mas... Não posso deixar essa oportunidade escapar.

- É isso o que eu queria ouvir, Isao-san. É como eu sempre digo: mulheres são como carros, primeiro você faz vários test-drives diferentes antes de comprar um definitivo.

- ...

- O melhor é que você pode usar ela pra causar ciúmes na outra, e vice-versa. Isso abre um leque de possibilidades...

- ...

- Por que o silêncio? Refletindo sobre minha sabedoria?

- Quase isso.

- Cara, é muita coincidência mesmo essa mestiça aparecer pra você assim, de repente. É como se ela soubesse que você tem esse fetiche.

- Não é um fetiche! É meu gosto... Você não pode falar nada, não pode ver estrangeira que fica louco. E ainda me mete em confusões por causa disso.

- Eu já pedi desculpas, Isao-san. E prometo me comportar melhor. Além disso, o que eu planejei para fazermos hoje também é um pedido de desculpas.

- Até agora você não me revelou nada. Olha, é ali.

Isao apontou uma das várias casas da rua em que estavam, todas mais ou menos parecidas entre si. Shinji observou a casa em questão e andou até ficar de frente a ela, do outro lado da rua. Sentou-se no capô de um carro parado e retirou da mochila – aparentemente vazia – um grande binóculo, pondo-se a observar os dois lados da rua. Obviamente que tanto Koyanagi como os transeuntes que passavam no momento ficaram confusos com o ato...

- Mas, mas... O que está fazendo, Shinji?

A resposta foi despreocupada, natural:

- Observando o terreno, oras.

- O quê?

- Você sabe se ela foi na escola hoje?

- Ela quem?

- Como ela quem? Tua deusa loira, tapado! De quem estávamos falando agora a pouco, afinal?

- Não, Hikari não foi à escola hoje.

- Engraçado como você sempre tem certeza absoluta do paradeiro dela. Seu stalker.*

- Mas foi você que perguntou! – suspirou - Afinal o que viemos fazer aqui, na frente da casa dela?

- Como eu disse antes, eu tenho um plano. E esse plano envolve você.

Isao suou frio, como acontecia toda vez que Ikagara dizia ter um plano. Seus últimos “planos” não haviam acabo bem...

- E o que seria esse... Plano?

- Eu vou roubar a Hikari.

- O quê?

- Eu vou tentar roubar a Hikari, e você vai salvá-la. Assim criamos uma chance pra tu falar com ela, e se bobear ela ainda te convida pra tomar um café ou algo mais.

- Shinji, isso não vai dar certo. Ela pode te reconhecer...

- Reconhecer como? Ela sabe que sou teu amigo?

- Não sei, talvez.

- Isao-san, não me leve a mal, mas ela te conhece a ponto de saber sobre mim?

- ...

Nesse ponto Shinji estava certo: Hikari talvez soubesse do nome de Isao apenas por sua má-fama no complexo Kusari, ou nem isso. O tímido japonês nunca havia se aproximado efetivamente da garota, nem mesmo uma simples troca de olhares ocorrera em algum momento. O plano de Shinji talvez resolvesse a parte mais problemática: a primeira aproximação.

- Ok, como vamos agir?

Ikagara olhou surpreso para o amigo e sorriu, batendo em seu braço:

- É isso aí! Achei que você ia desistir, ou ficar falando que não vai dar certo.

- É, não custa tentar, né?

“Pior não fica.”

- Então, o plano é o seguinte: assim que eu vê-la vou abordá-la, então você deve ser rápido. Finja que está só passando, e tente ficar do outro lado da rua em que ela estará. Daí, assim que eu aumentar o tom de voz, você aparece, me dá um soco ou um chute, e eu saio correndo.

- E se ela já estiver em casa?

- Está tudo apagado lá, inclusive as cortinas estão fechadas. Se ao menos eu soubesse de que lado ela virá...

“Talvez isso dê certo mesmo. Preciso de uma chance de aproximação, e rápido. O difícil será falar sobre Guardiões... Espera aí! E se ela for uma Guardiã ou Guardiã de apoio? Na certa deve ter uma arma se esse for o caso. Guardiã não deve ser, na ponte ela não disparou nenhum raio esquisito naquele... Bicho. Pode ser perigoso pro Shinji se ela tiver alguma arma ou ser treinada pra se defender. Mas aí ela não precisaria ser salva como foi... Bem, melhor não arriscar.”

Isao tentou disfarçar a preocupação sem muito sucesso:
- Shinji, e se ela estiver acompanhada?

- Melhor, assim você ganha pontos com mais gente.

- Mas, e se algum imprevisto acontecer?

- Qualé Isao-san, não vai me dizer que desistiu? Não tenho medo de duas ou três colegiais. E se for a mãe dela melhor, você conquista mãe e filha com um só tiro. Ela não tem pai, não é?

- Não, ela não tem pai.

- Então, não preciso me preocupar. Preocupe-se apenas no que vai falar depois que eu sair fora, e não esquece de convencer ela de não chamar a polícia.

“Eu tentei... Tomara que não aconteça nada de errado.”

Os dois ficaram calados por algum tempo enquanto o entardecer orquestrava suas cores sobre Tokyo, pincelando tudo com suave tom alaranjado. Shinji quebrou o silêncio, após quase cinco minutos estático olhando através do binóculo para um dos lados da rua:

- Droga, achei que era ela, mas me enganei. Isao-san, falando de pais e essas coisas... A tal de Rigea disse que veio da Grécia, não é?

- Sim, a mãe dela é japonesa, mas o pai deve ser grego.

- Isso não te faz pensar?

- Pensar? Aonde quer chegar?

- Ora, você sabe aonde... Não dizem que sua mãe foi pra Grécia?

Ikagara tentava ser cuidadoso pois aquele era um assunto extremamente delicado para Isao. Sempre que alguém perguntava sobre seus pais, ele fechava a cara e se isolava, muitas vezes respondendo e agindo agressivamente caso houvesse insistência.

- É, dizem. – respondeu com um tom de voz um pouco nervoso – O que isso tem a ver?

- É coincidência demais, não acha?

- Não. É só coincidência. Minha vida não é novela mexicana, e eu não sou meio-irmão dela. Vê algo?

- Não, tá ficando escuro.

- É, acho melhor deixar isso pra amanhã. Será o dia da Feira, acho que ela não faltará, arriscando perder notas.

Shinji percebeu que não devia ter tocado no assunto, tamanha foi a mudança no humor de Isao. Isso só demonstrava que ele talvez havia pensado naquela possibilidade um tanto quanto fantasiosa, e por conseqüência lembranças e emoções ruins acabaram por vir à tona.

Isao não conheceu seus pais, não de um modo que se lembrasse deles. Seu pai morreu quando ele tinha apenas um ano de idade, vítima de um assassinato. Apenas fotos restaram como lembrança de Hisoka Koyanagi - fotos de alguém que Isao tratava como um completo estranho. Sua mãe fugiu com um grego quando ele tinha apenas três anos, um evento que o marcou profundamente – e possivelmente foi o gatilho que possibilitou a entrada do jovem no crime. Isao mal se lembrava do rosto de sua mãe, e quando o fazia, raiva e decepção tomavam conta de sua mente e o deixavam com um péssimo humor.

Shinji sabia de tudo isso, e normalmente não falava sobre essas coisas, mas sentiu que dessa vez deveria ter perguntado a opinião do amigo – mesmo que o resultado fosse o mesmo de sempre. Assim, decidiu cortar o assunto abruptamente para não criar conflito:

- Tudo bem, você manda. Amanhã vou lá na Feira, quero ver umas pessoas que há tempos não vejo.

- Certo, te encontro lá. Até amanhã.

- Cuidado no caminho, tem muita gente sendo atacada e nocauteada nesse horário. Essa cidade tá cada vez mais estranha, malucos que se divertem em mandar pessoas pro hospital e nem ao menos roubam algo delas...

- Ok, vou com cuidado. Se cuida também.

Isao rumou para casa, pensativo e minimamente desanimado. Muita coisa havia acontecido, precisava ordenar os pensamentos para o outro dia. Não havia conseguido nenhum progresso em relação aos Guardiões, e continuava sem nenhuma idéia ou pista que o ajudasse. E para completar, o aparecimento de Ligea o havia desestabilizado de tal modo que não conseguia se concentrar em seus próximos movimentos.

“É realmente uma coincidência, uma infeliz coincidência. Por que tinha que ser assim? Droga Shinji, tentei afastar essas dúvidas o máximo que pude. Por que, quando finalmente alguém se interessa por mim, alguma coisa tem que dar errado ou ser esquisito? Começo a imaginar que a tal maldição de Serpentarius afeta a sorte do clã...”

Sem interesse o garoto passava os olhos por algumas vitrines de lojas quando percebeu seu celular vibrando no bolso – Isao sempre deixava aquilo no silencioso, apesar das ligações serem raras. O número no visor era o de alguém conhecido...

- Rigea?

- Koyanagi-senpai, olá! Está ocupado ou algo assim?

- Não, só voltando pra casa.

- Que bom, não queria atrapalhá-lo. Liguei para poder combinar melhor sobre amanhã. Pensei em ir na Feira Cultural um pouco antes do almoço, assim podemos comer alguma coisa lá mesmo.

- Por mim tudo bem.

- Ótimo! Aliás, quero pedir um favor... Mais um, aliás. Você poderia passar no meu apartamento antes de irmos até a Feira? Precisarei ir a um caixa eletrônico antes, e não quero fazer isso sozinha. Moro perto da escola, não deve ser um desvio tão grande.

“Passar no apartamento? Isso realmente não é sério...”

- Mas... Seus pais não vão achar ruim? Afinal de contas sou um total estranho, você me conheceu hoje!

- Na verdade, meus pais estão viajando. Estou oficialmente morando sozinha, talvez ficarei nessa situação até o fim do ano. Não posso contar mais agora, amanhã te explico o porquê disso. Você pode fazer esse favor para mim?

- Er, posso.

- Obrigada, Koyanagi-senpai! O que acha de passar aqui mais ou menos às, hmm, nove horas? É muito cedo, ou tarde demais?

- Pode ser às nove, antes disso nunca acontece nada legal.

- Vou te mandar uma mensagem com o meu endereço, assim é mais fácil e já fica gravado no celular. Nos vemos amanhã, Koyanagi-senpai.

- Até.

Isao ainda ficou olhando para a tela do celular depois de desligar, absorto em uma confusão de pensamentos desordenados. Hikari, Ligea, a escola, youkais, Shinji, seus pais... Tudo passava rápido por sua mente, acabando por causar uma incômoda dor de cabeça.

“Isso é sério mesmo?”

O que Isao Koyanagi não sabia é que aquilo era só o começo. O começo de uma aventura que mudaria completamente sua vida, como também a vida de todos que o cercam...




*A roupa de Ligea é semelhante à roupa da personagem Hina Ichigo, do anime Rozen Maiden.

*Stalker: é um termo inglês que significa, em tradução livre, "o espreitador", "aquele que se esgueira", “perseguidor”. É comumente usado para designar uma pessoa obcecada por alguém, a ponto de seguir e aprender tudo sobre esse alguém. Também usado para designar fãs de celebridades que exageram na perseguição e culto relativo a estas.

*Quando Isao, Shinji ou qualquer outro japonês falar o nome de Ligea, será escrito como “Rigea” (com o “r” “enrolado”, ao estilo italiano). É o mesmo caso do nome do protagonista do mangá “Death Note”: Light é pronunciado ‘Raito’ no Japão. Claro, essa diferença só se aplicará aos nomes dos personagens.



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