Voce ainda vai me amar? escrita por Francielle Santana


Capítulo 4
Capítulo 4




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– Bom Sergio, essa é a Marina.

– Prazer, Sergio.

Senti meu mundo desabar. Eu sabia que havia probabilidade de encontra-lo. Mas tudo foi sendo processado de uma forma muito rapida. “Ele voltou. Ele é amigo do André. Bons amigos.”

Senti minha visão ficar embaçada. Kamila segurou minhas mãos me fazendo lembrar de permanecer acordada.

– Olá Sergio. André, eu preciso ir ao banheiro.

– Voce esta bem?

–Claro - Kamila interferiu -. É coisa de menina, não interfira.

Kamila tentava acompanhar os meus passos rapidos. As vezes eles pareciam comigo, firme e vacilante ao mesmo tempo. Me afastei até uma area mais vazia dentro do aeroporto e sentei, as lagrimas ja caiam automaticamente. Não sei o exato momento que isso começou a acontecer.

–Mari…

– Kamila, me deixa só agora. Por favor. Eu vou ficar bem. - Disse sem ter tanta certeza.

– Tudo bem, mas estou logo ali te esperando ta bom?!

*** ***

Do outro lado, André começou a ficar impaciente, nem os relatos das ferias do Sergio fez ele parar de pensar em nós duas.

– Sergio, eu preciso ir ali. Se eu não buscar as meninas é possivel que a gente perca esse filme.

Mas antes que André pudesse se afastar, nós chegamos.

Entrei no carro sem falar uma palavra. Eles vieram logo atras. Tentei convencer o André a me deixar em casa antes do cinema.

– Mas é o seu dia, olha pra voce… Esta linda.

– André… Eu não estou me sentindo bem. Estou com dor de cabeça.

Ele me olhou e concordou sem muita vontade, acho que minha cara não era das melhores. Consegui estragar a noite dele. Kamila tentou entrar comigo, mas preferi ficar sozinha.

Entrei em casa e avistei logo a pequena Gaby que estava em seu andador, com sono, mas ainda brincava e tentava forçar suas perninhas na minha direção. Não resisti, peguei-a no colo e voltei pra varanda. “Gaby, o que eu faço agora? - Sussurrei entre lagrimas - Como eu vou dizer ao André?! Será que preciso dizer?! Minha pequena, eu posso desistir dele, mesmo doendo em mim. Ele espera pureza de uma mulher, e nessa casa a unica pura é voce - sorri com um misto de indiferença e tristeza -. Eu não posso dar o que ele quer, eu não posso mais ama-lo.” As lagrimas continuavam a rolar. Minha mãe chegou sem fazer barulho e abraçou nós duas.

– O que houve filha?

– Ai mãe…

Não conseguia falar. Ela tentava me acalmar.

– Vamos entrar. Aqui fora esta frio e a nossa princesa ja esta quase dormindo.

Nem havia percebido quanto tempo se passou. Entramos e Eva colocou a Gaby no seu berço. Estava na sala quando ela retornou.

– Agora com calma me fale o que aconteceu.

– Calma? Mãe, eu gosto do André.

– Como se eu não tivesse visto... E fico muito feliz, voce pode ser feliz de novo, filha. Isso nao é bom?

Numa explosão de indignação me levantei.

– Mãe… o André espera uma garota virgem. Como vou dizer que sou a mãe da Gabrielle?! Como vou dizer que a 2 anos atras eu tive uma filha com seu - agora - melhor amigo? Ele nunca vai me amar! Eu to cansada de tentar ser feliz, eu quero ir embora daqui.

Eva se levantou e me abraçou. Um choro compulsivo, como se tudo que estava preso fosse enfim liberto. Aos poucos fui perdendo as forças e me deitei no seu colo. Eva compreendia minha dor. Ela passou por algo similar quando precisou contar ao seu agora ex marido sobre a minha gravidez. O resultado foi que ele não continuou amando-a. Se amava, tudo tinha se tornado ódio e rancor. Ele quis me expulsar de casa. Claro que dona Eva não permitiu que isso acontecesse. Ela explicou que estava sendo submissa ao marido, porque era um mandamento de Deus. No entanto não aborrecer os filhos tambem era, e ele não cumpria. Ela se lembra do dia que afirmou categoricamente: - “Nós casamos, mas essa casa era dos meus pais. Minha filha é minha herança. Se Deus pôde me perdoar por eu ter casado com voce, eu com certeza perdou minha filha por ter se enganado e por agora esperar um bebê. Se voce não é capaz de suportar o fato de ser inferior a Deus, e perdoar, eu lamento. E outra, eu não vou pedir o divorcio. Apesar de ter te amado, eu com certeza amo mais ainda as leis de Deus.”

Eva não era religiosa. Ela buscava obedecer o que Deus queria. O oposto do seu marido, que só buscava o proprio interesse. Ele acabou saindo de casa e abandonando nós duas. Eva sabia que tinha tudo que precisava.

Eva me cobriu. Sua filha de 18 anos que tinha uma vida inteira pela frente. Mas cujo presente não estava sendo dos melhores.

*** ***

A minha sorte? Era domingo.

Acordei com um pouco de dor de cabeça. Abri os olhos e notei que estava na sala. Tentei me lembrar da noite anterior, mas preferi prestar atenção no cheiro maravilhoso que estava vindo da cozinha.

– Mãe?! Que horas são?!

– Vai dar meio dia, filha. Voce estava tão linda que não consegui te acordar. Tem suco na geladeira. Merenda alguma coisa, ainda estou preparando o almoço.

Me levantei e dobrei a colcha de patchwork que minha mãe fez a alguns anos atras.Voltei no tempo, e lembrei de uma noite fria. Eu estava na mesma varandinha onde chorei na noite anterior. Preocupada com algumas coisas bobas, ri enquanto pensava nisso. Me perguntava se o amor do Sergio era real, havíamos discutido, coisa boba, mas pra mim naquele tempo era o fim do mundo. E parecia que ele tinha um sensor, um bip, qualquer coisa que o avisava quando ela estava precisando dele. Ele apareceu, não me levantei, mesmo querendo abraça-lo. Ele sentou do meu lado sem dizer nenhuma palavra, até que decidiu se levantar e entrar, quando voltou estava com aquela coberta nas mãos. Me cobriu e abraçou.

– Esta chateada comigo?

– Não tanto quanto antes.

Ficamos abraçados e eu não entendia como pude amar tanto alguem como ele.

Voltei ao presente, e decidi naquela manhã ser quem era antes de voltar para a cidade natal. Iria conviver sem o Sergio e sem o André. Prometi a mim mesma que conseguiria dar a volta por cima.

As duas semanas que seguiram foram dificeis para todos nós. Eu mal falava com André, e ele provavelmente nao entendia absolutamente nada. Kamila observava Sergio que fingia não saber de nada. Como se não houvesse um passado entre eles. Para ele, eu havia superado tudo. Eu? Me sentia completamente diferente, ou melhor, indiferente.

*** ***

Ja passava da hora de ir pra casa, eu estava ansiosa. Odiava esperar. Poderia ter pego carona com Mila, mas fui confiar na mãe. Ela não se atrasava, nunca fez isso. Ela poderia ter pego um taxi também, ou um ônibus, mas fiquei tanto tempo pensando que não vi o próprio tempo passar. Senti meu celular vibrar, interrompendo a musica que estava ouvindo.

“Filha, desculpe, aconteceu um imprevisto. Vai ficar tudo bem. Da um jeito de ir logo pra casa, tá bom?! Mamãe te ama.”

“Droga!” Alguma coisa aconteceu, era notavel. Minha mãe normalmente ligaria, ela provavelmente estava em um lugar onde não poderia falar. Meus pensamentos começavam a se embaralhar, minha mente trabalhava como um trem a todo vapor. “Gaby não. Gaby não”. Era a unica coisa que conseguia sussurrar. Decidi atravessar a rua e ir até o ponto de onibus ou taxi mais perto. O que chegasse primeiro eu pegaria. Um freio repentino me fez lembrar que deveria ter prestado atenção. Morta não valeria de nada. Fechei os olhos. "Vou morrer, vou morrer." Ao abrir os olhos vi André na minha frente com as mãos no meu ombro, ambos mais vivos do que nunca. Não queria precisar de André.

– Garota, tenha mais cuidado. Voce esta bem?! Me desculpe…

Ele parecia atordoado, pegava no meu rosto a procura de algum machucado, mas o carro nem havia tocado em mim.

– André, calma. Eu desculpo sim, até porque eu não prestei atenção na hora de atravessar. Mas preciso que voce me leve a um lugar urgente. E outra, voce nao vai querer ser linchado pelos motoristas.

Ele olhou pra fila que estava se formando atras dele.

– É verdade, vamos.

***

– Mãe? Mãe, o que aconteceu?!

Ja tinha visto ela desde a entrada. Eva foi pega de surpresa. Olhou para o André que havia ficado a uma certa distancia, com um ar de interrogação. Ele só fez aquela cara de que tambem não estava entendendo nada.

– Filha, não foi nada de grave. Como voce sabia que eu estava aqui?

– Mãe, o unico lugar que a impediria de falar comigo era em um hospital. E esse é o unico mais perto de casa. Me diz, o que houve com a Gabrielle?

– Mari, ela só teve uma febre, nada demais. Coisa de criança, filha.

– Aonde ela esta?

Eva me levou até o quarto onde a Gaby estava. O hospital não era o pior lugar do mundo. Não aquele. A não ser pelo fato de que sempre te faz lembrar que ha alguem doente por perto. O corredor aos poucos saia do tom azul claro para dar lugar a cores mais vivas. Desenhos ilustrando as paredes. Percebi que estava chegando na ala pediátrica. Entrei em um das salas e vi a pequena Gabrielle dormindo. Cheguei mais perto tirando uma mecha imaginaria dos olhos da pequena. Nao tinha aparelho nenhum ligado a ela. Isso me tranquilizava.

– Eu te disse. Não era nada demais. Talvez ela não tenha se adaptado ainda a mudança de ambiente, de clima.

Abracei ela.

– Desculpa duvidar da senhora, é que…

– Eu entendo filha, te entendo muito bem.

Eva acariciava meu cabelo, quando percebi que André estava encostado na porta.

– André! Me perdoe, eu me esqueci completamente de voce.

– Eu acho que entendi. Não se preocupe, a moça da recepção viu que eu vim com voce e me deixou entrar rapidinho. Só vim pra dizer que ja vou.

Fomos andando até o carro em silencio.

– Obrigada.

– Não tem de que, qualquer coisa me liga.

Ele me abraçou e beijou minha testa. Entrou no carro e foi em direção a sua casa. Será que ele percebeu tudo? Suspirei e voltei ao quarto onde a Gabrielle ja havia acordado, e brincava com a vó.


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