A Profecia escrita por Fairchild


Capítulo 2
2. Azul


Notas iniciais do capítulo

Aí tem mais um pouquinho dessa história cheia de mistérios. Lembrando que a cada capítulo clareia mais. Boa leitura!



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Depois de eu ter tido um dia estranho na escola, quase ter sido sequestrada e ter almoçado lasanha, eu fui para o meu quarto ler. Meu pai percebeu que eu estava um pouco estranha e tinha visto quando eu sussurrei no ouvido do Steven. Ele foi até meu quarto e bateu na porta. Eu respondi:
–O que?
–Abra Hayley, por favor. Preciso falar com você.
–Estou indo pai – fui até a porta e a abri. - Fala.
–Minha filha, aconteceu alguma coisa fora do normal na escola hoje?
–Bem... Mais ou menos...
–Hayley... – Meu pai parecia preocupado. Me olhou de canto, sabendo que eu estava escondendo alguma coisa.
–Tá... - falei repentima e rapidamente - Uns caras apareciam do nada, e era exatamente onde eu estava, um vendendo livros didáticos, outro procurando uma pulseirinha de ouro e o outro que era o mais estranho de todos, porque ele me perguntou se eu estava bem e depois me disse para tomar cuidado. Ele tinha uma cara de louco.
Meu pai parecia interessado.
–Como ele era?
–Ah, ele tinha cabelos lisos que iam até os ombros, morenos, e tinha um olhar brilhante.
–Mathias – disse ele pensativo.
–Quem? – eu disse, fazendo careta.
–Aquele que perguntou se você estava bem. Ele é o Mathias, meu irmão – entrando no quarto enquanto falava, meu pai não parava de andar em círculos com a cabeça baixa e com a mão no queixo.
–E... Como ele sabia onde eu estudava? E... Por que ele disse para mim tomar cuidado? Pai? Você tem um irmão?
–Uma pergunta de cada vez, Hayley. Preciso ligar para ele, depois a gente conversa.
E então ele saiu ofegante em direção à biblioteca. Fiquei praticamente falando sozinha.
–Tá... – respondi.
Eu sei que isso é feio mas... Eu o segui. Ele ligou para esse tal de Mathias e eu ouvi a conversa. Achei que ele não conseguiria digitar o número de tanto tremer. Por que ele estava tão nervoso?
–Alô? Mathias? Sou eu, Paulo.
–Oi Paulo! Nossa, quanto tempo.
–Fico feliz que não tenha mudado seu número de telefone. Então, fiquei sabendo que a encontrou.
–É, encontrei, mas olha... Eles estão atrás dela, tome cuidado. Eles não estão só fora da escola, estão dentro também.
–Você falou com ela não é? - meu pai parecia atordoado. Foi naquele exato momento que eu agradeci mentalmente a ele por sempre falar com as pessoas no viva voz.
–Falei sim, mas não foi bem uma conversa. Eu posso dizer que eu a alertei. Tudo bem por aí?
–Tirando esse pequeno problema... Sim.
–Você não contou a ela, não é? Você parece nervoso, se acalme.
–Vou deixar que ela descubra sozinha. Não vai demorar muito para ela sentir os sintomas e... Me acalmar? Você está falando com um pai preocupado com a filha, e pensa bem no motivo... Não tem como não ficar nervoso.
–Ok e... Ela está ouvindo atrás da porta.
–O QUE?
–É... Está no viva voz... Ela está ouvindo tudo - Mathias riu do outro lado da linha. - Sempre gostei dessa menina.
–Droga - sussurrei, pois se meu pai soubesse que eu estava ouvindo atrás da porta, ele iria me matar... Então saí correndo. Mas... Espera, como ele sabia que eu estava ouvindo atrás da porta?
–Hayley, onde você está? - gritou meu pai.
Eu saí correndo para meu quarto e respondi:
–No meu quarto, pai!
Meu quarto não era muito distante da biblioteca, só uma porta a frente. Mesmo assim, estava sem fôlego e fiquei pensando se ele percebeu que eu havia corrido.
–Eu vou falar com ela. Tem certeza de que ela estava ouvindo atrás da porta? – perguntou meu pai ao tal Mathias.
–Absoluta - o tom dele foi irônico.
–Temos que fazer alguma coisa Mathias, Hayley está correndo perigo.
–Não se preocupe, eu vou estar lá para protegê-la.
–Ah, obrigada, não sei com lhe agradecer.
–Clichê - eu não consegui ouvir muito bem, mas tenho quase certeza de que ele riu.
Meu pai revirou os olhos.
–Vou desligar, tchau.
–Tchau.
Fiquei pensando por um estante e percebi que meu pai não tinha perguntado ao cara se ele estava bem. Será que ele esqueceu ou não queria saber?
Quando meu pai desligou o telefone, senti que os vidros iriam estourar.
–HAYLEY! - gritou meu pai ao abrir a porta da biblioteca.
–Nossa pai, não precisa gritar! – eu disse enquanto corria novamente até lá - Estou aqui, fala.
–Você estava escutando atrás da porta, não estava?
Ele me olhou como se eu tivesse matado uma pessoa e jogado ela em um avião para a África. Confesso que quando meu pai me olha daquele jeito, fico até com uma pontinha de medo. Os exageros dele me dão medo.
–Me desculpe pai, eu estava curiosa e confusa, o que é que você não me contou? De que sintomas você estava falando? Como que ele sabia que eu estava ouvindo atrás da porta? Me responde! - falei de um jeito apavorado, só assim meu pai entenderia o que eu estava passando.
–Bem, uma pergunta de cada vez. Hayley... Acho que não posso te falar nada agora...
–Pai, por quê ele vai me proteger? Do que ele vai me proteger? Ou de quem?
Eu estava parecendo mais desesperada do que realmente estava. Mas queria jogar o mesmo jogo que meu pai. O do exagero. Se eu exagerasse na dose de pavor, ele talvez entenderia.
–Calma. Tá, está bem, eu vou lhe explicar tudo. Venha, entre.
Depois de eu ter entrado na sala, me sentei na cadeira e esperei que ele fechasse a porta e se sentasse também para começar a explicação.
–Tudo bem... Vou começar do começo.
–Estou ouvindo.
–Existe uma profecia, que diz que o sobrinho ou sobrinha de uma pessoa que pode prever o futuro próximo, terá um poder parecido com o mesmo...
–E você quer que eu acredite que esse tal Mathias tem poderes? Ah, pai.
–Sei que parece loucura, mas é a mais pura verdade. Algum dia eu menti para você?
Fiquei observando-o por um tempo. Ele parecia estar falando a verdade. E antes que eu pudesse responder, dei uma olhada na janela. Sol. Ótimo, pensei, se essa loucura for verdade, pelo menos vou ter para quem contar - Steven.
–Não. Você nunca mentiu para mim - respondi, finalmente.
–Pois bem. Sendo assim, espero que acredite. Mathias pode sim prever o futuro próximo. Como acha que ele sabia que você estava escutando atrás da porta?
–Se ele pode prever o futuro próximo, o que o sobrinho dele pode fazer?
Você– disse meu pai, apontando para mim.
–Eu. O que eu posso fazer?
–Não é igual para todo mundo. Depende da cor dos olhos.
Aquilo tudo parecia ridículo. Era realmente difícil acreditar que ele estava falando a verdade. O que tem meus olhos? Eles são da mesma cor dos olhos da minha mãe. O que tem de errado nisso?
–Os seus são azuis, então... - pensou um pouco e depois continuou - Você poderá ler mentes.
–Deixe-me ver se entendi - eu disse, realmente assustada. - Você está me dizendo que o tal Mathias é um "vidente" e eu por ser sobrinha dele posso ler mentes? É isso?
–Resumidamente, sim.
–Tá, e do que ele vai me proteger afinal?
–De mãos erradas. Filha, existem sombras, do mau, que querem pegar você por ser uma dessas crianças, sobrinha de alguém com os poderes como o de Mathias. Como eu disse a ele, você está correndo perigo. Precisa de proteção.
–E isso vai por o Steven em risco?
–Talvez. Se precisarem de você e você tiver uma solução para fugir... É capaz de eles sequestrarem Steven para ter você como troca. Isso já aconteceu antes com um garoto de São Francisco.
–Só uma perguntinha... ISSO TUDO É VERDADE? - gritei - Olha pai, sem ofensa, mas isso tudo está parecendo historia infantil.
–Hayley, por favor, não grite. Quando você começar a sentir dor de cabeça, tontura e até conseguir saber o que alguma pessoa está pensando - disse ele, balançando a mão e pensando no que ia falar, - por favor, me avise. Mathias vai estar na escola. Você vai encontrá-lo. Pode falar a ele também.
–Tá bom, mas eu estou confusa, tudo isso veio muito de pressa. É coisa demais para uma cabeça só!
De repente a campainha tocou, e adivinha quem era... Minha mãe abriu a porta, surpresa, abraçou a pessoa e disse que estava com saudades. Deu para perceber que era Mathias que estava na porta.
–Deixe-me adivinhar: É o cara vidente?
Meu pai não respondeu, mas pelo seu olhar, percebi que estava certa.
–Vamos lá em baixo.
–Serio? – discordo, olhando-o com um olhar surpreso.
–Vem Hayley.
Mesmo não querendo, eu me levanto do sofá e o sigo. Nós dois descemos a escada. Vi Mathias sentado no sofá da sala de estar.
–Oi Hayley, lembra de mim?
–Como esquecer - falei isso com um sorriso falso - Ei, como chegou tão rápido?
Mathias sorriu.
–Quando eu estava falando com seu pai, já estava a caminho. Sabia que iriam querer falar comigo - Mathias piscou o olho esquerdo para mim.
–Vamos conversar civilizadamente - disse meu pai. Ele sabe que eu sou irritada e que se qualquer coisinha me deixar mais irritada do que já sou, pulo para cima de quem quer que seja.
–O que aconteceu que eu não estou sabendo? - disse minha mãe
–Bem, Camilla, eu estou de volta para proteger sua filha. Sombras querem pegá-la e o porque, você já sabe.
–Sim, mas... Seus poderes nem estão "dando sinal de vida" – disse minha mãe.
–Por enquanto - Mathias agora estava preocupado. Algo me dizia que ele era legal. Mas não queria acreditar nisso antes de conhecê-lo.
Todos se sentaram no sofá enquanto eu tentava entender o que realmente estava acontecendo.
–Ela já tem quinze anos Mathias, normalmente os primeiros sintomas aparecem com quatorze.
–Não se preocupe meu irmão, ela pode só estar atrasada.
–Ahn... Pai?
–Sim?
–Lembra que você me disse para lhe avisar quando eu tivesse dor de cabeça ou coisa parecida?
–Sim, o que é que tem?
–Eu tive dor de cabeça ontem. O dia todo. Não era muito forte mas era dor de cabeça. Mas não tenho certeza de que tenha a ver com isso...
–Talvez... – disse Mathias.
A campainha tocou novamente e desta vez, eu fui atender.
–Oi. Você me pediu para vir. Wow! – era Steven. Eu o puxei pela camisa para fora da porta enquanto dizia:
–Pai, eu vou até o parque das árvores. Daqui a pouco eu volto, ainda quero explicações.
–Cuidado, Hayley. Não demore.
–Tá.
Caminhamos em direção à rua enquanto conversamos
–Por que você falou que eu tinha que vir aqui?
–Eu preciso te contar uma coisa muito importante, Steven. mas aqui não dá, vamos para o parque das árvores.
Andamos até lá sem dizer um pio, não era longe de minha casa.
–Bem - continuei, - o que eu tenho que te dizer é uma coisa muito importante, e que você tem que acreditar. No começo eu não acreditei mas... Parece que é verdade - eu disse, enquanto sentávamos embaixo de uma árvore.
–Ok, pode falar.
–Tá... Eu tenho um dom... Um dom especial e que deve ser segredo.
Do nada eu faço uma cara de brava e digo "O QUE?" como se tivesse gritando com ele.
–Você acha que isso é baboseira e que é uma pegadinha?
–O que o que? O QUE? De onde você tirou isso Hayley? Eu nem falei nada.
–Como não... É isso... Aconteceu - falei enquanto abaixava meu tom de voz, olhando para baixo e com um sorriso no rosto que dizia “acho que consegui”.
–Isso o que?
–É isso que eu tenho que te dizer, eu descobri que tenho um tio que é vidente, ele prevê o futuro próximo e por causa de uma profecia, eu também tenho um pequeno dom...
–Ler mentes?
–S-sim – ficquei séria e espantada... Como ele sabe? -, você percebeu porque eu disse o que você estava pensando?
–Também, mas é que eu já sabia dessa profecia. Nossa, isso é muito legal.
–Wow, não tão rápido, tem gente querendo me pegar, e isso não é legal, tá? Não é nada legal! Sabe, eu não conhecia essa profecia, fiquei confusa e... Isso é real mesmo?
–Sério? – ele disse com uma cara de deboche. Como se o que eu disse fosse a coisa mais idiota do mundo.
–Sim. Lembra na escola, aqueles caras que iam onde eu estava?
–Sim.
–Eles estão me perseguindo em todo lugar. Meu tio vai estar na escola, me protegendo.
–Tá, mas você não vai se machucar, não é? – continuou Steven.
–Não sei...
–Tomara que não - nós ficamos em silêncio por alguns instantes. Aquilo tudo realmente parecia loucura.
–Então... Eu falei o que você tinha pensado, não é?
Ele riu.
–Sim.
Dei um sorrido enorme. Eu realmente estava feliz por isso. Consegui ler a mente de uma pessoa. O mais irônico é que foi exatamente no mesmo dia e quase na mesma hora que eu descobri que esse dom existia.
Sonho.
Nós dois ficamos conversando, sentados embaixo de uma árvore no alto de um pequeno morro até escurecer. Expliquei tudo o que sabia, e aquilo foi meio... Assustador. Não sei se foi porque estava escurecendo. Mas de qualquer modo, talvez, se eu dissesse essa história a outra pessoa que não fosse Steven, ela não acreditaria em minhas palavras. Me chamaria de louca.
Depois que voltei para casa, Steven foi para a dele. Meu pai estava na sala com Mathias enquanto minha mãe preparava o jantar. Mathias e meu pai me explicaram o básico: Um tal de Demetrius - nome estranho - quer nossos poderes para ele e, para isso, conta com a ajuda das sombras. As sombras são pessoas "normais", mas que quando querem, se transformam em uma espécie de fumaça. Você só pode encostá-las quando estão na forma humana. Mathias estava morando numa cidade perto da nossa. Estava acompanhando meu crescimento desde que nasci. Nunca o vi antes, pelo que me recordo, mas ele e minha mãe se conhecem desde que ela e meu pai começaram a namorar.
Como de costume, queria tomar banho antes do jantar. Eu estava com a calça e a blusa sujas de grama - deitar na grama suja a roupa. Meu pai e Mathias estavam rindo, conversando sobre as confusões que eles aprontavam na infância. Minha mãe ria também, na cozinha, relembrando das travessuras dos três. Ela começou a namorar com meu pai quando eles tinham mais ou menos 16 anos. Naquela época, tudo era na base da brincadeira. Claro, eles trabalhavam, mas nunca deixavam de se encontrar e se divertir por isso. Fico com pena do Mathias só de pensar de quantas vezes ele "segurou vela". Meu pai nunca me falou que tinha um irmão. Não cheguei a conhecer meus avós paternos, por isso achava que ele era filho único. Minha mãe tem um irmão. Christian - tio Chris. Ele é 2 anos mais velho que ela e muito legal. Já faz dois anos que ele se mudou. Agora, só nos falamos por celular. Falando em mudança, me lembro da minha primeira cadelinha Polly. Quando a ganhei, achava que ela era um cachorro, então coloquei o nome de Pollux. Alguns dias depois, minha mãe me disse que Pollux na verdade era fêmea. Então, coloquei o nome de Polly. Polly para cá. Polly para lá. Um dia ela estava na rua e foi atropelada por um caminhão. Eu vi tudo da janela. Nunca mais quis ter um cachorro. E assim foi. Polly foi minha primeira e última cadelinha. Ainda tenho a foto dela com a coleirinha cor-de-rosa e comigo ao seu lado no quintal. Pequena e com o cabelo cheio de cachos. Nunca tirarei aquela foto da parede da sala. Antes de subir para o banheiro, dei uma boa olhada ao redor, para ter certeza de que não havia esquecido nada - as vezes, quando o shampoo acaba, vou lá embaixo pegar mas subo sem ele. Cabeça de vento. Meus olhos passaram pela cozinha. Pelo sofá. Pela foto na parede. Pelo teto escuro. Pela escada que não parava de girar. Por Mathias levantando do sofá.

Uma dor aguda percorreu meu braço direito.
Escuridão.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem! E aí, o que acharam? Comentem aí! Na próxima semana tem mais.



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