— Que foi Nathan. — Meu irmão diz em tom irônico. — O gato comeu a sua língua?

Eu até riria se eu não soubesse que Lucas “o original”, é na verdade metade um humano e metade felino, mas só de pensar na hipótese de Lucas comendo minha língua no café da manhã já dá um bugue no meu cérebro.

— N..Não, é que...

— Acho que já nos conhecemos... — Disse o outro Lucas ao lado de Denner. — ...Hoje de manhã seu irmão e eu nos esbarramos, por isso me atrasei pra aula.

— Ah ta. — Denner compreende sorrindo. — Sempre o Nash!

— Hey. — Digo. — Foi um acidente.

— Claro. — Denner diz revirando os olhos.

— Foi sim, eu estava correndo pra... pra... pra chegar à tempo em sala, sendo que quando eu virei o corredor da escola acabei atropelando o Lucas sem querer.

— Atropelando? — Meu irmão diz assustado. — Sentiu a pressão ao bater na gordura do meu irmão?!

O outro Lucas sorri.

— DENNER SEU IDIOTA!! — Berro fazendo Clarinha por as mãos no ouvido.

— Ei mano. — Diz Lupin cutucando Lucas. ESPERA?! ELES TAMBÉM SE CONHECEM?! — Por que você não foi me buscar na escola hoje?!

— Ué. — Lucas verbaliza. — Pensava que você já conseguia voltar pra casa sozinho. — Ele diz.

LUCAS?! ESSE É O LUCAS?! O MEU LUCAS?

ELES SÓ PODEM ESTAR DE BRINCADEIRA COMIGO!

— Vocês são irmãos? — Denner pergunta incrédulo. — Que massa!

— Somos, Lupin é meu irmão mais novo. — Respondeu Lucas me olhando pelo retrovisor. Esse idiota! — O que foi Nash? Não está me reconhecendo? — ele provoca.

— Claro que estou. — Ironizo. — De adolescente pra jovem foi um grande salto.

Digo fazendo todos entenderem com exceção de Denner, o ar começa a ficar pesado e o silêncio predomina o local.

— Nós moramos alí. — Diz Lucas apontando para um pequena casa azul marinho.

— Pertinho. — Denner responde. — Nós moramos virando aquela esquina alí. — Meu irmão aponta pro final da esquina a direita.

— Pow, valeu pela carona. — Lucas agradece tirando o cinto. Clara e eu nos despedimos de Lupin enquanto Denner fala com Lucas.

— Até amanhã. — Denner diz.

— Até.

Quando chego em casa, corro escada acima, entro no quarto e vou direto tomar banho. Essa história do Lucas ser o Lucas não tá nada legal. Por que o Lupin ficou um Lupin normal quando se transformou em humano e o Lucas virou o outro Lucas na forma de humano. Não que ele esteja feio, o que na verdade é uma tremenda mentira se eu dissesse que esta. Na verdade o outro Lucas é tão gato, ou até mais, que o Lucas na forma de híbrido. Aquele piercing na língua e o alargador foram o que mais deu a ele um estilo de rebelde e badboy que eu sempre gostei nele. (Tirando o fato de ele gritar comigo nos treinamentos). No fundo, acho que Lucas não devia ser meu guia, e sim namor...

— Hey Nathan. — Minha mãe grita da cozinha. — Vai sair pra algum lugar?

— Pera ae, já vou descer. — Respondo aos berros.

Depois do banho, aviso minha mãe que preciso ir à casa de Thomas fazer a lição de casa. Denner me lança um olhar malicioso que eu ignoro por completo. Meu irmão é totalmente um idiota. Por falar nisso, estou abrindo uma campanha que se chama ADOTE O DENNER, quem quiser ele, por favor, entre em contato comigo no site: www.desapegaDenner.com.br

Saio de casa correndo e viro a esquina. Corro tanto que ao tropeçar quase caio de cara no chão, mas essa história está muito mal contada. Por fim, chego ao edifício azul onde Lupin e Lucas moram.

Toco a campainha e Lupin atende depois de alguns instantes.

— EU... VIM... VER... COMO... VOCÊS ESTÃO. — Digo ofegante. Corri tanto que nem tive tempo de suar.

— Pode entrar. — O menino diz sorrindo.

A casa é extremamente simples por dentro. Um simples muito bonito e chamativo. As paredes estão pintadas em um tom azul bem claro e os móveis parecem ter sido comprado hoje mesmo. Há um sofá de frente para uma televisão e quando eu olho para a cozinha, me deparo com o outro Lucas que na verdade é “O Lucas”.

— A comida tá pronta, Lupin. — Ele diz saindo da cozinha com um pano na mão. — Quem era na...

Ele fita meu rosto por um instante e depois sorri. — Seja bem vindo, Nas...

— SEEEEEEEEEEEEEEEEU CRETIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIINOOOOOOOOOOOOOOO — Berro pulando em cima de Lucas. Ele cai no chão e eu caio sentado no peito dele batendo freneticamente no garoto. Ele gargalha tentando se defender com as mãos. — POOR QUE VOCÊ NÃO ME FALOU ANTES?! — Grito.

Ele gargalha como uma criança de três anos assistindo algum filme qualquer infantil. — Eu... Eu...

— TA RINDO DA MINHA CARA, LUCAS?!

Ele começa outra seção de risos, até que eu decido sair de cima dele.

Lupin já está na cozinha almoçando, enquanto eu espero Lucas se levantar. Olho o garoto de cima a baixo, antes na forma de híbrido, ele já era um pouco maior que eu, agora na forma de humano, ele é quase o dobro do meu tamanho.

A tatuagem no seu pescoço é na verdade uma patinha de gato, o alargador que ele usa é amarelo, diferente do que ele usou para ir a escola. Lucas está usando uma camisa de basquete enorme escrito “(Nome estranho que eu ainda não consegui identificar e começa com S) 23”.

— Ei, Lucas. Por que você tá tão diferente? — Pergunto fitando o maior.

— Na verdade, eu tenho vinte e um anos na vida humana e dezessete na felina. Por isso, essa é minha forma original aqui na Terra.

— Mas o tempo na tribo dos felinos não passa mais rápido?

— Na verdade não. Cada tribo tem um determinado tempo. As nações do fogo e ar possuem um tipo e a nação da terra e água, outro. No caso da tribo dos felídeos, o tempo passa bem mais devagar do que aqui na Terra.

— Eu pensava que as tribos eram pertos uma da outra.

— E eram, mas agora para se transportar de uma para outra, deve-se atravessar os arcos dimensionais, que são feitos para separar uma tribo de outra, para que assim não haja contendas.

Fiz cara de entendi, mas na verdade não entendi droga nenhuma então decido mudar de assunto. — Prefiro sua outra forma. — resmungo.

O garoto se levanta em um impulso e me dá um forte abraço.

— Sai. — Digo tentando me livrar dele.

O maior aperta o abraço quase me sufocando. — Eu sei que você gosta. — Ele diz sorrindo e me beijando na testa logo em seguida. Sinto meu corpo entrar em estado de flutuação. Esse garoto sabe como me domar.

— Vocês não vão comer não?! — Lupin diz à mesa.

— Vamos. — Lucas diz me puxando para dentro da cozinha.

Adivinha qual era o almoço?! Um prêmio pra quem disse: PEIXE FRITO! Sem arroz, feijão, macarrão, ou sei lá o que... Só peixe.

— Sério isso?! — Digo olhando as panelas em busca de comida.

— Que foi?

— Vocês só almoçam peixe? — Pergunto incrédulo.

— É a comida dos deuses. — Lupin diz de boca cheia. Eles largam o DNA de gato, mas o DNA de gato não larga eles.

Sorri e comi... peixe ao lado de Lucas e Lupin, meus gatinhos preferidos.

...

No dia seguinte, acordei rapidamente e depois de tomar banho e colocar o uniforme, desço as escadas rapidamente e começo a comer mais rápido ainda.

— BOM DIA. — Grito com o sorriso mais belo que tenho.

— Que tem de bom assim no dia? — Respondeu Denner com uma olheira enorme no rosto. Quem manda ficar saindo de madrugada?

Ontem depois que voltei da casa de Lucas, dormi tanto que me senti parte da cama. Dormi de tarde, acordei de madrugada, voltei a dormir, e aqui estou eu... Pronto pra mais uma travessia no deserto da tribo dos leões (Mentira!!!).

— Está animado hoje Nathan. — Minha mãe diz sentando-se à mesa. — O que foi?

— Nada! — Digo. — Só estou animado pra ir pra escola.

No mesmo instante, Denner cuspe todo o suco na minha cara. — O QUE? ANIMADO PRA IR PRA ESCOLA?!

Pego o guardanapo e limpo o meu rosto. Ele não irá estragar meu dia. — Estou. — Respondo.

— Quem é você e o que fez com o meu irmão?

— Acho que você está dando o exemplo Denner... — Minha mãe verbaliza colocando as mãos no ombro dele. — ...Está fazendo seu papel como irmão mais velho.

Na verdade ele não está mãe. Eu só quero ir pra escola pra poder ver o Lucas novamente, pois ele naquela forma humana é um verdadeiro... Aquilo! E “aquilo” me deixa extasiado.

Denner me olha com um olhar de desconfiança. Enquanto minha mãe levanta para pegar algo na geladeira, meu irmão se inclina e sussurra:

— Quando vai contar para a mamãe que tu ta namorando o Thomas?

Me engasgo com o suco de laranja e começo a tossir. Minha mãe se vira, mas ignora, então decido responder:

— Eu não estou namorando Thomas.

— E o que significava aquelas flores, alguém morreu?

— Não é da sua conta. — Digo sussurrando em um tom elevado.

— Só quero que saiba que se tu gosta realmente dele, eu não ligo. — Ele sussurra tranquilo. — E acho que a mamãe também não liga.

— Não liga o que? — Ela diz se assentando à mesa no exato instante em que o idiota do Denner proferiu aquelas palavras.

— Ééer... Bem... Não... Não liga se eu dormir fora essa noite. — Gaguejo tentando demonstrar tranquilidade. Eu disse “tentando”.

— Quer dormir aonde? Com os bêbados da rua?! — Ela fala nervosa. — Você sabe muito bem que eu não gosto que você durma na casa dos outros. Você tem sua própria casa, e as pessoas tem as delas.

— Mas não ligo se algum amiguinho seu quiser dormir aqui. — Dissemos em uníssono. Desde pequeno, eu e Denner sempre ouvíamos o mesmo discurso que até já gravamos. Minha mãe não suporta a ideia de saber que eu estou dormindo fora, incomodando os pais dos outros. Ela sempre diz que pimenta nos olhos dos outros é refresco. Mas eu acho que ela usa esse ditado como ironia, e no fundo eu acho que quem é a pimenta sou eu.

— Só essa noite mamãe. — Insisto e ela repete outro discurso chato. Como vocês sabem, eu não quero dormir na casa de ninguém. O fato é que só estou tentando desfazer a burrice que Denner havia começado. Finjo que estou triste e subo as escadas para escovar os dentes.

Escovo, pego a mochila e desço as escadas pensando em Lucas.

— To indo mãe. — Berro da porta.

— Seu irmão já está lá fora. Beijo. — Ela diz.

— Beijo. — Respondo.

Entro no carro e sento na frente, mas Denner diz pra eu passar pra trás, pois iria buscar Lucas em casa. Não hesito. Mas pensando bem isso daqui já tá virando caravana pra escola. Primeiro buscamos Clara e depois Lupin e Lucas.

— Bom dia. — Diz Lupin sentando ao meu lado.

— Bom dia. — respondo.

— Bom dia. — Fala Denner no volante.

— Bom dia. — Verbaliza Lucas.

E por fim, Clara sorri, como se tivesse dito Bom dia.

A viagem foi extremamente chata. Denner só sabia ficar falando de futebol com Lucas (Que por sinal não entendia nada e só concordava com a cabeça). Não existe futebol em outra dimensão. Quis dizer, mas sairia estranho, então ignorei. Eu e Lucas flertamos diversas vezes com os olhares enquanto a boca nervosa de Denner não parava de falar. No fim, chegamos à escola e Lupin disse que levaria a Clarinha em segurança para a sala. Como já estava atrasado, deixei a garota em seus cuidados e corri para o prédio da minha escola.

Chego na sala e percebo que Thomas guarda o meu lugar com a mochila. Entro e me sento ao lado dele.

— Viu CSI ontem? — Ele pergunta animado.

— Não. — Respondo. E aí vem uma seção inteira de explicações e spoiler do episódio que perdi. No fundo, não to nem ligando para as palavras de Thomas, até que uma garota ao atrás de mim solta uma pérola.

— E então do nada ela ficou presa misteriosamente dentro da casa. Dizem que faz três dias que ela não consegue sair de lá. Outros acreditam que ela morreu e assombra as ruínas do parque.

Me viro para trás e fito a garota.

— Me desculpe, mas posso saber do que estão falando?

A garota fica envergonhada e responde: — Do castelo assombrado do parque de diversões.