Sombras do Passado escrita por BastetAzazis


Capítulo 9
Um Presente de Natal Atrasado


Notas iniciais do capítulo

Chegam as férias de verão, e Severo tem a oportunidade de conhecer melhor o amigo dos seus avós...



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Capítulo 5: A Vassoura Pinoteante

Sombras do Passado

escrito por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Suviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 9: Um Presente de Natal Atrasado

Pouco tempo depois, Eileen e Severo já estavam em casa novamente. Eileen estava furiosíssima com os pais. Eles insistiram em entrar repentinamente na vida de Severo quando seu pai aparecera no meio do ano oferecendo-se para pagar os estudos do neto. Agora que Severo, naturalmente, mostrava-se curioso em conhecer melhor sua família bruxa, eles tentavam agir como se ele não existisse. E o pior era que Severo parecia estar tão deslumbrado com os avós que nem percebia que estava sendo ignorado por eles.

Severo, por outro lado, realmente ficara confuso quando percebera que seus avós haviam mentido para ele, mas ficara mais impressionado com o homem que conhecera na sala de estar. Estava tão curioso que nem se importava mais com os avós, queria apenas mais uma oportunidade de encontrar aquele homem novamente. Ele parecia muito poderoso e podia ensinar-lhe muitas coisas.

Em pouco tempo, mãe e filho chegaram à conclusão que era melhor ignorarem o acontecido e não tocaram mais no assunto até o dia de Severo partir novamente para Hogwarts. Eileen queria aproveitar os poucos dias que teria a companhia do filho, e Severo também queria evitar discussões com a mãe.

Uma semana antes do seu aniversário, Severo já estava arrumando seu malão para voltar para a escola. No dia seguinte, foi com sua mãe até a estação londrina para pegar o trem e encarar mais um semestre na escola bruxa. Desta vez, não precisou procurar por uma cabine livre no trem, sua pequena gangue da Sonserina, como agora ele e seus amigos eram chamados pelos alunos das outras Casas, já tinha guardado um lugar para ele. Passou a viagem inteira conversando com Paulo, Roberto e Evan, que mostravam seus presentes de Natal e contavam como haviam passado o feriado. Quando Severo mostrou o cachecol que ganhara dos avós, todos arregalaram os olhos admirados; pêlos de manticora eram raríssimos e há muito haviam sido proibidos para comercialização pelo Departamento para a Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas e pelo Organismo de Padrões de Comércio Mágico Internacional. Aquele era um artigo único. Severo ergueu uma sobrancelha e sorriu maliciosamente para os amigos. Lembrando-se do cartão dos avós, pensou: Realmente, é um presente feito para um Príncipe.

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No semestre que se seguiu, Severo já estava totalmente adaptado à vida em Hogwarts. Ainda era conhecido como O Bruxo das Trevas da Sonserina, e seu grupo de amigos (a Gangue da Sonserina) era temido por quase todos os alunos do primeiro ano, e até alguns mais velhos. Para garantirem o temor dos demais alunos, os quatro amigos freqüentemente eram vistos perambulando pelos corredores mais ermos do castelo a procura de novas vítimas para as suas mais recentes azarações. Finalmente estavam colocando em prática as várias horas que passaram enfurnados na biblioteca no semestre passado. Entretanto, havia alguns alunos que não estavam gostando nem um pouco da fama da Gangue da Sonserina. Tiago e Sirius desistiram momentaneamente dos seus planos de investigar a Floresta Proibida, para o alívio de Remo, e investiram todos os seus esforços para enfrentarem os sonserinos.

O auge da disputa entre os quatro alunos da Sonserina e os quatro amigos da Grifinória foi no final do semestre, quando Tiago e Sirius encontraram Severo sozinho num corredor escuro do segundo andar, perto da hora de se recolherem para suas salas comunais. Depois de uma pequena troca de ameaças, Sirius perdeu a paciência e lançou uma azaração em Severo. Mas o sonserino não era tolo em andar desprevenido pelo castelo; mesmo com o verão chegando, Severo ainda vestia o cachecol que ganhara dos avós. O feitiço desviou de Severo atingindo o alvo mais próximo, Bertram Aubrey, um aluno do segundo ano da Lufa-lufa, que passava desavisado por ali. Assim que o raio vermelho da varinha de Sirius o atingiu, sua cabeça começou a crescer sem parar, e o menino gritou por socorro. Em segundos, Filch já estava atrás dos garotos, e pouco tempo depois, a Profa. McGonagall e o Prof. Slughorn apareceram no corredor.

– O que está acontecendo aqui? – a Profa. McGonagall perguntou depois que conseguiu fazer a cabeça de Bertram parar de crescer.

Foi Filch quem respondeu:

– Estes quatro encrenqueiros estavam vagando pela escola quando já deveriam estar se dirigindo para suas salas comunais. Eu estava no rastro deles quando ouvi um grito e vim correndo. Quando cheguei, esse aí – disse, apontando para Sirius –, estava empunhando sua varinha.

– É verdade – Severo apressou-se em dizer. E apontando repetidamente para ele e para Bertram, continuou: – Eles estavam nos ameaçando.

Sirius bufou para Severo, mas recebeu um cutucão de Tiago. Já estavam encrencados o suficiente, não serviria de nada se começassem uma briga na frente do Filch e mais dois professores.

– Neste caso – o Prof. Slughorn interveio, dirigindo-se a Filch –, eu sugiro que você acompanhe este garoto até a ala hospitalar. Quanto aos Srs. Potter e Black – continuou para a Profa. McGonagall –, eu acredito que você, Minerva, seja a pessoa mais indicada para disciplinar os grifinórios.

A Profa. McGonagall apenas assentiu com a cabeça. Era possível perceber o desapontamento com seus alunos.

– Venha, Sr. Snape – o Prof. Slughorn chamou Severo. – Eu vou acompanhá-lo até a sala comunal da Sonserina.

Quando os dois se retiraram, Sirius virou-se para a Diretora da Grifinória, indignado:

– Eu não acredito que ele saiu impune! Ele e aqueles seus puxa-sacos atormentam a vida de todo mundo, e ninguém faz nada para...

– Silêncio, Sr. Black! – A Profa. McGonagall já estava mais irritada do que poderia ser seguro para qualquer aluno em Hogwarts. – Eu não estou interessada em suas desculpas. O senhor foi pego azarando um aluno indefeso, deveria se envergonhar disso! – E virando-se para Tiago, continuou: – E o senhor, Potter! Já deveria ter notado que não tem mais a proteção de seus pais em Hogwarts. Eu não vou permitir que um garoto mimado estrague a reputação desta escola. São vinte pontos a menos para a Grifinória e detenção dupla para os dois!

Sirius e Tiago seguiram silenciosamente para a sala comunal da Grifinória, observados de perto pela Profa. McGonagall. Sem dizer uma palavra, os dois amigos juravam vingança a Severo Snape. Aquele seboso insuportável da Sonserina acabava de ter declarado guerra aos dois, e quando Remo e Pedro soubessem do ocorrido, com certeza também os ajudariam a planejar uma retaliação. Entretanto, eles não imaginavam que esta vingança ainda demoraria alguns anos para acontecer.

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Com a chegada do verão, chegava também a excitação pelo final das aulas e o início das férias que, infelizmente, não poderiam ocorrer antes dos exames finais. Os alunos do quinto e sétimo anos andavam mais estressados que nunca com a chegada dos N.O.M.s e N.I.E.M.s, entretanto a agitação não era menor entre os alunos do primeiro ano. Alguns alunos mais velhos os assustavam com histórias de que seriam expulsos de Hogwarts se não conseguissem boas notas, ou então de alunos que foram jogados no lago por tentar colar nos exames e nunca mais apareceram. Severo não acreditava nessas histórias, mas alguns de seus amigos ficaram realmente nervosos depois de ouvi-las. As atividades da Gangue da Sonserina diminuíram consideravelmente com a aproximação dos exames, assim como os planos de vingança de Tiago e Sirius, que também foram totalmente esquecidos, dando lugar a preocupações mais sérias, como a época ideal para colheita do Visgo Encantado ou o movimento certo da varinha para o Vingardium leviosa.

A semana de provas finalmente passou sem nenhum incidente maior, apenas um excesso de alunos dos N.O.M.s ou N.I.E.M.s procurando Madame Pomfrey em busca de Poções Calmantes. Agora, o Saguão de Entrada estava repleto de alunos carregando seus malões, aguardando a hora de embarcarem para casa. Severo passava as últimas horas em companhia de seus amigos conversando alegremente, sendo observado de longe pelos quatro amigos da Grifinória: Tiago, Sirius, Remo e Pedro. Próxima a eles estava Lílian; alheia a confusão no saguão, ela imaginava como seriam suas férias agora que a irmã a odiava. Mas suas reflexões foram interrompidas pela chegada de Carlos. Mesmo sendo da Lufa-lufa, ela e Carlos ficaram muito amigos naquele ano, e ela esperava que sua amizade perpetuasse por muito mais tempo. Afinal, os meninos da Grifinória estavam mais interessados em importunar os meninos da Sonserina.

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Severo estava há apenas uma semana em casa e já estava entediado. Fora instruído pelos professores, e depois novamente pela sua mãe, que não poderia usar magia em casa; o que significava que não poderia assustar os outros garotos da rua. Também sentia falta dos seus amigos e das longas tardes na biblioteca procurando por diferentes feitiços. Ele recebera algumas cartas de Evan, Paulo e Roberto e mandara respostas por meio de Slyth, sua coruja, mas não era a mesma coisa que passar o dia testando novas azarações.

Na segunda semana de férias ele já não agüentava mais. Resolveu quebrar o silêncio sobre seus avós, que existia desde o Natal, e pedir permissão para sua mãe para visitá-los. Entretanto, quando entrou na cozinha para falar com sua mãe não conseguiu pronunciar nenhuma palavra. A coruja de seus avós acabara de entregar uma carta para sua mãe e saía apressadamente pela janela.

Ele observou sua mãe abrir a carta e começar a ler. Para Severo, parecia que horas já haviam passado e sua mãe continuava sentada na cadeira, imóvel, olhando fixamente para o pergaminho. Curioso com o que poderia estar escrito na carta, Severo aproximou-se da mãe e a chamou, mas não obteve resposta. Sua mãe ainda estava parada, como uma estátua, como se nem tivesse notado a presença dele. Preocupado, Severo a chamou mais uma vez, balançando o ombro dela. Eileen levantou os olhos do pergaminho e virou-se para encarar o filho, mas nenhuma palavra conseguiu sair da sua boca.

Severo começou a ficar assustado. Nunca vira sua mãe daquele jeito. Alguma coisa estava errada. De repente, para confirmar seus temores, Eileen o abraçou fortemente, e Severo sentiu que sua camisa estava ficando molhada. Sua mãe estava chorando. Mas por quê? O que aconteceu? A resposta para suas perguntas só poderia estar naquela carta. Pegou-a rapidamente da mesa e leu:

Eileen,

Sua mãe faleceu nesta madrugada. Sua saúde já estava fraca e só piorou depois dos últimos incidentes.

Os preparativos para os funerais já foram providenciados, não há necessidade de preocupar-se com nossas cerimônias bruxas.

E. S. Prince

Severo largou o pergaminho na mesa novamente e ficou olhando, perplexo, em direção a janela. Não sabia o que fazer. Sua mãe ainda estava abraçada a ele, chorando, mas ele não sentia vontade de chorar. Ele não podia dizer que conhecera a sua avó. Para ele, ela era apenas uma assinatura em meia dúzia de cartas que recebera, ou uma visão de relance de uma senhora muito bem vestida e nariz empinado, nada mais. Ele estivera apenas uma vez na Mansão dos Prince e, mesmo naquela ocasião, não havia trocado uma palavra com sua avó materna. Será que ele era uma pessoa má por estar tão indiferente a essa notícia? Ele achava que não, mas mesmo assim uma pontinha de remorso pesava em seu peito.

Ver sua mãe chorando daquele jeito trouxe à tona lembranças da sua infância que ele gostaria de esquecer para sempre, e talvez tenha sido isso que o impelira às ações seguintes. Afastando-a apenas o suficiente para encará-la nos olhos, Severo disse firmemente:

– Mãe, nós precisamos ir até lá.

Eileen enxugou as lágrimas com as costas da mão e respondeu num suspiro:

– Você não leu a carta, Severo. Seu avô não nos quer por perto.

– Mas ela era sua mãe – Severo insistiu. – Se fosse você... mesmo que você estivesse muito brava comigo... Mesmo assim, eu faria qualquer coisa... Afinal, você não iria querer que eu lhe desse um último adeus?

Eileen estremeceu com a idéia, mas entendeu o que o filho queria dizer. Tentou segurar as lágrimas e sorrir, seu filho estava realmente crescendo e mostrando uma atitude muito madura. Ela sentiu uma pontinha de orgulho pelo filho, que resultou em mais uma explosão de choro, e ela voltou a abraçar Severo. Quando conseguiu se controlar, olhou o filho nos olhos e respondeu:

– É claro que sim, meu filho. Não há nada que você faça que eu não possa perdoá-lo.

Mãe e filho se olharam por um tempo em silêncio, Severo sorriu para a mãe levantando uma sobrancelha, como que dizendo: Então, vamos! Eileen finalmente sentiu-se capaz de se levantar e se arrumar para aparatar até a casa do pai.

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A propriedade dos Prince era enorme, e todos os membros da família eram enterrados num pequeno cemitério particular dentro da fazenda. Eileen e Severo aparataram mais uma vez próximos ao lago, e ela conduziu o filho até o lugar onde normalmente eram feitos os funerais. Viram de longe os bruxos e bruxas que estavam sentados em cadeiras dispostas a frente de uma mesa onde jazia o corpo da Sra. Prince. Conforme se aproximavam, Severo conseguiu distinguir seu avô entre os homens que estavam em pé, prestando as últimas homenagens.

Quando conseguiram chegar até a última fila de cadeiras, os funerais já tinham se encerrado e os amigos da família faziam fila para cumprimentar o Sr. Prince. Severo reconheceu o primeiro homem que cumprimentava o seu avô. Ele já o vira antes, na Floreios e Borrões, quando fora comprar seu material para Hogwarts com o avô, e agora também sabia que ele era o pai de sua amiga, Isabelle. Confirmando suas suspeitas, Severo observou que Lúcio Malfoy também estava na fila para cumprimentar o seu avô, seguido pela irmã mais nova. Ela apenas deu a mão para o Sr. Prince, sem falar nada, mas quando voltou-se para o pai e o irmão que a esperavam, percebeu que Severo e sua mãe estavam parados atrás dos outros presentes, e correu até eles.

– Sinto muito, Severo – ela disse, depois de um longo e forte abraço.

– Obrigado – ele respondeu sem jeito.

Ela afastou-se do amigo e cumprimentou Eileen apenas com uma inclinação da cabeça. O Sr. Malfoy correu atrás da filha e viu-se obrigado a cumprimentar Eileen também, sendo imitado por Lúcio. Os demais presentes, alguns sem entender muito bem o que estava acontecendo, pois não sabiam quem eram aqueles dois estranhos, seguiram a família Malfoy e, após cumprimentarem o Sr. Prince, dirigiam-se para Eileen e Severo. Quando todos já haviam cumprimentado a família e se retiravam em direção à casa, o Sr. Prince aproximou-se da filha. Entretanto, nenhuma palavra fora dita. Não precisava. Eileen sabia que não era bem-vinda, e o Sr. Prince sabia que não podia proibir a filha de despedir-se da mãe. Com um suspiro, o Sr. Prince começou a caminhar em direção à casa e disse, sem virar-se para Severo:

– Provavelmente sua mãe quer ficar um tempo sozinha. Você pode vir comigo enquanto isso.

Severo olhou em dúvida para a mãe, mas Eileen inclinou a cabeça, dando-lhe permissão para seguir o avô. Ele hesitou por um momento, mas concluiu que sua mãe ficaria bem. Então, correu para alcançar o Sr. Prince, e os dois caminharam juntos e em silêncio até a casa.

O primeiro andar da mansão estava lotado de gente. Bruxos e bruxas de toda parte que vieram prestar as últimas homenagens à Sra. Prince e que agora queriam saber quem eram os dois estranhos que chegaram atrasados para o funeral. Severo tentou encontrar Isabelle, a única pessoa conhecida que ele vira ali, mas nenhum sinal dela ou dos outros membros da família Malfoy. Entediado e cansado das caras tristes com que todos o olhavam e cochichavam entre si, entrou na biblioteca. Era um dos poucos lugares vazios na casa. Sentou-se numa poltrona que parecia bem confortável e ficou apreciando as estantes forradas de livros.

Alguns minutos depois, a porta se abriu e um homem alto, de vestes negras, entrou na sala. Severo percebeu quem era e abriu um sorriso. Finalmente, alguém com quem conversar.

– Ah, nos encontramos de novo... Severo, não é?

– Olá – Severo respondeu.

– Parece que você se tornou a celebridade do dia – ele disse com um sorriso falso. – Eu estava mesmo querendo vê-lo novamente. Foi bom nos encontrarmos longe de olhares curiosos.

– Eu? Por quê?

– A última vez que nos encontramos – ele explicou –, era Natal. Eu senti que estava lhe devendo um presente.

– Um presente? – Severo olhou para ele desconfiado. – Mas o senhor nem me conhecia, eu jamais...

– Eu vi que você tem muito potencial, Severo – ele o interrompeu. – Eu gosto de ajudar as pessoas a desenvolverem seu potencial. Não me custa nada. – Ele tirou um livro do bolso interno das suas vestes e o entregou para Severo. – Tome. Eu o usei quando estava em Hogwarts, mas Poções não era minha especialidade, então tive que fazer algumas anotações para garantir um Excepcional nos meus N.I.E.M.s. Quem sabe você não seja capaz de desenvolvê-las? Como disse, eu vi que você tem um grande talento para Poções.

Severo pegou o livro da mão dele. A capa já estava tão surrada que mal se podia ler o título. Abriu-o e leu a partir da primeira contracapa: Estudos Avançados no Preparo de Poções, de Libatius Borage.

 

– Estudos avançados? – Severo perguntou. – Mas isso é só para alunos mais velhos, não é?

O homem olhou para Severo com um brilho diferente nos olhos.

– É perfeitamente apropriado para alguém com o seu talento, mesmo que ainda tão jovem.

Severo aceitou o elogio e virou mais uma página do livro. Mais uma vez viu o título e o nome do autor, mas mais abaixo, escrito à mão, leu as seguintes palavras:

Este livro pertence ao Lord Voldemort

– Lord Voldemort? Esse é o seu nome?

– Jamais repita esse nome, garoto! – Subitamente, a elegância e a estima do Lord Voldemort transformaram-se em ódio e fúria. Ele encarou Severo com olhos cruéis, e seu rosto distorcido agora estava o mais próximo possível dele, seus longos dedos envoltos no pescoço dele, quase o sufocando. – Nunca mais ouse pronunciar esta palavra se você não tem poder suficiente para me enfrentar, entendeu? Você não imagina o que eu posso fazer com um insolente que não sabe mostrar respeito pelos seus superiores.

Severo olhou assustado para o homem que ainda o segurava pelo pescoço. Sentia como se seu corpo estivesse retorcendo-se internamente e estava certo que ele era o responsável por isso.

– Desculpe-me – Severo conseguiu responder com a voz falhando, assustado com a fúria que via nos olhos daquele homem. – Eu não queria ofendê-lo. Como posso chamá-lo, então?

Voldemort o soltou vagarosamente, sem tirar os olhos dele. Quando Severo já estava mais calmo, recostado na sua poltrona, respondeu:

– Você pode me chamar de Lorde das Trevas. Falta pouco para todo o mundo bruxo conhecer este nome, você deveria se sentir privilegiado por estar falando comigo.

Severo estava sem palavras. Mesmo depois de ser atacado por aquele homem, que dizia ser um Lorde das Trevas, Severo ainda não conseguia deixar de admirá-lo. Era como se estivesse hipnotizado. Era esse tipo de poder que ele queria ter para ele. Com um poder desses, ninguém ficaria em seu caminho.

Perdido em seus pensamentos, Severo nem percebeu que Voldemort havia sacado sua varinha e apontava para o livro.

– Este livro pertenceu a mim um dia, mas agora é seu. – E dizendo isso, um aceno da sua varinha fez as palavras escritas à mão desaparecem sob os olhos perplexos de Severo. – Espero que você saiba usá-lo adequadamente. Você vai ver que ele se mostrará um presente inestimável.

– O-Obrigado – Severo balbuciou, ainda impressionado com o Lorde das Trevas.

Voldemort, por sua vez, envaidecido pela admiração do garoto, continuou:

– Eu também tenho um pedido a lhe fazer.

Severo sorriu internamente. Agora ele estava entendendo o motivo do presente. Já estava há um ano convivendo com outros sonserinos e sabia que presentes dificilmente vinham livres de segundas intenções. Entretanto, ele não era bobo de deixar sua certeza transparecer em seu rosto. Não quando se tratava do Lorde das Trevas.

– Você é muito parecido comigo, garoto – Voldemort continuou. – Eu vi a sua sede por conhecimento e poder. – Severo arregalou os olhos, mas não disse uma palavra. – Entretanto, parece que estamos rodeados por burocratas medrosos que proíbem certas formas de magia porque não as conhecem direito. Eu não concordo com isso e estou lutando para que os bruxos voltem a ter a liberdade de usar sua magia plenamente. Você me entende, não é? – Ele aproximou-se de Severo e acrescentou em voz baixa: – Aposto que você está decepcionado por ser proibido de usar sua magia durante as férias, não está?

Severo assentiu com a cabeça quase que instantaneamente. Voldemort sorriu com a resposta silenciosa do garoto.

– As Artes das Trevas podem nos dar um poder inestimável, e muitas famílias bruxas tradicionais sabem disso, independente do que diz o Ministério. E sabe de uma coisa? – Ele olhou novamente para Severo, mas este apenas retribuiu o olhar com uma expressão curiosa. – Estas famílias estão ficando descontentes com o Ministério. Você já deve ter percebido que nem todos os bruxos gostam de se esconder dos trouxas. Não faz sentido nós os temermos quando temos o poder de subjugá-los. – Voldemort fez uma pausa, mas Severo ainda continuava quieto em sua poltrona, tentando assimilar tudo o que ouvia. – Entretanto, parece que até agora nenhum bruxo de sangue puro teve a coragem de se revoltar contra esta situação, então eu tomei o encargo para mim. Eu quero liberdade para usar as Artes das Trevas a meu favor, e para conseguir isso, eu juntei aliados que se acham superiores por causa do seu sangue puro. – Ele percebeu que Severo olhava distante e chamou sua atenção, rispidamente: – O que foi?

– Desculpe, senhor – ele respondeu –, mas é que não entendo como eu posso ajudá-lo.

– Cale a boca e preste atenção no que estou falando – Voldemort respondeu levantando a voz. – E é “meu Lorde”, para você.

– Desculpe, meu Lorde – Severo repetiu hesitante.

– Assim está melhor. – Então, continuou seu discurso: – No nosso último encontro, eu lhe contei alguns fatos sobre minha descendência. – Severo apenas assentiu, deixando-o continuar. – Minha mãe era descendente de Salazar Slytherin, mas como disse antes, ela foi enganada por um trouxa, assim como a sua mãe. É por isso que digo que somos parecidos, Severo. – Voldemort voltou a se aproximar de Severo, e quando disse as próximas palavras, os dois estavam olho a olho. – Nós não temos escrúpulos para correr atrás do que desejamos, não é? – Novamente, Severo apenas assentiu com a cabeça. Voldemort continuou, apontando para a porta: – Eu não me importo com o que aqueles sangue-puros pensam, contanto que sigam as minhas ordens. Entretanto, para isso, eles devem achar que estão lutando por suas teorias de que o poder de um bruxo está relacionado com sua pureza de sangue.

Voldemort afastou-se de Severo e deixou-o pensando em suas palavras. Se o garoto fosse mesmo tão sagaz, já teria entendido onde ele queria chegar. Se não, bem... ele tinha outros métodos de livrar-se de garotos inconvenientes e estúpidos.

Felizmente para Severo, o Lorde das Trevas deixara a questão bem óbvia, e depois de alguns instantes, ele quebrou o silêncio:

– Mas se eles descobrirem que o senhor é... – ele parou de repente, percebendo que não era sensato chamar o Lorde das Trevas de mestiço –, ou melhor, que o seu pai era trouxa, eles podem não gostar.

Voldemort deu um sorriso largo, aprovando a resposta de seu pequeno aprendiz.

– Imagino, então, que você já saiba qual é o meu pedido.

– Discrição, meu Lorde – Severo respondeu.

Voldemort abriu ainda mais o sorriso, seu rosto pálido ficou ainda mais distorcido. Quem conhecera Tom Riddle, jamais poderia dizer que eram a mesma pessoa.

Entretanto, Severo não tinha a mínima idéia de quem fora Tom Riddle. A única coisa que lhe importava agora era o homem que virara as costas, saindo em direção à porta da biblioteca. Severo o observou admirado, sonhando com o dia em que seria tão poderoso quanto ele. Agora sabia que não era uma questão de ser sangue-puro ou mestiço, mas sim de quem tinha mais poder. E ele concluiu que, se quisesse ser tão poderoso quanto o Lorde das Trevas, era melhor seguir as suas ordens, segui-lo como um mestre. Não era à toa que seus avós pareciam respeitá-lo tanto. Lembrando do seu avô, Severo deu uma risadinha pensando o quanto ele o desprezara por causa do seu pai trouxa e, ao mesmo tempo, se submetia à vontade de outro mestiço. Sim, agora que o Lorde das Trevas era o novo herói na vida de Severo, ele passou a considerar de outra maneira as ações de Edward Prince; o que outrora era admiração, tornou-se subitamente em desprezo.


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Notas finais do capítulo

N.A.: Espero que tenham gostado da nova aparição do Lorde das Trevas, agora com um papel bem mais importante! Deixem seus comentários para que eu possa saber o que estão achando disso tudo!

O incidente com Bertram Aubrey, assim como a detenção sofrida por Sirius e Tiago, foi relatado e arquivado por Filch. Muitos anos mais tarde, cumprindo detenção com o Prof. Snape, Harry Potter foi obrigado a transcrever para fichas mais novas este e outros relatos de detenções do seu pai e seu padrinho (Harry Potter e o Enigma do Príncipe).

A seguir: Volta às aulas...



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