Sombras do Passado escrita por BastetAzazis


Capítulo 8
Natal


Notas iniciais do capítulo

Os alunos são dispensados para passarem o Natal com a família, mas nem tudo é festa entre os Prince....



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Capítulo 5: A Vassoura Pinoteante

Sombras do Passado

escrito por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Suviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 8: Natal

Severo passou a semana seguinte esperando pela coruja de seus avós, mas não recebeu nenhuma resposta. Ainda assim, resolveu insistir e escrever para eles novamente. Imaginou que se contasse seu impressionante desempenho em Poções e Defesa Contra as Artes das Trevas, talvez seus avós ficassem com orgulho dele, e mesmo que eles não lhe mandassem notícias, isso estreitaria as relações com sua família materna. O Prof. Slughorn o convidara para mais uma das suas reuniões particulares na semana seguinte, e Severo não deixou de comentar suas participações no Clube do Slugue para seus avós. Parece que isso surtira algum efeito, pois, logo no início de dezembro, ele foi pego de surpresa no meio do seu café da manhã com a chegada de uma coruja grande e branca que trazia um pedaço de pergaminho em suas garras. Já acostumado com as corujas da escola, desta vez, Severo ofereceu-lhe umas migalhas de biscoito. A coruja abaixou-se como um agradecimento e voou para fora do castelo, sem esperar por uma resposta. Severo observou o envelope que continha o pergaminho e reconheceu o brasão da Família Prince, que ele observara numa das fotos de infância da sua mãe. Abriu a carta rapidamente, esquecendo-se do resto do seu café da manhã, enquanto a lia:

Prezado Severo,

Sei que ainda não tivemos a oportunidade de nos conhecermos pessoalmente, mas muito me alegra saber que você se importa realmente com sua família bruxa a ponto de nos mandar notícias de Hogwarts. Eu e seu avô estamos muito orgulhosos de seu desempenho e felizes em perceber que as escolhas erradas da sua mãe não prejudicaram o seu futuro. Sua entrada na Sonserina nos prova mais uma vez que o sangue sujo do seu pai não foi capaz de macular a pureza dos Prince. Você ainda é um verdadeiro Príncipe, como os homens da nossa (e sua) família são conhecidos, mesmo que mestiço.

Eu gostaria muito de conhecê-lo nas suas férias de Natal, mas temo que sua mãe não aprovaria que você passasse os feriados conosco. Seu avô tampouco se sujeitaria a festejar como um trouxa comum. Por favor, não o culpe. Ele é um velho teimoso demais para admitir o orgulho que sente pelo neto, filho de um trouxa. Ele também gostaria de tê-lo aqui conosco, mas sua mãe fez uma escolha da qual nós podemos apenas lamentar. Deve ser difícil para você também conviver com trouxas que não entendem nossa superioridade. Felizmente, em Hogwarts você terá uma educação apropriada e, quando se formar, já será um homem, livre das loucuras da sua mãe, e poderá escolher seu próprio caminho. Até lá, aproveite as amizades que fará com seus colegas da Sonserina; são todos de excelentes famílias bruxas. E aproveite também as reuniões do Prof. Slughorn. Ele sabe reconhecer bruxos de valor, como você.

Ficarei esperando por mais notícias suas, embora nem sempre conseguirei respondê-las.

Atenciosamente,

Sua avó

H. A. Prince

Severo leu e releu a carta até ser chamado pelos amigos. Ainda não acreditava que finalmente seus avós haviam respondido às suas cartas semanais. E sua avó lhe dissera que estava ansiosa por conhecê-lo; era apenas uma questão de tempo até ele convencer sua mãe a deixá-lo passar as férias com sua família bruxa. Tirou os olhos do pergaminho e dirigiu-os a Paulo, que o chamava insistentemente.

– O que foi?

– Você não estava nos ouvindo? Evan perguntou se você vai ficar aqui no Natal.

– Ficar aqui? – Severo não sabia que era possível os alunos permanecerem na escola durante os feriados do Natal até que seus amigos mostraram-lhe o aviso pedindo para os interessados deixarem seus nomes na lista. – Bem que eu gostaria – respondeu desanimado depois de lembrar que em menos de um mês estaria voltando para sua casa no bairro trouxa –, mas minha mãe nunca aprovaria.

– Você está louco? – Roberto perguntou, assustado com a resposta de Severo. – Eu não vejo a hora de voltar para casa. E meu pai prometeu me dar uma vassoura nova neste Natal!

– Legal! – Paulo acrescentou. – Eu também pedi uma vassoura nova para o meu pai. Assim poderemos treinar juntos para entrar no time de quadribol no ano que vem!

– Eu ganhei uma vassoura no Natal passado – Evan comentou. – Mas este ano nós vamos viajar para a Escócia, visitar meus tios. – E, virando-se para Isabelle, perguntou: – Vocês não vão viajar este ano? Eu ouvi o Lúcio comentar que talvez passasse os feriados em Hogwarts.

Isabelle respondeu, tão desanimada quanto Severo anteriormente:

– Não – suspirou. – Vamos ficar em casa esse ano. Minha mãe não pode viajar.

Severo olhou para a amiga, tentando imaginar qual era o problema com a mãe dela. Várias vezes observara-a entristecer-se ao receber notícias da mãe. Também observara que Isabelle e Lúcio evitavam falar sobre o assunto perto dos demais colegas, mas era possível perceber que eles preocupavam-se excessivamente com a saúde dela. Queria dizer-lhe uma palavra de conforto, mas não sabia como.

Aos poucos o silêncio foi quebrado com os planos das outras meninas da Sonserina para o Natal, e os pensamentos de Severo voltaram-se novamente para as diferenças entre ele e os seus colegas. Ele sempre passara o Natal sozinho com sua mãe, sem presentes caros ou alegres viagens de férias, mesmo quando seu pai era vivo, pois ele sempre se inscrevia para trabalhar nestes dias, substituindo outros trabalhadores da fábrica afim de ganhar mais horas-extras. Para Severo, a única diferença entre a Ceia de Natal e um jantar comum era a presença da Árvore de Natal que sua mãe sempre enfeitava na sala de estar. Depois da morte de seu pai, nem seus avós paternos vinham visitá-lo, então ele e sua mãe costumavam passar o dia passeando na cidade e sempre acabavam parando num parque de diversões que insistia em funcionar, mesmo nos anos de invernos mais rigorosos.

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Dezembro passou rapidamente. Enquanto os outros alunos não viam a hora de rever os pais, Severo desejava que o tempo passasse mais devagar, querendo adiar sua volta para casa. Ele sentia saudades de sua mãe, não podia negar isso, mas não queria ter que retornar a conviver com seus vizinhos trouxas. Se pudesse viver com sua mãe ao lado dos seus avós, no meio de bruxos e bruxas como ele, também estaria ansioso para voltar para casa. Mas isso parecia impossível. Escreveu várias cartas para seus avós tentando combinar uma visita durante o feriado, mas não recebera mais nenhuma resposta.

Finalmente, enquanto arrumava seu malão para embarcar para Londres no dia seguinte, Severo recebeu um bilhete do seu avô avisando que eles estariam viajando durante todo o feriado e, por isso, seria impossível marcarem uma visita. Decepcionado com a resposta, continuou arrumando suas coisas lamentando ter que deixar Hogwarts, mesmo que por apenas algumas poucas semanas.

No dia seguinte, ao encontrar sua mãe esperando-o na Estação King’s Cross, sentiu uma pontinha de remorso por não querer voltar para casa. Eileen recebeu o filho com um forte abraço depois de observá-lo a se despedir dos amigos, e seguiram para o Caldeirão Furado, para usarem a rede Flu. Chegando em casa, Severo encontrou a mesa da sala arrumada com seus pratos favoritos e jantou alegremente com a mãe. Passaram o resto da noite conversando sobre Hogwarts; sobre suas aulas e seus novos amigos. Nem pareciam que estavam vivendo tão perto de trouxas. Aquele dia, Severo teve a sensação de estar realmente num lar de bruxos, o seu lar, e lamentou-se novamente por ter desejado passar o feriado na escola.

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Eileen e Severo ceiaram sozinhos na véspera de Natal, como faziam todos os anos. No dia seguinte, foram surpreendidos pela visita de uma enorme coruja branca, que Severo já sabia ser a dos seus avós, e uma coruja pequenina e acinzentada. Aproveitando a deixa, Eileen comentou com o filho:

– Parece que esse ano você recebeu mais presentes que o de costume – disse terminando de tomar seu café da manhã. – Eu segui a tradição trouxa e deixei o seu presente na Árvore de Natal. Por que você não leva seus pacotes lá para abrirmos juntos?

Severo retirou os pacotes trazidos pelas corujas e lhes ofereceu um pedaço de torrada. A coruja menor nem esperou sua recompensa, saiu rapidamente pela janela como se tivesse sido instruída para voltar o mais rápido possível. A coruja dos seus avós, como sempre, também não esperou que Severo escrevesse uma resposta, e após umas bicadinhas em sua recompensa, também saiu voando pela janela da cozinha.

Seguiram para a sala de estar onde Severo pode contemplar o seu presente. Embaixo da árvore havia uma gaiola enorme com uma pequena coruja dentro, branca como a dos seus avós.

– Ele ainda é um filhotinho – sua mãe explicou –, mas já é capaz de levar e trazer cartas para você. Aposto que todos os seus amigos têm uma coruja. Elas sempre foram muito populares em Hogwarts.

Severo ficou olhando para sua nova coruja com os olhos arregalados e um sorriso estampado no rosto. Realmente, muitos dos seus amigos tinham suas próprias corujas, mas apenas aqueles de famílias mais ricas. Aquele presente deveria ter custado muito caro para a sua mãe, mas ela não parecia se importar. Estava feliz em ver o filho tão adaptado ao mundo bruxo e faria de tudo para que ele não se sentisse inferiorizado por sua descendência trouxa. Não lhe importava o quanto teria que trabalhar a mais para pagar por este pequeno mimo, desde que fosse para ver seu filho sorrindo daquele jeito.

De repente, esses pensamentos a fizeram lembrar do seu falecido marido. Ele também se sacrificara, trabalhando mais do que sua saúde permitira, para garantir a felicidade da família. Pensando nisso, lamentou que Tobias não tivesse vivido o suficiente para Severo conhecê-lo melhor. Eileen temia que as únicas recordações de Severo relacionadas ao seu pai fossem a de um homem ausente, ou pior: das longas discussões, que algumas vezes até saíam de controle, quando a saúde de Tobias piorou por causa das excessivas horas-extras na fábrica, e Eileen cogitava a idéia de pedir ajuda para seus pais. Não era do seu feitio se humilhar, voltando para casa pedindo ajuda depois de tudo que lutara para ficar com seu marido. Entretanto, o tempo que convivera com trouxas a fizera entender algumas de suas doenças, e Eileen começou a notar que seu marido estava cada dia mais intoxicado com as tintas que manipulava na fábrica. Tobias, por sua vez, recusava-se a ir ao médico, com medo de ser dispensado e ter que sobreviver apenas com uma aposentadoria precoce. Ele queria garantir ao filho um futuro melhor que o dele, sem precisar recorrer à ajuda dos sogros, que ignoravam a existência do neto. E este era o tema de suas constantes brigas naquela época, mas Severo era jovem demais para entender o que estava acontecendo. Agora que Eileen percebia como seu filho venerava o avô bruxo e tudo mais relacionado à família Prince, ela temia que Severo passasse a odiar o pai e começasse a acreditar nas teorias de pureza do sangue que alguns bruxos insistiam em proclamar.

Confirmando suas preocupações, Severo já tinha aberto o presente dos avós e agora o mostrava para a mãe. Era um cachecol nas cores da Sonserina, verde e prata, com o símbolo da Casa finamente bordado nas suas extremidades. Veio acompanhado de um bilhete, que Eileen pegou da mão do filho e leu:

Feliz Natal, Severo.

Este cachecol foi produzido a partir de pêlos de manticora. Assim como a pele deste intrigante animal, seus pêlos repelem qualquer feitiço. É um presente digno para um verdadeiro Príncipe.

Sr. e Sra. Prince

Eileen olhou novamente para o cachecol que Severo lhe mostrara e voltou-se para o bilhete. Um cachecol feito de pêlos de manticora... Não chegava a ser considerado um artigo das trevas, mas indicava que seu pai ainda se interessava por formas menos convencionais de magia. Certamente não traria problemas para Severo; a idéia do presente era exibi-lo para os demais alunos da Sonserina. No cartão, nenhuma demonstração de afeto ou preocupação com o neto, apenas o velho trocadilho com o nome da família. Um aviso, como ela também sempre recebera na sua infância, para honrar e respeitar este nome. Seus pais realmente não mudaram nada nos últimos anos.

– Mãe – Severo perguntou intrigado –, o que é uma manticora?

Mas Eileen não prestava atenção no filho. Olhava fixamente para o presente que ele recebera dos avós.

– Como seus avós sabiam que você entrou para a Sonserina? – ela perguntou séria para o filho.

Severo então percebeu que cometera um erro. Não contara para a sua mãe a respeito das cartas que enviara para os avós. Estava com medo da reação dela e simplesmente baixou os olhos.

– Você tem se comunicado com eles, Severo? – Ela insistiu.

Eileen não estava brava com o filho, afinal ela não tinha o direito de impedi-lo de relacionar-se com os avós. Entretanto, Severo estava com tanto medo da mãe que respondeu na defensiva:

– Tenho sim! Por quê? Não posso? – E tirando o cachecol da mão dela, continuou: – Só porque você gosta de fingir que é trouxa, não significa que eu tenha que gostar também! Eles também são minha família, e eu vou continuar escrevendo para eles sempre, não adianta me proibir.

– Severo – sua mãe respondeu num tom apaziguador, medindo as próximas palavras –, eu nunca o proibiria de escrever para seus avós. Nós podemos visitá-los também, se você quiser. Eu só quero que você entenda que sua casa é aqui, em Sheffield, comigo. Um dia você vai entender porque eu decidi vir morar no meio de trouxas e vai poder escolher entre continuar aqui ou ir para o mundo bruxo. – Ela puxou o filho para si e o abraçou.

Severo ainda não estava totalmente convencido, mas era Natal e não queria brigar mais com sua mãe. Ficaram abraçados por um bom tempo, até que Eileen percebeu outro presente, ainda fechado, embaixo da Árvore de Natal.

– Você está esquecendo de mais um presente – ela alertou o filho. – Não está curioso para saber o que é?

Severo correu até a árvore e tirou o cartão que estava preso na caixinha. Era de Isabelle:

Feliz Natal, Mestiço!

Esta caixinha é para quando você sentir saudades de Hogwarts!

Espero que você goste. São os meus favoritos!

Vejo você em Janeiro,

Isabelle

Severo franziu a testa ao ler o apelido com que Isabelle insistia em chamá-lo, mas como sabia que ela fazia isso apenas para irritá-lo, continuou lendo o cartão. Deu um sorriso quando terminou. Isabelle parecia ser a única pessoa na Sonserina que realmente o entendia, ou pelos menos era a única que percebera o quanto ele lamentara ter que partir durante o Natal. Olhou novamente para a caixinha que recebera, ainda embrulhada, e correu para abri-la. Encontrou uma variedade de doces, todos vindos da Dedosdemel: sapinhos de chocolate, Chicles de Baba e Bola, delícias gasosas, balas de estalo e várias outras guloseimas que ele aprendera a comer com seus amigos em Hogwarts, que recebiam suprimentos semanais dos seus pais.

Enquanto Severo se divertia com as gostosuras da loja de doces de Hogsmeade, Eileen apanhou o cartão que o filho esquecera no chão. Olhou para o filho, sorrindo ao ver que Severo não apenas estava fazendo novos amigos, o que nunca acontecera numa escola trouxa, mas também estava recebendo presentes de uma menina. Talvez já estivesse na hora de sair de seu exílio do mundo bruxo, seu filho parecia estar precisando disso. Talvez, se ela o guiasse neste novo mundo que se abrira a ele, ela pudesse alertá-lo das idéias equivocadas do seu avô e mostrar-lhe que tinha muito o que se orgulhar das suas duas famílias: bruxa e trouxa. E quem sabe o Natal não é uma boa data para isso?

– Severo – ela chamou o filho com uma idéia pipocando na cabeça. – O que você acha de nós fazermos uma visita aos seus avós?

Já estava se arrependendo da sugestão, seria difícil voltar a conviver com os seus pais depois de todas as discussões que tiveram anos atrás, mas a expressão que viu no rosto do seu filho a deu coragem para enfrentar até mesmo um Dragão Norueguês.

Severo, entretanto, depois do susto inicial com a pergunta da mãe, imaginou que ela estava se referindo aos seus avós paternos e não à sua família bruxa, e seu sorriso logo se transformou num suspiro enfadonho.

–        Acho que vovô e vovó Snape não gostariam de uma visita-surpresa.

–        Não estou falando destes avós – sua mãe respondeu tentando animá-lo. – Estou falando dos meus pais, seu bobo!

Severo olhou para a mãe, desconfiado.

– Eu achei que vocês não se falavam mais.

– Isso foi há muito tempo, meu filho. Acho que já está na hora de fazermos as pazes. Você parece gostar muito deles, não é?

Severo pareceu refletir no assunto, até que se lembrou da última carta que recebera do avô. Suspirou desanimado mais uma vez e disse:

– Eu gostaria de visitá-los, sim. Mas eles me disseram que estariam viajando nestes feriados...

– O quê? – Sua mãe mudou de expressão repentinamente, de compreensiva para indignada. – Como assim? Meu pai nunca viajou nos feriados. Sempre reclamou que todos os lugares estavam sempre lotados nessa época e que não tinha paciência para ficar em filas e lidar com multidões. Por que ele lhe disse que estaria viajando?

– Não sei, mãe – Severo respondeu. – Eu comentei que gostaria de visitá-los no período em que estaria em casa, e ele me respondeu que não seria possível, porque eles estariam viajando.

– Você tem certeza? – Assim que Severo assentiu, ela ordenou: – Suba já para o seu quarto e troque de roupa. Vamos tirar essa história a limpo agora mesmo!

Severo se assustou com a reação da mãe, mas sabia que a melhor coisa a fazer era obedecê-la. Ele sabia que não era saudável contrariá-la quando ela ficava brava daquele jeito. Desceu novamente em poucos minutos, vestindo a melhor roupa que encontrara no armário. Assim que colocou seus pés na sala, sua mãe o abraçou e os dois desaparataram, surgindo instantaneamente na beira de um lago, atrás de uma casa enorme no meio de uma fazenda do interior da Inglaterra. A Mansão dos Prince.

********

Quando Giggles anunciou, no meio da sala de estar, as duas pessoas que pediam para falar com o Sr. e a Sra. Prince, Helena Prince deixou cair o cálice de xerez que servia para seu convidado. Sua filha era realmente inconveniente e tinha a coragem de aparecer com seu pequeno mestiço no dia de Natal, enquanto ela estava recebendo uma visita muito importante. Uma visita que, talvez, jamais os perdoassem pelo fato do seu único herdeiro ser também o filho de um trouxa.

Era claro que ela e seu marido jamais conseguiriam esconder do Lorde das Trevas a origem trouxa do neto deles. Mas eles pretendiam conversar sobre assuntos mais delicados em outra oportunidade, quando já tivessem provado que sua lealdade e comprometimento com o ideal maior eram indiscutíveis. A Sra. Prince temia que a aproximação da sua família com os trouxas, mesmo que involuntariamente, pudesse fazer com que o Lorde das Trevas não os achasse dignos de servi-lo. Felizmente, seu convidado, educadíssimo como sempre, parecia estar mais preocupado em ajudá-la a reparar o cálice e limpar a bagunça, que com a notícia trazida pelo elfo, não lhes fazendo nenhuma pergunta sobre o assunto.

O Sr. Prince desculpou-se com o convidado e deixou a sala de estar em direção ao hall de entrada, onde agarrou a filha pelo braço e a conduziu até a biblioteca, fechando a porta atrás de si e deixando Severo sozinho, parado em frente à porta. Sem saber o que fazer, ele seguiu pelo corredor que levava para a sala de estar, examinando boquiaberto a rica decoração da casa e ouvindo as vozes da sua avó e seu convidado. Ficou observando-os sem que fosse notado. Reconheceu o porte altivo da sua avó, sempre presente nas fotos antigas da sua mãe, e ficou imaginando quem seria o elegante senhor sentado no sofá e que parecia estar prendendo toda a atenção dela.

No pouco tempo que estavam na biblioteca, Eileen e seu pai já estavam gritando furiosamente um com o outro. Seus gritos chegavam até a sala de estar, e a Sra. Prince arregalou os olhos assustada com o barulho e tentou dar uma explicação para o seu convidado:

– Meu Lorde, mil perdões. Mas parece que a rebelde da minha filha perdeu de vez a educação que nós lhe demos. É a convivências com estes malditos trouxas! – E, levantando-se preocupada, acrescentou: – Lamento ter que deixa-lo sozinho, mas acho que vou precisar intervir antes que Edward comece a passar mal.

– É perfeitamente compreensível – ele respondeu. – Mais uma prova de que nós, bruxos, precisamos nos livrar desta corja de trouxas.

A Sra. Prince apenas assentiu para seu convidado e saiu apressadamente em direção à biblioteca, sem perceber a presença do neto. Entretanto, Severo não passou despercebido pelo Lorde das Trevas, que o pegou espiando perto da porta.

– Então – ele provocou Severo –, você deve ser o motivo desta confusão.

Severo não disse nada, simplesmente abaixou a cabeça, envergonhado por ter sido descoberto, e também porque sentia-se realmente responsável por toda aquela confusão.

– Não se preocupe – o homem continuou. – Eu sei como se sente. Minha mãe também foi iludida por um trouxa que não a merecia.

Severo levantou a cabeça. O homem a sua frente o observava com um sorriso no rosto. Ele foi até o sofá e sentou-se ao lado dele, observando-o terminar o seu xerez. Severo não costumava fazer amizade assim tão facilmente, mas aquele homem tinha alguma coisa que o impelia a se aproximar. Talvez fosse o fato de ser um mestiço como ele. Um mestiço respeitado por seus avós e, provavelmente, pela maneira elegante como estava vestido, por toda a comunidade bruxa. Exatamente como ele queria ser após terminar a escola.

– Você está estudando em Hogwarts? – O homem perguntou.

– Sim – Severo respondeu.

– Ah, Hogwarts! – Ele exclamou. – Tenho ótimas recordações daquela época. Eu era da Sonserina, e você?

– Estou na Sonserina também – Severo respondeu sorrindo.

– Muito bem – ele disse. – É a Casa dos bruxos mais poderosos. Daqueles que não medem esforços para atingir seus objetivos. Espero que você seja digno de pertencer à Casa de Salazar Slytherin.

Severo sentiu-se desconfortável de repente. Não por causa das palavras daquele homem, mas porque ele o estava observando a apenas alguns centímetros de distância, olho no olho. Memórias do seu primeiro semestre em Hogwarts começaram a vir a sua mente, como se ele não tivesse controle sobre elas. Severo começou a se sentir mal, como no dia em que o Prof. Dumbledore o encarou da mesma forma. A lembrança de Dumbledore fez o homem recuar, e depois de alguns segundos, ele disse:

– Vejo que você tem uma grande facilidade com Poções. E gosta muito das Artes das Trevas...

– Como você sabe? – Severo o interrompeu, mas então, entendendo o que acontecera há alguns minutos, respondeu para si mesmo: – Você leu a minha mente...

– Legilimência – o homem explicou. – Uma arte que, infelizmente, você nunca aprenderá se limitar seus estudos ao que é ensinado em Hogwarts.

– Uau! – Severo observava o bruxo ao seu lado com os olhos arregalados de surpresa e admiração.

A conversa, ou melhor, a contemplação de Severo pelo amigo dos seus avós foi interrompida pelo chamado da sua mãe, já na porta da casa.

– É a minha mãe – Severo disse aborrecido. – Acho que tenho que ir.

– Claro – o Lorde das Trevas respondeu. – Quem sabe um dia você tenha mais tempo para eu lhe ensinar uns truquezinhos.

Severo abriu um sorriso novamente.

– Isso seria ótimo – disse. – Até logo – e saiu correndo para encontrar sua mãe.


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Notas finais do capítulo

N.A.: Segundo “Animais Mágicos & Onde Habitam” a manticora é um animal grego perigosíssimo, cuja mordida pode matar instantaneamente enquanto sua pele repele quase todos os feitiços.

A seguir: Chegam as férias de verão e, o Lorde das Trevas aparece novamente...



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