Sombras do Passado escrita por BastetAzazis


Capítulo 6
O Salgueiro Lutador


Notas iniciais do capítulo

Sirius e Severo têm uma detenção para cumprir e acabam conhecendo o Salgueiro Lutador. E é claro, Dumbledore sempre tem alguma coisa importante para dizer.



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Capítulo 5: A Vassoura Pinoteante

Sombras do Passado

escrito por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Suviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 6: O Salgueiro Lutador

Sexta-feira era a tarde de folga dos alunos do primeiro ano, tanto da Sonserina quanto da Grifinória. Entretanto, Severo e Sirius não estavam nem um pouco animados com a tarde livre, eram esperados na sala do Sr. Filch às três horas para cumprir suas detenções. Logo após o almoço, Sirius e seus amigos encontravam-se perto do lago, aproveitando os últimos dias do outono antes que o frio do inverno os impedisse de passar uma tarde inteira fora das paredes do castelo. Tiago e Pedro estavam entretidos numa partida de Snaps explosivos, enquanto Remo, encostado numa árvore com um livro na mão, tentava se concentrar nos deveres do fim de semana. Sirius, por sua vez, observava os amigos, lamentando que logo teria que encontrar o Sr. Filch e Snape.

– Ainda não acredito que aquele magricela seboso conseguiu me derrubar! Se eu tivesse sido um pouquinho mais rápido... – Sirius desabafou de repente, enquanto os amigos estavam distraídos.

– Se você não tivesse enfeitiçado a vassoura dele – Remo disse corriqueiramente, deixando o livro de lado –, ele não teria pulado em cima de você e vocês não teriam detenção hoje.

Pedro e Tiago desistiram do jogo e, fechando um círculo com os outros dois amigos, entraram na conversa:

– Não acredito que você está defendendo aquele seboso, Remo – Pedro veio em defesa de Sirius. – Ainda mais depois do que ele e a Malfoy fizeram na aula de Poções!

– Não estou defendendo ninguém – Remo continuou. – Mas nós sabemos que quem começou isso foi...

– Você sabe que eu não enfeiticei aquela vassoura – Sirius o interrompeu, e acrescentou abaixando a voz: – Foi o Tiago.

– Mas foi você quem deu a idéia! – Tiago se defendeu. – Eu só concordei que aulas de vôo não teriam graça sem um sonserino caindo da vassoura. – Dizendo isso, Tiago começou a rir, lembrando-se da cena.

Pedro também começou a rir escandalosamente, chamando a atenção de alguns alunos da Corvinal que passavam por eles. Remo simplesmente voltou a ler o seu livro, e Sirius lamentou-se novamente:

– E agora eu é que tenho que passar o resto da tarde com o Filch e aquele seboso. – E, levantando-se, despediu-se dos amigos: – Vejo vocês no jantar. É melhor não me atrasar ou ainda vou perder mais pontos para a Grifinória.

Atravessou o jardim do castelo e desapareceu nas grandes portas de carvalho que levavam ao Saguão de Entrada.

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Severo esperou a hora da sua detenção na sala comunal da Sonserina. Evan, Roberto e Paulo também estavam com ele, estudando atentamente o livro que Severo ganhara do avô, tentando aprender alguns dos feitiços e azarações para testarem em alunos de outras Casas que, inadvertidamente, tentassem explorar as escuras masmorras sozinhos. Este, aliás, estava se transformando no passatempo preferido dos quatro amigos. Passavam todo o seu tempo livre enfurnados na biblioteca ou na sala comunal, lendo ou procurando formas de magia mais interessantes que àquelas ensinadas pelos seus professores. Até os alunos mais velhos da Sonserina estavam estranhando o comportamento dos quatro amigos e procuravam não mexer muito com eles.

– Olha só, Severo – Paulo chamou a atenção do amigo. – Você podia tentar fazer isso com o Black quando ele baixar a guarda na detenção. Ele não vai conseguir lançar outro feitiço em você se ficar com a língua presa.

– Não seja estúpido, Paulo – Roberto ralhou com o amigo. – Você acha que o Filch vai dar chance do Severo enfeitiçar o Black? Ele e aquela maldita gata têm olhos e ouvidos em todas as paredes do castelo.

– É verdade – Evan acrescentou. – É melhor você ficar na sua hoje, Severo. Temos que bolar um plano de pegar o Black junto com o Potter e aquele puxa-saco dos dois.

Severo nem estava prestando muita atenção na conversa dos amigos, preocupado com a detenção que teria que cumprir daqui a pouco. Na sua antiga escola trouxa, estava acostumado a passar a tarde inteira escrevendo frases ou copiando textos dos livros escolares, mas Hogwarts era muito diferente de uma escola trouxa. O que será que Filch tinha reservado para ele e para o Black?

– Acho melhor eu subir para a sala do Filch – Severo disse de repente, alheio à discussão dos amigos. – Não quero dar a ele o prazer de me ver chegando atrasado.

Dizendo isso, levantou-se da mesa onde estava e seguiu para a saída da sala. Encontrou Sirius parado na frente da porta do Filch, que estava trancada. Os dois meninos cumprimentaram-se apenas inclinando suas cabeças e esperaram calados. Alguns minutos depois, Filch apareceu no corredor carregando dois frascos com um formato estranho e luvas parecidas com as que eles usavam nas aulas de Herbologia.

– Muito bem – ele desdenhou. – Aí estão os dois encrenqueiros. Aposto que depois de hoje vocês vão pensar duas vezes antes de arranjar confusão na escola. Madame Hook me fez garantir que daria um castigo exemplar a vocês.

Sirius e Severo olhavam curiosos para as coisas que Filch carregava, sem entender o que estava acontecendo.

– Hagrid precisa de ajuda na Floresta Proibida – Filch continuou. – Ah sim, trabalho pesado; não há mestre melhor...

Filch fez sinal para que os dois o seguissem, sem parar de contar histórias magníficas de quando os alunos eram pendurados no teto durante as detenções. Ele inclusive garantiu que ainda tinha as velhas correntes conservadas em azeite, caso um dia pudesse usá-las novamente, mas Severo achou que eram apenas histórias para assustá-los.

Saíram do castelo em direção à cabana de Hagrid. Muitos alunos já não tinham mais aulas nesse horário e passavam o tempo livre no jardim. Sirius viu que ele e Severo eram observados e acenou para algumas meninas que apontavam para eles.

– Sr. Black! – Filch chamou a sua atenção. – O senhor pode estar se divertindo agora, mas quero ver quando essa detenção terminar!

Mas Sirius estava realmente se divertindo. Achara que passaria a tarde inteira trancado numa sala junto com Severo, escrevendo frases ou polindo troféus. Mas não, Filch dissera que a detenção seria na Floresta Proibida. Desde que ouvira o nome Proibida no Banquete de Abertura, que Sirius imaginava uma forma de entrar lá. E, além disso, agora a escola inteira estava assistindo-o caminhar até a cabana do Guarda-Caça para seguir com ele até a floresta. Já imaginava como seu dia seria cheio amanhã, respondendo aos curiosos que iriam querer saber todos os detalhes da sua detenção. Foi acordado dos seus devaneios pela voz forte de Hagrid.

– Vamos logo, Filch! Tenho que terminar tudo antes de escurecer!

Ao ouvir isso, Severo estremeceu:

– Nós vamos mesmo entrar na Floresta Proibida? Mas o Diretor disse que é perigosa...

– Devia ter pensado isso antes de se meter em encrencas – Filch respondeu mal-humorado e apressou o passo até a cabana de Hagrid.

– Até que enfim – Hagrid falou assim que chegaram até ele. Era um homem enorme, de cabelo e barba ruivos, e carregava um grande arco nas costas. Olhando para Sirius e Severo, acrescentou: – Estes serão os meus ajudantes? Vamos indo ou não vamos terminar tudo hoje.

– Estarei de volta assim que anoitecer, para levar o que sobrar deles até o castelo. – Dizendo isso, Filch virou-se de costas e fez seu caminho de volta ao castelo, não sem antes parar no jardim para chamar a atenção de algumas meninas da Lufa-Lufa porque estavam “falando demais”.

Assim que Filch foi embora, Hagrid virou-se novamente para os meninos e explicou:

– Agora prestem atenção. O que vamos fazer hoje é muito perigoso, por isso sigam exatamente as minhas instruções. – Era claro que Hagrid não colocaria os meninos em nenhum risco desnecessário, mas tinha que assustá-los ou então, em pouco tempo, a Floresta Proibida estaria lotada de alunos curiosos. – Estão vendo esta planta aqui? – Hagrid perguntou, mostrando um punhado de galhos verdes para eles. – É chamada acônito e é muito venenosa. Está se espalhando em volta do lugar onde plantei o Salgueiro Lutador. Temos que acabar com essa praga antes que chegue perto do raio de ação do Salgueiro, ou nunca mais conseguiremos arrancá-las de lá.

– Por quê? – perguntou Severo.

– Você não conhece um Salgueiro Lutador? – Hagrid olhou para ele espantado. – Então é melhor redobrarmos os cuidados.

– Muito bem, Seboso – Sirius disse irritado. – Você conseguiu acabar com toda a diversão.

– Isso não é brincadeira, Sr. Black – Hagrid chamou a atenção de Sirius. – O Prof. Dumbledore tem um motivo muito importante para manter o Salgueiro Lutador aqui. Como ele foi plantado há pouco tempo, pode não resistir a uma infestação de acônitos, e se isso acontecer, não sei como a escola vai fazer para... – parou de falar de repente, assim que percebeu que tinha dado com a língua nos dentes.

– Por que o Salgueiro Lutador é tão importante para a escola? – Sirius perguntou curioso. – Eu pensei que fosse apenas para nos manter longe da Floresta Proibida.

– E é isso mesmo – Hagrid tentou explicar. – Vocês não imaginam como pode ser perigoso andar nesta floresta sozinho. Agora venham comigo – ordenou. – Sigam-me e fiquem próximos. Enquanto for dia e vocês estiverem comigo, nenhuma criatura da floresta vai importuná-los.

O Guarda-Caça os conduziu até a orla da floresta, e depois seguiram por um caminho de terra batida que ia se estreitando conforme seguiam mais adentro na mata. Andaram por algum tempo, a floresta ia ficando cada vez mais escura, mesmo com o sol ainda brilhando por cima das árvores. Hagrid finalmente parou quando ouviu o silvo dos ramos do Salgueiro Lutador ao balançarem, como se estivessem açoitando o ar. Sirius e Severo ficaram um bom tempo admirando a grandeza da árvore. Era um salgueiro enorme, com o tronco já bem grosso, cujos ramos balançavam para cima e para baixo ao sentirem algum movimento, impedindo qualquer pessoa de aproximar-se dele.

– Aqui estão! – Hagrid disse, apontando para o chão. – Ainda bem que não se alastraram pela floresta. – E entregando para cada um deles os frascos que viram com Filch anteriormente, acrescentou: – Tomem, e vistam as luvas também. É só arrancá-las da terra e colocá-las nos frascos. Acredito que o Prof. Slughorn vai querer aproveitá-las nas aulas do último ano.

Severo se abaixou e começou a colher as plantas e armazená-las no seu frasco, conforme Hagrid instruíra. Sirius fez o mesmo, mas antes seguiu até o outro lado do salgueiro, para ficar longe de Severo. Hagrid ficou o tempo todo dando voltas no salgueiro, com a desculpa de inspecionar se havia mais ervas que precisassem ser retiradas, quando na verdade, o que realmente o preocupava era se o Salgueiro Lutador conseguiria realmente afugentar qualquer curioso do túnel que estava escondido abaixo dele. Enquanto examinava o tronco do salgueiro para verificar se o dispositivo capaz de acalmar os galhos da árvore, assim como o túnel que seguia abaixo dele, estavam bem camuflados, Hagrid não percebeu que Sirius e Severo já estavam terminando seu trabalho. Vendo que o Guarda-Caça estava distraído, Sirius, que ainda não tinha esquecido o incidente na aula de Poções da manhã, começou a provocar Severo, que ainda estava concentrado em seu trabalho.

– Parabéns, Snape. Vejo que finalmente conseguiu fazer alguma coisa sem a ajuda da sua protetora.

– Cala a boca, Black – Severo respondeu sem levantar os olhos.

– Ou o quê? – Sirius se abaixou e sussurrou no ouvido dele: – Não estou vendo nenhuma menina aqui para ajudá-lo...

Severo não conseguiu se segurar. Levantou subitamente, pegando Sirius de surpresa novamente, e gritou, com sua varinha em mãos:

– Eu já disse para você calar a boca, Black!

Mas Sirius já não estava mais ouvindo. Deu um passo para trás quando Severo se levantou abruptamente, caindo no raio de ação do Salgueiro Lutador. Um dos galhos do salgueiro o atingiu com tamanha força que fora jogado para longe, rasgando suas vestes e machucando as costas, que logo começou a sangrar. Vendo aquilo, Severo tentou correr na direção onde Sirius fora jogado, mas na sua distração, o salgueiro também o atingiu no rosto. Severo tentou se abaixar para fugir da fúria dos galhos que balançavam para todos os lados, mas não conseguia sair do lugar. Hagrid só viu uma maneira de resgatar o menino. Teria que mostrar-lhes o dispositivo, magicamente instalado num nó do grosso tronco da árvore, capaz de fazê-la parar. Com uma vara longa que trazia consigo em caso de uma emergência como essa, o Guarda-Caça apertou o nó no tronco do salgueiro, e este parou de se debater. Correndo até Severo, verificou que ele estava bem e voltou-se para Sirius. Ele estava caído de bruços no chão, as costas sangrando abundantemente, quase sem sentidos. Hagrid pegou-o nos braços e gritou para Severo:

– Você sabe seguir pelo caminho em que viemos?

Severo apenas inclinou a cabeça, estava assustado e sem palavras. Hagrid continuou:

– Então vá seguindo na frente. Eu terei que levá-lo até a ala hospitalar.

Severo andou silenciosamente pelo caminho que percorrera anteriormente, seguido de perto por Hagrid, que carregava Sirius nos braços. Chegando à orla da floresta, Filch já os aguardava e pareceu ficar com o olhar satisfeito quando viu que pelo menos um dos garotos saiu machucado desta aventura.

– Acompanhe-o até a sala do Prof. Slughorn – Hagrid disse para Filch, apontando para Severo. – Ele ameaçou um aluno com sua varinha enquanto estavam cumprindo a detenção, e perto do Salgueiro Lutador! – E olhando novamente para Sirius: – Tenho que levar o Sr. Black para a ala hospitalar, está sangrando muito e perdeu os sentidos.

Sem esperar resposta, Hagrid seguiu a passos largos para o castelo. Filch olhou para Severo com uma risada maldosa:

– Infelizmente, parece que o Prof. Slughorn teve que se ausentar pelo fim de semana – disse triunfante, conduzindo Severo para o castelo. – Acho que você terá que resolver isso pessoalmente com o Diretor. Quem sabe uma expulsão seja o melhor castigo para encrenqueiros como você.

**********************

Já fazia quase meia hora que Severo estava sentado à mesa do Diretor, e ele ainda não tinha aparecido. Filch aguardava em pé, logo atrás dele, sempre comentando sobre a falta de disciplina dos alunos ou seus métodos mais eficazes de punição. Os retratos dos Diretores anteriores o encaravam da parede, fazendo-o sentir-se ainda mais culpado, e agora tinha a certeza de que seria expulso. Como explicaria isso para sua mãe? Ou pior, para seu avô? Ele não teve a intenção de machucar Sirius, só o ameaçara para fazê-lo parar com as provocações. Sirius foi atingido pelo Salgueiro Lutador porque fora imprudente, e ele também fora atingindo quando saiu correndo para tentar ajudá-lo. Mas parecia que estava pagando pela fama da Sonserina, e todos o culpavam pelo acidente.

A lareira começou a crepitar com mais força, e em segundos, as chamas ficaram verdes e uma sombra apareceu rodopiando dentro do fogo quando o Diretor pulou para fora.

– Sr. Filch, Sr. Snape – cumprimentou-os com um aceno de cabeça. – Imagino que vocês gostarão de saber que o Sr. Black já está bem e se recuperando da aventura desta tarde na ala hospitalar. Agora – complementou, olhando para Severo –, creio que temos alguns assuntos para discutir.

Filch abriu a boca para explicar o ocorrido ao Diretor, mas este o silenciou com um gesto.

– Você já pode se retirar, Argo. Tenho certeza que o Sr. Snape é capaz de me explicar tudo o que aconteceu.

Filch virou-se para porta, desapontado, e saiu resmungando alguma coisa sobre alunos indisciplinados.

Dumbledore observou-o sair e dirigiu-se a Severo:

– Aceita uma xícara de chá, Sr. Snape?

Severo sentiu-se um pouco desconfortável com toda aquela generosidade, estava esperando ouvir gritos e ameaças de expulsão. Sem saber o que fazer, apenas assentiu com a cabeça. Com um aceno da sua varinha, o Diretor conjurou um serviço de chá completo, com biscoitos e bolachinhas. Serviu uma xícara para Severo e outra para ele mesmo e começou a tomar o seu chá enquanto observava o aluno sentado à sua frente. Ficaram em silêncio por um bom tempo, até que Severo não agüentou mais e começou:

– Eu não fiz nada. Ele caiu para trás quando eu levantei, e o salgueiro o pegou. Eu juro que não fiz nada.

– Eu acredito que não, Sr. Snape. Ou devo chamá-lo apenas de Severo? – disse, e com uma piscadela acrescentou, oferecendo-lhe algumas bolachas: – Entretanto, parece que em apenas duas semanas de aula o senhor já arranjou inimizades com alguns alunos da Grifinória. E eu que imaginava que o senhor teria problemas em ser aceito na Sonserina.

Sem palavras, Severo apenas baixou a cabeça, encabulado.

– Sua mãe deve estar muito orgulhosa de você – Dumbledore continuou. – Por ter entrado na Sonserina, eu quero dizer. Não pelos últimos acontecimentos.

– O senhor conhece a minha mãe? – Severo levantou os olhos com curiosidade.

– Ah sim, a Srta. Prince foi minha aluna quando estudou em Hogwarts. Não gostava muito de Transfiguração, mas lembro-me do Prof. Slughorn comentar que era excelente em Poções.

– Ela era capitã do time de Bexigas. Ela me mostrou uma foto com o uniforme do time!

– É verdade – Dumbledore acrescentou com o olhar distante. – Era uma das poucas coisas que a Srta. Prince realmente gostava em Hogwarts.

– O senhor quer dizer – Severo perguntou meio confuso –, que ela não gostava daqui?

– Talvez, afirmar que sua mãe não gostava de Hogwarts seja um pouco precipitado – o Diretor explicou, ainda com o olhar distante. – Mas eu me lembro de encontrá-la alguns anos após sua formatura, quando já era a Sra. Snape, numa loja trouxa com o marido. Nós conversamos por pouco tempo, mas foi o suficiente para perceber como ela estava radiante. Estava realmente muito mais feliz vivendo no mundo trouxa.

Severo não podia acreditar nas palavras do Diretor. Nunca vira sua mãe feliz em casa, e nem podia imaginar como alguém preferiria viver na casa deles e não em um castelo como Hogwarts. Mas como estavam falando da sua mãe, Severo aproveitou a chance para tentar descobrir um pouco mais sobre os seus avós.

– O senhor sabe por que ela não fala mais com os meus avós?

Dumbledore deu um longo suspiro e olhou fixamente para Severo. Finalmente a conversa havia chegado ao ponto que queria.

– Você já deve ter percebido, Severo – o Diretor começou, depositando sua xícara de chá sobre a mesa –, que alguns bruxos acreditam que suas famílias não devem se misturar com famílias trouxas. – Severo apenas assentiu com a cabeça, e Dumbledore continuou: – A família da sua mãe sempre foi uma das famílias de bruxos mais tradicionais da Inglaterra. Entretanto, Eileen era a última descendente dos Prince, uma família que se orgulhava de jamais ter sujado seu sangue, como seu avô costumava dizer, com sangue trouxa. Sua mãe sempre teve muitos pretendentes de famílias muito ricas e de sangue-puro, como gostavam de se denominarem, mas ela nunca se interessou por nenhum deles. Até que conheceu um jovem trouxa, um rapaz que não tinha muito dinheiro, mas que a fazia sorrir, e mostrou-lhe um mundo totalmente diferente do que ela estava acostumada. Ela fez a escolha dela, mas os pais não aprovaram, expulsaram-na de casa e a deserdaram.

Severo ouvia a tudo de cabeça baixa. Ele já tinha sentido na pele a discriminação por ser filho de um trouxa, mas não conseguia entender porque sua mãe, que parecia ter uma vida perfeita, largou tudo isso para viver com os trouxas. E nem se lembrava de vê-la sorrindo com o seu pai.

– Depois disso – Dumbledore continuou –, sua mãe se casou com o seu pai, e nunca mais falou com seu avô. Imagino que seu pai, vendo como a mulher fora tratada pela família, fez questão de mantê-los o mais afastado possível do mundo bruxo.

– Eu não sei – Severo respondeu pesaroso. – Meu pai morreu quando eu tinha cinco anos. – Eu só lembro dele brigando com a minha mãe, e fazendo-a chorar – queria dizer, mas não disse.

– Neste caso, eu lamento muito – Dumbledore disse apenas.

Ficaram um tempo em silêncio, Severo tentava entender tudo o que o Diretor contara-lhe sobre sua mãe, mas as coisas não se encaixavam.

– Eu não entendo – disse depois de alguns minutos. – Como ela podia ser mais feliz no mundo trouxa que aqui? O meu pai não podia obrigá-la a desistir de ser bruxa, por que ela aceitou isso?

Dumbledore sorriu tristemente para Severo antes de responder:

– Talvez você ainda seja muito novo para entender isso, Severo, mas existe uma força muito mais poderosa que qualquer outra forma de magia; uma força que não escolhe entre bruxos ou trouxas. Seu avô nunca conseguiu entender isso e, por isso, nunca perdoou a sua mãe. Mas eu espero que um dia você entenda. O amor que sua mãe sentia pelo seu pai era uma força muito maior que qualquer magia que um sangue-puro possa herdar. Espero que você lembre-se disso no futuro. Eu sinto que muito em breve todos nós vamos ter que confiar nessa força ainda tão pouco reconhecida pelos bruxos.

Severo olhava para Dumbledore ainda confuso. Não entendia muito bem aonde o Diretor queria chegar com essa conversa. Parecia que ele estava falando por enigmas.

Dumbledore, por outro lado, percebendo a confusão do garoto a sua frente, acrescentou num tom mais ameno:

– É claro que, se quiser, você pode tentar entrar em contato com seus avós. O amor incondicional entre os membros de uma família é tão poderoso quanto o amor que uniu os seus pais.

– Mas... – Severo ainda estava meio confuso com o Diretor. – Eu não sei como fazer isso. Quero dizer, eu não sei onde eles moram, e minha mãe não me deixou ir para lá. Ela disse que eu tenho que voltar para a casa dela no feriado do Natal e nas férias.

– Claro – Dumbledore concordou –, porque lá é a sua casa também. Mas você pode usar uma das corujas da escola. Eu tenho certeza que se você escrever uma carta para seus avós, elas farão de tudo para entregá-la aos interessados.

Severo riu da sua ingenuidade. Como não havia pensado nisso antes! Amanhã mesmo escreveria uma carta para seus avós e mandaria pelas corujas da escola, como fazia para se comunicar com sua mãe. Agradeceu o conselho a Dumbledore, que lhe ofereceu mais alguns biscoitos e acrescentou num tom mais firme:

– Entretanto, creio que Rúbeo não o mandou até aqui para discutirmos sobre sua família. – Severo encolheu-se novamente na cadeira. Com certeza agora ele receberia uma bronca. – Ele me contou que precisou acalmar o Salgueiro Lutador para resgatá-los esta tarde.

Severo apenas inclinou a cabeça, concordando com a afirmação do Diretor.

– Neste caso – Dumbledore continuou –, eu espero poder contar com a sua discrição sobre o assunto. Existe um motivo para aquele salgueiro estar na Floresta Proibida, e acredito que você já viu como ele pode ser perigoso. Se os demais alunos acharem que podem se aventurar pela floresta apenas para brincar com o Salgueiro Lutador, nós podemos ter acidentes muito mais graves que o de hoje.

Dumbledore pousou os olhos azuis brilhantes em Severo por um tempo, que continuou encolhido em sua cadeira.

– É... é claro, professor – Severo balbuciou depois de um momento, não suportando mais aqueles olhos em cima dele.

– Muito bem, Sr. Snape. Eu confio na sua palavra.

Severo relaxou um pouco após ouvir aquelas palavras. Estava imaginando que receberia uma bronca, ou até mesmo uma suspensão, mas o Diretor estava apenas lhe pedindo um favor. Ao contrário que seus novos amigos da Sonserina diziam, Severo achou que o novo Diretor de Hogwarts era um bruxo muito sensato, e não tinha a intenção de decepcioná-lo, realmente.

– Infelizmente, Rúbeo também me contou que o senhor estava ameaçando o Sr. Black com sua varinha, antes dele ser atacado pelo salgueiro.

Severo enrubesceu.

– Ele me chamou de covarde – disse como defesa. – Eu não ia fazer nada, só queria assustá-lo.

Dumbledore deu uma risadinha e o observou mais uma vez, por cima de seus oclinhos de meia-lua.

– É claro – disse com os olhos piscando. – Eu já tive onze anos também, embora isso já foi há muito tempo. Sei que às vezes sentimos o impulso de nos impormos pela força, mas sei também que às vezes isso pode ter conseqüências terríveis. Hoje, por exemplo, o Sr. Black poderia ter danos muito mais sérios que um simples corte nas costas. Você conseguiria suportar a culpa se algo mais sério tivesse acontecido com ele?

Severo baixou a cabeça, envergonhado. Não tinha pensado nisso ainda. Estava se sentindo mal com as palavras do Diretor, e aqueles olhos brilhantes em cima dele o faziam sentir-se ainda pior. Não tinha pensado em conseqüências quando ameaçou Sirius e tampouco queria pensar nisso agora. Sirius Black tinha o poder de tirá-lo do sério, e ele não queria, não podia, deixar ele se aproveitar disso. Mas Dumbledore tinha razão. Será que ele conseguiria suportar a culpa de prejudicar alguém, mesmo que fosse Sirius Black ou qualquer um dos seus amigos da Grifinória?

– Eu espero que, no futuro, você pense melhor nos seus atos, Severo – Dumbledore acrescentou em tom firme de novo. – Eu não gostaria de vê-lo estragar sua vida por causa de um ato com conseqüências irreversíveis.

Severo ouviu as palavras do Diretor, mas não teve coragem de encará-lo nos olhos ou de formular uma resposta.

Vendo que ele entendera suas palavras, Dumbledore o dispensou, alegando que já estava quase na hora dos alunos se recolherem para suas salas comunais.

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Notas finais do capítulo

A seguir: Alguns alunos são convidados para um seleto clube...



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