Sombras do Passado escrita por BastetAzazis


Capítulo 5
A Vassoura Pinoteante


Notas iniciais do capítulo

Começam as aulas em Hogwarts, mas parece que Severo tem problemas com a sua vassoura...



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Capítulo 5: A Vassoura Pinoteante

Sombras do Passado

escrito por: BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling. Abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Suviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 5: A Vassoura Pinoteante

A primeira semana de aula foi cheia de novas descobertas para os alunos do primeiro ano da Grifinória. As diferentes matérias que eles tinham que cursar, embora não fossem fáceis, não eram tão complicadas quanto achar o caminho para as salas de aula. Já no primeiro dia, Tiago e Sirius concluíram que não podiam voltar para a sala comunal pelo mesmo caminho que usaram para sair: as escadas viviam mudando de lugar e acabavam levando-os para diferentes alas do castelo. Lílian também descobriu, depois de entrar por engano numa aula de Aritmancia do quarto ano, que não podia se guiar pelos quadros nas paredes. As pinturas tinham o péssimo hábito de se visitarem e, por isso, nunca se encontravam na mesma moldura. E ainda tinha os fantasmas. Hogwarts era habitada por uma infinidade deles, inclusive o Prof. Binns, que acumulava os cargos de fantasma e professor de História da Magia. Os fantasmas não seriam um problema, não fosse por Pirraça, um poltergeist que tinha como passatempo preferido atazanar os alunos, fazendo-os chegarem atrasados para as aulas.

Excluindo as enormes buscas pelas salas de aula, Lílian estava adorando sua primeira semana em Hogwarts. Suas colegas de quarto eram muito simpáticas e não se importavam com o fato dela ser uma nascida trouxa. Em tão pouco tempo na escola, ela já se sentia totalmente integrada ao mundo bruxo.

A amizade recém criada entre Tiago, Sirius, Pedro e Remo também cresceu muito nesta primeira semana. Os quatro decidiram sair sempre juntos da sua sala comunal em direção ao Salão Principal ou às salas de aulas, assim, se acabassem se perdendo, não ficariam sozinhos. A amizade com os espevitados Tiago e Sirius fez com que Remo perdesse, aos poucos, a sua timidez, e fez crescer uma admiração em Pedro, que o fazia desejar ser tão popular quanto os outros dois amigos.

Na Sonserina, a primeira semana de aula também não foi fácil. Eles tinham que percorrer os longos labirintos das masmorras até chegarem à saída para o Saguão de Entrada. O caminho do Saguão até o Salão Principal, onde faziam todas as refeições, era fácil, o problema era seguir dali até as salas de aula. Felizmente, Pirraça tinha tanto medo do fantasma da Sonserina, o Barão Sangrento, que não os perturbava, e assim suas jornadas até a sala de aula correta eram um pouco mais tranqüilas que as dos grifinórios.

Severo, entretanto, não estava achando nada fácil se adaptar à escola bruxa. Além das longas caminhadas pelo castelo, chegando até a se perder dentro das masmorras uma vez, os sonserinos mais velhos não pareciam muito amigáveis. Mesmo percebendo que estava perdido, não tentavam ajudá-lo, e quando estava na direção certa, alertavam-no para seguir para o outro lado. Quase perdeu dez pontos para a Sonserina uma vez porque chegara atrasado para a primeira aula de Herbologia. Estava voltando sozinho do corujal, onde fora mandar uma carta para a sua mãe, que não agüentava mais ficar dois dias sem notícias do filho, quando encontrou um aluno do quinto ano da Sonserina, que lhe disse que as aulas de Herbologia eram dadas no jardim da entrada do castelo. Depois que chegou correndo até lá, Severo lembrou ter visto, do alto do corujal, a estufa atrás do castelo. Ele então percebeu que alguma coisa estava errada. Seus colegas de quarto não pareciam ter problema em encontrar as salas de aulas e nunca comentavam que haviam se perdido no castelo. Estava começando a achar que não era bem-vindo pelos demais companheiros de Casa.

Para confirmar suas suspeitas, Severo começou a prestar mais atenção em seus colegas durante as aulas. Feitiços, por exemplo, era uma matéria em que freqüentemente o Prof. Flitwick pedia para os alunos se agruparem e testarem o feitiço novo. Quando isso acontecia, Severo era sempre o último a arranjar um companheiro. Era como se todos fugissem dele. Na aula de Defesa Contra as Artes das Trevas aconteceu a mesma coisa. O Prof. Oldridge pediu para a turma formar um círculo com as carteiras, e depois disso, todos esperaram Severo se sentar para ocupar um lugar longe dele. Percebendo o que estava acontecendo, o professor o encorajou a responder a maioria das suas perguntas, distribuindo vários pontos para a Sonserina.

– Você tem um talento nato para essa matéria, meu rapaz – disse o professor ao final da aula. – Você tem grandes chances de acabar trabalhando no Ministério algum dia.

Aquilo pareceu ter dado algum resultado. Agora, seus colegas de quarto conversam despreocupadamente com ele, mesmo no meio do Salão Principal. Nos primeiros dias, Severo notara que seus amigos só conversavam alegremente com ele depois de recolhidos em seus dormitórios. Ironicamente, parecia que agora Severo era rejeitado pelos colegas por sua herança trouxa, enquanto a vida inteira fora discriminado porque os vizinhos achavam que sua mãe era uma bruxa.

Entretanto, desta vez, Severo não deixaria que o transformassem no estranho da escola. E a chave para isso era Isabelle Malfoy. Ela parecia exercer uma certa liderança entre os sonserinos mais novos; se ele conseguisse fazer amizade com ela, não teria mais problemas com sua descendência trouxa por parte de pai. Mas isso não seria fácil. Na noite do banquete, depois de ter chamado-o de sapo, ela o tratou como qualquer outro colega, e o que lhe pareceu um insulto no início, mostrou ser realmente uma brincadeira entre amigos. Mas no dia seguinte, ela passou a evitá-lo toda vez que se encontravam. Severo imaginou que isso era por causa do irmão dela, pois ele ouvira muito bem as palavras que o Monitor-Chefe sussurrara no ouvido da irmã. Enquanto tomava seu café da manhã, ele a observava discretamente e imaginava até que ponto a altivez e arrogância de Isabelle Malfoy eram apenas uma forma de esconder o medo do irmão mais velho.

– Ah não – ouviu Isabelle lamentar. – Poções! E com aqueles amantes de trouxas da Grifinória!

Severo, como todo bom sonserino, também não gostava da Grifinória. Entretanto, estava aguardando ansioso pela primeira aula de Poções, não importava se tivesse que dividir a sala com grifinórios. Enfiou o resto da torrada que estava no prato na boca e saiu correndo para as masmorras. O Prof. Slughorn, além de professor de Poções, era também o Diretor da Sonserina, e Severo não queria chegar atrasado para a sua primeira aula.

A sala de aula nas masmorras era mais fria e úmida que as demais salas do castelo. Severo entrou na sala, admirando os enormes frascos cheios de ingredientes como olhos de cobra, lesmas e vísceras embalsamadas de diversos animais. Já estava acostumado com algumas destas coisas, mas divertiu-se ao observar o arrepio de alguns alunos, especialmente os da Grifinória, quando entravam na sala.

Coincidentemente, os alunos na Grifinória sentaram todos em um lado da sala, enquanto que os sonserinos ocupavam o lado oposto. Novamente, os alunos da Sonserina agruparam-se em dois ou três em cada bancada, deixando Severo sozinho. Em pouco tempo, a sala já estava cheia, e o Prof. Slughorn entrou cumprimentando os novos alunos.

– Ora muito bem, muito bem – começou, observando os alunos minuciosamente. – Como é estimulante o início de uma nova turma...

Foi interrompido pelo barulho da porta batendo. A sala inteira olhou para trás.

– Desculpe, professor. – Era Isabelle Malfoy. Ela ficou parada, na frente da porta, procurando um lugar para se sentar.

– Srta. Malfoy – o professor chamou-lhe a atenção, um pouco desapontado. – Atrasos não serão tolerados nas minhas aulas. Menos cinco pontos para a Sonserina.

– O quê? – ela perguntou indignada. Ele é chefe da Sonserina – pensou. – Não acredito que está tirando pontos da própria casa!

– E se você não se sentar logo, serão mais cinco. – E acrescentou, apontando para a mesa onde Severo estava: – Tem lugar aqui na frente.

 Isabelle atravessou a sala furiosa, os olhos cravados em Sirius e Tiago, que não paravam de rir. Chegando às bancadas da frente, foi obrigada, sob o olhar duro do professor, a sentar-se ao lado de Severo.

Continuando a aula, o Prof. Slughorn fez a chamada e apresentou alguns dos ingredientes mais comuns em Poções.

– Dez pontos para quem souber me responder as propriedades do bezoar – declarou de repente, mostrando as pedras para os alunos.

Lílian Evans levantou a mão rapidamente. Desde que descobriu que era uma bruxa e foi até o Beco Diagonal comprar o material para Hogwarts, que ela não desgrudara dos seus livros novos. Já conhecia de cor as primeiras páginas de Mil Ervas e Fungos Mágicos.

– Diga, Srta...  – O Prof. Slughorn procurava o nome dela na relação de alunos. – Evans, não é?

­– As pedras bezoar surgem no estômago de ruminantes – ela começou explicando –, e são um antídoto muito comum para diversos tipos de veneno. – E depois, lembrando-se que a aula era compartilhada com sonserinos, acrescentou: – São muito conhecidas, inclusive por trouxas.

Ao ouvir aquilo, Isabelle dispensou um olhar fulminante para Lílian, que estava na mesma direção que eles, do outro lado da sala.

– Não acredito que uma sangue-ruim tem a coragem de enfrentar uma sala cheia de sonserinos – resmungou para Severo.

Severo, por sua vez, vendo a oportunidade de ganhar respeito com a única sonserina que ainda lhe intrigava, levantou a mão antes que o Prof. Slughorn computasse os pontos para a Grifinória.

– Você tem alguma coisa a acrescentar – e olhando novamente para o pergaminho com os nomes dos alunos –, Sr. Snape?

– Na verdade, professor, a resposta dela está errada. – E, olhando desafiante para Lílian, continuou: – O que os trouxas não sabem é que apenas as pedras retiradas de cabras selvagens têm propriedades curativas e são, portanto, conhecidas como Lápis Bezoar Orientale, ou apenas bezoar, como é vendido nas boticas. E não são um antídoto apenas para alguns tipos de veneno, mas sim para qualquer veneno conhecido.

Os alunos da Sonserina olhavam orgulhosos para Severo, enquanto Pedro ria dos gestos de Sirius, que o imitava fazendo caretas.

– Excelente! Excelente! – o professor exclamou. – Dez pontos para a Sonserina. – E, olhando para Severo e depois para Lílian: – Vejo que temos vários prodígios nesta turma. Imagino que vocês não terão problemas com a poção de hoje.

Severo abriu um sorriso quando viu que aprenderiam a preparar uma poção para curar furúnculos. Ele já vira sua mãe prepará-la várias vezes para uma de suas clientes trouxas; seria moleza. Preparou boa parte dos ingredientes rapidamente, enquanto observava Isabelle lutar contra as lesmas que não queriam entrar no seu caldeirão. Era muito divertido vê-la se debatendo, com cara de nojo, ao preparar as presas de cobra. Mas quando percebeu que ela ainda não tinha apagado o fogo para adicionar as cerdas de porco-espinho, o que poderia causar um superaquecimento do caldeirão e derretê-lo, resolveu ajudá-la.

– Você é muito bom em Poções – ela agradeceu, enquanto engarrafava a sua poção para entregar ao professor. Depois acrescentou: – Ainda bem que você sabia aquilo tudo sobre os bezoares...

– É mesmo, alguém tinha que recuperar os pontos que você perdeu – disse, com um sorriso malicioso, e saiu da sala sem esperar uma resposta.

********

Depois do sucesso na aula de Poções, Severo sentiu que começou a ser visto como um igual entre todos os alunos da Sonserina. Ou quase todos. Lúcio Malfoy sempre o olhava com desconfiança, e Isabelle, as poucas vezes que conversava com ele, insistia em chamar-lhe de mestiço. Severo odiava aquilo, mas como ela estava sempre protegida pelo Monitor-Chefe, não podia fazer nada para impedi-la. Lembrou-se das palavras da sua mãe para nunca deixar que o fizessem se sentir inferior e resolveu, então, simplesmente ignorá-la. Tinha a amizade de Roberto, Evan e Paulo, que estavam sempre juntos e começaram, aos poucos, testar as pragas ensinadas no livro que seu avô lhe dera.

Na segunda semana de aula, o assunto principal entre todos os alunos do primeiro ano era as aulas de vôo. Todos aguardavam ansiosamente a oportunidade de montarem numa vassoura. Os amigos de Severo passavam horas contando as proezas que já haviam feito em cima de uma vassoura ou discutindo quais eram os melhores modelos. Severo não tinha muito que dizer. Como morava no meio de trouxas, sua mãe jamais deixara ele voar numa vassoura, era muito perigoso.

A primeira aula de vôo foi numa tarde ensolarada e tranqüila. Os alunos da Sonserina e da Grifinória juntaram-se no gramado do lado de fora do castelo. Quando chegaram lá, as vassouras já estavam enfileiradas no gramado, e uma bruxa de cabelos curtos e olhos de águia os aguardava.

– Vamos, vamos – Madame Hook os chamou, apressando-os. – Cada um do lado de uma vassoura.

Quando todos estavam em seus lugares, ela continuou:

– Agora, prestem atenção. – E, posicionando-se ao lado de uma vassoura à frente deles, ordenou: – Levantem a mão direita e digam: “Em pé!”

Isabelle e Tiago foram os únicos a quem as vassouras obedeceram. Os outros alunos tentaram mais uma vez; Sirius, Evan e Paulo também tinham suas vassouras à mão agora. Mais uma tentativa, e a maioria dos alunos já estavam com suas vassouras em pé. Severo olhou em volta, apenas ele e Lílian continuavam com a vassoura no chão. Nervoso, Severo tentou mais uma vez. Gritou tão alto que a vassoura deve ter se levantado por causa do susto que levou, pois ficou tremendo na mão dele.

Quando Madame Hook se certificou que todos já estavam com as vassouras à mão, começou a explicar a maneira certa de montarem nelas e foi passando por cada aluno para assegurar que estavam posicionados corretamente.

– Agora, quando eu apitar, quero vê-los dar um impulso forte com os pés e sair apenas alguns centímetros do chão. Depois, vocês podem voltar aos seus lugares.

A professora contou até três e apitou. Os alunos seguiram suas instruções e, após voarem alguns metros a poucos centímetros do chão, voltaram para seus lugares. Todos, menos Severo. Ao soar o apito, a vassoura dele começou a dar pinotes no ar, como se quisesse expulsá-lo das suas costas. Sirius e seus amigos riam abertamente da cena. Isabelle chegou ao seu lado, pairando com sua vassoura:

– Qual o problema, mestiço? – perguntou ainda rindo. – Precisa de ajuda para controlar a sua vassoura?

– Saia daqui! – ele ordenou, num misto de fúria e vergonha.

Nisso, Madame Hook se aproximou para ver o que estava acontecendo.

– Desça já dessa vassoura! – ela ordenou desesperada e, virando-se para o resto da turma, furiosa, perguntou: – Quem enfeitiçou esta vassoura?

Mas a resposta foi outra salva de gargalhadas. Ao tentar pular da vassoura, esta ficou ainda mais furiosa, e lançou Severo dois metros a frente no chão. Ainda de costas, Madame Hook não viu Isabelle correr até ele.

– Você está bem, mestiço? – perguntou, ajudando-o a se levantar. – Isso só pode ser coisa daquele...

– Ora, ora, ora – Sirius apareceu em sua vassoura, seguido por Tiago, logo atrás deles. – Acho que o problema não é uma vassoura enfeitiçada. É com o sonserino mestiço mesmo, não leva jeito para a coisa.

Isabelle virou-se para Sirius com sua varinha em mãos.

– Limpe a boca para falar dele, Sirius! Pelo menos ele teve capacidade para entrar na Sonserina, enquanto você, mesmo sendo um Black, foi jogado no meio daqueles sangue-ruins da Grifinória!

Os alunos foram mais rápidos que Madame Hook e já estavam todos aglomerados em volta de Severo, caído no chão, Sirius e Isabelle. Enquanto a professora tentava atravessar a parede de alunos, viu apenas Sirius apontando sua varinha para Isabelle:

– Pelo menos eu não sou um covarde que precisa de uma menina para me defender.

Ouvindo isso, Severo, que já estava se recuperando do tombo, pulou em cima de Sirius. Embora fosse mais fraco, tinha a vantagem do efeito surpresa, e acabou derrubando Sirius no chão.

– Não me chame de covarde! – gritou, enquanto fechava os punhos para bater no garoto. Madame Hook finalmente os alcançou, levantando Severo do chão.

– Mas o que é isso? Brigando na grama como dois trouxas! Eu não vou admitir este comportamento nas minhas aulas! Dez pontos a menos para Sonserina e para a Grifinória também! E detenção para os dois!

– Mas isso não é justo – Isabelle tentou intervir. – Sirius o provocou! Chamou ele de mestiço e de covarde! Severo só estava...

– Srta. Malfoy! – Madame Hook já tinha perdido a paciência. – Controle-se ou vai levar uma detenção também!

Com isso, os demais alunos foram se dispersando a fim de continuar a aula. Madame Hook mandou Severo para a ala hospitalar para certificar-se que estava bem, e Sirius para a sala da Profa. McGonagall, Diretora da Grifinória.

Enquanto voltava para o seu lugar, Isabelle agarrou Tiago pelo braço e sussurrou no seu ouvido:

– Se eu descobrir que vocês tiveram alguma coisa haver com isso, Potter, vocês acabaram de iniciar uma guerra.

********

No dia seguinte, Severo não esperou seus amigos acordarem para seguirem juntos até o Salão Principal. Ainda estava morrendo de vergonha do incidente no dia anterior e, para ajudar, tinha uma detenção para cumprir no final do dia. Atravessou sozinho o caminho que o levaria até o Salão lembrando da figura de Isabelle, rindo dele enquanto tentava se equilibrar na sua vassoura, e sentiu seu rosto enrubescer. A maior humilhação naquele dia não foi ter sido motivo de piada para os grifinórios, foi o sorriso dela, tentando ajudá-lo; não queria ter que admitir que precisava da sua ajuda. Ele já tinha decidido ignorá-la, mas na verdade, o que sentia mesmo era uma necessidade inexplicável de impressioná-la e mostrar que também era um bruxo digno de estar na Sonserina.

Sem coragem de encarar seus amigos, Severo saiu do Salão antes deles chegarem e foi mais cedo para a sala de aula de Poções. Sentou na mesma bancada que ocupara na semana passada e ficou estudando sozinho. Aos poucos, os demais alunos foram chegando e ocupando seus lugares. A sala já estava cheia, mas Severo ainda continuava sozinho no seu lugar, quando Isabelle entrou. Olhou pela sala como se estivesse procurando um lugar para sentar e, ao certificar-se que tinha chamado a atenção de todos, seguiu até a bancada onde Severo estava.

– Olá mestiço! – ela o cumprimentou, sentando-se ao seu lado.

Severo teve que se controlar para não sair do sério e acabar levando outra detenção. Depois de alguns segundos, virou-se para ela e perguntou:

– Por que você veio sentar do meu lado se você se incomoda tanto que eu seja um mestiço?

– Simples – ela respondeu com um sorriso nos lábios. – Você vai me ajudar a preparar essas coisas nojentas para eu conseguir passar com uma nota decente em Poções. Porque se o Slughorn tem a pachorra de tirar pontos da gente, significa que ele vai nos avaliar da mesma forma que avalia os grifinórios.

Severo olhou para ela sem acreditar no que estava ouvindo.

– Eu vou ajudar você? E o que eu ganho com isso?

Ela sorriu mais uma vez.

– Quando todos virem que você é meu amigo, eles vão esquecer que você é um mestiço e vão tratá-lo como um sonserino de verdade. Você não imagina como a amizade com um Malfoy pode lhe abrir portas no futuro.

– E como você espera que todos esqueçam que eu sou um mestiço, se você vive me chamando disso? – Severo perguntou desconfiado. – Você podia parar com isso.

 – Eu chamo você de mestiço porque é isso que você é. Você nunca vai conseguir esconder que seu pai é trouxa. Você já devia ter se acostumado com isso, não tem nada demais.

Severo ainda olhava desconfiado para ela. Não conseguia acreditar que aquilo não era um insulto. Isabelle Malfoy era mesmo uma menina intrigante e tinha um jeito muito estranho de fazer amigos. Quando estava no meio de outros alunos, agia como uma garota arrogante e mimada, mas quando os dois estavam sozinhos, ou pelo menos longe de ouvidos alheios, ela se transformava. Como no dia anterior, quando foi ajudá-lo, ou agora, oferecendo sua amizade, mesmo que em troca de alguns favores nas aulas de Poções. Mais uma vez, Severo indagou se a Isabelle Malfoy que todos conheciam era a mesma garota que o encarava agora, ou apenas uma personagem criada por ela para impressionar o irmão. Lembrando da primeira noite na sala comunal, perguntou:

– Mas e o seu irmão? Eu o ouvi pedindo para você ficar longe de mim.

– Não ligue para o meu irmão – ela respondeu fazendo uma careta. – Ele está se achando o máximo com aquele distintivo de Monitor-Chefe, mas só tem olhos para a Narcissa. E ano que vem ele nem vai mais estar aqui.

A conversa foi interrompida pela entrada do Prof. Slughorn, dando início à aula. Desta vez, teriam que preparar uma poção repelente de chizácaros. O preparo era simples, mas a temperatura do caldeirão precisava ser rigorosamente controlada, ou os componentes voláteis da poção podiam vaporizar-se violentamente, provocando uma enorme explosão.

– Como é necessária uma atenção redobrada no controle da temperatura – o Prof. Slughorn explicou –, hoje vocês vão trabalhar em duplas. A dupla que me entregar uma poção eficiente por primeiro leva dez pontos para a sua casa. Agora, ao trabalho!

Severo sorriu mais uma vez ao reconhecer a poção. Sua mãe a preparava periodicamente para evitar a infestação destes parasitas em seus caldeirões. Assim, ele sabia exatamente qual era o feitiço que tinha que usar para manter a temperatura da chama constante, enquanto outros alunos estavam usando um feitiço mais simples, que apenas monitorava a temperatura dentro do caldeirão.

A sala estava em polvorosa com a corrida para terminar a poção rapidamente e receber os pontos como recompensa. Entretanto, a dupla formada por Severo e Isabelle, que se limitava a picar os ingredientes mais simples, já estava bem mais a frente do resto da turma, sendo ameaçados apenas pela dupla formada por Lílian e uma de suas amigas da Grifinória.

– Pronto – Severo disse com satisfação ao adicionar o último ingrediente da poção. – Agora só precisamos esperar que cozinhe por mais uns cinco minutos e estará pronta!

– Cinco minutos? – Isabelle perguntou aborrecida. E, vendo que Lílian já estava separando as unhas de grifo para adicionar no caldeirão dela, comentou: – Não podemos apressar um pouco? Desse jeito a sangue-ruim vai nos passar...

– Ela também vai ter que esperar cinco minutos para a poção ficar pronta – Severo retrucou, preparando um frasco para guardar a poção.

Mas Isabelle não queria correr riscos. Sacou sua varinha discretamente e, murmurando um feitiço imperceptível aos ouvidos de Severo, apontou-a para o caldeirão das alunas da Grifinória. No instante seguinte, o caldeirão de Lílian começou a soltar uma fumaça densa e escura, e o Prof. Slughorn teve que ajudá-las a diminuir a temperatura da mistura para que não explodisse. Severo olhou desconfiado para Isabelle, que apenas respondeu com um olhar inocente. Entretanto, Sirius e Tiago, sentados logo atrás, perceberam que ela ainda estava com sua varinha a postos.

Pouco tempo depois, Severo e Isabelle foram dispensados da aula depois de entregarem sua poção, recendo os pontos prometidos. Ao seguir para a porta da sala, Isabelle sentiu alguém puxar o seu braço. Era Tiago:

– Eu vi o que você fez, Malfoy – ele a ameaçou. – Cuidado, ou é você quem está pedindo por uma guerra.

– Me larga, Potter! – ela gritou. – Se você não consegue terminar a sua poção, você devia estudar mais!

Ouvindo isso, o Prof. Slughorn chamou a atenção de Tiago:

– Sr. Potter!

Isabelle olhou triunfante para Tiago, que acrescentou antes de soltá-la:

– Eu avisei, Malfoy.

Severo, que tinha certeza que o incidente com a vassoura era culpa de Sirius e Tiago, aproveitou a vantagem dada pelo Prof. Slughorn e acrescentou em voz baixa, com uma risada maliciosa:

– Qual é o problema, Potter? Só sabe brigar com meninas?

Tiago não agüentou a provocação e levantou do seu lugar, ameaçando Severo:

– Não me chame de covarde, seu...

– Sr. Potter! – o Prof. Slughorn chamou a atenção novamente, com a expressão cada vez mais brava. – Menos cinco pontos para a Grifinória! E volte para o seu lugar! – E dirigindo o olhar para Severo e Isabelle: – Sr. Snape, Srta. Malfoy, vocês já estão dispensados, podem sair!

Quando saíram da sala de aula em direção a sala comunal, Severo perguntou para Isabelle:

– O que você fez com a poção da Lílian? Nós íamos terminar antes dela de qualquer jeito.

– Aquilo, mestiço, foi um aviso para os grifinórios não se meterem com a gente – ela respondeu. – Você tem que aprender a usar mais a sua varinha; não se ameaça um bruxo brigando como um trouxa. – E depois de uma pausa, perguntou: – E que intimidade é essa com aquela sangue-ruim? Você não tem que ter pena dela. Ela quase roubou os nossos pontos nas duas aulas.

Severo apenas suspirou e, entrando na sala comunal, foi sentar-se perto da lareira. Isabelle sentou-se na poltrona ao lado dele, mas não falou mais nada. Em pouco tempo, outros alunos da Sonserina terminaram suas poções e foram dispensados da aula, juntando-se a eles para parabenizá-los por conseguirem preparar a poção antes dos grifinórios. Finalmente, depois de duas semanas em Hogwarts, Severo realmente sentia que fora aceito pelos colegas.  Já sentia-se um autêntico sonserino: cumpriria detenção por brigar com um aluno da Grifinória e tinha feito amizade com filhos de famílias importantes do mundo bruxo. Seu avô ficaria orgulhoso dele. Estava na hora de começar a se aproximar da sua família bruxa.

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N.A.: Espero que vocês tenham gostado deste capítulo, não deixem de comentar e mandar sugestões! Para acompanhar as atualizações vocês podem acessar meu LiveJournal: http://bastetazazis.livejournal.com

O nome do capítulo refere-se a lembrança de Snape que Harry viu quando quebrou suas defesas nas aulas de Oclumência (Harry Potter e a Ordem da Fênix), onde “um menino magricela tenta montar numa vassoura que dava pinotes”.

As pedras de bezoar são formadas pelo acúmulo de materiais calcários em torno de uma partícula irritante no organismo, como uma semente de fruta, por exemplo, de diversos animais. Na Inglaterra do século XVIII, realmente era possível encontrar em algumas boticas pedras de bezoar retiradas de cabras selvagens do Irã, com o nome: “Lápiz Bezoar Orientale”, onde acreditava-se que eram capazes de curar todos os venenos. (Extraído de‘Venenos, Antídotos, Contra-Venenos’ de William Tichy, Ed. Ediouro).


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Notas finais do capítulo

A seguir:Severo e Sirius têm uma detenção a cumprir...



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