Sombras do Passado escrita por BastetAzazis


Capítulo 26
A Primeira Horcrux


Notas iniciais do capítulo

Dumbledore fica ciente da existência de uma Horcrux, e o Lorde das Trevas finalmente descobre quem é seu espião.



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Sombras do Passado

Sombras do Passado

escrito por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Suviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 26: A Primeira Horcrux

– Eu não vejo qual é o problema, Alvo. Eu sou a única pessoa na Ordem capaz de fazer isso. Só um verdadeiro Malfoy pode abrir a câmara da mansão. – Isabelle falava sem parar da mesa onde estava sentada no escritório de Dumbledore. Ela estivera afastada da Ordem desde que Severo começou a lecionar em Hogwarts, mas naquele dia, ela fizera uma descoberta que poderia mudar todo o rumo da guerra. – E eu tenho certeza que o livro que o Lorde das Trevas deixou aos cuidados do meu irmão está lá.

Dumbledore não respondeu. Continuou parado observando a vista da janela de seu escritório. Há muito que ele temia que Voldemort tentasse driblar a morte da maneira mais repugnante possível. Uma Horcrux – pensou enquanto suspirava –, até que ponto chegamos com esta guerra.

Sem mais argumentos, Isabelle observava as costas do Diretor de Hogwarts. Foi desconcertante e ao mesmo tempo assustador ver a expressão de terror de Alvo Dumbledore quando ela lhe confirmou a existência da Horcrux. Se o único bruxo temido pelo Lorde das Trevas se entregava a essa notícia, que esperança os demais membros da Ordem teriam? Com um suspiro, ela levantou-se da cadeira e seguiu até onde Dumbledore estava parado.

– Nós não teremos nenhuma chance contra o Lorde das Trevas enquanto aquele livro não for destruído – insistiu.

Dumbledore finalmente se virou para encará-la. Pousou uma mão nos ombros dela e disse:

– Eu não posso permitir que faça isso.

– Por que não? – ela replicou. – Eu já disse, sou a única que pode entrar lá.

Dumbledore deu outro suspiro antes de responder, então continuou num tom paternal, um tom que várias vezes fez Isabelle desejar ter ouvido do seu próprio pai.

– É muito arriscado, Isabelle. Voldemort não entregaria a Horcrux sob os cuidados do seu irmão se já não tivesse se certificado que ela está totalmente segura. Nós não sabemos que tipo de maldição ele pode ter usado para protegê-la.

Isabelle sentia a preocupação pesando nas palavras de Dumbledore, mas também sabia que não podia deixar de fazer alguma coisa.

– Mas não há outra alternativa – insistiu mais uma vez. – E nós temos que aproveitar que amanhã é Dia das Bruxas e a mansão ficará sozinha.

Dumbledore a fitava com um olhar pesaroso. Sabia que ela estava certa, mas não achava prudente envolvê-la numa missão tão arriscada.

– Eu entendo, Isabelle – foi o que respondeu –, mas não posso deixá-la se arriscar desse jeito. Não agora. Você nem deveria estar aqui, é muito arriscado.

– Lúcio acha que estou cumprindo plantão em St. Mungus. E se Severo me vir aqui, eu posso dizer que vim atender uma emergência a pedido de Madame Pomfrey. Eles não vão desconfiar de nada.

Dumbledore pareceu ponderar por um instante, mas Isabelle percebeu a expressão de desapontamento em seu rosto. Ele não concordava com o que ela fizera no passado, usar sua proximidade com o noivo e o irmão Comensais da Morte para espionar para a Ordem. Desde que ficou sabendo da sua gravidez, ele e Severo a proibiram de qualquer ação para ajudar a Ordem. Ela quebrara a promessa que fizera a eles apenas naquele dia, quando descobrira que o Lorde das Trevas havia entregue a Horcrux aos cuidados do seu irmão.

– Eu não estava me referindo à sua segurança apenas, mas à do seu filho também – Dumbledore insistiu.

Isabelle baixou a cabeça.

– Eu não posso concordar que você se aventure a destruir uma Horcrux – ele continuou –, não com uma criança indefesa em seu ventre.

– Eu entendo – ela respondeu ainda com a cabeça baixa. – Mas nós não podemos nos dar ao luxo de esperar mais seis meses para tomarmos uma providência.

Levantando os olhos para Dumbledore, ela continuou:

– Eu não quero que meu filho nasça num mundo dominado pelo Lorde das Trevas e suas idéias. Não quero ter um filho para que ele encontre o mesmo destino dos avós.

Dumbledore finalmente deu-se por vencido, embora ainda contrariado.

– Está bem, então – disse em meio a um suspiro. – Mas você não vai fazer isso sozinha.

Isabelle deu um pequeno sorriso com sua vitória.

– Severo seria a escolha óbvia; não levantaria suspeitas. Entretanto – ela desviou do olhar do Diretor –, a Ordem não o considera confiável.

– Parece que não é apenas a Ordem que não confia nele – Dumbledore respondeu. – Pelo que você disse, ele não sabe que você está aqui.

– Não – Isabelle respondeu virando-se de costas, fugindo da avaliação do Diretor. – Eu achei que você deveria julgar quem deve ficar a par desta informação.

Dumbledore deu um sorriso irônico, mas Isabelle continuou fingindo não notá-lo:

– Às vezes eu sinto que apenas eu confio nele. Por que será que é tão difícil as pessoas acreditarem que ele realmente se arrependeu?

– Talvez seja seu lado lufa-lufa que não mede esforços para tentar ajudá-lo... – Dumbledore respondeu com uma risadinha.

– Eu não sou uma lufa-lufa! – Isabelle protestou. – Nunca fui.

– É claro – Dumbledore concordou com o sorriso ainda no rosto –, o Chapéu Seletor não se engana, não é? Você nunca mediu esforços para conseguir o que queria. Entretanto, tudo o que você teve que enfrentar pelo Severo deixaria Helga Hufflepuff orgulhosa. Até o grifinório mais corajoso já teria desistido.

Dumbledore voltou para sua mesa e acenou para que Isabelle o seguisse e se sentasse também.

– Eu ainda não acredito que Severo seja totalmente fiel à Ordem. E você também não – acrescentou rapidamente quando ela fez menção de reclamar. – Não é a Ordem que não confia em Severo, mas ele quem não confia em nós. Ele ainda não acredita que possamos ser capazes de destruir Voldemort.

A sala do Diretor ficou em silêncio por alguns minutos. As palavras de Dumbledore eram fortes, mas ele tinha razão. Mesmo dizendo que a perdoara, que havia concordado com ela, que sentia-se culpado por ter entregue o nome de Harry Potter ao Lorde das Trevas, Severo nunca mais fora o mesmo depois daquele dia. Ele jamais a tratara mal ou fizera insinuações revoltantes como no dia em que brigaram, mas ela sentia que ele estava cada vez mais distante. No princípio, ela imaginou que ele evitava falar da Ordem da Fênix ou dos seus encontros com o Lorde das Trevas porque não queria que ela se envolvesse mais na guerra enquanto estivesse grávida. Mas além disso, com a desculpa de estar em Hogwarts agora, ele passava o tempo todo no castelo, evitando encontrá-la. Ela estava começando a pensar que ele apenas concordara em continuar com o casamento por causa do filho que ela esperava, e que as coisas entre eles jamais voltariam ao que eram antes dele descobrir que ela estava na Ordem.

Sem querer mais pensar em Severo, ou a quem ele era fiel, Isabelle voltou ao verdadeiro motivo que a fez estar ali:

– O que vamos fazer então? Com relação à Horcrux?

Dumbledore pareceu refletir na pergunta e, depois de um instante, respondeu:

– Você tem certeza que conseguirá entrar no cofre secreto sem levantar suspeitas?

– Apenas Dobby estará em casa amanhã – Isabelle explicou. – Eu posso dizer a ele que fui pegar alguma jóia da minha mãe para usar no casamento.

Dumbledore pareceu ponderar por um momento antes de continuar:

– É melhor que você vá sozinha até a mansão; entretanto, assim que encontrar o livro, você vai entregá-lo a mim, e eu tentarei destruí-lo.

– Você quer que eu traga a Horcrux para Hogwarts?

Dumbledore pareceu ponderar por mais um momento.

– Eu não poderei me ausentar de Hogwarts amanhã.

Pegou uma pena e um pedaço de pergaminho e continuou:

– Vou pedir para Sirius encontrá-la num lugar seguro. Você entregará o livro para ele assim que sair da mansão. Quanto menos contato você tiver com a Horcrux, melhor.

Isabelle assentiu com a cabeça e observou Dumbledore mandar uma coruja para Sirius, que logo em seguida surgiu de dentro da lareira. Ele ficou surpreso ao descobrir que ela sempre fora a espiã de Dumbledore, mas depois de uma curta reunião, os três decidiram que mais ninguém saberia sobre o diário de Tom Riddle, ou dos planos de Isabelle e Sirius para o dia seguinte, antes que a Horcrux fosse destruída.

*-*-*-*-*-*-*-*

O sol que se escondia nas montanhas ao fundo era a única testemunha do vulto feminino que surgira de repente na clareira à beira do abismo. Isabelle sorriu ao rever a bela vista que ainda continuava intacta ao longo dos anos. Entretanto, seu sorriso logo esmaeceu assim que lembrou que a última vez que estivera ali, ela e Sirius ainda eram namorados. Dumbledore sugeriu que eles combinassem se encontrar num lugar que mais ninguém conhecia, caso um dos dois fosse descoberto, mas aquilo estava lhe parecendo mais uma piada de mau gosto.

Permaneceu sozinha à beira do precipício, observando o céu avermelhado que mostrava as primeiras estrelas brilhando mais acima no horizonte. Quando percebeu a penumbra à sua volta, começou a se preocupar; Sirius estava atrasado.

Como se ouvisse seus pensamentos, um segundo vulto apareceu na clareira depois de um sonoro pop.

– Sirius – ela chamou se virando –, você está atrasado. Aconteceu alguma coisa?

O vulto chegou mais próximo dela, e quando tirou o capuz, ela recuou. Não era quem estava pensando. Entretanto, ele parecia mais surpreso que ela.

– Isabelle? – A voz de Pedro Pettigrew preencheu o silêncio da clareira. – Você é a espiã?

Isabelle recuou mais um passo e agarrou mais forte o livro que segurava.

– Pedro? O que você está fazendo aqui?

– Sirius não pode vir – ele respondeu vacilante e caminhando na direção dela. – Ele me pediu para vir aqui e pegar uma encomenda para Dumbledore.

Isabelle franziu a testa, mas não recuou mais. Agora estava a menos de um palmo de Pettigrew.

– Por que ele não me avisou? Aconteceu alguma coisa? – perguntou olhando diretamente nos olhos dele.

Pedro desviou o olhar quando respondeu:

– Houve outro ataque de Comensais da Morte. Como ele é o Fiel do Segredo de Tiago, Dumbledore achou melhor que ele ficasse a salvo em Hogwarts.

Isabelle olhou desconfiada para Pedro. Não parecia ser do feitio de Sirius ficar escondido em Hogwarts sabendo do ataque de Comensais.

– É verdade – Pedro insistiu. – Ele me pediu para vir aqui no lugar dele, pegar a Horcrux e entregá-la a Dumbledore. – Vendo que Isabelle não parecia convencida, continuou: – Sirius e Tiago são meus únicos amigos fora o Remo. Você acha que eu faria alguma coisa para prejudicá-los?

Isabelle baixou a guarda. Realmente, era impossível duvidar dos laços de amizade dos quatro grifinórios que ela tanto odiara em Hogwarts. Com um leve sorriso, estendeu o livro que acabara de retirar da sua casa para Pedro.

Rapidamente, ele estendeu os braços para agarrar a Horcrux, enquanto seus olhos brilhavam vivamente. Isabelle recuou mais uma vez com o sorriso doentio que se formou no rosto dele. Alheio à reação dela, Pedro comentou:

– Engraçado, de todas as pessoas próximas ao Lorde das Trevas, você era a última que eu imaginava ser a espiã.

A maneira com que Pedro se referira a Voldemort chamou a atenção dela. Tentou agarrar o livro de volta, mas Pedro foi mais rápido e jogou-o para o alto. Ela observou o livro subir até uma certa altura e depois pairar no ar, até desaparecer entre as árvores em volta da clareira. No instante seguinte, viu o Lorde das Trevas surgir da mesma direção.

– Ora, ora, ora... – Voldemort repetia enquanto se aproximava pelas costas de Pettigrew. – Parece que Dumbledore andou me subestimando, não foi? Velho tolo! Não sabe o quanto o poder das trevas pode ser sedutor para um jovem que sempre viveu à sombra dos seus colegas. – Passando as mãos nos ombros de Pedro, continuou: – Ou nunca foi notado por uma bela garota...

Isabelle recuou, era uma armadilha e ela caíra direitinho.

– Entretanto, meu jovem – a voz de Voldemort ecoava na clareira, agora iluminada apenas pela luz do luar –, ela é a sua prova de que Dumbledore é um tolo em acreditar no que ele chama de amor. Quem diria que, com a intenção de mostrar que você seria um espião melhor que o noivo dela, você descobriria que era na verdade Isabelle Malfoy quem enviava informações à Ordem. Não me surpreende – ele acrescentou num tom de deboche –, ela é tão fraca quanto a mãe.

A lembrança da mãe, de tudo que Isabelle a vira sofrer por causa de Voldemort, trouxe-lhe uma onda de fúria à tona. Apontando sua varinha ameaçadoramente para os dois homens à sua frente, explodiu:

– Não fale da minha mãe desse jeito! Ela morreu, meus pais morreram, para conseguir desvendar os segredos das Horcruxes para você. Você continuaria um reles empregadinho da Borgin & Burkes se não fosse por eles!

Expeliarmus! – Os olhos amarelados de Voldemort saltavam de fúria. Isabelle foi jogada para trás com a força do feitiço, e sua varinha se perdera no abismo atrás dela.

Entretanto, não foi a voz do Lorde das Trevas que ela ouviu ameaçando-a. Pedro Pettigrew caminhava lentamente até ela, varinha em punho, e dizia:

– Você não deveria falar do mestre desse jeito. Ele poderia ter lhe dado um poder inimaginável. Ou você acha que Dumbledore ainda tem alguma chance. Ele é um fraco rodeado de traidores. – Quando chegou ao lado do corpo de Isabelle, abaixou-se para sussurrar em seu ouvido: – Eu sempre amei você, Belle, mas você sempre foi cega pelo Sirius e depois... – Ele a segurou pelo cabelo para fazer sua cabeça inclinar para trás, e seus lábios quase se encostaram. – Depois você preferiu se sujar com um mestiço.

Enojada com o rosto de Pedro quase grudado ao seu, Isabelle cuspiu na cara dele assim que ele falou em Severo. Ele virou o rosto, e ela aproveitou a distração dele para tentar se levantar. Mas Pedro foi mais rápido e, como já estava com a varinha em punho, ordenou:

 – Crucio!

Isabelle foi atingida por uma dor que parecia subir pela espinha e a imobilizava; seu corpo perdeu o equilíbrio, e ela caiu no chão novamente.

– Devo acabar com ela, mestre? – Ouviu a voz de Pedro Pettigrew perguntar a seu amo.

– Não – ele respondeu. – Você já cumpriu o seu trabalho hoje. Os outro já estão chegando, e não quero que o vejam aqui. Ainda não sabemos se o noivo ou o irmão dela são cúmplices.

Isabelle arregalou os olhos. Severo tentou protegê-la do Lorde das Trevas, e agora, o Lorde desconfiava que ele ou seu irmão estivessem trabalhando juntos nisso. Se Severo não conseguisse esconder suas emoções, estaria perdido. Fechou os olhos e baixou a cabeça. Severo tornara-se um Comensal por causa dela e agora, por causa dela, estava na mira do Lorde das Trevas. Mais uma vez ela pensava que deveria ter dado ouvidos à sua família e jamais se aproximado do neto mestiço dos Prince; não porque ele era um mestiço, mas porque ela só arruinara a vida dele.

Ainda de olhos fechados, para que o Lorde das Trevas não se regozijasse com suas lágrimas, ouviu passos, e depois murmúrios, vindos da orla da clareira. Os Comensais da Morte estavam chegando. Com certeza, Lúcio e Severo estariam entre eles. Ela levantou a cabeça para procurá-los, mas não conseguiu reconhecê-los no semi-círculo de homens e mulheres mascarados que se formara atrás do Lorde das Trevas. Ela podia sentir os olhares de ódio que caíam sobre ela e sabia que os servos de Voldemort não a deixariam sem uma punição exemplar.

Para confirmar suas suspeitas, Isabelle ouviu a voz de Belatriz Lestrange ressoar na clareira dando um passo a frente:

– Então essa é a espiã, meu Lorde? Eu terei prazer em fazê-la se arrepender de ter tentado nos enganar. Cru-

– Não! – Voldemort a interrompeu, impedindo-a de lançar a maldição. – Ela é um presente... – explicou, virando-se para os demais Comensais – para Severo e Lúcio. Eu espero que eles saibam o que fazer com ela.

Lúcio deu um passo à frente, destacando-se no semi-círculo de Comensais da Morte. Ele não disse uma palavra, simplesmente tirou sua varinha do punho em forma de serpente da bengala que outrora fora do seu pai e a apontou para a irmã no centro do semi-círculo.

– Lúcio – Isabelle o chamou assim que conseguiu ficar em pé e pensou tê-lo visto fraquejar. – Eu só fiz isso por causa da nossa mãe, porque...

Crucio! – A voz de Lúcio soou firme e decidida quando lançou a maldição diretamente na irmã.

Desta vez, Isabelle não conseguiu conter o grito de dor assim que a maldição a atingiu. Era dez vezes mais forte que a de Pedro. Seu corpo se contorcia por dentro, e ela sentiu que não conseguia mais respirar. Entretanto, quando pensou que caíra no chão sem forças novamente, a dor parou.

Impassível, Lúcio caminhou até onde Isabelle estava parada, respirando com dificuldade e ainda sentindo pequenos espasmos como reflexo da maldição da qual acabara de ser vítima. Quando parou à frente dele, Lúcio tirou sua máscara e a encarou com os olhos cinza brilhando de fúria.

– Você é uma vergonha; uma bruxa medíocre e covarde. Até uma trouxa mereceria mais respeito que você – ele disse lentamente, a voz baixa e carregada de ódio.

Isabelle observava o rosto do irmão se contorcer como se estivesse realmente enojado ao vê-la. Quando abriu a boca para tentar lhe responder, ele lançou outra maldição:

Crucio! – Não havia nenhum sinal de pesar ou remorso em sua voz ou seu olhar, apenas ódio e indiferença.

Isabelle achou que perderia os sentidos quando a maldição voltou a atingi-la. Por um instante tudo ficou escuro, e ela sentiu que não conseguia mais controlar seus membros; as pernas fraquejaram e ela sentiu seu corpo bater violentamente contra o chão. Nos poucos instantes que a dor a deixou raciocinar, ela entendeu que não sairia viva dali. Tentou abrir os olhos e encontrar Severo entre os mascarados que assistiam impassíveis a seu sofrimento, mas conseguia apenas distinguir alguns vultos atrás da enorme figura de preto que era Lúcio. Sentiu lágrimas escorrerem de seus olhos, lamentando suas escolhas e desejando poder voltar ao passado e recomeçar sua vida da maneira correta, se é que ela saberia realmente qual era o caminho correto.

De repente, percebeu que seus sentidos estavam voltando aos poucos e Lúcio havia baixado a varinha. Mas ela ainda sentia dor. Era uma dor diferente, localizada, e vinha da sua barriga, e no instante seguinte, ela sentiu um líquido quente escorrer de suas pernas. Alarmada, Isabelle levantou os olhos para o irmão. Ela não iria suplicar pela própria vida, mas tinha que tentar, pela vida do seu filho.

– Lúcio, por favor...

Lúcio olhou enojado para a mulher caída à sua frente e preparou a varinha para outra maldição. Entretanto, o Lorde das Trevas o impediu.

– Não vamos acabar com ela tão cedo. Eu ainda quero ver o que Severo vai fazer com ela.

Voldemort virou-se para a direção onde Severo estava parado, esperando sua reação. Ele permaneceu parado, sem ação, enquanto Isabelle finalmente o reconheceu entre os demais Comensais da Morte.

*-*-*-*-*-*-*-*

Severo já estava há dois meses infiltrado em Hogwarts, entretanto, sentia que ainda não havia conquistado totalmente a confiança de Dumbledore. Para assegurar seu papel de espião duplo, o Lorde das Trevas lhe permitia passar algumas poucas informações sobre ataques de Comensais da Morte para a Ordem da Fênix, mas por outro lado, Severo sentia que Dumbledore não lhe confiava as informações mais importantes da Ordem. Ele não podia revelar o esconderijo dos Potter ou dos Longbottom, pois não era o Fiel do Segredo, e já estava começando a se sentir pressionado pelo Lorde por ainda não ter lhe trazido o nome do verdadeiro espião.

E ainda havia as aulas de Poções, aquilo que ele considerava seu inferno particular. Algumas poucas vezes – raras vezes – ele encontrava um ou outro aluno digno de receber seus conhecimentos. O resto, um bando de cabeças-ocas que não sabiam nem ao menos como mexer uma mistura num caldeirão. Era uma sorte Slughorn ainda estar com ele, pois várias vezes precisou de todo seu autocontrole para não azarar um estudante descuidado.

Pelo menos, a rotina rígida dos professores de Hogwarts era a desculpa perfeita que ele precisava para evitar Isabelle. Quando estava sozinho no aposento que recebera nas masmorras, Severo tentava entender os sentimentos contraditórios que agora tinha por ela. Isabelle era a garota que ele sempre amara em toda sua vida, era uma bruxa de sangue puro de uma das famílias mais respeitadas do mundo bruxo. Sua associação com ela era tudo o que precisava para conquistar o respeito dos bruxos que ainda o viam como um reles mestiço, principalmente agora que ela lhe daria um herdeiro. Entretanto, ela o traiu. Ela o usou para obter informações a respeito dos planos do Lorde das Trevas para ajudar Dumbledore e a Ordem da Fênix. Aquilo era imperdoável, e Severo sabia que demoraria muito para esquecer daquilo. Ele sentia saudades da Isabelle que conhecera anos atrás, que não mediu esforços para tornar-se Curandeira pelo simples fato de ser a profissão mais respeitada no mundo bruxo, ou que entrou para o time de Quadribol simplesmente para poder atacar grifinórios e lufa-lufas. Aquela Isabelle não existia mais, e ele tinha dúvidas se um dia seria capaz de amar a Isabelle que ele acabara de conhecer e que carregava seu filho. Mas de uma coisa ele tinha certeza: assim que Dumbledore fosse finalmente derrotado, Isabelle se tornaria a Sra. Snape e ele estaria entre os servos mais fiéis do Lorde das Trevas, com uma família respeitável e tão poderosa quanto os Malfoy. Por isso ele a protegeu do Lorde das Trevas, por isso ele continuou com o noivado, mesmo que evitasse encontrá-la. 

Podia parecer estranho, mas nas últimas semanas, ele recebia notícias de Isabelle apenas através de Lílian Potter. Periodicamente, Lílian aparecia em Hogwarts para ajudar no preparo de Poções que seriam usadas pela Ordem. Ele tinha que fingir que não se importava de trabalhar ao lado de uma sangue-ruim para continuar seu disfarce, e os dois passavam longas tardes juntos quando Severo aproveitava, convencido que era apenas para manter seu disfarce, para lhe perguntar sobre Isabelle. Entretanto, talvez por causa destas oportunidades onde Severo parecia sempre tão gentil e preocupado com a noiva, Lílian parecia ser a única pessoa na Ordem que acreditava nele.

Pobre Lílian – Severo pensou enquanto engarrafava uma Poção para Repor o Sangue que os dois haviam acabado de preparar. Às vezes ele sentia que a confiança que ela tinha nas pessoas um dia ainda seria sua desgraça. Para confirmar seus pensamentos, Lílian tirou o frasco da mão dele e disse sorrindo:

– Já está anoitecendo, pode deixar que eu cuido disso. Você deveria aproveitar o Dia das Bruxas para visitar Isabelle. Não se deve deixar uma mulher grávida tanto tempo sozinha. Isabelle está sentindo a sua falta.

– Eu tenho que ficar para as festividades da escola – ele respondeu seco. – Você deveria voltar para casa.

– Eu prometi à Madame Pomfrey que a ajudaria na Ala Hospitalar hoje; você não tem idéia do que esses alunos conseguem aprontar com foguetes e brincadeiras da Zonkos.

Severo estava pronto para responder alguma coisa, mas uma dor intensa no seu braço esquerdo o fez derrubar o frasco que acabara de pegar da bancada. Lílian apenas o olhava aturdida enquanto Severo saía do laboratório dizendo:

– Avise Dumbledore que eu tive que sair.

Assim que deixou o castelo, Severo aparatou para aonde seu mestre o mandara. Podia dizer com certeza que era a orla de uma clareira, mas não saberia especificar exatamente onde estava. Jamais estivera naquele lugar antes. Olhando para os lados, pôde perceber que não fora o único convocado pelo Lorde das Trevas; parecia que todos os Comensais da Morte foram retirados de seus afazeres naquela noite. Mas foi apenas quando chegou mais perto do seu mestre que ele finalmente entendeu o porquê daquele encontro.

Ele e os demais Comensais se posicionaram formando um semi-círculo, resguardando seu mestre. À frente deles, uma mulher estava caída no chão. Quando ela levantou os olhos para os homens que a cercavam, Severo sentiu seu coração se apertar, confirmando as suspeitas que ele temia admitir: Isabelle fora descoberta e agora o Lorde exigiria uma punição rigorosa.

Ela havia se levantado quando Belatriz a ameaçara, mas o Lorde das Trevas impediu que a maldição fosse lançada. Severo soltou um suspiro de alívio sem nem mesmo perceber. Mas sua tranqüilidade duraria pouco tempo: Isabelle seria um presente; o Lorde das Trevas a deixaria aos cuidados daqueles que ela havia traído: Lúcio e ele próprio.

Era impossível odiar a imagem de Isabelle indefesa, cercada naquela clareira por Comensais da Morte que não descansariam enquanto seus instintos mais perversos não fossem totalmente descarregados sobre a figura de quem os traíra nos últimos anos. Entretanto, ela ainda permanecia em pé, orgulhosa e altiva, esperando de onde viria o primeiro golpe. Naquele momento, Severo percebeu que jamais deixara de amá-la, mas que descobrira isso tarde demais. Como ele poderia protegê-la escondido em Hogwarts, deixando-a sozinha com o irmão, tentando ignorá-la no momento que ela mais precisava dele? Ele não queria saber como o Lorde das Trevas descobrira sua identidade, mas precisava encontrar uma maneira de tirá-la dali, para poder dizer-lhe que lamentava os últimos meses, que precisava dela ao seu lado, que ele não se importava mais quem fosse o vitorioso daquela guerra, que ele só seria vitorioso também se ainda pudesse estar com ela.

Ainda sem ação perante o cenário que se colocara à sua frente, Severo observou Lúcio caminhar em direção à irmã. Foi obrigado a assistir impassível enquanto ela era torturada pelo próprio irmão, sem piedade. Sentiu seu estômago embrulhar com aquela visão; ele não podia concordar com aquilo, não podia deixar que Isabelle fosse torturada daquela maneira apenas por ter feito o que acreditava ser correto. E então ele percebeu que não pensava mais como um Comensal da Morte, que ele nunca pensara como um Comensal da Morte. Ele se juntara ao Lorde das Trevas apenas para garantir o respeito e admiração daqueles que eram tão covardes que se sujeitavam a se escravizarem por um mestre insensível e impiedoso. Isabelle tentou mostrar-lhe isso, mas ele estava cego demais até mesmo para ouvir a única pessoa que realmente o amara, e que agora estava sofrendo pela sua coragem.

Quando Isabelle caiu no chão, sem forças para manter-se de pé com a intensidade da maldição, Severo sentiu que seu coração era esmagado e arrancado do peito enquanto ele permanecia impassível. Ele lutou contra a vontade de virar o rosto, contra a ânsia e a aversão que afloravam em seu corpo; seus companheiros não podiam perceber seus verdadeiros sentimentos. Ele é quem deveria estar no lugar dela, ele deveria ser castigado por ter se deixado enganar por tanto tempo pela busca de um poder que apenas tomava suas forças e que o deixava incapaz de salvá-la. Ele queria se colocar à frente dela, abraçá-la e tirá-la dali, tirá-la do sofrimento, mas isso significaria apenas a morte dos dois.

 

– Não vamos acabar com ela tão cedo. – Ele ouviu a voz do Lorde das Trevas impedindo Lúcio de prosseguir com mais uma maldição. – Eu ainda quero ver o que Severo vai fazer com ela.

 

Severo deu um passo à frente, como Lúcio fizera há pouco tempo. Só havia uma coisa a fazer, ele precisava apenas se concentrar, como fazia quando treinava feitiços na fazenda do avô.

– Vamos, Severo – Voldemort o desafiou pela segunda vez. – Faça-a se arrepender de ter nos traído.

Severo sustentou o olhar do mestre enquanto preparava a varinha. Sabia que estava sendo avaliado; sua próxima ação diria ao Lorde das Trevas se ele ainda lhe era fiel ou se também estava com Dumbledore. Quando estava com a varinha em punho, apontou-a para Isabelle decidido e lançou:

Avada Kedrava!


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Notas finais do capítulo

N.A.: O título deste de capítulo refere-se à primeira Horcrux descoberta por Dumbledore. Entretanto, neste ponto da história, ele ainda não sabia da existências das demais, apenas os leitores de Harry Potter e o Príncipe Mestiço sabem desta informação.

A seguir: O Menino-Que-Sobreviveu...



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