Sombras do Passado escrita por BastetAzazis


Capítulo 27
O Menino-Que-Sobreviveu


Notas iniciais do capítulo

Os planos de Severo não saem exatamente como ele imaginava.



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Sombras do Passado

Sombras do Passado

escrito por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Suviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 27: O Menino-Que-Sobreviveu

– Ele a matou!

– Ela está morta!

– Seu estúpido! Ela deveria sofrer!

Severo ouvia os protestos furiosos dos Comensais da Morte atrás dele com os olhos fixos em seu mestre. Colérico, Lúcio deixou o corpo imóvel da irmã caído no chão da clareira e correu até Severo.

– Ele a matou para protegê-la, mestre! Para evitar o sofrimento dela! Ele também é um traidor!

O Lorde das Trevas fez um sinal, silenciando Lúcio, e então se virou para Severo, perguntando-lhe calmamente:

– O que você tem a dizer em sua defesa, Severo?

– Eu lamento, mestre – Severo respondeu sério, mas sem um traço sequer de emoção. – Mas eu não podia suportar ficar mais um minuto perto daquela traidora. Sua presença era intolerável, e eu não consegui conter minha raiva. Traidores devem ser eliminados. Eu entenderei se o Lorde quiser me punir por isso – completou, ajoelhando-se e baixando a cabeça em sinal de servidão.

O Lorde das Trevas pareceu ponderar por um tempo, até que fez Severo se levantar e o olhou fixamente nos olhos, pronto para usar Legilimência. Quando conseguiu a informação que queria, sorriu diabolicamente e soltou sua sentença:

– Sua punição será livrar-se desse corpo enquanto nós temos um Dia das Bruxas para comemorar.

Dizendo isso, ele começou a andar em direção à floresta e desapareceu. Aos poucos, os demais Comensais da Morte o seguiram, restando apenas Severo e Lúcio.

– Você deseja que eu a leve até a Mansão Malfoy? – Severo perguntou vacilante.

– E por que eu levaria o corpo de uma traidora imunda para minha casa, Snape? – foi a resposta ácida.

– Mas ela... Ela é... – Severo balbuciou.

– Ela não é nada – Lúcio o interrompeu. – Você ouviu o mestre. Livre-se da sujeira que você fez e não me coloque no meio das suas trapalhadas.

Dizendo isso, Lúcio desaparatou da clareira sem perceber o sorriso satisfeito formando-se nos lábios de Severo.

Quando constatou que estava sozinho, Severo correu para o corpo caído de Isabelle, gritando seu nome. Ela estava imóvel, os olhos fechados como se estivesse dormindo um sono tranqüilo e profundo, e pela primeira vez, Severo duvidou do seu intento. Desesperado, ele agarrou o corpo inerte e a sacudiu. Aquilo não estava certo, ele apenas dissera as palavras, mas jamais teve a intenção de matá-la. A maldição não deveria ter funcionado.

– Belle, por favor – ele lamentou com a cabeça apoiada no peito dela. – Eu... eu.. – Não conseguia mais falar, sua garganta se fechava involuntariamente, impedindo-o até mesmo de respirar. Um grito forte e rouco atravessou a noite, assustando os pássaros que haviam encontrado abrigo nas árvores próximas. – Era para você sobreviver – finalmente conseguiu dizer. – Eu a levaria para casa, ou para Dumbledore... Ele saberia como protegê-la. Eu... eu não sei o que fazer se você não acordar...

Deixou as lágrimas escorrerem livremente de seus olhos, molhando as vestes que a cobriam. Há muito tempo que ele não chorava. Sentiu sua alma ser lavada enquanto deixava suas emoções florirem, seu coração apertava-se a cada pensamento de jamais ver Isabelle outra vez, ou quando imaginava a família que teria e que perdeu tão injustamente.

Injustamente? Ele praticamente a abandonara quando descobrira que ela estava traindo o Lorde das Trevas, quando descobrira que ela fez aquilo apenas numa tentativa de livrá-lo do alto preço que as Artes das Trevas exigiriam dele, para livrá-lo da maldição de quebrar a Dívida de Vida que tinha com o Potter. Ela passou por cima de todas as suas crenças, de tudo que aprendera, arriscou muito mais que a própria vida para salvá-lo, mas ele não lhe deu atenção. Ignorou-a e ainda a usou para chegar até a Ordem da Fênix e servir cegamente seu Lorde das Trevas como espião. Não, aquilo não era injusto. Ele realmente merecia perdê-la para sempre, mas não podia conter a necessidade de implorar pela vida dela, de jurar que seria outro homem se ela voltasse à vida, que jamais a abandonaria novamente. Mesmo que não acreditasse em milagres.

Mas então, o milagre pareceu realmente acontecer. Quando as lágrimas cessaram e ele se acalmou, o rosto ainda descansando sobre o corpo de Isabelle, ele pode sentir o movimento fraco e irregular da respiração dela. Levantou o rosto subitamente e encontrou os olhos de Isabelle revirando-se sob as pálpebras fechadas.

– Belle! – ele a chamou novamente. – Você pode me ouvir?

A última gota de esperança agora se transformara numa certeza arrogante. Ele já havia lidado com vários aspectos das Artes das Trevas para saber moldá-las aos seus propósitos. Sentiu-se um tolo por ter duvidado da sua capacidade e sorriu largamente quando Isabelle abriu os olhos.

– Severo! – ela soltou quase num suspiro. Um sorriso fraco formou-se em seu rosto em resposta ao riso largo no rosto dele, mas se desfez logo em seguida. – Está doendo – começou a balbuciar.

– Não se preocupe – ele garantiu acariciando o rosto dela. – Eu vou levá-la para casa, cuidarei de você e...

– Não! – ela usou as últimas forças para protestar, agarrando fracamente as vestes dele. – Leve-me para Hogwarts... por favor.

Severo sentia o esforço que ela precisava fazer para pronunciar aquelas poucas palavras. Provavelmente, ela ainda estava sentindo algum efeito da Cruciatus e sabia que não poderia ser levada para ser tratada no St. Mungus. Se chegasse aos ouvidos de algum Comensal da Morte que ela ainda estava viva, ela e Severo não teriam chance de sobreviver uma segunda vez. Ele a abraçou com força, e os dois corpos aparataram nos portões de Hogwarts.

*-*-*-*-*-*-*-*

Mesmo com os alunos ainda festejando o Dia das Bruxas, foi fácil chamar a atenção do Guarda-Caça. Hagrid veio rapidamente até o portão do castelo quando percebeu o patrono do Prof. Snape brilhando no céu de Hogwarts. Mas a visão por trás das grades do portão protegido magicamente por Dumbledore o estarreceu.

– O que você fez com ela? – ele perguntou furioso, com olhos arregalados. Hagrid jamais confiara no arrependimento do antigo sonserino, agora o Prof. Snape.

– Deixe-me entrar, Hagrid! – Severo gritou, parecendo não se importar com a acusação do Guarda-Caça. – Ela foi atacada por Comensais da Morte, precisamos levá-la até a Ala-Hospitalar.

Hagrid ainda dispensou um olhar desconfiado para as vestes de Comensal da Morte de Snape, mas o obedeceu assim que ouviu um gemido de Isabelle.

Severo jamais pode contar os segundos que levou para percorrer os jardins do castelo até chegar na Ala-Hospitalar. Ele era movido apenas pela necessidade de ajudar Isabelle, de fazer com que ela se livrasse da dor que as sucessivas maldições infligiam nela. Quando menos percebeu, estava na frente dos rostos assustados de Lílian Potter e Madame Pomfrey, gritando-lhe ordens para deitá-la numa das camas e aguardar fora da Ala-Hospitalar. Foi só então que ele percebeu o sangue em suas mãos. As vestes de Isabelle estavam ensangüentadas da cintura para baixo, mas no seu desespero para tirá-la da clareira e trazê-la a um lugar seguro, ele nem percebera. Ele ficou parado, olhando para o corpo dela deitado na cama, sem entender o que estava acontecendo, alheio aos burburinhos e à correria de Madame Pomfrey. Lílian pousou uma mão no ombro dele e o chamou:

– Venha, Severo. É melhor você esperar lá fora. Hagrid já foi chamar o Prof. Dumbledore no Salão Principal.

Severo sentiu ser arrastado por Lílian até a porta, mas continuou com a cabeça virada, olhando para Isabelle e para Madame Pomfrey, que agora balançava sua varinha gentilmente sobre a cama para um feitiço diagnóstico.

– Eu não entendo – ele balbuciava desorientado enquanto era levado por Lílian para fora da Ala-Hospitalar –, por que ela está sangrando? Ela foi atingida pela Cruciatus, não deveria...

– Eu vou ajudar Madame Pomfrey e assim que tiver novidades eu aviso, certo? – Lílian o interrompeu assim que chegaram na porta.

Dumbledore acabava de chegar, acompanhado de Hagrid e da Profa. McGonagall, mas Lílian não prestou atenção aos bruxos e fechou a porta, colocando proteções que impediam até mesmo o Diretor de entrar.

– Severo? – Dumbledore perguntou analisando o péssimo estado do seu mais novo professor. – O que aconteceu? Rúbeo me disse que você chegou com a Srta. Malfoy nos braços.

– Ele descobriu sobre Isabelle – Severo revelou jogando-se num banco próximo à porta trancada da Ala-Hospitalar. – Eles a torturaram na minha frente! E eu tive que assistir a tudo quieto, sem poder mover um músculo sequer – Severo finalmente desabafou, deixando as lágrimas rolarem novamente, enterrando a cabeça em suas mãos.

Minerva McGonagall levou as mãos à boca, escondendo sua surpresa e indignação conforme ouvia as palavras de Severo.

– A Srta. Malfoy era... – ela não conseguiu terminar a frase, pensando nas demais implicações do que Severo acabava de confessar. – Mas ela estava grá-... Torturada por Comensais da Morte? Alvo! Até que ponto chegamos com essa guerra?

Dumbledore limitou-se a assentir pesaroso com a cabeça. Em parte, ele também se sentia culpado com o que acontecera a Isabelle e jamais se perdoaria por isso.

– Sim, Minerva, é realmente horrível – ele respondeu depois de um tempo em silêncio. – Mas temos que pensar nos nossos alunos também. Você pode garantir que todos se dirijam a suas salas comunais e que mais ninguém se aproxime da Ala-Hospitalar?

– Claro, Alvo – ela respondeu.

– Rúbeo – o Diretor se dirigiu ao Guarda-Caça –, você poderia acompanhar a Profa. McGonagall. Acredito que haverá muitas reclamações dos alunos por terem que se recolher mais cedo hoje.

– Sim, Diretor.

Assim que os dois deixaram o corredor da Ala-Hospitalar, Dumbledore sentou-se ao lado de Severo. Os dois permaneceram em silêncio, tentando captar alguma coisa do que acontecia atrás das grossas portas trancadas por Lílian, mas era inútil. Enfim, o Diretor resolveu quebrar o silêncio:

– Você acha que Voldemort desconfia de você também?

Severo levantou a cabeça para encarar o Diretor. Os olhos vermelhos e úmidos não deixaram o sorriso cínico passar despercebido.

– Desconfiar? Ele não tem por que desconfiar de mim. Eu sempre fui fiel ao Lorde das Trevas.

Dumbledore não disse nada, apenas estreitou os olhos por trás dos óclinhos de meia lua. Severo virou o rosto, apoiando os braços em suas pernas, era mais fácil encarar o chão que os olhos cintilantes de Alvo Dumbledore que se recusavam a mostrar alguma fúria ou indignação com a sua confissão.

– Sim... Eu sempre fui fiel ao Lorde das Trevas. – Uma risada amarga seguiu sua confissão. – Cegamente fiel. Capaz de passar por cima dos sentimentos da única mulher que me amou, da mãe do meu filho... Foi isso que você quis dizer, não foi? – ele perguntou virando-se novamente para Dumbledore. – Aquele dia da detenção no Salgueiro Lutador, você disse alguma coisa sobre estragar minha vida por causa de um ato irreversível. Eu não sei se conseguirei viver comigo mesmo se alguma coisa acontecer à Isabelle. Você pode me mandar para Azkaban, ou me matar aqui mesmo se preferir. Eu não ligo.

Dumbledore não respondeu, apenas refletiu nas palavras do jovem mestiço que entrara para a Sonserina alguns anos atrás e que sentia-se obrigado a mostrar seu valor para os demais colegas de sangue puro. Sua busca por reconhecimento o transformara num bruxo poderoso, que Dumbledore respeitava, mas que infelizmente escolhera o caminho errado em troca de poder e glória.

O silêncio sepulcral que se instalara ao lado de fora da porta que separava a Ala-Hospitalar foi quebrado apenas quando Lílian a abriu subitamente. Severo levantou-se num pulo quando a viu, tentando forçar seu caminho para dentro da sala, mas Lílian o impediu, trancando-a novamente.

– Como está Isabelle? – Severo perguntou aflito.

Lílian respirou fundo antes de começar, falando numa voz baixa e devagar:

– Ela está inconsciente, Severo, mas está respirando. Madame Pomfrey lhe deu uma Poção para Repor o Sangue, e agora temos que esperar a poção fazer efeito. – Lílian pareceu hesitar e respirou fundo mais uma vez antes de continuar: – Entretanto, Isabelle perdeu muito sangue e nós... bem... – ela pigarreou e mordeu o lábio inferior antes de acrescentar – nós não conseguimos salvar o bebê.

Severo pareceu demorar para assimilar o que acabara de ouvir. Ele simplesmente ficou parado na frente de Lílian, olhando-a boquiaberto, sem um mínimo de emoção transparecendo de seu rosto. Vendo-o tão impotente e sem ação, Lílian o abraçou.

– Eu lamento, Severo. Nós fizemos tudo que estava ao nosso alcance, mas estamos numa escola, a Ala-Hospitalar não está preparada para... – ela parou de repente, sem coragem de continuar explicado o que acontecera.

Quase que mecanicamente, Severo fechou os braços em torno de Lílian, aceitando o abraço.

– Eu não podia levá-la ao St. Mungus – finalmente ele falou, depois de alguns minutos agarrado a Lílian. – Se eles souberem que ela está viva, que eu não a matei, eles virão atrás de nós dois. Eu fui um covarde.

– Não, Severo – Dumbledore interveio –, você fez o certo. Vocês dois estarão sob a minha proteção enquanto estiverem em Hogwarts.

Ele soltou-se de Lílian e olhou atônito para o Diretor. Por que todos estavam sendo tão bons com ele? Ele acabara de confessar a Dumbledore que o traíra, que jamais abandonara o Lorde das Trevas, que era um espião dentro da Ordem. E quanto a Lílian? Ela não sabia que fora ele, que devia sua vida ao marido dela, quem contou ao Lorde sobre a profecia? Que colocou a família dela em perigo? Por que ela tentava consolá-lo? Ela deveria odiá-lo.

– E falando em proteção – Dumbledore continuou, virando-se para Lílian. – Você deve voltar para casa, Lílian. Se Isabelle foi descoberta através de um espião, você e Tiago também correm perigo. Eu jamais me perdoaria se mais alguma coisa acontecer nesta noite.

– Mas Madame Pomfrey precisará de ajuda para...

– Nós temos ajuda suficiente para Papoula – Dumbledore replicou sem esperar ela terminar a frase. – Por favor, Lílian. Eu ficarei mais tranqüilo sabendo que vocês também estão seguros. Você pode usar a lareira da Ala-Hospitalar, não há perigo.

Lílian assentiu com a cabeça, então voltou-se para Severo.

– Não se preocupe, Severo – Lílian tentou animá-lo. – Madame Pomfrey é uma excelente medibruxa, Isabelle está em boas mãos.

Vendo a sinceridade nos olhos verdes de Lílian, Severo sentiu-se desarmado e se viu dizendo antes mesmo de pensar:

– Eu sinto muito, Lílian. Eu sou o culpado por fazer vocês terem que se esconder desse jeito. Se pudesse voltar atrás...

– Não é sua culpa, Severo. Se não fosse você, mais cedo ou mais tarde Voldemort ficaria ciente da profecia por outra pessoa. Nós devemos nos unir para impedir que os planos dele se concretizem, e não procurar culpados por pequenos atos e correr atrás de vingança. Eu falo por mim e por Tiago quando digo que nós dois o perdoamos, Severo. E espero sinceramente que você confie em nós como seus amigos.

Eu não mereço seu perdão – foi o que Severo pensou em responder, lembrando-se como sempre odiara Tiago Potter, mesmo depois que o grifinório salvara sua vida. Mas não teve tempo de dizer uma palavra; pego sem ação, viu Lílian aproximar-se dele e depositar um beijo terno em seu rosto.

– Isabelle vai se recuperar – ela disse assim que se afastou, um sorriso fraco e esperançoso no rosto –, e vocês ainda terão outros filhos. E em pouco tempo, estaremos rodeados de sonserinos e grifinórios brigando pelas suas Casas.

Os olhos verdes de Lílian pareciam tão sinceros que quase faziam Severo acreditar nas palavras que acabara de ouvir. Ele sempre sonhara com um futuro dominado pelo Lorde das Trevas, com ele ao seu lado, numa posição de poder e invejado por muitos. Agora, a única coisa que desejava era que as previsões de Lílian se concretizassem, que Isabelle sobrevivesse e que pudessem realmente pertencer a um mundo onde eles poderiam ser felizes, livres dos preconceitos que sempre os sufocaram.

De repente, ele lembrou-se do dia que conhecera Lílian. Ele estava deslumbrado com as novidades do mundo bruxo que era apresentado a ele, e ela também, ao que lhe parecia. A forma com que ela se aproximara dele naquele dia, tão espontaneamente, mostrava como ela sempre acreditara no melhor das pessoas, até mesmo nele. Cansado do sentimento de culpa que aqueles olhos lhe infligiam, ele simplesmente baixou a cabeça, evitando o olhar que jamais veria novamente.

Quando Lílian entrou novamente na Ala-Hospitalar, para seguir para casa via Flu, Severo largou-se novamente no banco que ocupara anteriormente.

– Eu não entendo – ele disse mais para si mesmo que para Dumbledore. – Todos aqui se preocupam com Isabelle, gostam dela. A Isabelle que eu conheci sempre foi tão orgulhosa de ser uma Malfoy, de ser de sangue puro. Como ela pode mudar tanto?

Dumbledore deu um longo suspiro ao ouvir as palavras de Severo. Caminhou calmamente até sentar-se silenciosamente ao lado dele.

– Você deve saber que a Sra. Malfoy – ele começou sem olhar para Severo –, a mãe de Isabelle – se corrigiu após um pigarro –, era profunda conhecedora das magias mais antigas. Ela e o marido sempre foram grandes admiradores das idéias de pureza de sangue dispersadas por Voldemort, eu chegaria a arriscar afirmar que eles foram os primeiros seguidores dele. Você sabe como Voldemort descobriu que Isabelle era a espiã?

Severo limitou-se a balançar a cabeça, tentando segurar as lágrimas que voltavam a querer se formar em seus olhos.

– Ela descobriu um artefato muito interessante, que Voldemort pediu para Lúcio esconder na câmara da Mansão Malfoy. Uma câmara que, segundo ela, apenas um Malfoy poderia abrir.

Severo levantou uma sobrancelha e encarou o Diretor.

– Ela tentou recuperar o artefato e o Lorde a descobriu, não foi? – Severo concluiu.

Dumbledore assentiu gravemente.

– Nós podemos apenas especular, mas eu acredito que sim. Você tem idéia de que artefato era esse?

Severo balançou a cabeça. Sem resposta, o Diretor continuou:

– Isabelle estava certa de que era uma Horcrux.

– Uma Horcrux? – Severo repetiu alarmado. Até mesmo nos manuscritos de John Dee as Horcruxes eram citadas como a pior Arte das Trevas. – O Lorde nunca comentou nada sobre isso – disse em voz alta. Refletindo em tudo que ouvira, acrescentou depois de alguns instantes: – E como Isabelle sabia disso? Sobre Horcruxes e sobre o Lorde das Trevas? – Sua voz soava confusa. Ele estava confuso. Dumbledore parecia que falava em enigmas, soltando frases desconexas que ele não via como fariam sentido.

Dumbledore deu um longo suspiro antes de responder:

– Foram os pais de Isabelle que pesquisaram sobre o segredo das Horcurxes. Eles ajudaram Voldemort a obter o conhecimento necessário para separar um pedaço de sua alma e abrigá-la num antigo diário. E parece que pagaram um alto preço por se envolverem tão profundamente nas Artes das Trevas.

Agora, algumas coisas começavam a fazer sentido para Severo. Por que Isabelle, que sempre fora fascinada pelo assunto, aos poucos tentava convencê-lo a abandonar as Artes das Trevas. O que ela lhe disse sobre não querer vê-lo com o mesmo fim que os pais dela. Ela tinha mais conhecimento sobre o assunto do que ele jamais imaginara.

– Quando a Sra. Malfoy morreu – Dumbledore continuou –, ela confiou apenas em Isabelle para revelar a verdadeira causa da sua doença e da morte do marido alguns anos atrás. Ela fez Isabelle prometer que faria todo o possível para reverter o erro que eles cometeram.

– Uma Dívida de Morte – Severo concluiu. – Então era essa a dívida que ela tinha com a mãe?

– Sim – Dumbledore assentiu. – Os Malfoy desvendaram os segredos de como construir uma Horcrux, mas a Sra. Malfoy jamais conseguiu descobrir uma maneira de destruí-la. Quando percebeu que fim sua devoção a Voldemort a levara, ela jurou vingança. Foi isso que ela pediu para Isabelle quando estava à beira da morte, concentrar todas suas forças para encontrar uma maneira de destruir o que tornava seu antigo mestre imortal, e Isabelle jamais negaria um pedido da mãe.

– Por causa do voto que elas fizeram – Severo acrescentou.

– Porque elas se amavam, como mãe e filha – Dumbledore corrigiu. – Há muito mais sobre uma Dívida de Morte que um simples encantamento. Até os trouxas são capazes de sentir isso.

Severo baixou a cabeça. Amor. Essa forma de magia tão poderosa, segundo Dumbledore, e que o Lorde das Trevas sempre subestimou.

– E Isabelle conseguiu? Ela descobriu como destruir uma Horcrux? – Severo perguntou curioso.

Dumbledore fez um sinal para que ele esperasse, que logo chegaria ao final dos fatos.

– Depois que a mãe dela morreu, ela me procurou assim que as aulas começaram. Ela tinha um fardo difícil de carregar. E ainda tinha que esconder do irmão, um Comensal da Morte, que estava disposta a trair aquele a quem eles sempre foram educados para servir cegamente.  Felizmente, parece que ela tinha a ajuda de um jovem sonserino muito bom em esconder seus pensamentos – Dumbledore acrescentou, um sorriso maroto no rosto.

Severo sentiu o coração apertar. Pela primeira vez sentiu medo de perdê-la. Medo de jamais poder estar ao lado dela, e seria tudo por culpa dele mesmo.

– Foi Isabelle quem me avisou que Voldemort planejava invadir o castelo, embora ela se recusasse a admitir quem eram seus ajudantes – Dumbledore continuou. – Ela sempre acreditou que conseguiria fazer você perceber que estava no caminho errado, que você voltaria para o nosso lado antes que fosse tarde demais.

– E eu sempre estive cego, servindo um mestre que nunca se importou comigo como ela se importava – Severo completou, fechando os olhos para impedir que novas lágrimas escorressem pelo seu rosto.

Dumbledore pousou um braço nos ombros dele, num gesto paternal, e continuou:

– Quando Isabelle se formou, ela aproveitou o costume que algumas família têm de mandarem seus filhos para uma viagem fora do país para poder pesquisar, entre as civilizações mais antigas, uma forma de cumprir o que prometera à sua mãe. Foi um trabalho árduo, mas sim, ela acha que conseguiu descobrir como destruir a Horcrux.

– Acha? – Severo voltou a encarar o Diretor.

– Nós só descobrimos onde Voldemort escondeu a Horcrux ontem. Isabelle a reconheceu num livro que ele deixou aos cuidados de Lúcio Malfoy. Eu a proibi de tentar destruir a Horcrux sozinha. Ela estava grávida, não sabíamos que mal isso poderia causar a ela, ou à criança.

Dumbledore deu mais um longo suspiro, e então, Severo pode testemunhar uma cena que poucos bruxos da sua época foram capazes de testemunhar: Dumbledore estava chorando. Lágrimas discretas, de arrependimento.

– Eu tentei convencê-la a não se arriscar – ele disse, levantando-se do seu lugar, sem conseguir encarar Severo –, mas ela estava decidida. Ela era a única capaz de entrar na câmara, e eu me encantei com a idéia de finalmente darmos um passo em direção à derrota de Voldemort.

Dumbledore parou, esperando uma reação explosiva de Severo, mas ela nunca veio. Severo não se sentia capaz de culpar aquele homem, não depois de tudo o que ele mesmo fizera. Ele entendia Isabelle e a conhecia o suficiente para saber que, uma vez decidida, ela jamais voltaria numa decisão, mesmo se fosse contrariar uma ordem de Dumbledore.

– Eu a proibi de tentar destruir a Horcrux sozinha – o Diretor continuou assim que conseguiu se acalmar. – Ela deveria entregá-la para o Sirius, e então, nós tentaríamos destruí-la. Mas eu não sei o que aconteceu. Não consigo contatar Sirius desde hoje de manhã, e agora, você me aparece com ela nos braços.

– Eu também não sei o que aconteceu exatamente – Severo respondeu. – Quando fomos convocados, o Lorde já estava com ela. Era possível ver que ela já havia sido torturada pela Cruciatus, mas ele não nos deu explicações. Apenas proibiu que os outros fizessem alguma coisa com ela, disse que era um presente. Um presente para mim e para Lúcio.

Ele não conseguiu continuar. Sua garganta apertou de novo e quando percebeu, já estava chorando novamente. A cabeça baixa, encurvado, apoiando os braços entre as pernas, como se esperasse apenas pela sua condenação.

Dumbledore fez menção de caminhar até ele, mas a porta da Ala-Hospitalar abriu-se no mesmo instante, e Madame Pomfrey apareceu no corredor.

– Alvo, Prof. Snape – ela os chamou.

Severo levantou-se num pulo e já estava em frente à medibruxa quando perguntou:

– Isabelle já acordou? Ela está bem?

– Acalme-se, professor – ela respondeu. – A Srta. Malfoy ainda está começando a dar sinais de que vai acordar logo, entretanto, há uma coisa que não entendo.

– Diga, Papoula – Dumbledore juntou-se aos dois.

– Em primeiro lugar – a medibruxa começou –, eu sinto muito professor... hum... Severo. Nós tentamos salvar a criança, mas ela demorou muito para ser atendida. Eu não consigo nem imaginar na quantidade e na força das maldições que ela recebeu para... – ela parou de falar em respeito a Severo e baixou a cabeça.

Severo apenas assentiu. Em algum canto do seu coração, ele sentia-se um tanto culpado por estar mais preocupado com Isabelle que com a perda do seu filho.

– Entretanto – ela continuou –, os feitiços de diagnóstico que lancei nela me dizem que o corpo dela ainda está lutando contra alguma maldição que não consigo identificar. Ela foi atacada pela Cruciatus, não foi?

Os dois homens assentiram silenciosamente.

– Impossível – a medibruxa declarou. – Eu já tratei de bruxos atacados com a Cruciatus antes, os efeitos já deveriam ter passado.

Dumbledore e Madame Pomfrey olharam para Severo especulativamente. Ele hesitou por alguns segundos e, então, confessou:

– Lúcio a atacou com uma série de Cruciatus, e eu não pude fazer nada. A única coisa que consegui pensar para nos tirar dali era – ele hesitou novamente, achando que perderia a voz antes de continuar – fingir que eu a mataria.

O Diretor e a medibruxa olharam estarrecidos para Severo, mas ele continuou:

– Eu fingi lançar uma Maldição da Morte.

– Ela foi atingida por uma Maldição da Morte? – Madame Pomfrey repetiu assombrada, levando as mãos ao rosto. – Como ela sobreviveu?

Mas Severo não respondeu, pois no instante seguinte, eles ouviram um gemido vindo de dentro da Ala-Hospitalar, e Severo saiu correndo para ver Isabelle.

Quando chegou perto da cama onde ela estava, pegou na mão dela e começou a chamá-la desesperadamente. Quando Isabelle finalmente abriu os olhos, ele se acalmou e sorriu para ela.

– Severo? – ela o chamou assim que o reconheceu na sua frente.

– Belle! – ele respondeu aliviado.

Dumbledore e Madame Pomfrey também se aproximaram, e quando viu a medibruxa, Isabelle perguntou atônita:

– Papoula, e o bebê? Como ele está?

Nenhum dos outros três ocupantes da sala teve coragem de responder. Isabelle entendeu o silêncio, e logo lágrimas começaram a brotar em seus olhos. Virando-se para Severo, ela apenas sussurrou:

– Eu sinto muito.

Vendo a aflição de Isabelle, Severo colocou uma mão dela entre as suas e a apertou com firmeza.

– Shhhh. Não foi culpa sua – ele respondeu ternamente. – Dumbledore me contou o que aconteceu, e você fez o que era certo. – Ele inclinou-se e deu-lhe um beijo na testa, depois continuou: – Você tem que descansar agora, para se recuperar.

Enquanto Severo consolava Isabelle, Madame Pomfrey puxou Dumbledore para um lado e disse baixinho, longe dos ouvidos dos outros dois:

– Eu não entendo, Alvo. Como ela pode ter sobrevivido a uma Maldição da Morte?

Dumbledore respondeu com os olhos fixos em Severo:

– Parece que o Sr. Snape andou flertando com as Artes das Trevas, Papoula. Mas eu temo que, desta vez, ele vai ter que pagar um preço alto demais.

– Ela não está bem, Alvo – Papoula continuou. – Eu estou monitorando-a desde que chegou, e ela está cada vez mais fraca. Ela deveria ser mandada para o St. Mungus, eu não tenho condições de tratá-la aqui.

Dumbledore virou o rosto para encará-la seriamente nos olhos quando respondeu:

– E por acaso os Curandeiros do St. Mungus já encontraram um jeito de salvar alguém de uma Maldição da Morte? – Quando a medibruxa baixou a cabeçca sem responder, ele acrescentou pesaroso: – Severo acha que a salvou porque não tinha realmente a intenção de matá-la quando lançou a maldição, mas eu temo que nossa pequena sonserina-lufa-lufa está condenada. E Severo vai aprender da pior forma possível que não se brinca com magias tão poderosas.

Os dois bruxos foram interrompidos por uma batida forte e insistente na janela. Uma coruja branca e robusta estava parada do lado de fora. Papoula correu para abri-la, e o pássaro entrou voando para pousar no braço de Dumbledore, mas não havia nenhum pergaminho preso em sua perna.

– É a coruja dos Potter! – o Diretor exclamou aflito. – Alguma coisa aconteceu.

No mesmo instante, Hagrid e a Profa. McGonagall chegaram na Ala-Hospilar para avisar que todos os alunos já estavam recolhidos em suas respectivas salas comunais e Filch estava de plantão impedindo a aproximação de qualquer um à Ala-Hospitalar. Ao perceber a coruja empoleirada no braço de Dumbledore, Minerva McGonagall levou as mãos à boca, suprimindo um grito de espanto. O Diretor apenas assentiu com a cabeça e fez sinal para que os três bruxos o seguissem até o escritório de Madame Pomfrey, deixando Severo e Isabelle a sós na Ala-Hospitalar.

– Hagrid – Dumbledore o chamou assim que fecou as portas do escritório –, há alguma coisa errada com os Potter. Eu não posso sair da escola agora – continuou, acenando para fora, onde estavam Severo e Isabelle –, quero que você vá até lá e me passe informações pela lareira. Estarei aqui, na Ala-Hospitalar, esperando.

Hagrid assentiu e seguiu direto para a lareira. McGonagall aproximou-se lentamente de Dumbledore, sem coragem de perguntar o que passava em sua cabeça. Entendendo seu gesto, o Diretor comentou:

– Agora nós podemos apenas esperar, Minerva.

*-*-*-*-*-*-*-*

Alheio ao aviso da coruja dos Potter, Severo tinha toda sua atenção voltada para Isabelle. Ele segurava a mão dela firmemente, como se pudesse passar sua força para ela, seu calor para aquela mão fria e fraca. Controlava-se para não chorar junto com ela pela morte prematura do filho, afinal, ele tinha que ser forte por ela, para dar-lhe forças para se recuperar.

– Me perdoe – ela finalmente repetiu com a voz fraca.

Severo levou uma das mãos até o rosto dela e a acariciou levemente.

– Eu amo você, Isabelle. Você não tem que me pedir perdão por nada.

– Eu achei que estava fazendo o melhor para nós três... – ela continuou. Mas então, ciente da sua perda, corrigiu pesarosa: – Dois.

– E você estava certa – Severo apressou-se em dizer, antes que ela começasse a chorar novamente. – Logo você vai se recuperar, e nós poderemos nos casar como planejado e ter nossos filhos longe de toda essa loucura de pureza de sangue. Nós vamos ter uma família linda, você não acha? – ele acrescentou para tentar animá-la.

Isabelle deu um sorriso fraco e virou o rosto para o lado. Após um longo suspiro, ela voltou a olhar para Severo e colocou as duas mãos sobre a dele.

– Você me promete uma coisa? – ela perguntou suplicante.

Entendendo o que Isabelle queria fazer, Severo recuou um pouco com os olhos arregalados, mas sem desvencilhar sua mão das de Isabelle.

– Não! – ele protestou. – Eu sei o que você quer fazer, Isabelle, mas vocÊ não está morrendo. Eu não vou permitir que...

– Por favor – ela interrompeu, usando todas as suas forças para levantar a voz ao mesmo tom de Severo.  – Não deixe que todo esse sofrimento seja em vão. Não me deixe morrer sem ter feito nada para impedir o Lorde das Trevas.

– Você não está morrendo, Isabelle! – Severo quase gritou, como se sua voz conseguisse convencê-lo do contrário que seus olhos testemunhavam. Isabelle estava cada vez mais pálida, e sua mão o segurava fracamente; qualquer um podia perceber a vitalidade esvaindo-se dela.

– Se o Lorde das Trevas tentar matar uma das crianças da profecia – ela continuou ofegante, sem dar ouvidos a Severo –, essa criança será protegida por uma força muito maior que qualquer poder das Trevas. Lílian e Alice sabem o que fazer, mas as crianças precisarão de proteção até serem capazes de cumprir a profecia.

– Belle – Severo a interrompeu entre lágrimas, angustiado com idéia de ela estaria realmente prestes a deixá-lo –, você não tem que se preocupar com isso agora. Eu faço qualquer coisa se você me prometer descansar para poder se recuperar.

Isabelle balançou a cabeça impaciente. Ela sentia que tinha pouco tempo, e seu coração apertava ao ver Severo chorando como uma criança em seu leito.

– Por favor, Severo – ela suplicou. – Prometa-me que, se alguma coisa acontecer com aquelas crianças, você será o guardião delas quando elas estiverem longe da proteção de suas famílias. Por favor, prometa-me apenas isso.

Severo olhou para os olhos cinza que sempre brilhavam perto dele, agora sem vida e cheios de lágrimas. Apenas um a réstia de vida refletia deles, e ele jamais poderia negá-los um último pedido, mesmo que a conscientização da morte próxima fizesse seu coração doer como a pior das maldições.

– Eu prometo, Belle – ele finalmente afirmou entre as lágrimas que não conseguia controlar.

Isabelle fechou os olhos, um leve sorriso formou-se em seu rosto. Severo sentiu a mão dela agarrando a sua com mais força e um fino raio de luz alaranjada pareceu se formar entre os dois. Durou apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para Madame Pomfrey, que acabara de deixar o Diretor e a Profa. McGonagall conversando pela lareira com Hagrid em seu escritório, levar as mãos ao rosto e deixar que uma pequena lágrima também escorresse em seu rosto.

Quando a fina corda de luz esvaeceu, Severo abriu os olhos. Ele ainda sentiu Isabelle agarrando-o com firmeza, e sem saber explicar como, sabia que ela estava deixando-o, até que o aperto cessou de repente.

– Não! – ele gritou desesperado.

Sua voz era um eco forte de dor e frustração, que invadiu a Ala-Hospitalar, chamando a atenção de Dumbledore e McGonagall. Quando os dois professores saíram abalados do escritório, Madame Pomfrey já tentava chegar perto do corpo de Isabelle, mas Severo estava agarrado a ela e não deixava a medibruxa se aproximar.

– Não! – ele gritava para ninguém em especial. – Ela não está morta! Não pode estar morta! Eu ainda posso salvá-la. Ela não está morta, não está. – Severo começou a dizer, repetindo-se a cada instante, como se a repetição de suas palavras fosse capaz de fazer Isabelle voltar à vida.

Dumbledore caminhou devagar até ele e o segurou pelos ombros, fazendo-o se afastar de Isabelle aos poucos.

– Eu sei como dói, Severo – ele tentou consolá-lo –, mas você não pode fazer mais nada.

Severo virou-se para encarar Dumbledore, um brilho de esperança cruzou seus olhos negros.

– Há uma poção – ele disse esperançoso. – Eu posso prepará-la aqui mesmo em Hogwarts, e...

– Basta, Severo! – o Diretor o interrompeu antes que ele pudesse terminar de explicar seu plano. – Eu jamais permitirei o uso das Artes das Trevas na minha escola! O que você pretende com isso? Trazer apenas uma sombra da antiga Isabelle apenas para seu prazer? Fazê-la sofrer eternamente entre a vida e a morte?

Severo não respondeu prontamente. Seu olhar era perdido, e ele não sabia o que fazer. Sua vida foi movida pela necessidade de estar com Isabelle, o que ele faria agora que não existia mais nenhuma Isabelle para amar? Ele queria sua vida de volta, seu casamento, seu filho ainda por nascer. Ele queria a respeitosa família que habitaria na antiga Mansão Prince, que seria então chamada de Mansão Snape, e sua posição de respeito ao lado do Lorde das Trevas. Ele sempre desejara as coisas erradas, e agora, até mesmo seus sonhos o abandonaram.

– Eu não vou conseguir viver sem ela – ele respondeu finalmente, encarando os olhos azuis cintilantes por trás dos óclinhos de meia-lua.

– Vai ser difícil, Severo. Eu sei – respondeu Dumbledore. – Mas ela se foi, e você terá que aprender a conviver com isso.

– Eu a matei, Dumbledore! – ele finalmente teve coragem de confessar. – Eu estava tão cego, que a matei pensando que a salvaria. Eu mereço estar em Azkaban.

– Nós veremos o que fazer com você mais tarde – Dumbledore respondeu. – Em breve, bruxos de toda a Inglaterra estarão comemorando. Parece que Voldemort desapareceu quando tentou matar o jovem Harry Potter.

– O quê? – Severo levantou os olhos curioso.

– Miraculosamente, o garoto sobreviveu, embora não posso dizer o mesmo de Lílian e Tiago. E misteriosamente, Voldemort parece ter sido derrotado.

Para confirmar as palavras do Diretor, fogos de artifício eram ouvidos ao longe, provavelmente vindos de Hogsmeade. Severo baixou novamente a cabeça e voltou a velar Isabelle. Ele percebeu que Dumbledore dera instruções à Profa. McGonagall para se juntar a Hagrid e cuidar do paradeiro do Garoto-Que-Sobrevieu, antes que todo o mundo bruxo o descobrisse, enquanto ele entraria em contato com a família trouxa de Lílian.

Em pouco tempo, uma revoada de corujas chegava ao castelo. Os alunos eram avisados por seus pais da derrota de Voldemort, e foi impossível controlar a empolgação e as comemorações nas salas comunais. O castelo inteiro estava em festa, exceto a Ala-Hospitalar. Lá, apenas um homem velava o corpo de uma jovem mulher em silêncio, chorando baixinho, enquanto foguetes coloridos brilhavam no céu de Hogwarts.


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Notas finais do capítulo

A seguir: Epílogo.



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