Sombras do Passado escrita por BastetAzazis


Capítulo 15
Hogwarts em Guerra


Notas iniciais do capítulo

Hogwarts está em guerra... ou, como a brincadeira dos Marotos teve conseqüências ainda mais sérias que as imaginadas...



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Capítulo 5: A Vassoura Pinoteante

Sombras do Passado

escrito por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Surviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 15: Hogwarts em guerra

O sexto ano em Hogwarts começou muito bem para alguns grifinórios. No final do semestre passado, Pedro Pettigrew finalmente anunciara para os amigos que conseguira se transformar em um animal: um pequeno rato, mas já era o suficiente para os quatro amigos iniciarem suas aventuras. Tiago e Sirius já eram capazes de se transformarem num cervo e num cão há algum tempo, mas nunca acompanharam Remo nas noites de lua cheia porque Pedro ainda não era um animago. E quando Pedro, agora Rabicho, finalmente conseguira se transformar, já estavam às vésperas das provas dos N.O.M.s e mais nenhuma noite de lua cheia estava prevista antes de voltarem para casa. Agora que estavam de volta à Hogwarts, Pontas, Almofadinhas, Aluado e Rabicho apenas esperavam pela primeira lua cheia para seguir para Hogsmeade pela passagem secreta abaixo do Salgueiro Lutador e começarem suas aventuras. Mas Remo ainda tinha mais um motivo para comemorar: além de não precisar mais ficar mais isolado dos seus amigos nas noites em que virava um lobisomem, seu distintivo de monitor pregado em suas vestes mostrava que ele não era assim tão diferente dos outros alunos, e que o Prof. Dumbledore realmente confiava nele.

Lílian Evans também fora escolhida como a monitora da Grifinória, enquanto seu amigo Diggory era agora o novo monitor da Lufa-lufa. Ela ficou muito feliz com a notícia, e os deveres comuns de monitores fizeram com que os dois ficassem ainda mais próximos, para o total pesar de Tiago Potter, que não acreditava que a garota que ele considerava a mais linda de Hogwarts, e sua companheira de Casa, preferia passar seu tempo com um sem-graça da Lufa-lufa.

Alheios ao que acontecia na sua Casa rival, os sonserinos também tinham algumas novidades em sua própria Casa. Agora que Isabelle não estava mais com o Black, ela voltou a ocupar sua posição inerente de liderança e respeito entre os demais colegas. A distinção e a nobreza dos Malfoy só fora aumentada com a presença do distintivo de monitora em suas vestes.

O mesmo distintivo, sempre presente, também dava a Severo uma sensação confortável de aceitação. Se algum sonserino ainda duvidava do seu valor por ser um mestiço, aquela era a prova que ele era o melhor bruxo da Sonserina da sua idade. Agora, com os deveres de monitor, sua amizade com Isabelle logo voltaria a ser o que era antes daquele beijo desastroso. Ele sentia que havia se livrado daquela obsessão doentia, e os dois podiam ser simplesmente amigos. Afinal, a melhor coisa de estar sempre ao lado dela novamente era apreciar o olhar de ódio do Black para ele quando percebia o total desprezo da ex-namorada.

Como estavam começando seus cursos para os N.I.E.M.s, o primeiro compromisso dos alunos do sexto ano era com seus diretores de Casa. No ano anterior, eles receberam vários folhetos e tiveram algumas reuniões de aconselhamento vocacional para ajudar a decidirem que carreira seguiriam ao terminarem seus estudos em Hogwarts. Naquela época, o Prof. Slughorn insistira muito com Severo sobre um aprofundamento no estudo de Poções, dado seu excelente desempenho em suas aulas. Severo apenas assentiu levemente, não queria revelar ao seu diretor de Casa que já estava decidido a se tornar um Comensal da Morte e aprofundar seus estudos em temas que jamais conseguiria se seguisse uma educação formal. Agora, ele esperava com os demais sonserinos a sua vez de mostrar os resultados dos N.O.M.s ao Slughorn para que, juntos, pudessem montar sua nova carga horária.

– Muito bom, Sr. Snape – o Prof. Slughorn disse com um sorriso orgulhoso no rosto depois de analisar as notas dos N.O.M.s do Severo. – Com estas notas, você está liberado para continuar com as matérias que quiser, embora eu sugira que você deixe um espaço para dedicar mais tempo a Poções. Eu ficaria muito feliz se você continuasse a assistir minhas aulas.

– Eu gosto de Defesa Contra as Artes das Trevas também, professor – ele respondeu.

– Perfeito! – Slughorn exclamou. – E você deve continuar com Herbologia e Feitiços também. Se você repetir estas notas nos N.I.E.M.s, não terá problemas em encontrar um Mestre em Poções que o aceite como pupilo.

– Mas eu ainda não sei se vou querer continuar estudando Poções quando sair de Hogwarts – Severo argumentou.

– Pois eu acho que deveria, meu caro. Veja a Srta. Malfoy, por exemplo. Eu tenho certeza que ela jamais conseguiria um Ótimo em Poções, não fosse a sua ajuda. Você tem um talento nato, meu rapaz! Não deveria desperdiçá-lo.

Severo partiu para sua primeira aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, que, como sempre, tinha um novo professor, pensando nas palavras incentivadoras do Prof. Slughorn. Realmente, ele tinha uma grande facilidade com Poções e não podia sair por aí dizendo que pretendia se aliar ao Lorde das Trevas quando terminasse seus estudos. Assim, foi amadurecendo a idéia de se tornar um Mestre em Poções, nem que fosse apenas para servir de fachada para seu aprofundamento sobre as Artes das Trevas.

*-*-*-*-*-*-*-*

As primeiras semanas de aula foram tão tranqüilas naquele ano que nem mesmo Dumbledore imaginava que a mesma guerra que acontecia fora de Hogwarts estava prestes a se repetir dentro da escola. Severo, por outro lado, deveria ter imaginado, quando encontrou com Isabelle no Caldeirão Furado, que a amiga já tinha planos contra seus inimigos grifinórios. Entretanto, só voltou a pensar nisso quando o campeonato de Quadribol começou. O jogo de abertura foi Sonserina contra Grifinória; um jogo difícil, com as duas torcidas agitadas na arquibancada, urrando cada vez que seu time marcava um gol ou fazia alguma outra jogada emocionante. Tiago Potter, como sempre, era o artilheiro que mais marcava pontos para a Grifinória, fazendo jus ao prêmio recebido no ano anterior. Isabelle continuava na sua posição como batedora da Sonserina e, neste jogo em particular, parecia decidida a desviar todos os balaços apenas na direção de Tiago.

Já estavam jogando há mais de uma hora, as duas Casas empatadas, quando o pomo de ouro foi avistado pelos dois apanhadores. Isabelle, que já havia se certificado que irritara Potter o suficiente, percebeu que o apanhador da Grifinória estava prestes a agarrar o pomo. Olhou em volta e, aproveitando que todos observavam o apanhador da Grifinória e que o Potter era o único perto do seu campo de ação, murmurou um pequeno feitiço para confundir o apanhador, e o pomo conseguiu escapar. Ninguém, no campo ou na torcida, percebeu a ponta discreta da varinha dela brilhando fracamente sob as mangas do seu uniforme. Ninguém, a não ser quem ela queria que visse: Tiago Potter. Indignado com o jogo sujo da Sonserina desde o início da partida e com a forma com que eles sempre saíam impunes, Tiago voou na direção de Isabelle, empurrando-a com sua vassoura, e os dois acabaram caindo no chão antes que Madame Hooch pudesse fazer alguma coisa.

– Sai de cima de mim, Potter! – Isabelle gritou enquanto se levantava do chão. – Qual o seu problema? Não sabe perder?

– Eu vi o que você fez, Malfoy – ele respondeu, também se levantando.

Ela se aproximou ainda mais e cochichou no ouvido dele:

– E você tem como provar, Potter?

Ainda furioso com ela, Tiago teve que se segurar para conter o impulso de estrangulá-la na frente de toda a escola. Felizmente, Madame Hooch já tinha apitado o final do jogo, uma vez que o apanhador da Sonserina conseguira agarrar o pomo de ouro, e em pouco tempo, os dois já estavam rodeados pelos seus amigos da Grifinória e da Sonserina.

– Potter! – Madame Hooch esbaforiu assim que chegou perto deles. – O que foi aquilo? Outro comportamento como este em campo, e eu o proíbo de subir numa vassoura de novo enquanto estiver em Hogwarts. – E virando-se para Isabelle, acrescentou brandamente:

– Você está bem, querida?

– Sim, Madame Hooch. Obrigada. Mas não acredito que qualquer jogador de quadribol esteja seguro com o Potter em campo – ela respondeu com uma voz doce, mas com um olhar penetrante para o Potter.

– Não se preocupe, querida. Eu tenho certeza que o Sr. Potter saberá se comportar melhor depois de uma semana de detenção. – Dizendo isso, Madame Hooch se retirou, deixando para trás um grupo de sonserinos e grifinórios prestes a se atacarem.

– Eu vi o que você fez, Malfoy – Tiago repetiu. – Você ainda vai pagar por isso.

– O que você vai fazer, Potter? – ela o desafiou. – Usar aquele seu truquezinho fora de moda de novo? – Tiago estreitou os olhos, tentando conter a raiva, mas ela continuou, gesticulando para os demais sonserinos atrás dela. – Ah, claro! Você é tão covarde que só ataca quando está em maior número.

Tiago apontou sua varinha para Isabelle, mas foi Sirius quem respondeu à provocação:

– Covarde é o seu amiguinho Ranhoso, que precisa de uma garota para se defender.

Furioso e ainda humilhado com a brincadeira do final do semestre passado, Severo cruzou o espaço que o separava de Sirius e sibilou vagarosamente:

– Não-me-chame-de-covarde. – Sua varinha apontada diretamente para o Black.

A voz de Isabelle cortou o silêncio trazido pela tensão entre os dois grupos:

– Quem mexe com um sonserino, mexe com todos, Black. Vocês nos declararam guerra, agora agüentem as conseqüências.

Ninguém respondeu. Régulo foi até Severo, segurando-o pelo braço para alertá-lo da aproximação de Filch. Ele escondeu sua varinha sob as vestes, e o grupo de sonserinos seguiu, juntos e silenciosos, para as masmorras, deixando os quatro grifinórios sozinhos no campo de quadribol; Sirius ainda confuso com a maneira impessoal com que Isabelle se dirigira a ele.

Na sala comunal da Sonserina, os demais alunos já estavam comemorando a vitória na partida quando Isabelle chegou junto com seus amigos. Quando se acomodaram num canto mais sossegado, Evan finalmente perguntou:

– O que você fez para deixar o Potter daquele jeito?

– Simplesmente o que vocês já deveriam ter feito antes das férias – ela respondeu. – Como vocês esperam servir ao Lorde das Trevas se agem como uns bananas?

– Do que você está falando, Isabelle? – Roberto perguntou.

– Estou falando do que o Potter e aqueles amiguinhos inseparáveis da Grifinória fizeram com o Severo. Eles não podem ficar pensando que podem brincar com a gente e ainda saírem impunes. Aquilo foi uma declaração de guerra! E nós vamos mostrar que ninguém mexe com a Sonserina.

Severo, que até então não falara nada e não tinha certeza se seus amigos sabiam da sua humilhação, aproximou-se de Isabelle e falou com uma voz calma e fria:

– Eu não pedi para você iniciar uma guerra por minha causa. Obrigado por me fazer parecer um fraco. – E se retirou em direção ao seu quarto.

Isabelle o seguiu, fazendo-o parar no meio da sala comunal segurando-o pelo braço.

– Eu não quis dizer isso – ela começou com a voz alterada; alguns alunos já deixando de lado as comemorações para observar o que estava acontecendo. – A Sonserina sempre foi a Casa mais forte de Hogwarts, e nós não podemos deixar aqueles amantes de trouxas pensarem que podem fazer o querem aqui. Nós temos que mostrar que ainda somos mais fortes que eles!

Severo a observou de cima a baixo, ainda sentindo-se humilhado por estar sendo defendido não apenas por uma garota, mas por Isabelle - a garota que o fizera motivo de chacota entre seus próprios amigos.

– Se é isso mesmo o que você pensa – ele respondeu depois de um momento de silêncio –, não deveria ter passado o último ano se esfregando com um deles.

Isabelle olhou para ele assustada e ofendida pelo comentário. Sua única reação foi levantar o braço para acertar-lhe um tapa no rosto. Mas Severo tinha os reflexos mais rápidos e interrompeu o gesto segurando o punho dela.

– Faça isso – ele disse na sua voz fria, tentando controlar a raiva que aquele gesto lhe trazia, que o impedia de controlar a força com que apertava o pulso de Isabelle – e nunca mais vai precisar se incomodar em falar comigo.

– Me larga, Severo! – Ela não se atreveria a chamá-lo de Mestiço, não com a fúria que lia nos olhos dele. – Você está me machucando!

Quando finalmente viu a expressão assustada de Isabelle, as lágrimas prestes a brotar nos olhos dela, foi como se ele tivesse acabado de acordar de uma espécie de transe. Soltou o braço dela lentamente, e ela correu para o quarto, fazendo-o sentir-se um canalha ainda pior que Sirius Black.

Olhando em volta, os alunos desviavam olhares e fingiam estarem alheios ao que acontecera. Severo voltou até a mesa onde estavam seus amigos e sentou-se quieto. Evan o observava, orgulhoso por ver que seu plano para fazer o amigo esquecer Isabelle realmente funcionara.

Era realmente muito bom não precisar mais dividir sua amiga com o Black, mas às vezes Isabelle o tirava do sério. Enquanto ele queria esquecer a humilhação que sofrera por causa dos ciúmes do Potter, ela insistia em relembrá-lo, contando para todos os seus amigos e iniciando sua guerrinha. Ele queria vingança sim, mas não desse jeito, parecendo um coitadinho que precisa da ajuda dos amigos valentões para resolver seus problemas. Ele não era como o Potter. Era um bruxo das trevas e, um dia, seria tão temido quanto o próprio Lorde das Trevas.

Eles não se falaram pelo resto do final de semana. Na segunda-feira, entretanto, Severo levantou da mesa da Sonserina com um suspiro ao terminar seu café da manhã. A primeira aula do dia era Poções, e ele teria que continuar o projeto da semana passada com sua parceira: Isabelle.

Quando entrou na sala, encontrou-a no lugar de sempre, já começando a preparar os ingredientes que usariam aquele dia. Aproximou-se dela silenciosamente, observando-a picar as raízes de acônito uniformemente como ele lhe explicara na última aula, orgulhoso ao relembrar as palavras do Prof. Slughorn. Realmente, Isabelle melhorara bastante seu desempenho em Poções desde que a ajudara pela primeira vez, com a poção para curar furúnculos. Ele queria dizer isso em voz alta, mas para tanto, deveria primeiro começar a falar com ela. Ocupando o seu lugar na bancada, começou:

– Desculpe-me por aquele dia. Eu realmente não tinha o direito de dizer aquilo.

Isabelle levantou os olhos para ele, mas não disse nada. Então Severo continuou:

– Acho que eu precisava dizer que senti sua falta no ano passado, e acabou saindo da pior maneira possível.

Ela deu um sorriso torto e então respondeu:

– Acho que eu é que fui uma idiota no ano passado. Você tinha todo o direito de ficar bravo comigo. Mas aquilo que você disse foi horrível, como se eu fosse uma vadia sangue ruim qualquer...

Severo levou a mão até os lábios de Isabelle, impedindo-a de continuar. Não queria imaginar uma comparação entre a amiga e a falsa Isabelle que conhecera nas férias.

– Vamos esquecer isso – ele disse apenas. Quando baixou o braço, seus rostos estavam tão próximos que ele imaginou ver Isabelle pronta para beijá-lo. Ele ficou imóvel, ainda refletindo se deveria ou não seguir em frente, recomeçar o mesmo tormento do ano passado. A entrada de um grupo de alunos da Lufa-lufa e da Corvinal foi o sinal de que era melhor deixar as coisas como estavam, e quando Isabelle abriu os olhos, encontrou Severo buscando rapidamente pelo caldeirão, preparando-o para a aula.

*-*-*-*-*-*-*-*

Nas semanas seguintes, embora ainda desconfortável com o fato de ser o pivô da guerrinha travada entre Isabelle e Potter, Severo foi obrigado a admitir que a amiga mostrava ser uma excelente estrategista. Em pouco tempo ela convenceu os demais sonserinos, e até alguns alunos de outras Casas, que fora o Potter quem a atacara primeiro, e que ele e seus amigos estavam se tornando os maiores encrenqueiros da escola, precisando ser impedidos antes de começarem atacar outros alunos pelo simples motivo de estarem em seus caminhos. Logo, a repulsa inerente entre grifinórios e sonserinos tornou-se um ódio mortal, e muitos professores começaram a sentir dificuldades em suas aulas, principalmente as que envolviam manter alunos das duas Casas na mesma sala. Com o Diretor Dumbledore cada vez mais envolvido com os acontecimentos de fora dos muros do castelo, os alunos pareciam sentir uma liberdade ainda maior para lançar feitiços e azarações em qualquer colega desavisado, e as inúmeras detenções, e até algumas ameaças de expulsão vindas da Vice-Diretora ou dos demais professores, pareciam não estar mais surtindo nenhum efeito.

Com a chegada do Natal e a partida da maioria dos alunos para suas casas, esperava-se que a guerra iniciada em Hogwarts logo fosse esquecida. Infelizmente para os Black, não foi isso o que aconteceu. No auge dos seus dezesseis anos, Sirius Black finalmente presenteou os pais com um longo discurso sobre o quanto as idéias deles sobre a pureza de sangue o repugnavam e em como ele estava feliz por não pertencer à Sonserina e, ainda, que se a família se incomodava tanto por ter um filho na Grifinória, ele sairia de casa com prazer e não se incomodava de ser riscado da árvore da família. Seus pais achavam que aquilo era mais uma explosão de hormônios do filho adolescente, enciumado com a preferência deles pelo filho mais novo - um verdadeiro sonserino - que se destacara ainda mais na família por estar diretamente envolvido com os eventos do último semestre na escola.  Apenas quando viram Sirius de volta na sala, com seu malão e dirigindo-se à lareira, é que perceberam que ele realmente estava falando sério. Ao Sr. e Sra. Black restava apenas apagar o nome do seu primogênito da enorme tapeçaria que enfeitava a sala com o desenho da árvore da família, onde via-se alguns outros nomes borrados também. Sirius seguiu diretamente para a casa dos Potter, onde fora recebido como um filho, e nunca mais voltou a falar com seus pais.

*-*-*-*-*-*-*-*

Outra grande notícia surgiu para os alunos do sexto ano logo na primeira semana do novo semestre; aulas de Aparatação. Em breve eles estariam completando dezessete anos, atingindo a maioridade e prontos para receberem a licença do Departamento de Transportes Mágicos para aparatarem livremente, podendo se locomover sem a necessidade de vassouras, chaves de portal ou lareiras. As aulas começaram na primeira manhã de sábado de fevereiro, e uma vez que Hogwarts era protegida magicamente contra Aparatação, os alunos dirigiam-se aos jardins, ou ao Salão Principal nos dias mais chuvosos, onde o Prof. Dumbledore removia temporariamente as proteções mágicas.

Infelizmente, a Aparatação mostrou-se ser mais complicada do que parecia quando os bruxos mais experientes sumiam ou apareciam tão facilmente de algum lugar. Foram necessários alguns meses de aulas até que os primeiros alunos começassem a surgir no lugar pré-determinado sem nenhum grande incidente. No final do semestre, os alunos que já estavam na maioridade fariam seu primeiro teste para conseguir a permissão para aparatarem fora de Hogwarts, e muitos já estavam ficando nervosos conforme o tempo passava e pouco progresso era alcançado. Foi numa dessas nervosas tardes de aula de Aparatação que mais uma batalha entre a Grifinória e a Sonserina fora travada, resultando em sérias conseqüências.

Começou quando Severo percebeu que Tiago desistira totalmente de tentar aparatar mais uma vez para observar Lílian e Carlos mais a frente. Os monitores da Grifinória e da Lufa-lufa, talvez inspirados pelo início da primavera, agora desfilavam por todo o castelo nas horas vagas de mãos dadas, tornando-se o casal mais comentado da escola. Severo não perderia a oportunidade de importunar seu maior inimigo e, percebendo que o instrutor enviado do Ministério da Magia, o Prof. Wilkie Twycross, estava distraído com os alunos mais a frente deles, chegou pelas costas de Potter e sussurrou no ouvido dele:

– Eu já disse, Potter. Ela nunca vai olhar para um jogadorzinho qualquer. É melhor você começar a virar um bruxo de verdade em vez de ficar fazendo piruetas numa vassoura.

Potter virou-se bruscamente para trás, dando um empurrão em Severo.

– Cala a boca, Snape! – falou num tom mais alto, mas sem gritar. – Eu aposto que você morre de inveja do meu talento no quadribol.

Severo riu.

– Talento? Quem se importa com um joguinho tolo com tudo o que está acontecendo lá fora? Aposto que você não sobreviveria a um duelo contra um sonserino, nem se fosse um do primeiro ano.

– Você está me desafiando, Snape? – Tiago perguntou sacando sua varinha.

– Estaria, Potter – Severo respondeu, também trazendo sua varinha em mãos –, se não soubesse que você não tem coragem para travar um duelo comigo sem a ajuda dos seus amiguinhos.

– Experimente – Tiago respondeu estreitando os olhos.

Em questão de segundos, os dois já estavam em posição de duelo, com suas varinhas apontadas um para o outro. Tiago atacou primeiro, mas Severo vestia o cachecol que ganhara do seu avô no primeiro ano em Hogwarts, o que lhe garantia que jamais seria atingido por qualquer azaração do Potter. Rapidamente, ele lançou uma azaração que, como esperava, fora repelida pelo Potter e, aproveitando essa distração, lançou:

Speliarmus!

Apenas quando a varinha de Tiago caiu no chão foi que os demais alunos em volta deles, concentrados nos três Ds da Aparatação (Destinação, Determinação e Deliberação), perceberam o duelo. Sirius, Remo e Pedro correram para ajudar Tiago, enquanto Isabelle, Paulo e Roberto correram na direção de Severo. Outra enxurrada de azarações estava prestes a ocorrer quando o Prof. Slughorn e a Prof. McGonagall finalmente interromperam a aula, caminhando em direção aos alunos para repreendê-los. Entretanto, como os dois professores olhavam fixamente para o grupo de encrenqueiros, não perceberam a presença de Evan, escondido atrás de um dos biombos usados na aula. Ele aproveitou sua posição para lançar silenciosamente uma azaração que viria por trás dos quatro grifinórios. A única coisa que o Prof. Slughorn viu antes de repeli-la foi um raio colorido vindo da direção onde Sirius e Pedro estavam parados.

– Basta! – o Prof. Slughorn vociferou como nenhum aluno jamais testemunhara antes. – Já está na hora de acabar com esta briga de vocês.

Ainda mais assustadora que a cara do diretor da Sonserina era a expressão da Vice-Diretora e diretora da Grifinória.

– Eu quero todos vocês na sala do Diretor, agora! E vocês terão sorte se saírem de lá ainda carregando suas varinhas!

A turma inteira caiu num profundo silêncio enquanto os oito alunos envolvidos na confusão se dirigiam para o castelo. Quando entraram, a Profa. McGonagall acenou para que a seguissem até a sala dela, pois o Diretor ainda não havia voltado do último chamado do Ministério. Depois de uma hora de sermão da Vice-Diretora, os oito saíram com a sentença de um mês de detenções, todos os dias, juntos, até aprenderem a conviverem civilizadamente. E claro, menos cem pontos para cada Casa.

No dia seguinte, o Prof. Slughorn já os esperava em sua sala para tomar conta de quatro furiosos sonserinos, sentados à frente de quatro igualmente bravos grifinórios, para escreverem frases. À primeira vista parecia um castigo muito simples para os principais responsáveis pelo pesado clima de guerra que se instalara na escola desde o início do ano letivo. Na verdade, consistia em obrigar a manter os dois grupos inimigos na mesma sala e usando penas enfeitiçadas para espetar seus usuários caso eles insultassem de alguma forma seus colegas da outra Casa.

Sirius estava sentado bem em frente à Isabelle e, assim que percebeu que o Prof. Slughorn estava quase adormecido enquanto fingia ler um livro em sua mesa, começou a provocá-la:

– Um mês inteiro me vendo à sua frente todos os dias, e eu tenho certeza que você vai querer sair comigo de novo.

Isabelle levantou os olhos vagarosamente, segurando o impulso de mandá-lo calar a boca, até que finalmente respondeu:

– Por favor, Sirius. Eu ficaria extremamente grata se você não ficar me lembrando o quanto eu fui estúpida no ano passado.

Sirius deu uma risada debochada.

– Que pena! A maioria das garotas daqui morreriam para estar no seu lugar.

– Então faça bom proveito delas! – ela respondeu, voltando para seu pergaminho e suas frases.

Sirius abriu a boca para responder, mas ficou sem palavras. Olhou para os amigos e viu que eles se seguravam para não rirem dele. Depois de algum tempo, insistiu mais uma vez:

– Vamos, Isabelle. Você pode falar a verdade agora. Você começou tudo isso porque não consegue ficar longe de mim.

Isabelle levantou os olhos novamente, sem acreditar no que estava ouvindo, mas não disse nada. Sirius continuou:

– Tudo bem – começou desdenhoso –, eu entendo. E eu prometo que você terá um dia inesquecível em Hogsmeade se topar sair comigo no próximo sábado.

– Chega, Sirius! – Isabelle finalmente perdera a paciência. – Eu jamais vou sair com você de novo. Eu nunca me sujaria com um traidor de sangue como você. Ai! – ela gritou assim que sua pena a espetara enquanto falava com Sirius.

Tiago cumprimentou Sirius com o olhar, e o último comentou:

– Eu disse que seria o primeiro a fazer um deles gritar.

Sirius e Tiago riram abertamente enquanto Remo apenas sorria divertidamente. Por outro lado, Pedro era o único grifinório que parecia não ter gostado da brincadeira.

Isabelle, furiosa, levantou e foi até a mesa do Prof. Slughorn.

– Eu me recuso a permanecer mais um minuto nesta sala cheia de garotos infantis!

Mas o Chefe da Sonserina não pareceu nem um pouco intimidado com o tom de ordem da sua aluna. Simplesmente levantou os olhos do livro que estava lendo e anunciou:

– Srta. Malfoy, quando indiquei seu nome para monitora da Sonserina, eu imaginei que você fosse uma aluna esperta, dedicada e, acima de tudo, responsável. Mas parece que é justamente o contrário. Agora volte ao seu lugar e cumpra sua detenção como todos os outros, ou serei obrigado a retirá-la da posição de monitora.

Sem palavras, Isabelle voltou silenciosamente e ainda mais furiosa para seu lugar, mas recusou-se a continuar escrevendo frases. Ficou observando o curioso relógio acima da lareira que marcava diversos compromissos como "aulas", "almoço", "jantar" e "detenção". Quando o ponteiro que marcava "detenção" estava quase chegando ao limite que marcava "rondas", Isabelle devolveu a provocação de Sirius:

– Sabe o que eu acho? – Ele levantou os olhos para encará-la. – Que é você quem ainda não se conformou que eu não quero mais nada com você.

Sirius não disse nada. No mesmo instante, o Prof. Slughorn anunciou o fim da detenção por aquela noite, dispensando-os. Enquanto todos levantavam, Isabelle e Sirius continuavam sentados, se encarando, até que ela disse:

– Mas eu tenho um jeito muito melhor de irritá-lo, sem precisar recorrer a essas detenções ridículas. – E dizendo isso, levantou-se e puxou Severo pelo braço, beijando-o demoradamente na frente de Sirius.

Ela afastou-se de Severo e, depois de um longo e triunfante olhar para Sirius, deixou a sala. Severo permaneceu parado sem entender o que acabara de acontecer, enquanto Sirius o observava com um olhar fulminante. Quando percebeu que apenas ele, Black e Pettigrew continuavam na sala, dirigiu-se para a porta e ouviu os dois amigos conversando em voz baixa:

– Vamos, Pedro. Eu tenho um plano para nos livrarmos da Isabelle para sempre!

Severo estacou ao ouvir aquilo e olhou para trás; Sirius e Pedro pararam de falar assim que ele se virou, e a única coisa que Severo viu foi os dois amigos rindo um para o outro.

No dia seguinte, Severo ainda estava inquieto com o que ouvira na noite anterior. Passou o domingo inteiro espionando os quatro grifinórios, tentando descobrir o que eles estariam aprontando. Entretanto, não percebeu que Sirius e Pedro não se incomodavam nem um pouco em vê-lo se esgueirando atrás deles durante toda a tarde. No final do dia, escondido atrás de uma árvore perto do lago, Severo finalmente conseguiu entender o plano dos dois. O Black mandaria um recado para ela, para atraí-la até o Salgueiro Lutador. Assim que chegasse lá, eles entrariam por um esconderijo e a deixariam sozinha na Floresta Proibida a mercê do Salgueiro.

Quando ouviu isso, ficou paralisado com a frieza do Black. Os dois foram atacados pelo Salgueiro Lutador no primeiro ano; ele sabia como aquilo podia ser perigoso. Isabelle jamais desconfiaria que o Salgueiro podia ser controlado e correria o risco de sair muito mais machucada que o Black daquela vez. Ele não podia deixar que ela fosse enganada pelo Black, tinha que fazer alguma coisa.

Saiu correndo em direção ao castelo, sem perceber que deixara para trás os dois grifinórios o observando, rindo e se cumprimentando.


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Notas finais do capítulo

A seguir: Severo persegue Lupin em noite de Lua Cheia...



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