Sombras do Passado escrita por BastetAzazis


Capítulo 16
Garotos, Cães e Lobos


Notas iniciais do capítulo

Severo cai na cilada armada pelo Sirius e acaba perseguindo Lupin em noite de lua cheia...



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Capítulo 5: A Vassoura Pinoteante

Sombras do Passado

escrito por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Suviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 16: Garotos, Cães e Lobos

Severo entrou correndo nas masmorras procurando por Isabelle. Procurou-a na sala comunal da Sonserina, mas ela não estava lá. Subiu novamente até a biblioteca, mas também não a encontrou. A cada minuto ficava mais nervoso, precisava encontrá-la o mais rápido possível para alertá-la do plano dos grifinórios. Em menos de meia hora, quase todo o castelo já sabia que Severo Snape a procurava desesperadamente, até que finalmente ele sentiu alguém puxando-o pelo braço e, ao se virar, encontrou a figura aflita da sua amiga.

– Severo? Algum problema?

Ele a agarrou pelo braço e foi conduzindo-a de volta para as masmorras, Isabelle apenas se deixando levar, sem saber o que estava acontecendo e a cada minuto mais assustada. Apenas quando já estavam na sala comunal foi que Severo contou tudo o que sabia para ela, certificando-se que mais ninguém os ouvia.

– E você acha que eu cairia na conversa do Sirius? Eu não sou tão ingênua – ela respondeu depois que ouviu tudo que Severo lhe contou.

– Você já caiu antes – ele argumentou. Depois de todo o esforço que tivera para alertá-la, não acreditou que Isabelle fez pouco caso da sua história.

Isabelle ficou indignada com o que ouvira. Ela e Sirius já haviam terminado há tanto tempo, e Severo ainda parecia ter ciúmes. E o que mais a indignava era o fato dele simplesmente ignorar suas tentativas de se aproximar mais dele durante o último ano, como quando fizeram as pazes no início do semestre passado. Por que ele mantinha uma certa distância dela e ao mesmo tempo fazia uma cena de ciúmes como essa? Estava tentando puni-la por tudo que ela lhe dissera e fizera? Se era isso, não podia culpá-lo.

– Eu não acredito que você inventou tudo isso. Por quê? Eu não tenho mais nada com o Sirius – ela replicou, aumentando o tom de voz.

– Eu não estou inventando. Se você não acredita em mim, ótimo! – Severo respondeu no mesmo tom de voz. – Mas nunca mais me use nos joguinhos entre vocês dois!

Ao contrário do que esperava, Isabelle não gritou com ele, nem saiu correndo para se enfiar no quarto. Ela o encarou por alguns instantes, e ele sustentou o olhar dela. Os dois travavam uma guerra silenciosa até que ela deu um passo à frente e, passando um braço pelas suas costas, o puxou de encontro a ela até que seus lábios se encostassem.

Era a segunda vez em dois dias que Isabelle o beijava daquele jeito, mas desta vez, eles não tinham Sirius como platéia. Ele já estava ficando farto de tentar descobrir alguma razão nas atitudes dela e não queria se deixar envolver pelos joguinhos dela para depois ter que ouvir que havia entendido tudo errado. Agarrou os ombros dela e a afastou. Indignada, Isabelle seguiu para a porta secreta da sala comunal sem dizer uma palavra. Apenas quando já estava prestes a sair para as masmorras, voltou-se para ele e disse:

 – Isso não foi um joguinho. Mas parece que é você quem ainda não se esqueceu do Sirius! – E desapareceu assim que a porta se fechou.

Severo ficou sozinho na sala comunal, uma vez que já era hora do jantar e todos os alunos deviam estar no Salão Principal. Teve que se segurar para não sair quebrando tudo que visse pela frente. Sentiu-se um idiota por ter perdido o dia tentando descobrir o que Sirius pretendia fazer com Isabelle e depois, ela nem sequer lhe deu atenção. Seria muito melhor se não tivesse se importado. Mas então, de novo, sentiu aquela sensação de que precisava protegê-la e odiou-se ainda mais por não conseguir esquecer Isabelle por completo.

Quando os primeiros sonserinos começaram a voltar do jantar, Severo correu para a sala do Prof. Slughorn, já estava atrasado para a detenção. Ainda isso – pensou – detenção com a Isabelle e o Black. Entretanto, aquela noite foi tranqüila. Isabelle recusou-se a falar com ele, enquanto Black e os demais grifinórios se limitavam a comunicarem-se por meio de um espelho de dois sentidos. Severo tinha certeza que Sirius e Pedro ainda tramavam alguma coisa. Quando finalmente o Prof. Slughorn os liberou por aquele dia, acrescentando que estariam livres das detenções pela próxima semana pois ele estaria trabalhando para o Ministério nas próximas noites, os alunos saíram animados em direção às suas salas comunais. Severo, entretanto, tentou permanecer o mais próximo dos dois grifinórios que demoravam a sair da sala e, sem perceber que piscavam um para o outro, ouviu Sirius dizer:

– Sem detenção amanhã. O que significa que podemos continuar nosso plano. Isabelle vai se arrepender de ter mexido com a gente!

– O que vocês estão aprontando, Black? – Severo interrompeu, surgindo de trás dos dois amigos.

Sirius virou-se e, com um sorriso debochado, respondeu:

– Não é da sua conta, Ranhoso. A não ser, é claro, que você ainda seja o sapo de estimação da Isabelle...

Pedro olhou o amigo assustado, como se Sirius tivesse dado com a língua nos dentes.

– Não se preocupe, Rabicho. Ele pode contar o que for para ela, Isabelle vai vir correndo até mim amanhã, é só eu acenar.

– Eu já perguntei uma vez, Black. – Severo deu mais um passo em direção a Sirius e o encarou com os olhos estreitos, pronto para empunhar sua varinha se preciso. – Eu sei que vocês estão planejando alguma coisa perto do Salgueiro Lutador.

Mas Sirius era muito maior que ele e o empurrou facilmente para trás.

– Cuidado com a sua curiosidade, Ranhoso.

– Eu não tenho medo de você, Black – Severo respondeu, assim que se endireitou.

Sirius deu uma risada debochada.

– Veremos isso amanhã – ele disse. – Se você acha mesmo que nós vamos fazer alguma coisa com a sua amiguinha, você pode seguir o Remo até o nosso esconderijo, e quem sabe a gente deixe você participar também.

Severo não acreditou no que ouvira. Ele imaginava que os grifinórios estavam se preparando para uma vingança contra Isabelle, mas se entendera direito, aquilo era sórdido demais. Mesmo vindo dos seus piores inimigos. Ele olhou assustado para o Black, que não teve tempo de falar mais nada, pois o Filch acabara de surgir ao lado deles, obrigando-os a seguirem seus caminhos.

*-*-*-*-*-*-*-*

No dia seguinte após o jantar, Severo e Isabelle estavam juntos na biblioteca concluindo seus últimos deveres de Poções. Severo sentia que ela ainda estava brava com ele, mas como eram parceiros em Poções, ela não podia evitar trabalhar com ele. Foram interrompidos por uma corvinal do primeiro ano que se aproximou timidamente de Isabelle.

– Você é a monitora da Sonserina? – a menina perguntou.

Quando Isabelle assentiu com a cabeça, ela estendeu os braços segurando um pedaço de pergaminho e continuou:

– Me pediram para entregar isso.

Severo arregalou os olhos de espanto. Achava que Sirius desistiria da idéia sabendo que ele o desmascarara. Mas não, o grifinório era realmente audacioso.

– Você não vai se encontrar com ele, vai? – perguntou assim que Isabelle guardou o pergaminho nas suas coisas.

– Do que é que você está falando, Mestiço?

– Eu sei que você não acredita em mim – Severo se esticou pela mesa e agarrou uma mão dela. Continuou num tom de urgência –, mas eu sei que o Black vai aprontar alguma coisa hoje. Você não pode ir atrás dele.

Isabelle bufou. Já estava farta daquela história. Sentia-se humilhada por ter sido repelida por ele no dia anterior e ao mesmo tempo confusa com a maneira protetora com que Severo a tratava agora. Não queria brigar com ele novamente e, para isso, tinha que sair da frente dele.

– Eu não acredito que você ainda está insistindo nisso – ela disse então, puxando o braço para longe das mãos dele. – Depois do que fez ontem, você não deveria mais se preocupar comigo. – Pegou suas coisas e saiu da biblioteca, deixando Severo sozinho sem saber se devia segui-la ou não.

Ele ainda ficou um tempo sentado na mesa, tentando se concentrar no dever de Poções, mas era impossível. Não poderia permitir que Sirius fizesse alguma coisa com Isabelle, por mais que ela ignorasse suas tentativas de alertá-la. Olhando pela janela, viu o sol que se punha ao horizonte e iluminava a entrada da Floresta Proibida, enquanto os primeiros sinais da lua cheia também brilhavam no céu. Mas Severo não estava interessado na bela paisagem que se formava com o final da primavera; Remo Lupin acabara de adentrar a floresta.

Severo não pensou duas vezes antes de juntar suas coisas na mochila e sair correndo da biblioteca. Se tivesse sorte, chegaria ao Salgueiro Lutador antes que alguma coisa acontecesse à Isabelle.

*-*-*-*-*-*-*-*

Quando Isabelle saiu da biblioteca, seguiu diretamente para as masmorras, mas parou no meio do caminho para ler novamente o bilhete que recebera de Dumbledore. Droga – pensou –, já estou atrasada! Enquanto voltava para seguir até a sala do Diretor, Isabelle tentava imaginar o que ele queria de tão urgente. Ele mal passara tempo na escola durante aquele ano, será que não podia deixar que o Prof. Slughorn, que era o diretor da Sonserina, resolvesse o assunto?

Chegando perto da gárgula que guardava o escritório, ela encontrou Tiago Potter.

– O que você está fazendo aqui, Potter?

– Não é da sua conta, Malfoy – ele respondeu, preparando-se para empunhar sua varinha.

Isabelle estreitou os olhos, mas não teve tempo de elaborar uma resposta. No mesmo instante, a gárgula se moveu abrindo caminho para a escada que conduzia à sala do Diretor.

O grifinório e a sonserina se olharam confusos, mas como nada aconteceu, acabaram entendendo que os dois haviam sido chamados para a mesma reunião e agora eram esperados pelo Diretor. Ainda desconfiados um do outro, subiram as escadas em caracol para encontrar o Diretor Dumbledore sentado à sua mesa, um olhar carrancudo sobre seus óclinhos de meia-lua.

– Srta. Malfoy; Sr. Potter – ele cumprimentou com a cabeça. – Fico feliz que conseguiram ser avisados a tempo. Por favor, sentem-se – disse mostrando duas poltronas à frente da mesa.

Isabelle se dirigiu até a poltrona mais próxima e sentou-se; o olhar orgulhoso dos Malfoy estampado no rosto. Tiago sentou-se na outra poltrona, começando a se preocupar com a expressão de Dumbledore. Ele já estivera várias vezes na sala do Diretor devido suas traquinagens, mas nunca o vira com aquela cara. Podia até ousar dizer que havia um brilho de desapontamento por trás daqueles olhos furiosos.

– Eu os chamei aqui hoje – ele começou, sem oferecer chá ou os famosos biscoitinhos – porque sinto que temos um problema. Eu tenho dois jovens à minha frente, prestes a ingressar no sétimo ano, que se comportam como duas crianças do primeiro ano. Eu imaginei que dirigia uma escola capaz de transformar crianças bruxas em adultos decentes e responsáveis por suas ações.

Ele fez uma pausa e observou os dois alunos à sua frente. Ninguém disse nada, então Dumbledore continuou:

– Vocês dois criaram uma guerra dentro desta escola, não bastasse o que estamos vivendo fora dos muros dela. Vocês estão protegidos dos acontecimentos fora do castelo enquanto estiveram em Hogwarts, por isso eu imagino que não tenham idéia das conseqüências que esta guerrinha infantil ainda possa acarretar. Mas eu não vou admitir que esta escola se divida em duas, ou ainda, que algum aluno sob minha responsabilidade se machuque gravemente.

Fez outra pausa. Tiago Potter olhava para o chão, enquanto Isabelle Malfoy o encarava desafiadoramente.

– Eu não sei do que o senhor está falando, Diretor – ela disse então. – Nós da Sonserina estamos sendo perseguidos pelos grifinórios desde o ano passado...

– Srta. Malfoy! – interrompeu o Diretor. Talvez esta fosse a primeira vez que alguém testemunhara um rompante de Dumbledore direcionado a um aluno. Mas talvez, Isabelle Malfoy tenha sido a primeira aluna a desafiá-lo. – Você não está falando com seu elfo doméstico! Não tente me fazer de bobo com suas historinhas.

Isabelle arregalou os olhos com a fúria do Diretor e se encolheu em sua poltrona. Dumbledore se recostou na sua cadeira e continuou num tom mais tranqüilo:

– Eu chamei os dois aqui para alertá-los. Acabem logo com a guerrinha que começaram. Não quero mais ver sonserinos e grifinórios duelando pelos corredores do castelo. Acabem com isso antes que tenhamos conseqüências mais sérias e eu tenha que ser obrigado a expulsá-los.

Passou pela cabeça, tanto de Isabelle como de Tiago, argumentar que não tinham esse poder sobre seus colegas, mas o olhar do Diretor não deixava dúvidas; ele sabia que eles eram os líderes de seus exércitos.

– Eu imagino que o senhor saiba o que fazer, Sr. Potter – Dumbledore acrescentou com um brilho nos olhos.

Tiago levantou a cabeça, os olhos arregalados, sem entender o recado do Diretor.

– E a senhorita – Dumbledore continuou para Isabelle –, deveria acompanhar o Sr. Potter. Eu tenho uma reunião do Ministério, não posso me demorar mais.

Isabelle estava indignada com o tratamento que lhe fora dispensado pelo Diretor, mas teve que segurar o desejo de dizer-lhe poucas e boas ante a ameaça de expulsão. Entretanto, era lógico que ela não se renderia à Grifinória tão facilmente.

Os dois alunos deixaram a sala do Diretor em direção ao saguão de entrada, onde cada um seguiria seu caminho para as masmorras ou para a torre da Grifinória. Tiago andava pensativo, de cabeça baixa, tentando entender as últimas palavras do Diretor. Por que ele achava que, às vezes, Dumbledore falava por códigos? A única coisa a seu alcance era tentar convencer seus amigos a não aceitarem as provocações dos sonserinos. Mas ele sabia que Sirius ainda gostava da Isabelle e que jamais perdoara o Ranhoso por ter sido a causa do rompimento entre os dois. E Sirius jamais concordaria numa trégua agora, ele estava se aproveitando desta guerrinha para vingar-se do Ranhoso sempre que pudesse. Espere aí. Sirius! Tiago estancou subitamente no meio de um dos corredores. Ele e Pedro estavam tramando alguma coisa na detenção de ontem. Olhou para a janela ao lado. Lua cheia! Não pode ser!

– Isabelle! – chamou pela sonserina que não percebera que ele havia parado.

– O que foi, Potter? – ela respondeu emburrada, virando-se para encará-lo. – Não sabe voltar para sua sala comunal sozinho?

Ele cruzou o espaço que os separava e parou à frente dela.

– Você tem falado com o Sirius ultimamente? – perguntou sério.

– Ah não! – Isabelle respondeu incrédula. – Você também com essa história? Não sei o que aquele brutamontes idiota andou dizendo por aí, mas eu não tenho mais nada com ele, ok?

Tiago pareceu deliberar por um instante, então perguntou novamente:

– História? Que história? Do que você está falando?

– Vocês colocaram na cabeça do Severo que o Sirius quer se vingar de mim me levando até o Salgueiro Lutador – ela respondeu impaciente. – Como se eu fosse cair na conversa dele!

Mas Tiago nem prestou atenção na segunda parte da conversa. Depois que ouvira as palavras Salgueiro e Lutador, seus pensamentos se dirigiam apenas ao seu amigo lobisomem encarcerado em noite de lua cheia.

– Você disse Salgueiro Lutador? – perguntou aflito.

– É. Qual o problema, Potter? – Ela se assustou quando percebeu que o grifinório ficara pálido de repente e, então, compreendeu. – Oh não! Era uma armadilha para o Severo, não era?

Tiago apenas assentiu com a cabeça, agarrou-a pelo braço e saiu correndo, dirigindo-se até a entrada da Floresta Proibida. Isabelle deixou-se levar. Se Severo estava sozinho com os outros grifinórios, precisaria da ajuda dela. Correu pelos corredores do castelo e depois pelos jardins, conduzida pelo Potter, sem pensar em mais nada a não ser em como fora egoísta com Severo. Ele estava apenas tentando ajudá-la, e ela o ignorou totalmente, achando que se tratava apenas de uma cena de ciúmes. E por que ele teria ciúmes? Já mostrara várias vezes durante o ano que não queria mais nada além de amizade com ela.

Tiago parou na orla da floresta.

– Você me espera aqui. Se houver algum problema, vou acenar com luzes vermelhas, e você procura o Hagrid.

– O quê? – Isabelle soltou do braço de Tiago. – Eu não vou deixar o Severo sozinho com vocês. Eu vou junto.

– Não! É perigoso. Eu prometo que não vou fazer nada com ele, mas você tem que me prometer que vai ficar aqui e chamar o Hagrid se for preciso.

Isabelle se assustou com o tom urgente do Potter. Ele estava realmente aflito e parecia sincero na sua promessa. Ela não tinha outra escolha a não ser ceder. Assim que ela baixou a cabeça em assentimento, Tiago virou-se para a entrada da floresta, e Isabelle segurou um grito abafado quando o viu se transformar num cervo à sua frente e sumir na mata fechada.

*-*-*-*-*-*-*-*

O pouco tempo que Severo levou para seguir da biblioteca até a entrada da Floresta Proibida foi o suficiente para o sol se pôr e uma penumbra cair sobre os jardins do castelo. Ele seguiu correndo o caminho que o levaria até o Salgueiro Lutador, iluminado apenas pelos poucos raios de lua que conseguiam atravessar as árvores que cobriam a floresta. Conforme se aproximava, ouviu o barulho dos ramos do salgueiro chicoteando o ar e lembrou-se que precisaria de um galho comprido para fazê-lo parar. Não foi difícil encontrar um, e assim que chegou ao Salgueiro Lutador, apertou o nó em seu tronco fazendo com que seus galhos se acalmassem.

Severo olhou ao seu redor. Nenhum sinal de Isabelle, Sirius ou Remo. Sentiu alguma coisa passando por entre suas pernas. Olhou para o chão; era um rato. Seguiu-o com o olhar até que este desapareceu dentro do tronco do salgueiro. Lembrando-se das palavras de Sirius na noite anterior, concluiu que este era o esconderijo que falaram. Aproximou-se até o tronco e percebeu um grande buraco entre as raízes da árvore; não tinha outra opção senão entrar por ele. Deslizou pelo barranco de terra até chegar no início de um túnel baixo. Caminhou agachado por ele, que parecia não ter mais fim, até que percebeu que começava a subir, e logo depois, uma luzinha começou a brilhar fracamente. Avançou cautelosamente, tentando escutar alguma coisa, até que percebeu que estava num quarto todo desarrumado. Apurou os ouvidos. Alguma coisa se mexera no andar de cima. Seguiu para o corredor aonde uma escada o conduziria para cima, mas então estacou. Não podia acreditar no que via; um lobisomem estava de costas para ele, no quarto ao alto da escada. Sentiu alguém agarrá-lo pelo braço e ouviu a voz do Potter:

– Venha comigo, antes que ele nos veja!

Severo virou-se para o Potter e, empunhando sua varinha, soltou-se do inimigo com um passo para trás.

– Eu não vou a lugar nenhum com você, Potter. O que está acontecendo aqui? Onde está a Isabelle?

Mas Potter não teve tempo de responder. O lobisomem notara a presença deles e tentava alcançar a escada. Era impedido apenas por um cão enorme, que se interpôs na porta do quarto. Rapidamente, ele subiu as escadas e ordenou para o cachorro:

– Eu cuido dele, você leva o Ranhoso até a saída da floresta!

Severo não conseguiu entender como o Potter conseguiria lidar sozinho com um lobisomem, nem teve tempo para pensar no absurdo que era vê-lo dando ordens a um cão daquele tamanho. Antes mesmo de Tiago se transformar novamente, o enorme cão preto pulara em direção a Severo, derrubando-o. Severo tentou se desvencilhar, mas o cão segurava-o com as patas sobre seu peito, ele podia sentir o hálito quente do animal e tudo o que via era um par de dentes arreganhados para ele.

Próximo à escada, um cervo tentava inutilmente impedir a passagem do lobisomem. O cão precisava agir logo e tirar o humano dali, seria a única maneira de acalmar seu amigo lobo. O cão recuou, apenas para atacar Severo novamente, desta vez agarrando-o pelo braço e arrastando-o pelo túnel em que entrara. O enorme cão arrastava o corpo débil de Severo com facilidade através do túnel e então para fora, na floresta. Severo tentou desvencilhar-se, mas o animal era muito grande e ele havia perdido sua varinha enquanto fora arrastado. Sentiu ser arrastado pelo caminho que conduzia para os jardins do castelo; seu rosto arranhado pelos galhos e raízes que encontrava no chão, seu braço sangrando pela mordida forte do cachorro.

De repente, o cão estacou. Severo imaginou que haviam chegado à orla da floresta. Sentiu um alívio no braço assim que o cachorro o soltou. Mas o cão não foi embora; Severo sentiu duas patas enormes e pesadas pousando em seu peito, ele estava mostrando sua presa.

Severo ouviu um grito. Isabelle! – pensou, mas não conseguia enxergar mais nada além da massa de pêlos pretos e olhos brilhantes que se transformava aos poucos num borrão, até que não viu mais nada.

*-*-*-*-*-*-*-*

– Severo? – Isabelle gritou assim que ouviu ruídos vindos da floresta. Quando o viu sendo arrastado para fora, empunhou sua varinha e, amedrontada, tentou ordenar para o cão – Saia! Deixe-o em paz!

O cachorro fixou os olhos brilhantes em Isabelle. Quando viu as primeiras lágrimas brotando nos olhos dela, a mão trêmula tentando empunhar a varinha, deu alguns passos para trás, deixando o corpo de Severo caído sozinho no chão.

– Saia! – ela conseguiu balbuciar entre as lágrimas.

Mas o cachorro não se moveu. Continuava olhando fixo para ela, como um cachorrinho que espera sua recompensa. Comovido com as lágrimas de Isabelle, tentou aproximar-se dela, mas ela recuou.

– Não há nada que me impeça de lançar a maldição da morte num cão – ela ameaçou nervosamente, sua varinha ainda tremendo em suas mãos. – Saia! Eu já disse!

Ainda assim, o cachorro não se intimidou. Num passo largo, prostrou-se diante dela. Sem ação, Isabelle abaixou-se e encarou os olhos claros e brilhantes na massa de pêlos escuros. Estes olhos...

– Quem é você? – ela perguntou carinhosamente, agora com coragem para afagar os pêlos lisos atrás da nuca do cachorro.

Isabelle não acreditou no que viu, mas lágrimas escorreram daqueles olhos brilhantes assim que a cabeça do cachorro foi ao seu encontro, afagando-se em seus braços. Então, com um uivo triste, o animal saiu correndo e entrou novamente na floresta.

Ela ainda ficou um momento admirando a entrada da floresta, tentando entender todas as emoções que se apoderavam de seu coração. Quem era aquele cão? O que fizera com Severo? Severo? Correu até ele; estava desacordado, mas parecia estar respirando. Ela fechou os olhos e suspirou aliviada, então sentiu uma mão pousar sobre seus ombros.

– Ele está bem? – era a voz do Potter.

Ela apenas assentiu com a cabeça, os olhos ainda fechados para não expor suas lágrimas.

– Nós não vamos conseguir levá-lo sozinhos até a enfermaria – ele continuou metodicamente. – Você fica aqui com ele, eu vou buscar Madame Pomfrey.

Isabelle não teve tempo de responder; quando viu, Potter já estava a meio caminho do castelo. Foi só então que notou as vestes rasgadas no peito de Severo e o sangue que escorria fracamente no braço dele. Levou as mãos ao rosto para não ser obrigada a ver aquilo. O que fizera isso com ele? Não podia ser o mesmo cão que se aproximara dela tão carinhosamente.

Outro turbilhão de lágrimas transbordou dos seus olhos. Ela era a culpada por ele estar ali. Para tentar protegê-lo do que seus sentimentos podiam causar, ela simplesmente o fizera acreditar que o desprezava. E ainda assim, ele continuava sempre ao seu lado. Então, este ano, ele finalmente parecia ter esquecido dela e mantido apenas a boa amizade que sempre tiveram. Mas ao invés dela se contentar com isso, a rejeição dele feria o seu orgulho e só a fazia desejá-lo ainda mais. Se tivessem uma amizade, ou qualquer sentimento maior que fosse realmente sincero, ele jamais cairia nessa armadilha. Ele estava caído ali, machucado e desmaiado por causa dela, porque ela nunca fora sincera com seus sentimentos com ele.

Ela permaneceu ajoelhada ao lado do amigo, chorando e se lamentando por tudo que poderia ter evitado, até que ouviu a voz de Madame Pomfrey e Hagrid pedindo explicações para o Potter. Ele apenas respondeu que Severo descobriu o túnel que levava para a Casa dos Gritos perto do Salgueiro Lutador e que ele e Isabelle vieram para alertá-lo sobre Lupin. Ainda desconfiada, Madame Pomfrey ordenou que Hagrid levasse Severo até a ala hospitalar e que Tiago e Isabelle os seguissem até que ela conseguisse contatar o Diretor.

Enquanto seguiam para o castelo, Isabelle pensava numa maneira de convencer a medibruxa a deixá-la permanecer na enfermaria até ter certeza que Severo ficaria bem. Ela sabia o quanto Madame Pomfrey era extremamente zelosa com seus pacientes, mas não conseguiria ficar tranqüila até ter certeza que suas ações não causaram nenhum mal ao seu amigo. Entretanto, para sua surpresa, quando chegaram à porta da ala hospitalar, Madame Pomfrey indicou uma maca onde Hagrid deveria deitar o corpo de Severo e indicou para que os dois alunos que os acompanhavam a seguissem. Isabelle e Tiago se entreolharam curiosos e seguiram a medibruxa até a maca onde Severo fora colocado. Com um aceno da sua varinha, as vestes dele se abriram até um pouco acima da cintura, revelando um peito magro e pálido, coberto por arranhões e vergões avermelhados. Isabelle recuou ao ver aquilo, e seus olhos encheram-se de lágrimas novamente; não queria imaginar o que Severo havia passado por causa dela.

– Muito bem, Sr. Potter, Srta. Malfoy – a voz severa da medibruxa soou na ala hospitalar. – Agora que viram o que causaram ao seu amigo, eu quero que me contem exatamente o que aconteceu para saber que tipo de ferimentos tenho que tratar.

Isabelle estava com as mãos no rosto, recusando-se a fitar aquelas feridas. Tiago simplesmente baixou a cabeça e murmurou:

– Isabelle não tem culpa de nada. Ela ficou fora da floresta o tempo todo.

Mas então, a voz grossa do Guarda-Caça o interrompeu:

– Por favor, Tiago, não diga que você o levou até o Remo. – Uma expressão de horror se apoderou do rosto de Hagrid.

– Não – Tiago respondeu.

– Foi o Sirius! – Isabelle irrompeu entre as lágrimas. – Ele fez o Severo acreditar que eu estava correndo perigo para ele ir até o Salgueiro Lutador hoje à noite.

– Em noite de lua cheia? – Madame Pomfrey e Hagrid perguntaram quase ao mesmo tempo.

Isabelle respondeu com um olhar confuso enquanto Tiago apenas assentiu com a cabeça. Vendo a preocupação no olhar dos outros três, Isabelle perguntou receosa:

– Qual o problema com a lua cheia? E o que o Lupin tem a ver com isso?

Madame Pomfrey e Hagrid se olharam ressabidos, e a medibruxa foi até Isabelle pousando as duas mãos nos ombros dela e disse num tom mais calmo:

– Minha querida, é óbvio que você ficou muito abalada com tudo o que viu esta noite. Quem sabe um pouco de Poção Calmante...

– Eu não quero nenhuma porcaria de poção! – ela berrou soltando-se da medibruxa. – Só quero saber o que está acontecendo aqui! O que foi que fez aquilo com ele? – continuou, apontando para a maca onde Severo estava deitado.

– É o que eu também gostaria de saber, Srta. Malfoy – a voz do Diretor soou da direção da lareira. Todos olharam para ele, que continuou – Quando recebi a coruja de Papoula dizendo para voltar para Hogwarts urgentemente, não imaginei que minhas palavras desta noite estivessem tão certas. Parece que finalmente vocês entenderam que uma guerra pode ter conseqüências que jamais nos perdoaríamos, não é?

A enfermaria ficou em silêncio. Dumbledore encarando Isabelle e Tiago duramente, enquanto Madame Pomfrey voltou-se para seu paciente e começou a fazer alguns feitiços de diagnóstico.

– Me desculpe, Diretor – Tiago começou. – Eu deveria ter percebido que Sirius estava tramando alguma coisa.

– Eu entendo, Sr. Potter – Dumbledore respondeu. – Entretanto, o senhor tinha assuntos prioritários à segurança de um jovem sonserino.

Sem resposta, Tiago baixou a cabeça novamente.

– Rúbeo – o Diretor chamou –, gostaria que procurasse pelo Sr. Black. Ele ainda deve estar na floresta, e nós sabemos que lá não é um lugar seguro.

– Sim, Diretor – o meio gigante respondeu e seguiu para a saída da ala hospitalar. Mas sua viagem até a Floresta Proibida foi cancelada; Sirius Black estava parado à sua frente, esperando para entrar.

Hagrid apenas deu um passo para o lado para mostrar o garoto para os demais bruxos na enfermaria. Dumbledore foi o primeiro que falou:

– Boa noite, Sr. Black. Fico feliz que resolveu se juntar a nós.

Sirius deu um passo à frente para entrar na enfermaria, sentindo os olhares em cima dele. Encarou o Diretor e começou a se explicar:

– Tiago e Isabelle não têm culpa de nada; eles só estavam tentando ajudar o Ran... Severo. Fui eu quem o convenceu a seguir o Remo depois que anoitecesse.

Quando ouviu aquilo, Madame Pomfrey levou uma mão à boca para abafar um grito de indignação, mas Sirius a tranqüilizou:

– Não! Não foi o Remo quem o atacou. – Depois de uma pausa, com a cabeça baixa, explicou: – Fui eu.

Um burburinho cresceu na sala. Madame Pomfrey, agora certa que as feridas de Severo não trariam conseqüências maiores, começou a passar uma pomada curativa em seu peito com uma mão enquanto murmurava um feitiço com sua varinha empunhada na outra. Isabelle olhava incrédula para Sirius, que simplesmente murmurou um "desculpe" entre os lábios. Dumbledore baixou a cabeça, decepcionado com os atos de seus alunos mais brilhantes, e Tiago caminhou até o amigo para apoiá-lo. Hagrid, sentindo que já não era mais necessário, seguiu em direção a Floresta Proibida para se certificar que tudo voltara ao normal.

Depois de alguns minutos de deliberação, Dumbledore finalmente falou:

– Muito bem, Sr. Black. Pelo menos o senhor mostrou que tem caráter para assumir suas responsabilidades. – Olhando em direção à Madame Pomfrey, continuou – Já está tarde, e eu acredito que Papoula precise de tranqüilidade para tratar do Sr. Snape. Eu o espero na minha sala amanhã, Sr. Black. Agora, vamos nos retirar.

– Não! – a voz de Isabelle ressoou por toda ala hospitalar. – Eu não vou sair daqui até ter a certeza que Severo está bem.

Dumbledore e Madame Pomfrey se olharam, mas foi a medibruxa quem aproximou-se dela e argumentou:

– Eu entendo sua preocupação, querida, mas não há mais nada que podemos fazer. As feridas foram tratadas, e ele vai tomar uma poção para dormir. Só vai acordar amanhã de manhã.

Isabelle olhou suplicante de Madame Pomfrey para Dumbledore, mas o Diretor foi categórico:

– Você também precisa descansar, Srta. Malfoy. O Sr. Snape ficará bem. – Então, virando-se para Sirius e Tiago, continuou – Já que a Srta. Malfoy ainda parece abalada com tudo o que aconteceu, eu sugiro que vocês dois a acompanhem até a entrada da sala comunal da Sonserina e aproveitem esse tempo para se entenderem.

– O quê? – os três alunos gritariam em uníssono.

Mas Dumbledore os encarou por cima de seus óclinhos de uma forma que eles sabiam que era inútil argumentar. Por fim, Sirius deu um passo em direção à Isabelle e estendeu um braço, dizendo:

– Vamos, Belle. É melhor deixarmos Madame Pomfrey trabalhar em paz. Eu a acompanho até sua sala comunal.

– Eu não preciso da sua ajuda! – Isabelle bradou de repente, saindo da enfermaria a passos largos.

Sirius apenas suspirou e seguiu atrás dela, Tiago logo atrás dele. Quando estavam longe dos ouvidos do Diretor, ela virou-se para trás e começou a falar:

– Por que você fez aquilo? E o que vocês estão escondendo de mim? Eu vi aquelas feridas, não foi você quem fez aquilo!

– Belle, tente se acalmar. – Sirius tentou aproximar-se dela, mas ela o impediu. Com um suspiro, ele remexeu em suas vestes, tirando uma varinha, a varinha de Severo, e estendeu-a para Isabelle. – Tome. Ele deve tê-la perdido enquanto eu o arrastava de volta para a floresta. Você pode devolver para ele quando acordar.

Isabelle pegou a varinha desconfiada e a guardou junto com a sua, então, mais calma, tornou a perguntar:

– O que aconteceu exatamente?

– Eu fiz o Ranhoso acreditar que estávamos armando uma armadilha para você no Salgueiro Lutador. Foi realmente infantil, me desculpe – ele respondeu olhando para o chão.

– Infantil, não – Tiago interveio. – Foi estúpido. Só porque o Remo é nosso amigo, você achou que seria capaz de controlar um lobisomem transformado?

Isabelle arregalou os olhos.

– Um o quê? Lobisomem? Vocês querem dizer que o Lupin é um...

– Shhhhhi – Sirius sinalizou para Isabelle, levando a mão até a boca dela. – Ele agradeceria se o resto do castelo não descobrisse nada.

– Lupin é realmente um lobisomem, Isabelle – Tiago acrescentou em voz baixa, também se aproximando mais. – Por isso ele fica preso na Casa do Grito nas noites de lua cheia. Ele não se sente bem com isso e vai odiar saber do que poderia ter acontecido se eu não aparecesse para tirar o Severo de lá. – Ele encarou Isabelle com seus olhos escuros suplicantes. – Por favor, mantenha isso em segredo ou será o Remo quem vai pagar por uma coisa que ele não tem culpa.

– Ah é? – ela respondeu, os olhos cinza enchendo-se de lágrimas novamente. – E o que vai acontecer com o Severo? Dumbledore vai avisar o avô dele, e sabe o que ele vai fazer? Nada! Vai deixá-lo sozinho naquela enfermaria, machucado daquele jeito.

– O Ranhoso vai ficar bem – Sirius assegurou. – Eu já disse. Não foi o Remo quem o atacou, fui eu. Ele se arranhou enquanto eu o arrastava pela floresta, nada mais.

– Impossível – ela retrucou. – Aquilo não eram feridas feitas por uma varinha, ou por galhos de árvores.

Sirius aproximou-se ainda mais dela, seus olhos cinza encontrando os dela. Ela já vira aqueles olhos brilhantes antes, há pouco tempo.

– Você está realmente preocupada com ele, não é? – Sirius perguntou.

Ela apenas assentiu com a cabeça.

– Talvez tenha um jeito de voltarmos à ala hospitalar sem que ninguém perceba – ele acrescentou com um sorriso maroto. – Se o Pontas nos ajudar.

Sirius olhou para Tiago, que na hora entendeu quais eram seus planos.

– Não, nem pensar! Nós já estamos encrencados demais – ele respondeu.

– Você só precisa nos emprestar a capa. Se alguma coisa nos acontecer você não será envolvido.

– Está bem – Tiago suspirou, não podia negar um favor ao seu melhor amigo, mesmo depois do que ele aprontara. – Mas tenha cuidado. Você está a um passo de ser expulso!

Tiago buscou em suas vestes uma capa cinza prateada e a entregou para Sirius, deixando-o sozinho com Isabelle e partindo para a sala comunal da Grifinória. Isabelle olhou curiosa para Sirius, que explicou:

– É uma capa da invisibilidade. Vou te levar de volta para a ala hospitalar sem que Madame Pomfrey veja a gente. – Vestindo a capa sobre os ombros, estendeu uma mão para ela e a chamou – Vamos!

Isabelle abraçou Sirius, e os dois desapareceram sob o tecido leve da capa. Eles seguiram de volta o caminho que levava para a ala hospitalar, juntos e silenciosos. Isabelle ainda preocupada com Severo, e Sirius tentando se concentrar para não deixar que a proximidade de Isabelle o tirasse do sério. Sabia que isso era o mais próximo que chegaria dela novamente, mas ainda sentia saudades.

Quando chegaram à ala hospitalar, perceberam que Madame Pomfrey também já havia se recolhido. Severo estava sozinho na única maca ocupada. Eles entraram, e assim que concluiu que era seguro, Isabelle se soltou de Sirius e correu até Severo. Sirius ficou observando-a de longe; agora tinha a certeza que ela nunca mais seria dele.

Isabelle retirou o lençol que cobria seus ferimentos e analisou as cicatrizes que aos poucos desapareciam com o efeito do tratamento de Madame Pomfrey. Ela ainda estremeceu quando viu o peito dele todo machucado e, pela primeira vez, percebeu uma atadura no braço, levemente manchada com o sangue que escorrera anteriormente. Sentiu mais uma vez um aperto no peito e vontade de chorar, mas segurou as lágrimas e encarou Sirius, que também havia saído da proteção da capa e estava parado do outro lado da maca.

– O que você fez? Isso não são feridas feitas por um bruxo.

– Não – Sirius confirmou. – São feridas feitas por um cão.

Isabelle levantou os olhos para ele. Aqueles olhos... Ela sabia que os conhecia.

– Era você?

Ele apenas assentiu com a cabeça.

– Por quê?

Sirius suspirou. Não sabia por onde começar. Ele estava com ciúmes de Isabelle. Estava com raiva do Ranhoso. Mas nada disso justificava o que fizera. Foi um ato de loucura impensado, e agora sabia que isso o afastaria de Isabelle para sempre.

– Foi estúpido, eu sei. Só queria assustá-lo. Imaginei que quando ele visse o Remo transformado, fosse fugir correndo. Eu conseguiria controlá-lo facilmente então, transformado num cão. Mas ele ficou lá parado, e quando o Tiago apareceu, não quis fugir, estava procurando por você. Ele realmente achava que você estava em perigo.

Agora era impossível segurar as lágrimas. Isabelle caiu sentada numa cadeira próxima e, apoiando-se na borda da maca, enfiou a cabeça entre seus braços. Era tudo o que ela precisava ouvir para sentir-se ainda mais culpada pelo que acontecera a Severo. Sirius deu a volta pela maca e parou ao lado dela, pousando as mãos nos ombros dela. Aos poucos Isabelle foi se recompondo e finalmente conseguiu retomar a conversa.

– Mas por que ele está machucado desse jeito? O que vocês fizeram a ele?

Sirius ajoelhou-se no chão para que seus rostos ficassem na mesma altura.

– Ele não queria fugir, então tive que tirá-lo de lá a força, entendeu? – Sirius passou uma mão pelos cabelos dela, mas ela o repeliu. Ele continuou – Eu não tive escolha a não ser atacá-lo.

– Eu acredito em você – ela respondeu voltando-se novamente para Severo. – Mas não me peça para perdoá-lo.

Sirius observou a maneira como Isabelle olhava para Severo. Ela nunca o olhara daquela forma; realmente apaixonada. Aquilo o deixava com ainda mais raiva do Ranhoso. Ele conseguira roubar-lhe a única coisa com que ele se importava e nem dava valor a isso. Levantou-se do chão e puxou o braço de Isabelle, fazendo-a encará-lo, e então perguntou:

– Você realmente gosta dele, não é?

– Isso não é da sua conta. – Ela tentou livrar-se dele, mas ele usou a outra mão para segurá-la próxima a ele. Ela podia ver a decepção nos olhos dele, mas estava com tanta raiva do que acontecera que não teria pena dele. – Está bem, se é isso que você quer ouvir... Eu sempre gostei do Severo. Mesmo quando estávamos namorando, eu só aceitei ficar com você para tentar esquecê-lo.

Sirius a soltou bruscamente, mas ela não tirou os olhos desafiadores dele.

– Você não é como ele, Belle – ele começou. – Eu sei que você não é como aquele bando de sonserinos. Só o fato de você se preocupar com ele é a prova disso.

– Você acha que me conhece Sirius, mas não sabe do que está falando – ela retrucou.

Sirius deu um suspiro e então continuou:

– Não, Belle. Você é como eu. Só está fingindo que concorda com tudo isso para ser aceita na sua família. Mas acredite, a melhor coisa que fiz foi dar uma basta nisso. Você devia fazer o mesmo.

Isabelle balançou a cabeça e voltou-se para Severo.

– Você não tem nada a ver com isso, Sirius.

– Tenho sim, porque eu me preocupo com você. – Seu tom tornou-se mais urgente. – Você acha que conhece o Ranhoso, mas eu também o conheço desde o primeiro ano. Alguém que se dedica a vida inteira às Artes das Trevas não pode saber o que é gostar de alguém. Ele nunca vai sentir o mesmo por você, Isabelle. E só vai fazer você sofrer por causa disso.

Ele se aproximou dela lentamente, beijando-a na testa.

– É uma pena que você esteja cega por ele – disse acariciando-a no rosto. Depois, entregou-lhe a capa de Tiago e seguiu para a porta, dizendo sem se virar para ela – Se você quiser passar a noite aqui, apenas tome o cuidado para não ser vista.

– Obrigada – ela murmurou, ainda segurando a capa em suas mãos, antes que Sirius desaparecesse pela porta.

Isabelle ainda pensava nas palavras de Sirius quando se voltou para cuidar de Severo. Observou mais uma vez as feridas que cicatrizavam rapidamente, passando as mãos levemente pelo peito dele. Ele dormia profundamente. Ainda bem – pensou. Ele não deve ter ouvido nada.

Por um breve momento, teve vontade de descer ainda mais o lençol e observá-lo inteiramente sem as vestes, mas se conteve. De alguma forma, aquilo não lhe parecia certo. Lembrou-se então da noite em que passaram juntos na antiga casa trouxa dos pais dele. As coisas seriam muito diferentes se ela tivesse deixado se levar pelos seus sentimentos e não pela razão.

Deixando então levar-se pelo seu coração, Isabelle inclinou-se até Severo e o beijou. Sabia que jamais seria correspondida se ele estivesse acordado, mas agora, parecia que ele respondia inconsciente aos seus estímulos. Quando se afastou, pensou ouvi-lo murmurar o seu nome e sentiu a mão dele segurá-la fortemente pelo braço. Não tinha como se soltar, ou talvez não quisesse realmente sair dali. Não queria deixá-lo sozinho ali depois de tudo que acontecera. Ajeitou-se na cadeira próxima à maca e deitou a cabeça sobre o peito dele; adormeceu logo depois, embalada pelos movimentos de subida e descida da respiração tranqüila dele, sonhando com o dia em que não precisaria mais se preocupar com mestiços ou sangues-ruins.


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Notas finais do capítulo

A seguir: Um aluno atacado por um lobisomem é só o menor dos problemas de Dumbledore...



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