Sombras do Passado escrita por BastetAzazis


Capítulo 14
Os Meninos Crescem - Parte 3


Notas iniciais do capítulo

Um pequeno intervalo entre as férias de verão e o sexto ano em Hogwarts.



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Capítulo 5: A Vassoura Pinoteante

Sombras do Passado

escrito por BastetAzazis

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

BETA-READERS: Ferporcel e Surviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

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Capítulo 14: Os Meninos Crescem – Parte III

Severo passou as férias de verão sendo treinado em Legilimência e Oclumência pelo próprio Lorde das Trevas e testando as Maldições Imperdoáveis em pequenos animais da fazenda dos Prince. Já estava ficando claro que o Lorde queria treiná-lo como um espião, e ele se concentrava em seu treinamento para esquecer o ano horrível que passara em Hogwarts. Seu livro de Poções agora mais parecia um caderno de anotações, onde feitiços de diversos tipos podiam ser encontrados na sua letra apertada entre as laterais ou os rodapés das páginas. Entre suas novas invenções, o Sectumsempra ocupava um lugar de destaque assim que a testara com sucesso no Potter. Logo abaixo da maldição, escrevera com sua letrinha: para os inimigos. Já a testara várias vezes em alguns animais depois daquele dia e agora, era capaz de controlar a intensidade da maldição, podendo desferir um simples arranhão, como fizera com o Potter, até um corte tão profundo que apenas um feitiço muito complexo seria capaz de estancá-lo. Seria perfeito para levar a uma morte lenta e dolorida, ao contrário do lampejo rápido do Avada Kedrava.

Mas nem tudo era trabalho. Agora que estava morando com seu avô, o Sr. Prince fazia de tudo para inserir o neto na aristocrática sociedade das famílias bruxas de sangue puro. E nada o deixava mais orgulhoso que saber que Severo era igualmente amigo dos herdeiros dos clãs Avery, Rosier e Wilkes, que também estavam sendo treinados pelo Lorde das Trevas para, no futuro, ingressarem no seu seleto grupo de Comensais da Morte. Com isso, Severo se viu com uma agenda lotada, como nunca lhe acontecera antes, durante todas as suas férias. Podiam ser chatas reuniões na casa de algum amigo do avô ou festas organizadas pelos seus amigos sonserinos, ele estava disposto a qualquer coisa que não o deixasse em casa, lembrando-se de Tiago Potter usando o feitiço dele para humilhá-lo ou de Isabelle Malfoy e seu namorado Sirius Black.

Desde a conversa que tivera no ano passado com Isabelle, que Severo percebera que os dois jamais deixariam de ser apenas bons amigos. Ele tentara pensar nela apenas como uma amiga durante o último ano em Hogwarts, mas parecia impossível. Cada vez que a via abraçada com o Black, uma fúria incontrolável tomava conta dele, não apenas porque ela estava com outro, mas porque era o Black. Talvez se ela se recusasse a falar com ele depois do que acontecera fosse mais fácil, mas a cada aula de Poções, lá estava ela na bancada que os dois dividiam, esperando que ele a ajudasse com a matéria. Ele já havia virado motivo de piada entre seus amigos sonserinos por causa disso, que sempre o olhavam de soslaio nas inúmeras vezes que Isabelle se aproximava dele para pedir-lhe alguma coisa, e ele a ajudava prontamente. Era incrível como, depois de tudo o que acontecera, seu coração ainda superava a razão e o deixava sem ação quando se tratava de Isabelle. Era como se depois daquele dia no seu quarto, ele tivesse compreendido que a cumplicidade que sentia nela não vinha de uma simples amizade, e que ela tinha uma importância muito maior em sua vida que ele jamais imaginara. Infelizmente, descobrira isso tarde demais, e por mais que tentasse esquecê-la, as palavras dela o repelindo apenas por ser um mestiço jamais deixavam sua mente.

Ele gostava de sair com Roberto, Evan e Paulo justamente porque os amigos costumavam aventurar-se na Londres trouxa e evitavam os lugares freqüentados por bruxos da idade deles, onde certamente ele seria obrigado a ver Isabelle com Sirius, mesmo não estando em Hogwarts. Novos pubs e casas noturnas eram a última moda na noite londrina, e usando sua magia, os quatro adolescentes facilmente convenciam qualquer segurança a deixá-los entrar e consumir qualquer bebida alcoólica, ou qualquer outra coisa que quisessem, sem serem importunados.

Podia parecer paradoxal que um grupo de bruxos que sempre desprezara tudo que vinha do mundo trouxa escolhessem Londres para se divertir, mas era justamente esse desprezo que os dava liberdade para fazer o que bem entendessem nas suas aventuras noturnas. Uma coisa que Severo aprendera depois de um ano vivendo com seu avô era que, entre os bruxos sangues puros, manter as aparências era ainda mais importante que realmente apresentar um comportamento exemplar. E, se as bruxas das suas idades tinham uma reputação a zelar, seus amigos sabiam como se satisfazerem com qualquer garota trouxa sem precisarem recorrer a cavalheirismos, desde que isso não repercutisse em suas vidas no mundo bruxo.

A princípio, Severo não gostava da música extremamente alta nos pequenos lugares apinhados de gente. Mas em pouco tempo ele descobrira que uma boa dose de cerveja trouxa, ou dos estoques de uísque de fogo que Evan sempre trazia consigo, eram capazes de deixar seu corpo e sua mente tão despreocupados, que a música era bem-vinda e o aperto do local era apenas uma desculpa para chegar mais perto das garotas. Essa era a forma que ele encontrara para esquecer Isabelle.

A primeira vez que Severo se viu envolvido numa das interações de seus colegas sonserinos com trouxas foi no início das férias, quando Evan o convidou para passar a noite na casa dele, já que os pais estariam fora todo o final de semana. Foi fortemente incentivado pelo avô a comparecer, afinal, o filho dos Rosier só poderia ser uma boa influência para o neto. Era a primeira vez que ele freqüentava a casa do amigo, mas parecia que Paulo e Roberto já estavam habituados com reuniões semelhantes e já sabiam o que estava por vir, pois chegaram trajando roupas de trouxas. Evan emprestou-lhe algumas, pois não poderiam ir para Londres sem chamar atenção com Severo usando suas vestes de bruxo, e esperaram por mais dois sonserinos do sétimo ano, Crable e Goyle, que assim que chegaram, juntaram-se numa Chave de Portal para seguirem até uma casa antiga, que parecia já ser conhecida de todos, menos dele. Quando entraram, notou que não eram os únicos bruxos no lugar, embora estivessem num bar trouxa, mas não teve muito tempo para mais deliberações. Assim que chegaram, um grupo de garotas veio em sua direção, e Evan as apresentou uma a uma, deixando por último uma menina loira, de cabelos compridos e olhos claros, que não saiu mais do seu lado.

Severo estava tão surpreso com tudo que acontecia a sua volta que nem achou estranho que a menina, que deliberadamente se aconchegou em seus braços quando ocuparam uma mesa e observavam Evan mostrar seus "truquezinhos de mágica", fosse tão parecida com Isabelle Malfoy, exceto pelos olhos azuis. Também não estranhou que, lentamente e após algumas doses de bebida trouxa, seus amigos foram desaparecendo e logo estava sozinho com a menina, ainda sem nome, ao seu lado. Foi praticamente impossível resistir às carícias dela, ou recusar o convite para um lugar mais reservado; seus amigos haviam sumido, e ela realmente sabia como deixá-lo excitado. Não poderia negar nada para a garota que o conduzia até um quarto no andar de cima. Pensou ter ouvido algumas risadas quando passou por dois casais perto da escada, que poderiam ser Paulo e Roberto com suas amigas, mas sua cabeça não conseguia se concentrar em nada mais que as sensações à flor da pele que sua companheira fazia brotar.

Quando finalmente chegaram ao quarto, ela o deitou na cama, subiu por cima dele e começou a se despir. Foi só então que Severo percebeu que estava prestes a fazer sexo com alguém que nem conhecia; ele nem havia perguntado o nome dela. Afastou-a gentilmente de cima dele e sentou-se na cama, observando a menina, que parecia não ser muito mais velha que ele, sentada à sua frente com os seios expostos e encarando-o assustada.

– Você quer que eu faça alguma coisa diferente? – ela perguntou num sobressalto.

– Diferente? Do que você está falando?

Ela pareceu respirar aliviada com a surpresa de Severo, mas respondeu vagarosamente, como que medindo suas palavras:

– Seus amigos, sempre que vêm aqui, pedem por determinadas meninas e pagam mais caro para fazerem o que quiserem com elas. É a primeira vez que me escolhem. Eu não sei exatamente o que eles fazem, porque nenhuma pareceu lembrar de nada no outro dia para nos contar.

Foi só então que Severo entendeu completamente onde estava e que a menina à sua frente só estava ali com ele porque fora paga para isso. Ele baixou a cabeça para não ter que olhar os enormes olhos azuis que o fitavam em expectativa. Ele nem podia imaginar o que Evan e os outros sonserinos faziam para precisarem pagar extras para prostitutas e ainda usar um Obliviate depois. Quase teve um acesso de ânsia quando lembrou que os amigos eram capazes de lançar as Maldições Imperius e Cruciatus com uma habilidade capaz de invejar o próprio Lorde das Trevas.

– Mas é claro – ela continuou – que eu estou aqui para satisfazê-lo.

Severo levantou os olhos novamente e a analisou friamente. Podia ser apenas uma vagabunda trouxa, mas havia alguma coisa nela que o impedia de seguir os mesmos passos dos amigos.

– Isso foi um mal entendido – foi o que conseguiu responder. – É melhor você se vestir...

– Não! – ela protestou. – O Sr. Rosier deixou bem claro que se você não me quisesse, ele mesmo iria dar proveito ao dinheiro que gastara comigo. – Então, acrescentou com um sorriso torto:

– E eu acho que você vai ser mais gentil que ele.

– Ele disse? – Severo perguntou com os olhos estreitos.

Ela assentiu.

– Ele também disse que você poderia resistir no início, e que se isso acontecesse era para eu chamá-lo de... – Ela fez uma pausa e então continuou: – Mestiço.

Severo não sabia se estava com raiva, vergonha, ou indignação. Estava com raiva dos seus amigos por deixá-lo nessa situação, vergonha por ter deixado seus sentimentos por Isabelle tão a mostra a ponto de virar vítima de uma brincadeira tão sem graça, e indignado com o fato de estar sem ação frente à menina que podia realmente ser Isabelle. Compreendendo o humor negro dos amigos, Severo então perguntou:

– Qual é o seu nome?

Ela não respondeu de imediato. Engatinhando pela cama, aproximou-se lentamente até que ele pode sentir o mesmo perfume que sentira quando Isabelle o beijara pela primeira vez. A garota trouxa o empurrou delicadamente contra a cabeceira da cama e começou a beijá-lo no pescoço, até que sussurrou no seu ouvido:

– Você pode me chamar de Isabelle.

Severo resfolegou ao ouvir aquilo. Embora estivesse constrangido com a situação, não conseguia sentir raiva de Evan. A falsa Isabelle já estava nua em cima dele, e agora, ele seria incapaz de recusá-la novamente. Não podia censurar o amigo por lhe proporcionar um pequeno momento de loucura, onde era possível fingir que era Isabelle Malfoy quem beijava incessantemente o seu corpo até que estivesse pronto para possuí-la. Não conseguia mais pensar racionalmente, concentrava-se apenas em seguir os movimentos de Isabelle, falsa ou não, que o conduzia lentamente ao seu primeiro orgasmo.

Quando estava finalmente exausto, ainda experimentando silenciosamente as sensações e reações recém afloradas em seu corpo, percebeu o par de olhos que o fitavam. Não eram cinza. Não eram altivos e orgulhosos, mas que ao mesmo tempo conseguiam ser tão meigos. Era simplesmente um par de olhos azuis, fixos, inexpressivos, talvez um pouco assustados. Ela fez menção de levantar-se da cama, mas então Severo a puxou pelo braço:

– Não – ordenou. – Eu gostaria que você ficasse mais um pouco.

Ela não protestou. Deitou-se na cama novamente, ao lado de Severo. Ele podia ver que ela ainda estava um pouco assustada com as suspeitas do que seus amigos costumavam fazer quando freqüentavam o local. Mas ele não seria capaz de machucá-la. Não podia fazer mal à Isabelle. Apenas a queria perto dele, numa tentativa vã de que este momento único durasse para sempre. Mesmo que seu cérebro lhe dissesse que estava com uma trouxa que fora paga para realizar suas vontades, ele deixou-se enganar por poucos minutos pensando em Isabelle, imaginando que era nos cabelos dela que seus dedos se enroscavam, que era o corpo dela que se encolhia sob o seu.

Ele podia passar a noite inteira assim, fingindo que a mulher ao seu lado era Isabelle, que ela finalmente o via de uma maneira diferente, que também gostava dele como ele gostava dela. Mas então, uma voz surgiu de suas lembranças: "Francamente, Sirius! Você acha que eu me sujaria com um mestiço? Eu ainda não acredito que você está com ciúmes dele!".

Com um suspiro, Severo levantou-se e começou a se vestir, virado de costas para a cama. Não conseguia mais olhar para a garota que deixara lá. Ela era a prova de que o que acabara de fazer era o mais próximo que conseguiria chegar da dona daquela voz que sempre insistia em retornar aos seus pensamentos. Evitando encará-la, disse apenas:

 – Você pode ficar o resto da noite aqui, ou Evan vai querer que você também participe da festinha dele. E acredite, você não iria gostar.

Abotoando o último botão da sua camisa, Severo saiu do quarto sem um único relance para a garota que deixara na cama balbuciando um simples Obrigada e ainda confusa com a reação tempestuosa do cliente. Ele estava com raiva de si mesmo. Raiva por ter se deixado enganar por uma vadia trouxa, uma vadia que o fazia lembrar-se tanto de Isabelle que, por isso, ele sentia-se tão impelido a protegê-la dos seus amigos.

Quando desceu no bar, encontrou todos os seus amigos o esperando. Aparentemente, a festinha particular deles acabara mais cedo para que todos pudessem observar sua reação quando ressurgisse do quarto. Assim que o viram, começaram a aplaudir, e Evan foi em sua direção, colocando um dos braços em seus ombros e conduzindo-o até a mesa onde os outros estavam.

– Então? – ele perguntou maliciosamente. – Gostou da garota que escolhi para você?

Severo o encarou com olhos estreitos e respondeu ameaçadoramente:

– Você me paga, Evan.

Mas o rapaz apenas riu como resposta. Severo podia sentir que o amigo estava completamente bêbado. Depois de uma longa gargalhada, explicou:

– Considere como um presente. Já estava na hora de darmos um basta na sua fascinação pela Isabelle. Você parecia o elfo doméstico dela este ano.

Chegaram até a mesa onde os outros rapazes estavam bebendo. Evan pegou sua caneca de cerveja trouxa e a levantou para propor um brinde:

– Ao Severo! Que hoje descobriu que existem mais Isabelles no mundo, e que algumas fazem qualquer coisa se você pagar bem!

Todos na mesa riram, menos Severo, que apenas pegou a caneca que lhe foi empurrada e a levantou com um fraco sorriso no rosto. Assim que terminaram de beber, levantaram-se para saírem, para o alívio de Severo. Não queria continuar ali, sendo freqüentemente lembrado da sua atração quase servil por Isabelle, ou de como isso ficara tão aparente a ponto de ter virado o motivo das risadas na mesa.

Entretanto, Severo não podia dizer que não gostara da surpresa que lhe pregaram e também sabia que Evan estava certo. Isabelle não era a única garota no mundo, e se ela achava que um mestiço não era digno dela, havia muitas outras que não se importavam com isso. A partir daquele dia, ele decidira ignorar totalmente seus sentimentos por Isabelle e começou a passar cada vez mais tempo com seus amigos sonserinos. Eles passaram quase todas as noites das suas férias de verão daquele ano na parte trouxa de Londres, onde podiam aprontar o que quisessem sem serem importunados pelo Ministério da Magia ou mesmo pelos fofoqueiros repórteres do Profeta Diário. Afinal, ambos estavam mais preocupados com as grandes ondas de ataques dos Comensais da Morte para preocuparem-se com um bando de adolescentes bruxos.

Agora, com as férias de verão chegando ao fim, mesmo as festas e as saídas organizadas a cada dois ou três dias por Evan não eram suficientes para fazer com que Severo deixasse de pensar em Hogwarts. A ansiedade pela chegada dos resultados dos seus N.O.M.s só acabou quando, numa tarde ensolarada de agosto, uma coruja de Hogwarts chegou trazendo suas notas e mais uma excelente notícia: ele era o novo monitor da Sonserina. Ainda comemorando a novidade, rolou os olhos pelo pergaminho com os seus resultados, descobrindo que recebera Ótimo em Poções, Defesa Contra as Artes das Trevas, Feitiços, Herbologia e Runas; Excede Expectativas em Transfiguração, Astronomia e Aritmancia; e apenas um Aceitável em História da Magia.

Foi a primeira vez, depois de tantas semanas, que voltou a pensar em Isabelle: Será que ela conseguiu o que precisava para continuar em Poções? Ainda mais tendo que fazer as provas logo após a morte do pai? Seu sorriso esmaeceu depois que lembrou da amiga. Ele ainda não se conformava como ela continuava sendo tão importante para ele depois de tudo o que acontecera. Inconscientemente, seu sorriso voltou assim que percebeu a coruja dela na sua janela. Ela mandara-lhe um bilhete pedindo para encontrá-la no Caldeirão Furado no dia seguinte e então seguirem até o Beco Diagonal para comprarem juntos o material para Hogwarts.

Tentando se desculpar pela alegria repentina ao receber notícias da amiga, Severo disse para si mesmo que os dois ainda continuavam amigos e que ele realmente precisava providenciar seu novo material. Assim, no dia seguinte, seguiu pela lareira do seu quarto até o Caldeirão Furado, feliz com a idéia de encontrar Isabelle novamente, a despeito do que poderiam pensar seus próprios amigos.

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Quando chegou, o bar estava cheio, mas logo avistou-a numa mesa mais ao longe, sozinha, com um olhar triste e pesaroso, mas sem perder o brilho e altivez dos Malfoy. Ao vê-lo se aproximar, entretanto, seus olhos brilharam, e ela o cumprimentou com um sorriso triste:

– Olá, Mestiço. – E levantou-se para abraçá-lo.

Depois de um longo abraço, ele disse:

– Eu sinto muito... pelo seu pai. – Ele nunca mais vira, ou falara com Isabelle depois do dia em que ela saíra chorando da sala comunal da Sonserina.

– Obrigada – ela respondeu, fechando o sorriso. – Varíola de Dragão. Não havia nada que pudesse ser feito.

Severo a pegou pela mão, fazendo-a sentar-se novamente. Era estranho estar com ela de novo depois de tudo o que acontecera em suas férias. Tentou não pensar na garota trouxa que sempre o fazia lembrar-se de Isabelle. Embora já tivesse ficado com outras garotas depois daquele dia, ele voltava a procurar a falsa Isabelle quando sentia-se sozinho e odiava-se por isso depois. Imaginou o que a verdadeira Isabelle pensaria se soubesse que ele estava usando uma vagabunda trouxa para satisfazer suas fantasias. Mas o olhar triste da amiga o comoveu e, sentindo que precisava animá-la, tentou mudar de assunto:

– E os seus N.O.M.s? Você já recebeu o resultado?

Finalmente ela sorriu de verdade enquanto mostrava-lhe o pergaminho com os resultados dela. Ótimo em Transfiguração, Feitiços, Defesa Contra as Artes das Trevas e... Poções? Severo sorriu abertamente para ela, feliz com o sucesso da amiga, que também obtivera Excede Expectativas nas demais matérias, exceto pelo Aceitável em Adivinhação.

– Eu ainda não entendo por que você insiste em Adivinhação – comentou. – Foi seu único Aceitável.

– Se você conhecesse o Prof. Crowley, também gostaria de Adivinhação. Eu nunca consegui enxergar nada naquela bola de cristal, mas pelo menos ele tem um monte de histórias sobre o Departamento de Mistérios no Ministério. Você sabia que eles têm uma sala enorme, onde todas as profecias já feitas ficam arquivadas?

Severo apenas balançou a cabeça. Adivinhação realmente não lhe interessava.

– Mas você não fez nenhum comentário sobre a minha nota de Poções – ela continuou, fingindo que estava chateada com isso.

– É claro que vi sua nota – ele respondeu. – Parabéns!

Ela sorriu de novo e disse:

– Graças a você. Obrigada. – E aproximou-se dele, beijando-o no rosto. – Agora você vai ter que me agüentar por mais dois anos nas aulas de Poções – ela continuou com um sorriso.

Severo afastou o seu rosto de perto dela e, fechando o sorriso, disse:

– Acho que seu namorado não vai gostar da notícia.

Ele sabia que Sirius o importunara naquele dia depois da prova de Defesa Contra as Artes das Trevas porque estava com ciúmes de Isabelle. Já havia decidido que tentaria ignorar o que sentia por ela, então, mesmo que apreciasse a idéia de um duelo com o grifinório, não queria mais problemas com ele por causa de Isabelle.

Ela o considerou por um momento, depois baixou os olhos e começou a falar, balbuciando:

– Eu... Nós... O Sirius não é mais meu namorado.

Severo arregalou os olhos para ela, surpreso, e ficou esperando uma explicação.

– Ele me contou o que eles fizeram com você – ela continuou. – E me contou como se fosse a coisa mais natural do mundo, como se não soubesse que você é meu amigo. Eu não poderia continuar namorando um grosso daqueles!

Severo não sabia o que dizer. Isabelle não estava mais com o Black, e por sua causa! Mas a euforia trazida pela notícia foi apagada pela vergonha ao lembrar-se novamente daquele dia. Ela era a última pessoa que ele queria que soubesse do que acontecera.

Isabelle percebeu que o amigo estava desconfortável naquela situação, e agora foi a sua vez de mudar de assunto:

– Mas ainda tenho mais uma coisa para contar – ela começou mais animada. – Olhe isto! – E mexendo em suas vestes, tirou o broche de monitora, igual ao que Severo recebera em sua carta. – Sou a próxima monitora da Sonserina!

Severo abriu um sorriso largo e depois, mostrando o seu próprio broche, falou com um tom zombeteiro:

– Grande coisa, eu também tenho um desses!

Isabelle arregalou os olhos e abriu ainda mais o sorriso, inclinando-se novamente na direção de Severo para abraçá-lo, depois de gritar um Parabéns! ouvido por todos os ocupantes do bar.

– É tão bom que voltamos a ser amigos de verdade de novo! – ela disse depois que o soltou.

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Os dois passaram o resto do dia no Beco Diagonal, andando felizes juntos pelas diferentes lojas bruxas, providenciando o material para Hogwarts ou simplesmente apreciando as últimas novidades em livros, caldeirões e vassouras. Passaram a maior parte do tempo na apinhada Travessa do Tranco, a rua mais procurada por aqueles com interesse nas Artes das Trevas. Com a ineficiência do Ministério em prender os responsáveis pelos ataques cada vez mais freqüentes de Comensais da Morte, muitos bruxos começaram a freqüentar a rua a procura de artigos que pudessem defendê-los contra os portadores da Marca Negra, símbolo usado por Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado para marcar seus seguidores. A fraqueza do Ministério perante o Lorde das Trevas também fez com que as Artes das Trevas voltassem a ser praticadas livremente, fazendo com que as discretas lojinhas de ingredientes raros e artigos enfeitiçados da Travessa do Tranco passassem pelo período de maiores lucros que seus proprietários já tiveram notícia.

No final da tarde, Severo e Isabelle voltaram ao Caldeirão Furado e se despediram antes de seguirem para suas próprias casas pela rede Flu. Ao dar seu primeiro passo para a lareira, Isabelle ainda lhe disse antes de ser engolida pelas chamas verdes:

– Este ano a Sonserina vai ter sua vingança!

Severo não entendeu exatamente o que ela quis dizer, mas não deu muita importância. Estava feliz por ter encontrado Isabelle novamente, e feliz por ver que continuavam amigos. Finalmente, aceitara o fato de que ela não sentia a mesma coisa que ele sentia por ela, já tinha outras garotas para procurar quando quisesse. Entretanto, nenhuma trouxa era capaz de substituir a amizade dela, e isso, ele acabara de reconquistar.


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Notas finais do capítulo

N.A.: Gostaria de mandar um agradecimento especial à Miateixeira, quem eu pentelhei pra caramba e muito me incentivou a escrever este cap. Talvez não tenha ficado exatamente como ela imaginava, também acho que muitas snapetes vão me odiar pela forma como tudo aconteceu com o Snape, mas afinal... ele precisava crescer! :)

A seguir: Severo ainda não esqueceu da humilhação que sofreu com os Marotos, e mais sonserinos vão querer vingança...



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