Contando Estrelas 3 escrita por Letícia Matias


Capítulo 5
Capítulo 5




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Em meados de fevereiro, Johnny mudou para o apartamento e fiquei feliz com isso, mas com ele, vieram também várias discussões e brigas. A pior tinha sido na última sexta-feira porque ele tinha ido me buscar na faculdade e simplesmente teve um ataque de ciúmes quando me viu conversando com meu professor. No engarrafamento, desci do carro no meio da 5th Avenue e o deixei. Fui para o apartamento a pé, na garoa. E agora, depois de três dias, ainda não estávamos nos falando porque ele era orgulhoso e eu mais ainda. E para piorar, eu tinha pegado uma gripe forte por causa da garoa e do vento.

Eu estava na cozinha tomando um leite quente e estava trocada para ir correr no Central Park. Eram oito e vinte da manhã.

Johnny apareceu na porta do quarto. Ele estava com a calça do pijama, com o cabelo bagunçado e com cara de sono, também estava de cara feia para mim, e eu para ele. Olhei para ele e depois voltei a ler o jornal que estava no balcão.

Ele abriu a porta da geladeira e então olhei para suas costas cheias de pintas marrons e pequeninas. Eram fofas. Revirei os olhos para mim mesma e voltei a “ler” o jornal. Sentou-se de frente para mim e eu não ousei olhar para ele, mas, pude ver que ele me olhava.

Terminei de tomar meu leite e levantei-me deixando-o sozinho na cozinha. Ele comia de cabeça baixa, em silêncio. E ambos sabíamos que essa briga e esse orgulho todo estavam nos matando por dentro. Até pensei em ceder e pedir desculpas, mas, logo depois penso que o errado foi ele de fazer escândalo na frente de todos no campus.

Fui até o quarto e coloquei uma jaqueta cinza de moletom. Eu estava de calça legging preta e um all-star preto. Prendi meu cabelo num rabo de cavalo alto e depois saí do quarto indo em direção à cozinha.

Peguei meu celular que estava no balcão e coloquei no bolso da jaqueta. Peguei também o fone.

Olhei para ele e ele olhou para mim. Foi isso o que aconteceu, uma simples troca de olhar e então eu fui em direção à porta, saindo em silêncio.

***

Não demorei muito para chegar ao Central Park. Lugar enorme, lindo, obviamente cheio de árvores e uma paisagem incrível, muitas pessoas, de todas as idades e de todos os tipos.

Comecei a correr em meu ritmo, ao som de Avicii. Uma vez tinha ouvido que se você escuta músicas animadas enquanto faz exercícios, isso faz com que você aumente a disposição. Não sei se era verdade, mas comigo funcionava.

Tentei não pensar em Johnny e na nossa briga estúpida que ele havia começado e decidi correr pelo menos por uma hora e depois, caminhar por meia hora. Passei por várias pessoas com seus cachorros enquanto eu corria e tive uma súbita vontade de adotar um. Talvez adotasse.

Senti meu celular vibrar. Não parei de correr nem mesmo quando vi que era uma mensagem de Johnny. Apertei em “visualizar”.

“Onde você está¿”

Coloco o celular de volta no bolso e continuo minha corrida. Aumento mais o volume da música tentando me dispersar dos meus conflitos internos.

Depois de meia hora de corrida, eu estava me sentindo fraca e tossindo muito, com o nariz entupido, então, decidi parar e começar apenas a caminhar.

Parei para comprar uma garrafa de água.

Enquanto a senhora procurava três dólares para me dar de troco, avistei meu professor vindo em minha direção correndo com uma bermuda cinza e uma camisa preta, junto com um cachorro labrador lindo preso a uma coleira.

– Oi Mary. – ele disse chegando do meu lado e cumprimentando-me com um beijo no rosto.

Ele estava suado e sorriu cansado para mim.

– Oi Sr. Dawson, como vai¿

– Bem, estava correndo e levando essa criaturinha aqui para dar uma volta. – ele disse apontando para o labrador.

Sorri e a senhora me entregou os três dólares e a água.

– Obrigada. – sorri para a senhora e ela se retirou com o pequeno carrinho de água que ela estava carregando.

Abri a garrafinha e dei grandes goles, tossindo em alguns intervalos.

– Você está bem¿ - O Sr. Dawson perguntou.

Assenti engolindo um último gole de água.

– Estou um pouco doente, mas ficarei bem. – eu disse. Olhei para o labrador. – É fêmea ou macho¿

O Sr. Dawson sorriu para mim. Ele parecia ter uns trinta e três anos e era um sujeito bonito. Tinha cabelos louro escuro, olhos verdes, um corpo atlético e um sorriso juvenil. Muitas professoras e alunas eram atraídas por ele. Era hilário assistir as alunas dando em cima dele.

– O que você acha¿ - ele perguntou.

Mordi o lábio e sorri.

– Bem, me parece fêmea. – eu disse.

O cachorro latiu e pulou em cima de mim derrubando-me no chão. Dei um gritinho e caí de costas.

– Marvin! – Sr. Dawson tirou o cachorro de cima de mim e me deu a mão.

– Você está bem¿ - ele disse me ajudando a levantar-me.

Ri pondo-me de pé e tirando a poeira da roupa.

– Sim. Então é macho!

Ele riu.

– Sim, acho que ele se ofendeu percebendo que você duvidou de sua masculinidade.

Ri novamente.

– É, pode ser. Desculpe Marvin! – eu disse passando a mão na cabeça do labrador que balançava o rabo de um lado para o outro com a língua para fora.

Olhei para o Sr. Dawson que me olhava de um jeito... Que me deixou desconfortável.

– Ah... Então, eu tenho que ir. – eu disse.

– Ah, sim. – ele disse passando a mão pela nuca. Depois me olhou novamente. – Te vejo na aula¿

– Sim. – eu disse sorrindo. – Até a aula.

Comecei a andar e ouvi um “até” muito distante.

Chegando de volta no apartamento, não vi Johnny na sala ou na cozinha. Fui até o quarto e tirei meu tênis colocando debaixo da cama. Ele estava sentado na cama com o notebook no colo.

– Onde está seu celular¿ - ele perguntou.

Olhei para ele e tirei o celular do bolso jogando-o na cama.

– Não recebeu minha mensagem¿ - perguntou novamente com os olhos fixos na tela do notebook.

– Recebi.

– Porque não me respondeu¿

– Porque não quis. – respondi.

Tirei minha jaqueta e joguei em cima da cama. Dei as costas para ele e fui até o guarda-roupa pegando uma roupa confortável. Eu estava com fome e estava pensando em fazer uma macarronada antes de ir para a faculdade.

– O que tem de errado com você¿ - ele perguntou.

Arfei e virei-me para olhá-lo.

– Comigo¿ Nada. Com você¿ Ah... Vamos ver, o fato de que você me humilhou na frente de quase todos da faculdade, faz com que você pareça um louco. E agora quer que eu responda sua mensagem¿ Eu estava correndo. – eu disse.

– E a cena que fez na sexta-feira me deixando sozinho na avenida¿

– Você mereceu! – disse num tom alterado. – Quem você pensa que é Johnny¿ Não pode me tratar daquele jeito na frente de ninguém. Absolutamente ninguém! Nunca aceitei ninguém me dizer quem ver, ou o que fazer e não vou tolerar nada desse tipo de você. O Sr. Dawson é meu professor. – pelo o que vi hoje ele estava me paquerando – E nós não temos nada. Então, pare com a sua paranoia e pare de reclamar da minha cara feia. O único errado na história aqui é você. Você é paranoico até mesmo com Adam!

Ficamos nos encarando por um momento e depois entrei no banheiro trancando a porta. Eu sentia cada fibra do meu corpo doer por causa do esforço físico, por causa da gripe... Minha cabeça doía, minhas pernas doíam, meus ombros e minha nuca. Eu estava acabada. Decidi preparar um banho de banheira para que eu pudesse relaxar.

Ouço uma batida na porta.

– O que foi¿ - falo mais grossa do que queria.

– Abra a porta.

– Não Johnny. Eu quero ficar sozinha, tá¿ Só por uns bons quinze minutos, por favor! Vou tomar banho.

Ele dá um soco na porta que me faz pular. Sinto o raiva crescer dentro de mim.

Enrolo-me numa toalha e abro a porta olhando para ele.

– Você vai começar a quebrar as coisas dentro de casa¿ - perguntei.

– Não se faça de boba, seu queridinho Sr. Dawson está caidinho por você e você sabe disso.

Empurro ele como se minhas mãos tivessem vida própria.

– Cale a boca! – eu disse. – Não percebe o quanto está sendo idiota¿ Pelo amor de Deus!

– Sabe o que é engraçado¿ É que você fez um escândalo a toa comigo quando viu Alicia...

– Não se atreva! Ela estava BEIJANDO VOCÊ! – grito e logo estou histeria. – BEIJANDO VOCÊ! MEU PROFESSOR NÃO ESTAVA COM A LÍNGUA NA MINHA BOCA; ESTÁVAMOS CONVERSANDO! EU ESTAVA FALANDO DE VOCÊ, SEU IDIOTA!

Ele olha para mim pasmo e assustado com a minha gritaria.

– Se acha que eu fui tão errada de ter feito barraco – eu disse as últimas duas palavras imitando-o – Porque implorou para eu voltar para você então, Johnny¿ Quer saber de uma coisa, se está tão perturbado assim que não consegue ter uma conversa descente comigo, então não diga nada. Cale a boca e me deixe em paz!

Entrei no banheiro e bati a porta com força trancando-a. Encostei-me na porta e respirei fundo.

Abri meus olhos novamente e vi que a banheira estava transbordando.

– Merda! – eu disse e desliguei a torneira rapidamente.

Eu me sentia tonta, com um gosto amargo na boca e com uma dor de cabeça insuportável. Senti uma ânsia de vômito e então me agachei em frente ao vaso sanitário e vomitei.

– Céus! – gemi.

Ouvi uma batida na porta e antes que eu pudesse dizer algo, vomitei de novo.

– Mary, abre a porta!

Limpei a boca com as costas da mão.

– Sai daqui Johnny. – eu disse.

– Mary, por favor...

– Não!

Passou-se vinte minutos e eu fiquei sentada ali na frente do vaso. Vomitei mais duas vezes e depois decidi entrar na banheira.

Eu me sentia exausta, fraca e sem forças para mais nada.

Fechei meus olhos e então ouvi Johnny bater as portas do guarda-roupa. Depois, ouvi passos duros saindo do quarto. Após um breve momento, ouço a porta da entrada bater.

Senti lágrimas caírem dos meus olhos.

***

Levantei-me com cuidado e me enrolei na toalha. Esvaziei a banheira e coloquei um roupão e uma meia nos pés. Sequei meu cabelo com a toalha enquanto eu olhava meu reflexo no espelho.

Eu parecia... Acabada, como se aquela briga tivesse me envelhecido uns quatro anos. Eu estava com olheiras roxas mesmo tendo dormido a noite inteira, minha boca estava seca e meu estômago se revirava suavemente.

Abri a porta do banheiro e vi que Johnny não estava ali. Ou seja, ele realmente tinha saído.

Respirei fundo e fui até a cozinha, onde preparei uma macarronada deliciosa, porém, só consegui comer algumas garfadas antes de vomitar tudo de novo.

***

Depois de não ter conseguido deixar a macarronada no meu corpo, decidi que precisava dormir ao invés de ir para a faculdade. Tomei um remédio para que eu conseguisse dormir e enfiei-me embaixo do edredom na cama. O efeito foi rápido e logo eu caí em um sono pesado.

***

Acordei com as pálpebras pesadas e com o estômago ainda ruim. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo comigo.

– Ah meu Deus! – eu disse levantando-me desajeitada com a mão na boca e correndo para o banheiro para vomitar (de novo!). Dessa vez foi apenas uma água amarela por não ter nada do estômago.

Fiquei quarenta minutos sentada com a cabeça enfiada no vaso sanitário, vomitando e vomitando novamente até que por ora, o enjoo passou.

Fui para a sala e vi que Johnny não estava lá. Olhei para o relógio analógico preto na parede perto do balcão. Eram seis e meia da tarde.

Suspirei e sentei-me no chão de carpete em frente à janela. Nova York estava escurecendo e revelando seus shows de luzes surpreendentes. Peguei um cigarro do maço em cima da mesinha de centro de madeira na sala e acendi um dando uma pequena tragada.

Soltei a fumaça pela boca e senti meu celular vibrar. Era Katie.

– Oi. – eu disse.

– O que aconteceu¿ - ela perguntou.

– Não estou bem... – eu disse. – Pode vir pra cá¿

– Sim, estou indo aí.

Desliguei o telefone e dei outra tragada. Eu estava quebrando uma das regras de Johnny, que era não contar nossos problemas para Katie ou para qualquer pessoa, mas, eu pouco me importava com sua regra de merda nesse momento.

***

– Oh meu Deus! – Katie disse me dando um abraço quando abro a porta. – Você parece horrível.

– Eu me sinto horrível. – respondo sem emoção.

– O que aconteceu¿

– Johnny e eu estamos em crise.

– Desde sexta-feira¿

– Hoje aconteceu nossa pior briga. – então conto tudo para Katie desde o café da manhã até minha crise de vômito há uma hora atrás.

– E você estava fumando¿ - ela perguntou.

Dei de ombros e senti meu estômago revirar novamente.

Faço cara feia e coloco a mão na barriga.

– Você realmente não está bem. Não conseguiu comer nada¿ - ela perguntou.

– Não. Fiz uma macarronada pro almoço, mas comi algumas garfadas e coloquei tudo para fora.

– Johnny está sendo um tremendo filho da mãe! Ele não pode fazer isso com você. Olhe como você está!

Assenti e levantei-me correndo para o banheiro. Katie segurou meus cabelos enquanto eu estava ali novamente em frente ao vaso sanitário.

Depois de alguns minutos Katie me colocou na cama.

– Vou pegar um Dramin para você. Você vai dormir e vamos ver se esse seu enjoo passa.

Ela foi até a cozinha e minutos depois voltou com um copo grande de água e um comprimido branco.

Engoli o comprimido e a água com dificuldade.

– Obrigada Katie. – eu disse sorrindo murchamente.

Ela sorriu da mesma maneira.

– Sinto muito, Mary. Parece que vocês estão... Realmente numa crise. Mas, eu estou querendo matar o Johnny!

– Somos duas.

Ela ri um pouquinho.

– Vai melhorar. Durma um pouco.

Assenti e ela apagou a luz do abajur amarelo ao lado da minha cama. Por mais que eu tenha dormido horas, eu ainda estou com sono. O Dramin logo me ajuda a dormir.


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