POV. PEETA

Meus lábios estavam a centímetros dos de Katniss. Levei um susto enorme quando vi aquela onda indo na direção dela, com certeza ela se afogaria. O problema foi quando eu a peguei, não sei como, mas ela se grudou a mim. Ou eu a grudei em mim. Não sei.

Minha cabeça estava uma confusão. Katniss era muito linda, uma das garotas mais lindas que eu já vi em minha vida. Adoraria ficar com ela e depois largar, como sempre fiz. Mas parecia que se eu ficasse com ela, não conseguiria me soltar dela e ir embora. Eu sentia que ia ficar preso a ela. Eu sentia uma coisa diferente do que eu sentia com as outras quando estava com ela. Por mais estranho que fosse, eu sentia uma atração enorme pela Katniss. Mas não posso deixar isso ir para frente. Meu lema sempre foi “pegar e ir embora”, não “pegar e ficar”.

Eu nunca me apaixonei verdadeiramente por ninguém e nem quero. Sei que é um abismo de sofrimento, sei que é muito melhor pegar todas e depois deixa-las chorando por sua causa. Dar a dor às pessoas é bom, senti-la não. Meu amigo sempre falava isso.

Voltei à realidade quando senti os lábios dela roçarem nos meus. Ela tinha um olhar assustado, mas não tentava se afastar, embora mesmo que tentasse não conseguisse. Eu estava segurando-a fortemente.

Eu não podia fazer aquilo. Não podia. Soltei-a rapidamente, quase fazendo com que ela caísse, mas a segurei pela mão, só para não deixa-la cair.

– Você está bem? – coloquei um sorriso malicioso no rosto, tentando esconder meus sentimentos estranhos.

– E-estou – ela também estava transtornada.

– Bem, até o acampamento, E SIM VOCÊ VAI, NEM DISCUTA COMIGO EVERDEEN – disse e fui embora da praia.

Eu estava muito transtornado para ficar lá. Tinha de me distrair. E sei com quem e como.

– Alô, Fox?

– Oi Peet! Tudo bem? – perguntou ela sedutoramente.

– Vou ficar melhor ainda se você for à casa da Glimm agora mesmo – disse. – E leve camisinha, eu não posso passar na farmácia agora.

Desliguei e fui para a minha moto. Hora de esquecer essa coisa sem nexo que eu pensei sobre Katniss.

POV. KATNISS

Fui para o hotel tentando não pensar no que quase tinha acontecido. Queria esquecer. E ia conseguir, nem que me custasse muito. Eu estava mexidíssima com aquele quase beijo do Mellark.

*

– Annie, o que aconteceu?! – perguntei assim que entrei no quarto e encontrei-a jogada na cama, alagando o mundo. A maquiagem de seu rosto estava toda borrada, os olhos inchados de tanto chorar, descabelada e com cara de cachorro abandonado.

Minha pergunta só a fez chorar mais. Eu estava com muita raiva dela e de Clove, mas não podia deixa-la nessa situação sozinha.

– Está tudo bem, vai passar, vai passar – deitei ao lado dela e a abracei. – Depois você me conta tudo, agora se acalma, vai ficar tudo bem. Está tudo bem.

Ela soluçava muito e parecia que ia desidratar de tanta água que saia de seus olhos.

Annie ficou cerca de quarenta minutos chorando agarrada a mim, até que resolveu me contar.

– O Fi-Fi-Finnick...

– O que tem ele?

– E-ele tem outra – ela voltou a chorar. – E e-ela parece estar...

– Estar o que?

– Grávida.

Eu sabia. Sabia que não ia dar certo. Eu ainda avisei que esses garotos não são do tipo que querem ter uma vida com a pessoa, na verdade, só uma noite. Eu poderia acabar com ela agora, dizer que eu avisei, jogar na cara dela que ela não quis me ouvir, mas não seria tão má com ela. Ela não merecia isso.

– Fica calma Annie, você merece coisa melhor do que ele... Está tudo bem... – limpei as lágrimas do rosto dela – Ele é que está perdendo uma princesa linda que o faria muito feliz se ele não fosse tão burro. Agora enxuga essas lágrimas e vamos nos divertir, é isso que você merece!

Ela estava desanimada, mas tentou forçar um sorriso e limpou a maquiagem borrada do rosto, embora não adiantasse, pois ela continuava chorando.

Fiquei consolando-a, mas parecia que isso só a fazia chorar mais. Nunca achei que ela estava realmente apaixonada por Finnick, achei que fosse só um romance de verão, algo que não tem muito valor. Pelo jeito era bem mais que isso para ela, já para ele...

– Eu não acredito que fui tão idiota a ponto de me apaixonar por um surfista metido. Sei que isso nunca dá certo, mas acreditei que com ele seria diferente, acreditei que ele fosse digno, fiel... Mas ele é só mais um garoto metido e lindo no mundo, igual a todos os outros – mais lágrimas escorreram – E agora que estou aqui chorando, ele deve estar rindo e beijando outra garota por aí – ela olhou pela janela do hotel e voltou a chorar. – Eu achei que ele também me amava, Katniss.

– Sinto muito amiga... Mas essa dor vai passar, você vai achar alguém digno e fiel o suficiente para você. Todas tem seu príncipe encantado não é? Você sempre me disse isso.

– Acho que eu estava errada. Não existem garotos como os dos livros, ou das séries, ou dos filmes de romance. Eles simplesmente não existem, todos os homens são igualmente infiéis e nem um pouco cavalheiros.

Dei um beijo na testa dela e fiquei lá com ela pelo resto da tarde.

*

– Katniss, ganhei dois ingressos para o cinema hoje à noite – David me ligou. – Está a fim de ir?

Estranhei o convite de David, mas por que não aceitaria? Ele era um cara legal. E bonito.

– Claro!

– 19:00 estou aí no hotel – concluiu ele e desligou.

Não faria nenhum mal sair com um garoto, que é meu amigo, não é? EU precisava me distrair. Eu só sabia pensar em minha mãe e se ela ia ficar bem, ou no sofrimento de Annie, ou no quase beijo do Mellark...

O quase beijo. Ainda me lembro da sensação, eu achei que ele ia me beijar de verdade, e não sei por que, mas eu não conseguia me soltar dele. Era como se meu corpo não tivesse controle sobre o próprio nos braços de Peeta. Foi tudo tão estranho, tão confuso, tão... Bom... Até que ele me soltou e eu quase caí na água.

Sacudi a cabeça, a fim de afastar essas lembranças e fui me arrumar.

No horário marcado, David estava na porta do hotel, com o táxi me esperando.

– Hey – ele deu um beijo discreto e rápido em minha bochecha e entramos no táxi.

Fomos conversando sobre séries, livros, sagas e todas as coisas que gostávamos. Ele gostava de muitas das coisas que eu amava, o que só fez o conceito dele subir comigo.

David é um cara legal. Além de bonito, ele é gentil, ele é carinhoso, é o tipo de cara que a Annie merece, mas eles nem se conversam. Ela já comentou que ele é lindo, mas não chegou a ficar louca como ficou com Finnick.

Chegando ao shopping, ele me surpreendeu. Enquanto andávamos em direção ao cinema, ele pegou a minha mão devagarinho. Ficou acariciando-a com os dedos levemente. Foi tão fofo!

David é o cara do tipo cavalheiro, fofo, que você quer estar junto.

Tentei afastar os pensamentos sobre David sem sucesso. A fofura dele ficou em minha mente o tempo todo. Eu estaria gostando dele? Bem, acho que não. Não tenho mais essa capacidade.

Credo, parece que eu vivo em mundo só de garotos, gostar, namorar e tal... Tudo culpa da Annie e da Clove.

Os ingressos eram para o filme “Maze runner: Correr ou Morrer” parecia ser bem legal. Ambos gostamos de filmes de ação e sagas, então seria ótimo para nós.

O filme já estava para começar, fazendo com que fossemos logo para a sala.

– Você curte Divergente? – perguntou ele.

– Sim! Adoro! E você?

– Amo! Você gosta da Tris e do Tobias juntos?

– Uhum! Você também?

– Sim! – ele ficou empolgado.

Achei estranho quando ele entrelaçou meu braço no dele. Pareceu um pouco antigo demais, mas foi bonitinho.

– Eles... São lindos – eu estava um pouco atrapalhada.

– Igual a você – ele murmurou, mas deu para perceber que queria que eu ouvisse.

Corei com o comentário e mirei o olhar para o chão. Forcei um sorrisinho tímido para não ficar chata a situação.

Sinceramente eu não gosto que as pessoas tentem me conquistar. Eu fico muito sem graça e tenho medo. Tenho muito medo. Medo de se apaixonar é a coisa que mais proibi uma pessoa no mundo. Sei disso por experiência própria.

Mas eu tinha de parar com isso. Tinha que viver intensamente, ou morreria arrependida por não ter feito as coisas que todas as pessoas fazem. Eu podia muito bem me doar ao David, ficar com ele e ser feliz. Não tinha que pensar que sempre daria errado, que sempre seria ruim. Eu só precisava achar a pessoa certa, não pessoas como Gale ou como os Mellark, que simplesmente ficam e vão embora.

Tinha decidido que queria ser feliz. Com David ou sem, mas não seria nada mal se fosse com ele, não é?

Quando o filme começou, David segurou a minha mão e ficou acariciando do mesmo jeito que fez quando chegamos ao shopping. Eu deixei, resolvi ser feliz então tinha que seguir.

De repente, ele levantou o que nos separava e passou o braço pelo meu ombro. Nem conseguia prestar atenção no filme com ele se aproximando esse jeito.

O filme foi muito legal, tipo muito mesmo. No fim do filme David disse:

– Gostou do filme, Kat?

– Adorei – respondi.

Ele ainda estava com o braço me envolvendo e eu estava abraçada a sua cintura. Estávamos parecendo um casal de verdade.

Assustei-me quando percebi que ele estava se aproximando lentamente. Estava se aproximando para me beijar.

Ele vinha devagar, com os olhos grudados nos meus lábios. Eu estava com medo, fazia anos que eu não beijava. Desde Gale eu nunca me dei esse prazer novamente.

Eu não podia deixar a chance passar, eu tinha que ser feliz. Tinha que viver intensamente, como todos diziam que eu deveria.

Deixei ele se aproximar, até sentir nossos narizes e testas se encostando. Seu hálito de menta penetrou em minhas narinas, me embriagando com o cheiro bom.

E aconteceu. Seus lábios se grudaram nos meus. Foi diferente do que eu imaginava, eu achei que ia ser lento e calmo, por ser o primeiro, mas foi meio que necessitado da parte dele. Ficamos grudados até o ar faltar.

O clima ficou tenso entre nós, mas meu celular vibrou.

Clove estava me ligando.

– KATNISS! – ela berrou.

– Clove, o que aconteceu?!

– Sua mãe! E-ela não está bem...