Ao abrir a porta que dava de frente para o jardim, um vento gélido bateu no rosto de Rukia, e consigo, trouxe o cheiro das flores molhadas. A casa de seu irmão não mudara em nada, continuava sendo ao estilo oriental, tão grande e bem estruturada, o jardim de ótimo gosto coberto de flores das mais belas que existe. A noite estava na mais perfeita paz e silêncio, que era tanto, o ponto de ser possível ouvir as hortências gotejarem as águas da chuva recém–caída.

Porém, apesar da calmaria e do conforto, a pequena não conseguia cair no sono, sentia falta daquele guarda-roupa que emanava o cheiro de Ichigo a cada canto; do som da respiração dele que a acalmava e a fazia se sentir tão bem; do seu rosto adormecido tão puro como a neve.

            Bem a sua frente, no céu negro, a lua minguante brilhava insistentemente, mesmo havendo nuvens querendo cobri-la, querendo apagar seu brilho, mesmo assim o astro continuava a desejar iluminar a terra recém molhada pela chuva. No instante que a viu, a shinigami se identificou com ela. No fundo, seu coração também, mesmo ciente dos fatos, ainda desejava.

“Estávamos sempre juntos,

O caminho que percorríamos,

Se dividiu em dois,

E cada um seguiu uma direção.

Carregando o peito transbordado de tristeza.

E o céu que parece prestes a chorar,

Pensei em você.”

            O que estaria fazendo agora? Devia estar dormindo com aquela cara que a Rukia gostava tanto. Será que ficou bravo? Ou será que ficou feliz com a sua partida? Será que deveria ter se explicado pelo porquê de ter ido embora? Revelado que o gotei 13tai e principalmente seu irmão ordenaram-lhe a voltar para a Soul Society? Para a garota todas as respostas não eram necessárias, o que queria mesmo saber, o que mais lhe importava, era se daí para frente estaria tudo bem com ele. Mas pelo que conhecia o garoto, acreditava que sim, Ichigo é dono de uma grande força de vontade, tornaria-se cada vez mais forte e encontraria a felicidade. Então, ainda encarando a Lua que brilhava entra as nuvens, decidiu que também continuaria a andar, sem fraquejar.

“Nas noites sem você, sim, não vou chorar mais.

Estou me esforçando. Vou me tornar forte.

Você também deve estar vendo,

Esta lua minguante que parece desaparecer.

Estamos ligados. Eu te amo.”

Acreditou que o fato dela ter partido foi melhor para ambos. Ela estava nutrindo um sentimento muito especial pelos humanos, exclusivamente pelo Ichigo e isso era errado, proibido, ficava com medo de até quando poderia esconder estes sentimentos. Creu que os dois não iriam mais se encontrar, e tentava fazer a si mesma se conformar com os fatos, mas permanecia triste, mesmo colocando em sua mente que esse era o melhor caminho, e mesmo falando para si mesma que se tornaria mais forte, seu coração ainda doía, e seus olhos se encheram de lágrimas.

“Os dias que passo aquecendo sozinha

Estas mãos gélidas,

Sinto tanta falta do seu calor.

Não posso mais encostar em você.

Enxuguei essas lágrimas.”

            O coração de Rukia estava como as águas, qualquer pedra que atingisse-as, faria ondular-se, quebrando a calma e o equilíbrio, mas instantes depois, a paz voltava e as pedras voltavam a transtornar. Um ciclo que se repetia como o moinho.

            Com os olhos ainda sobre a lua, andou lentamente para o jardim, e a cada passo que dava, foi percebendo que as ondulações estavam cada vez mais fortes e incontroláveis.

            Desejava mais do que tudo vê-lo mais uma vez... Desejava tocar em seu rosto... ou então, voltar aos dias que convivia sempre ao seu lado... Ah, e se fosse permitido, queria estar envolvida pelo seu calor e pelos seus braços, mas achava que isso jamais ocorreria. Por isso, o que ela mais queria era apenas estar ao lado de Ichigo, e isso já bastava. Não se importava em deixar de transmitir seus sentimentos ou saber os dele, seria o suficiente se continuassem a conviver como antes, sempre juntos, brigando sem motivo, lutando contra hollows, e ela poder vê-lo com a cara séria, rindo, bravo, dormindo... Aqueles dias pareciam tão comuns, a presença do garoto parecia tão óbvia que no momento, Rukia parecia perder parte de si e desejava intensamente reencontrá-lo.

“Você também deve estar vendo,

Esta lua minguante que parece desaparecer.

Estamos ligados, eu te amo.

Estendi as mãos para a lua minguante,

Chegue até você, este sentimento.”

            De repente, um vento avançou em sua direção, e trouxe consigo, uma sensação que Rukia já sentira; ela conhecia, e muito bem, aquela pressão espiritual.