Rosa do Deserto escrita por Y Laetitya


Capítulo 16
O que fazemos com uma traidora


Notas iniciais do capítulo

Olá! Espero que estejam gostando da história até o momento, mas se você por acaso for menor de idade ou for frágil a certos conteúdos, recomendo que pule esse capítulo.
Não acho que ele esteja demasiadamente pesado na narrativa, mas certos assuntos delicados serão abordados.
Aos que prosseguirem, tenham uma boa leitura!



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Os dias se seguiram numa longa caminhada, alguns confrontos fáceis de contornar com saqueadores idiotas ou vespas gigantes, e comendo os últimos feijões enlatados que tínhamos. Meu nome agora era Primrose Hope, e Rutherford era Elijah Collin, não foi difícil esquecer de nossos nomes por minha parte, mas ele se confundia sempre, mudou de nomes varias vezes até decidir-se. Para ele, era um novo começo, uma oportunidade para tentar ter uma vida tranquila na grande Wasteland, mas eu, eu pensava diferente. Estava começando a me acostumar com uma boa vida, na medida do possível, agora, seria só mais trabalho.

E isso ficou claro conforme nos aproximávamos de New Vegas, haviam mais soldados e patrulhas, mais perguntas também. Ficava cada vez mais difícil passarmos despercebidos, contudo, todas as noites ligávamos nosso rádio da NCR, e o que escutávamos indicava que não procuravam mais por nós depois da ajuda de Boone. Decidimos contornar mais ao sul, evitando o acampamento Mc Carran ao máximo.

—Onde fica a sua vault? –Eu tentei puxar assunto enquanto passávamos por um posto de gasolina abandonado.

—Muito longe, ao sul. Nós conseguimos manter a sociedade funcionando, temos escolas, todos temos algum conhecimento útil para o convívio na vault, mas... Eu não posso voltar para lá.

—Por quê? –Mas o médico não respondeu. Talvez não estivesse preparado para falar sobre ainda.

 Era noite, então entramos num prédio de uma loja de roupas abandonada, subimos até sua cobertura e armamos nossos colchões. Abri nosso ultimo pacote de bolinhos Fancy, e lá estava eu novamente, olhando para os letreiros apagados e quebrados que eu não conseguia ler, para as lojas saqueadas e para as estrelas caídas do céu da strip. Algo tocou a minha mão, era Rutherford, ele olhava com doçura, chegou mais perto e riu, parecia sem saber o que fazer.

—Me desculpe. Você está com cara de assustada, vou parar.

—O que você quer? É sexo? Não precisa disso, é só falar.

—Eu queria agradecer por estar me levando até os Great Khans.

—Sabe, eu não sinto que deveria estar te ajudando, não mais, devíamos nos separar. Eu tenho inimigos por aqui, muitos inimigos. Mas estou tão sem perspectiva quanto você, eu não tenho para onde ir, queria finalmente ter paz. Você acha que vou conseguir isso indo com você?

Então ele segurou meu queixo com delicadeza e me deu um beijo, esse beijo logo se tornou em algo mais quente, e quando percebi ele estava em cima de mim levantando meu vestido, eu abri as pernas sorrindo enquanto o encarava com sede, Rutherford se abaixou e eu senti seus lábios, mas então senti um impacto muito forte no meu ombro direito, fazendo-me cair para trás, meu ouvido zumbia enquanto eu tentava estancar o sangue que começara a sair, eu conhecia bem qual barulho tinha sido aquele, olho para a direção de onde veio o tiro, e lá estava ele: o homem de cabelos loiros e ensebados, vestindo um sobretudo claro sujo demais para saber sua real cor. Era James, ele sorria, meio psicótico, agora apontava a arma para Dylan, que me olhava assustado.

—Ora ora, que vadia desgraçada! Acha que é assim, vai embora e arranja outro? Pois agora eu tenho uma surprezinha pra vocês!

Pegos de surpresa, rendidos e amarrados, nós não tivemos escolha a não ser seguir com James para onde ele queria. Droga, ele não deveria ter visto aquilo. James fedia, era burro, medroso e traiçoeiro, e eu nunca teria sido sua “parceira” se não fossem as minhas condições como fiend, quando percebi uma oportunidade para mudar de vida, me livrar desse escroto, era obvio o que eu deveria fazer!

—Para onde está nos levando? –Meu parceiro parecia ter medo.

—Fique quieto. –James disse.

—Nós não temos nada juntos, foi um erro, por favor, solte-nos!

Eu cuspi no chão e ele riu, parecendo não acreditar que Dylan disse aquilo. Pois é, nem eu.

Serpenteando pelas ruínas de cidade, nós infelizmente chegamos ao nosso destino: a Vault 3. Merda.

—Boa sorte, vai ser julgada traidora! –James sorriu.

—Onde estamos? –Rutherford parecia preocupado.

—Na minha casa. –Eu disse, olhando para o chão.

Entramos e serpenteamos pelos corredores fétidos e sujos, quando passávamos por pessoas, elas nos provocavam, eles sabiam quem eu era e sabiam qual seria meu fim. Durante o caminho também quase tropeçamos em alguns drogados provavelmente tendo uma overdose, havia vômitos e urina, “você morava aqui?” a cara de Rutherford dizia, ele estava com muito medo. Entramos na sala do líder, Motor-Runner, que como de costume estava cercado por dois cães.

—Olha quem voltou... –Ele disse.

Eu fiquei em silêncio.

—Vejo que fez amizades. Ficou satisfeita em matar muitos dos meus? Parece que sim. Está ferida, pobrezinha. Como te chamam agora, Miss? Anne? Mary? Ah, já sei: Rose. Seu parceiro sabe da sua historia conosco? –Dylan fez que não avidamente com a cabeça. –Pois bem... Ela era uma de nós, drogada, perdida, violenta... Não é mesmo? Mas aí ela entrou pra NCR, tirou a vida de alguns amigos meus... Você entende que agora eu estou muito bravo? –Ele se levantou, sacou uma navalha, caminhou lentamente até o médico e lhe cortou o rosto, Rutherford chorava em silêncio. –Vocês já sabem que não sairão daqui com vida, então, como gostariam de morrer? Estava pensando em esquartejamento, vocês morrem quando não tiverem mais sangue, o que acha? Doloroso do jeito que nós gostamos...

Um cheiro de merda veio até meu nariz, olhei incrédula para meu parceiro, sem acreditar que ele havia se cagado nas calças.

—Deixem-me ir! Eu não tenho nada a ver! Se me libertarem, eu posso ajuda-los, eu sou médico!

Que desgraçado! Motor-Runner parou e pensou sobre o que ele havia dito.

—Tudo bem. –Fez sinal para que James chegasse mais perto, e cochichou algo em seu ouvido.

James segurou Dylan e chamou mais três fiends, esses traziam um cano de ferro e chicotes. Não! Eles chegaram mais perto e rasgaram meu vestido, me bateram e chicotearam para que eu implorasse pela vida, mas eu não o fiz. Então um dos fiends começou a tirar a roupa, eu tentava me desvencilhar dos outros dois, que me seguravam e imobilizavam. –Por favor, não! Me soltem! Por favor, não! Não! –Eu gritei pela primeira vez. Fui penetrada violentamente com o ferro, e depois por cada um dos que estavam na sala, o médico era obrigado a assistir tudo, chorando, incapaz de fazer algo. Quando eles finalmente terminaram, levaram-no para longe de mim. Eu não tinha mais coragem de olhá-lo depois de tudo. Me arrastaram nua para o canto da sala, com poças de urina e muita poeira, meu corpo todo doía, minha vagina, meu ânus e meu ombro sangravam, e eu não conseguia sequer ter forças para me mexer. Motor-Runner se sentou na cadeira, cruzando as pernas, minha visão foi ficando escura gradativamente.

 

—Segurem ela! –Raul gritou para os outros meninos. Dois seguraram meus braços enquanto outro me agarrou por trás. –Abra a boca! É divertido, você tem que ver!

—Me larga, eu não quero! –Eu cuspi no pé dele, enquanto tentava me desvencilhar.

—Você quer! –Ele disse, abrindo minha boca e colocando o comprimido embaixo da minha língua e depois segurando-a fechada para que eu não o devolvesse. –Você vai ficar beeem feliz. –Seu rosto começou a derreter e seus olhos caíram, de repente eu não estava mais ali sendo segurada, estava tudo escuro.

—Corre! –Ouço gritarem, e logo após isso, tiros das armas da NCR.

Eu corri no escuro, escutando as pessoas se aproximarem de mim. Então tudo ficou claro, e havia muitas crianças mortas ao meu redor, entre as ruínas que eu conhecia muito bem de onde eram. Caí de joelhos. Entre as minhas pernas havia sangue, e meu corpo todo doía novamente. Fiends adultos cujos rostos eu me lembrava muito bem apareceram junto com o homem da caravana, eles me cercaram e começaram a falar coisas sujas para mim, James apareceu de trás deles, era jovem, abriram-no caminho para passar. Minha barriga começou a doer, ele se abaixou, abriu minhas pernas e começou a tirar um bebê de lá. Um menino tão lindo... Cabelos ruivos como o meu, chorava e mexia suas mãozinhas tão pequenas para cima, tentando agarrar-se a algo. Ele foi tirado de mim, James dizia “esse bebê não pode crescer aqui, havíamos tomado essa decisão, e você não pode mudar de opinião agora”. Ele colocou-o no chão, e ainda nu, chorando, teve sua cabeça explodida por um tiro.

 

—Acho que está morta. Olha como está fedendo! –Uma voz ao fundo disse, minha visão estava embaçada, e eu sentia dor, sede e frio. –Me ajuda a arrastá-la pra lá.

 Eles me pegaram pelos punhos e calcanhares, eu não sabia quantos eram, nem onde estava mais, minha cabeça doía e meu ombro cheirava mal, de repente, uma grande porta se abriu e tudo ficou alaranjado, senti pela primeira vez depois de dormir, o sol esquentando minha pele, acho que estava nascendo, ou se pondo. Me jogaram ao lado de algumas pedras, cobriram parte de mim com um pouco de terra e foram embora. Mas eu não tinha mais forças para me mexer. A noite caiu depressa, e a temperatura também.

Era assim que eu iria morrer? Comecei a chorar. Havia prometido a mim mesma que nunca mais passaria por isso novamente, mas aconteceu, de novo e de novo, durante uma semana, alterando entre realidade e sonho, que pareciam juntos um pesadelo interminável. Mas agora estava tudo calmo, uivos de coiotes podiam ser ouvidos bem longe, grilos cantavam e um vagalume piscava solitário próximo de mim, sentia frio e o ar estava bem seco, meu corpo todo doía, pedindo para aquilo tudo acabar rápido. Fechei os olhos, apenas esperando a minha hora chegar.

Mas então ouço passos cautelosos, uma sombra cobriu meu rosto. “Meu Deus...” alguém sussurrou, senti uma picada familiar, um Stimpak? Pegaram-me no colo e me levaram para longe dali.


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