Rosa do Deserto escrita por Y Laetitya


Capítulo 15
One for my baby




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Quando o sol ameaçava a se por, voltei para o motel. Rutherford estava no banheiro, o que me deu a oportunidade para colocar uma pílula discretamente embaixo da língua. Minutos depois, a porta do banheiro se abre e ele sai, o cheiro ruim havia desaparecido, estava limpo, mas com o uniforme sujo do dia anterior no corpo novamente, não o irei julgar.

—Tire essas roupas da NCR. –Eu disse, maliciosa, ele pareceu surpreso. –Chamam muita atenção. Andei reparando que há roupas de civis na cômoda, me parecem uma boa opção. –Dei uma risadinha.

Quando ele abriu a gaveta, eu segurei uma se suas mãos. Era errado o que eu estava fazendo? Tentava ser sutil, afinal o médico parecia ter outros costumes, outras maneiras de pedir por sexo. Da onde eu vim, as coisas eram mais simples, eu não precisaria sequer pedir. Os olhos dele de primeiro focaram nossas mãos juntas, surpreso, depois, seguiram para meu rosto, o dele levemente corado. Eu sorri, olhando em seus olhos de maneira provocativa. Sua boca se abriu levemente, como se tivesse pensado em dizer algo, mas após apenas um leve suspiro sair de dentro dela, se fechou novamente engolindo saliva. Parecia interminável, quanto tempo levaria para ele entender? Fechei a gaveta e o empurrei para a cama, sentando em cima dele, coloquei suas mãos por cima da roupa nos meus seios, e então pude perceber em suas calças o maior sinal de que ele queria foder.

Sorri, pois os primeiros efeitos da pílula começaram a fazer efeito.

...

Já era noite quando ele levantou da cama para se vestir, decidindo por um traje de civil.

—Por que fez isso? –Rutherford disse, enquanto colocava a calça.

—Você não gostou?

—Sim, mas...

—Você realmente é diferente das pessoas com quem eu convivi. Interessante. –Eu disse, virando para o lado e caindo no sono.

 

Ainda estava escuro quando acordei, tomei um banho e saí do quarto, respirando o ar seco e gelado da madrugada, ouvindo tiros ao longe seguindo a estrada de onde viemos. Das escadas de metal, não consegui ver o médico, então sentei num dos degraus mais altos e acendi um cigarro. Quantos dias iriam durar nossos feijões enlatados da NCR? Sem muitas tampinhas seria difícil sobreviver. Foi então que a ideia de roubar o motel me pareceu boa, mas meu parteiro não poderia saber, sua índole ainda estava muito intacta e não concordaria, precisava fazer isso sozinha, de preferencia enquanto ele não estivesse perto, e agora era o momento ideal. Não que eu estivesse procurando uma justificativa para o que eu ia fazer, eu nunca precisei fazer isso, mas Jeannie May era de certo uma vadia avarenta, contando nota por nota do dinheiro da NCR, colocando juros pelo pagamento não ser em tampinhas, de certo uma vadia, com certeza vou achar uma boa recompensa naquele cofre vagabundo que ficava no chão do caixa.

Levantei-me, limpando a areia que grudou na roupa, dei mais dois tragos fortes no cigarro, me certificando que ele havia acabado, e parti em direção do motel. Para destrancar a porta foi bem fácil, alguém acreditava que aquela fechadura trancava alguma coisa? Enfim, fechei a porta atrás de mim, lá dentro estava bem escuro, mas achei com facilidade o cofre, depois de poucas tentativas, ouvi o tão esperado clic, então abri rápido, peguei todo o dinheiro e mais uma arma pequena. Havia também alguns papéis estranhos e sujos, decidi pegar para pedir a Rutherford que lesse, vai que descobrimos mais alguma coisa que podemos tirar vantagem no futuro... Fechei o cofre e saí, trancando a porta novamente atrás de mim.

Antes do nascer do sol, Rutherford voltou, parecia mais animado, teria sido nossa foda o motivo para isso?

—Roubei o motel hoje. –Eu disse, tentando parecer normal.

—O que? –Ele pensou ter ouvido errado.

—Achei esses papéis junto com uma arma e bastante tampinhas, também recuperei nosso dinheiro da NCR, mas não acho que...

—Você ficou louca?

—Ok, escute, estamos sem tampinhas, precisava fazer alguma coisa! Consegue ler esses papéis aqui? –Disse, entregando para ele os papéis. Ele deu uma olhada, desistindo de ficar bravo pelo ocorrido.

—São só alguns recibos... Espere, este é interessante. –Rutherford me deu um dos papéis, após eu fazer cara de dúvida, ele pegou de minha mão e leu para mim: era um recibo de venda de escravos, uma mulher grávida. –Eu tive uma conversa essa noite com o atirador que fica lá no dinossauro gigante, ele tinha uma mulher, mas ela desapareceu.

—Como conseguiu que ele falasse isso?

—Não importa, parece que ele ainda não sabe o que aconteceu com ela, matou um amigo por acidente achando que ele era responsável pelo desaparecimento da mulher, os dois não se davam bem, obviamente ele não me pediu ajuda, pois quem tentou ajudar o fez matar seu amigo, não entrou em muitos detalhes. Não sei bem onde isso se encaixa, mas... É estranho, não?

—Você acha que podemos conseguir algumas tampinhas se conseguíssemos descobrir se essa escrava é a esposa desaparecida dele?

—Acredito que sim. Se for, eu não ficarei bravo por você ter roubado a dona do motel. –Ele deu uma risadinha, mas eu não correspondi. Percebendo isso, completou: –Rose, sobre o que aconteceu entre a gente...

—Que? Precisamos falar sobre isso?

—Você por acaso sabe o meu primeiro nome?

—Esqueça isso, você se chama Rutherford, não? Já é alguma coisa, agora vamos resolver o problema do sniper, ganhar umas tampinhas e cair fora. Além do mais, precisamos decidir para onde ir depois daqui. Você gostaria de voltar para sua vault?

—Definitivamente não é uma opção. –Ele se esquivou. Muito bom, parece que há algum problema entre ele e a vault. –Mas eu tenho uma amiga, ela é uma Khan, acho que estarei seguro lá.

—Boa sorte em cruzar o território da NCR. Terá que ir sozinho.

—Me leve até lá e eu posso deixa-la ficar conosco. É uma boa sociedade, com suas particularidades, eu sei, mas provavelmente vai gostar de lá.

Além do acampamento Mc Carran ficar no meio do nosso caminho, havia outro problema para mim: eu teria que cruzar também o território dos fiends, e eu com certeza não seria muito bem vinda. Porém, a proposta de viver em sociedade com os Khans não era tão ruim, eu já ouvira falar deles, ótimos produtores das melhores drogas que eu poderia encontrar, parece um sonho. Me senti obrigada a aceitar.

Arrumamos rapidamente nossas mochilas com os suprimentos e as tampinhas, o sol começava a aparecer no horizonte de terra seca quando saímos do quarto, o plano era pegar a recompensa e cair fora. Eu segurava o papel dobrado com uma mão e um cigarro na outra, descemos a escada devagar, cruzamos o terreno do motel e entramos no dinossauro, a loja de lembrancinhas que ficava na parte de baixo ainda estava vazia e escura, dando um pouco de medo a quem olhasse com a visão periférica. “Alguém gosta tanto de dinossauros para comprar uma coisa dessa?” eu comentei, e Rutherford respondeu “Aqui também tem uma estação de lançar foguetes, é muito mais interessante na minha opinião”. Quando estávamos terminando de subir as escadas, a porta se abriu, e Boone apareceu, carrancudo e meio cansado, ao nos ver, seu olhar distante mudou para raivoso.

—Eu ouvi no rádio sobre vocês. Rose Campbell e Dylan Rutherford. –Ele disse, pegando o cigarro da minha mão, jogando no chão de madeira e pisando em cima, esmigalhando-o. Droga, a NCR já sabia e procurava por nós.

—Achamos isso, talvez seja de seu interesse. –Eu estendi a mão com o papel ainda dobrado, ignorando o acontecido.

O sniper pareceu desconfiado, relutante em pegar, mas depois de olhar para o meu companheiro, que fez algum gesto que não ví, ele aceitou. Idiota. Leu o papel mais de algumas vezes, dado o tempo que ficou olhando-o, uma lagrima desceu pelo seu rosto suado e ainda mais cansado, porém, ainda duro como uma pedra. Bingo!

—Me acompanhem. –Ele disse, quebrando o grande silêncio. –Vou lhes ajudar.

Terminamos de descer as escadas novamente, as pessoas começavam a sair de suas casas, engraçado como a vida fora da strip começava e terminava conforme o sol nascia e morria, e como os meus dias não tinham um fim como o deles também. Jeannie também caminhava em direção à porta do motel, isso me fez gargalhar um pouco por dentro. Uma vadia desgraçada dessas vai ter o fim que merece, e eu já imaginava como seria. Entramos no quarto de Boone, era desorganizado mas não fedia como o nosso.

“É engraçado. Parece tão óbvio para mim agora. Bom, a NCR está procurando vocês, como já perceberam, espalharam pelo rádio. Eu teria apenas uma opção: mata-los. Mas eu sinto que estou devendo uma a vocês, então irei ajudar. No meu banheiro tem um aparador de pelos. Me deem seus colares de identificação, eu falarei que os matei, mas vocês precisam estar bem longe daqui, e diferentes também.” Ele ia dizendo, enquanto pegava algumas roupas no armário, pegou uma roupa simples para Rutherford e um vestido vermelho para mim, deveria ser de sua esposa. Um vestido vermelho...

Passei a mão pela minha cabeça, procurando os cabelos ruivos, ainda não tinha me acostumado com o novo visual. No banheiro de Boone eu havia decidido que a melhor maneira de mudar meu visual seria cortando o cabelo bem curto, o aparador de pelos estava sujo e às vezes puxava meus fios, passei no nº2, fazendo meu couro cabeludo coçar. Pelo menos agora seria mais fácil e rápido tomar banho. “Dylan” também cortou as laterais do cabelo, deixando um bonito moicano comprido no dorso da cabeça. Enquanto raspava as sobrancelhas dele contra sua vontade, ouvimos uma batida na porta.

Desligamos o aparador e ficamos no banheiro escutando, silenciosos: era o ranger Andy. Ele e o atirador tiveram uma longa conversa, primeiro, ele comentou sobre o roubo do motel, depois sobre quem nós éramos e o que tínhamos feito, ele achava que havia uma ligação e procurava pelos culpados, Boone concordou, disse que qualquer coisa avisaria, os dois ainda tomaram um café juntos, e depois Andy partiu. Terminamos de vestir a roupa e logo em seguida o atirador abriu a porta do banheiro.

—É hora de partirem.

—O que você fará a respeito de Jeannie May? –Eu finalmente perguntei.

—Não é do interesse de vocês. Eu amei muito minha mulher, eu queria uma família com ela. Nunca deveria ter vindo para cá, e nunca irei me perdoar por isso. Mas que escolha eu tenho agora? Não me restou nada. –Ele disse, olhando para o chão, como uma pedra.

Rutherford colocou a mão em seu ombro como forma de consolo, mas ele se distanciou e abriu a porta do apartamento, sinalizando para partirmos. Deixamos nossos colares de identificação em suas mãos e saímos em direção do Norte.


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