Entre dois Mundos escrita por Pedro H Zaia


Capítulo 6
Passado revelado


Notas iniciais do capítulo

Oi leitorxs lindxs, tudo bem com vcs? Espero que sim :D
Eu nem tanto por motivos de trabalhos e provas intermináveis huhaha, mas o que importa é que está aqui o capítulo 6 lindo de bonito pra vcs :3 (Até rimou XD)



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Banguela voava tranquilamente sobre o mar e Sombra o seguia de perto. Não resisti ao impulso de gritar. Mas daquela vez era diferente. Não era um grito de terror... Era um grito de prazer, de liberdade. Os dragões planavam calmamente, o mundo se estendia sob nossos pés...

– Mais alto! - Gritei, e Soluço ouviu. Banguela e Sombra pareciam competir para ver quem subia mais rápido, azul escuro e preto fazendo uma estranha dança de morcegos, subindo cada vez mais alto... Tocamos as nuvens, voando lado a lado, como dois irmãos. Soluço sussurrou algo para seu dragão, e, segundos depois, Sombra e Banguela pareceram ter uma conversa silenciosa entre répteis... Antes que eu me desse conta, os dois fecharam as asas e mergulharam. Senti como se meu estômago tivesse ficado para trás, mas não liguei. Apenas soltei mais um grito libertador... Não pude deixar de pensar em como Merida gostaria de sentir-se assim.

O assovio das asas de dois Fúrias da Noite rasgando os céus era incrível... Eu e Soluço demos um rasante no mar e voltamos a subir cada vez mais alto...

– Sabia que ia gostar! - Soluço gritou mais alto que o vento. - Agora olha só: Banguela, me segura!

O dragão arregalou os olhos, como se não apreciasse muito a ideia, e então, sem avisar, Soluço simplesmente se jogou. No começo fiquei assustado, mas então vi que Banguela havia mergulhado junto. Em poucos segundos, os dois estavam de volta ao lado de Sombra e eu. Soluço olhou sorrindo para mim.

– Sua vez.

Engoli em seco.

– Ah Dmitrei, vamos lá, tem que confiar em seu dragão. É uma parte essencial do treinamento.

Ok, eu não me lembrava de ter entrado em treinamento algum, nem de ter assinado um termo ou algo do tipo. Mesmo assim, resolvi confiar... Me desamarrei de Sombra e deixei que a gravidade fizesse o seu trabalho... Senti o vento soprando em meu cabelo e assoviando em meus ouvidos; uma enorme sensação de liberdade tomou conta de mim, menor apenas que a confiança que eu tinha em Sombra no momento. O dragão azul-escuro caía ao meu lado, com a boca entreaberta. Eu jurava que ele tinha dentes pela manhã, mas agora parecia completamente... Banguela. Ri enquanto despencava ao descobrir a origem do nome do dragão negro de Soluço. Logo antes de me espatifar na água, Sombra entrou de baixo de mim e nos levou de volta para o alto. Eu mal podia acreditar que naquela manhã havia pensado em ferir aquele dragão. Agora tínhamos uma ligação de alma.

– Corrida de volta pra aldeia! - Gritou Soluço, dando meia volta.

– Ei! Não valeu! Volta aqui! - Gritei, fazendo Sombra dar meia volta.

Sombra juntou as asas ao corpo, acelerando cada vez mais. O assovio de suas asas ficava cada vez mais agudo... Soluço foi por um caminho diferente, por entre algumas estranhas formações rochosas próximas à ilha. Eu o segui. Os dragões pareciam saber exatamente o que fazer, fazendo piruetas incríveis para desviar das rochas. Mesmo acelerando ao máximo, eu e Sombra não conseguimos alcançar Soluço e Banguela.

– Droga, isso não valeu! - Falei, rindo enquanto descia do dragão...

– Olha só, parece que alguém já se recuperou... - Me virei e vi Astrid alimentando um dragão azul de duas patas e com espinhos na cauda... Não me recordava do nome da espécie. - E acho que deve algumas explicações... - Ela me olhou com um misto de dúvida e interesse.

– Uh, desculpe por hoje mais cedo... - Eu disse, sem graça. - Bom, a história é um tanto longa...

Ela e Soluço me ouviram atentamente enquanto eu explicava com mais calma como tinha chegado ali; que eu era adotado, que o Reino tinha certo preconceito com vikings, como descobri que tinha vindo de Berk e como conheci Sombra, que me trouxera ali.

– Nunca imaginei que dragões existissem. - Eu sorri - E, no fim, descendo de domadores de dragões! - Soluço e Astrid se entreolharam.

– Na verdade, não foi sempre assim... - Começou soluço, mas Astrid o interrompeu.

– É uma longa história, depois falamos disso. Agora... Você disse que existe uma rixa entre o reino de onde veio, certo?

Concordei com a cabeça.

– Então acho melhor que Stoico não saiba. Por enquanto, pelo menos.

Não entendi bem o porquê, mas Soluço concordou com a cabeça e congelou ao ouvir uma voz, vinda de trás do Nadder Mortal (Aha! Sabia que eu ia lembrar o nome desse dragão.)

– Eu posso saber o que vocês não querem que eu?...

Ele parou de falar repentinamente. Seus olhos passavam de mim para Soluço como se ele não estivesse entendendo mais nada.

– Oi, pai... - Pai? Não entrou na minha cabeça como era possível aquele homem ser o pai de soluço. O cara era imenso! - Esse é Dmitrei.

O rosto escondido por detrás da barba ruiva empalideceu. Ele se abaixou e olhou no fundo dos meus olhos.

– É você mesmo... Pensei que estivesse morto... - Ele parecia um tanto abalado, mas ainda assim... Ele me conhecia! Muitas outras perguntas surgiram em minha cabeça... Meus pais, que relação eu tinha com Soluço devido a nossa óbvia semelhança e, mais importante... Quem era eu, afinal? - Vamos para casa... Lá eu... Eu explico melhor.

Astrid resolveu ficar para trás; disse que precisava colocar Tempestade, sua Nadder Mortal, para dormir, mas era óbvio que ela queria apenas nos deixar sozinhos com Stoico.

Entrei na casa de Soluço e Stoico, onde tinha acordado quase duas horas antes. Banguela e Sombra nos acompanharam. Aparentemente, Stoico estava abalado demais para perceber a presença do outro Fúria da Noite em sua casa. Ou simplesmente não deu importância. Ele olhou novamente em meus olhos, e desviei o olhar. Ele era um tanto intimidador, mas falava de um jeito delicado, cuidadoso.

– Me diga... Como conseguiu voltar? - Vendo a confusão em meus olhos, ele reformulou a pergunta. - Só me diga como chegou aqui.

Respirei fundo e repeti a história que havia acabado de contar para Soluço e Astrid, tomando cuidado para não mencionar os Quatro Clãs nem a rivalidade do Reino com os Vikings. Stoico era um bom ouvinte, mas sabia que eu ainda ansiava por respostas.

– Então você é mesmo Dmitrei... Filho do irmão de Valka... - Soluço arregalou os olhos.

– Então... - Stoico indicou que ele esperasse com um gesto.

– Há quase quinze anos, um de nossos morria em mais uma guerra diária contra os dragões. Era seu pai, Dmitrei. Irmão de minha amada mulher... Soluço ainda era recém-nascido, e você apenas engatinhava. Gilda, sua mãe, não suportou perder o marido e fugiu daqui em um pequeno bote naquela mesma noite... Houve uma tempestade, e nunca mais tivemos noticias de você ou de sua mãe.

Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que me vi envolvido por um abraço de gigante.

– Meu sobrinho... Nunca pensei que voltaria a vê-lo... - Stoico podia ser grande e assustador, mas, pelo visto, a família era o mais importante para ele. Meu tio... Era uma sensação estranha e ao mesmo tempo agradável pensar nisso. Eu finalmente encontrei o lugar de onde vim... Em menos de um dia, ganhei um primo, um tio, de forma inusitada uma amiga (ou quase isso) e até mesmo um dragão. Não pude deixar de pensar em meus pais, no Reino e em Merida. Eles deviam estar preocupados. Decidi que voltaria logo para lá. Mas, ainda assim... Eu queria aproveitar minha nova família, conhecer melhor minhas origens. Finalmente aquela sensação de não pertencimento fora embora...

Stoico preparou uma cama provisória no quarto de Soluço para que eu dormisse. Meu mais novo primo me emprestou também algumas roupas. Cabiam perfeitamente, claro. Se Stoico falasse que eu era o irmão gêmeo desaparecido do Soluço era de se acreditar.

– Acredita em destino? - Perguntei a Soluço, lembrando das conversas que eu tinha com Merida de vez em quando. Soluço deu de ombros.

– Não sei... Se pensar bem, acho que perdi minha perna por culpa do destino, por exemplo... - Disse, pensativo - Mas fui eu que escolhi não matar o banguela.

– Matar?... - Perguntei, um pouco assustado.

– Uhum... Olhei nos olhos dele e vi... Ele estava com tanto medo quanto eu. - Ele suspirou. - Ah, que burrada eu ia fazer aquele dia... Amanhã eu te conto melhor. - Ele virou-se de lado e adormeceu.

"Medo..." Pensei. Não havia notado, mas era isso que eu vi nos olhos de Sombra aquela manhã. Medo. Não apenas medo de morrer pelas mãos de uma criatura que o mataria sem pensar, mas medo de ser o único... Aquele medo que eu senti ao ler a carta dos meus pais naquele livro. O medo que eu sentia quando pequeno, de não pertencer a lugar algum. Éramos mais parecidos que eu havia notado inicialmente. Envolto nesses pensamentos e na respiração suave de Sombra, adormeci.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :-)
Avisando aqui uma coisa: tbm to engajado numa fic original que vem me tomado muito tempo, além dos trabalhos da facul e a facul propriamente dita, mas vou tentar com todas as minhas forças continuar postando todo sábado, ok? Boa semana 'u'