Eu vou te ver de novo
Isso não termina aqui
Vou levar você comigo
Até eu te ver de novo (...) ♫

♥ Clary

Seu nome adentrou meus ouvidos e minha pele formigou, mas a sensação não durou muito, pois ele afastou rapidamente sua mão da minha, eu não poderia ver por conta da máscara, mas tinha quase certeza de que ele havia franzido seu cenho. Teria ele sentido as mesmas faíscas que eu? Ou eu estava tirando tudo isso da minha cabeça? Talvez estivesse louca.

– Eu vou indo baixinha, a gente se topa por ai. – disse apressadamente, colocando suas mãos no bolso da calça social e se distanciando de mim. Eu nem ao menos tive a oportunidade de me apresentar, mas acho que isso não fazia diferença, talvez nunca mais nos víssemos.

E lá se ia o estranho bonito, é, eu tinha que admitir que algo nele me chamava a atenção. Talvez fossem seus cabelos loiros caídos por seu pescoço, ou seu andar gracioso. Mas o que me intrigava de verdade eram seus olhos, era bem verdade que a máscara fazia um pouco de sombra na parte ocular, mas eu podia realmente jurar que eram de uma cor um tanto distinta, dourado. Fiquei ali parada perdida em pensamentos enquanto o via se afastar até sobrar não mais que uma sombra no meio da multidão que dançava fervorosamente.

– Clary? – uma voz familiar soou atrás de mim, balancei devagar minha cabeça, despertando.

– Clary, por onde você andou? Até agora espero você chegar com as bebidas. – Izzy soava irritada quando me virei para olha-la, suas mãos na cintura.

– Eu que deveria estar fazendo uma carranca para você.. já que não estava mais no lugar onde eu te deixei. – resmunguei.

– Você demorou demais e pra ser sincera... passou um cara tão lindo Clary! Tão lindo! Tenho certeza que não é daqui, dessa cidadezinha sem graça. – disse com desdém, típico dela. Não gostava tanto quanto eu do interior.

– Me diga que pelo menos você o beijou, porque eu passei por maus bocados enquanto estávamos perdidas uma da outra. – disse dessa vez repensando minhas palavras, teria sido tão ruim assim conhecer o tal Jace Herondale? De repente me lembrei do outro garoto e senti minha espinha arrepiar subitamente. Talvez tivesse sido ruim o suficiente para não querer repetir a dose.

– Não- bufou irritada- Não consegui nem chegar perto, ele estava quase sendo esquartejado pelas garotas ao redor, parecia realmente ser carne fresca. – disse empolgada essa ultima parte, sorri.

– Bom a festa ainda não acabou, podemos andar por ai e ver se encontramos mais gente. – disse tentando anima-la, ela esboçou um sorriso esperançoso.

– Acho ótimo. – e então me puxou para dentro da multidão, voltamos para onde eu estava anteriormente, a pista de dança.

– Adoro essa música, podíamos dançar antes de sair por ai. – ela gritou perto do meu ouvido, o som aqui era extremamente alto. Eu apenas assenti e nos adentramos ainda mais a pista.

Dançamos animadamente, soltando risadas altas quando víamos um ou outro garoto dançando vergonhosamente no salão. Algumas pessoas não tinham senso do ridículo, fato. A batida soava fácil por meus ouvidos, pela segunda vez me senti livre com a música ecoando o ambiente, lembrei das mãos do garoto gélido me puxando, mas afastei rapidamente para não me sentir estranhamente enjoada.

– Quer dançar? – um garoto aparentemente simpático perguntou a Izzy enquanto nós mexíamos nossos quadris para lá e para cá ao ritmo da música, ela me olhou interrogativamente.

– Ela vai adorar. – disse empurrando-a, eu sabia o quanto ela queria dançar com algum garoto. Ela havia comprado um vestido caro, havia procurado os acessórios perfeitos então eu não me importava de ficar um pouco sozinha enquanto ela dançava com alguém que claramente a estava achando deslumbrante em seu vestido preto.

Ela sorriu pra mim e eu lhe lancei uma piscadela antes de ela se afastar um pouco para dançar com o garoto ,alto de cabelos escuros, que a conduzia pelo salão com um sorriso e tanto estampado no rosto, não era para menos, pois Izzy era de fato linda com seus longos cabelos lisos e negros, alta e curvilínea. Eu não representava nem metade de sua elegância, devia ser por isso que eu não namorava muito. Suspirei cansada, talvez fosse hora de ir para casa. Luke e minha mãe estranhariam o fato de voltar cedo para casa quando estávamos em plenas férias de verão, mas o que eu poderia fazer se não estava de fato me divertindo? E podia soar errado, mas o único ponto alto da noite foi Jace Herondale, o estranho gato. É, soava errado e esquisito já que o mesmo havia roubado minhas bebidas e agido feito um mal educado... mas tinha de lembrar que ele também havia afugentado aquele outro garoto. Acredito que isso contava pontos a favor de Jace, mas do que importava? Verdade seja dita não nos veríamos de novo, ele não seria tão idiota a ponto de ficar morando aqui como Izzy sugeriu que os parentes de Aline ficariam.

Andei um pouco mais até encontrar o banheiro, talvez fosse uma boa ideia dar uma olhada no meu cabelo, passar um pouco o tempo e não parecer uma chata querendo arrastar Izzy para casa assim tão cedo. Era obvio que ela devia estar se divertindo com o garoto moreno e não seria justo com ela, simplesmente não seria. Adentrei o toalete e me deparei com um enorme espelho, perfeito para retoques de maquiagem e tudo o mais. 5 segundos depois me dei conta de que ali era o último lugar que eu gostaria de ter ido, a loira arrogante que vi com Jace mais cedo estava ali retocando seu batom. Eu não a conhecia, tudo bem, mas o seu timbre de voz e até mesmo seu jeito de se movimentar entregava o fato de que ela parecia tudo, menos simpática. Sua máscara descansava no balcão que ficava a pia e constatei o que eu já sabia, ela não era da cidade. Seu rosto não era nem um pouco familiar para mim, mas era linda.

Ela me pegou encarando quando enfim terminou de passar seu batom e me olhou dos pés a cabeça. Seu olhar me mediu de um jeito que me incomodou, ela certamente não tinha nada de agradável, era arrogante. Adentrei o recinto e me coloquei o mais longe possível dela enquanto a mesma ainda avaliava meus passos, me olhei no espelho sem lhe dar nenhuma importância e ajeitei meus fios avermelhados. Meu batom já havia saído, mas eu não tinha nada para retocar e com certeza não pediria emprestado para a loira a meu lado, notei com minha visão periférica que ela agora ajeitava a máscara novamente em seu rosto, me olhou mais uma vez antes de sair do banheiro e pude ouvir uma risadinha baixa, aquilo ferveu meu sangue.

– Vaca aguada –murmurei irritada para meu próprio reflexo.

– Espero que não tenha sido de mim que você tenha falado, apesar de eu ter grandes suspeitas de que sim.. até porque não tem mais ninguém aqui. – ouvi sua voz firme soar me deixando sem fala, ela não havia saído? Como poderia ter ouvido meu pequeno murmúrio? Droga.

– Não sei do que está falando. – disse cínica com um sorrisinho lateral, ela me pareceu mais irritada.

– Estou de olho em você garota, não se meta comigo. – disse me fuzilando com seus olhos profundamente castanhos. Engoli em seco e ela se foi, andei até a porta apenas para constatar que ela realmente havia ido dessa vez, nossa que garota antipática. Não sei qual era o problema dela comigo, talvez ela fosse assim com todo mundo. Deus me livre. Olhei novamente para meu reflexo e segui para a festa, talvez Izzy não estive mais dançando com o garoto, pensei.

– Hey! – gritei ao sentir algo gelado escorrer do meu busto ao meu braço esquerdo, olhei para mim e notei que a parte de cima do meu vestido estava arruinada, um liquido escuro fazia manchas no tecido verde oliva.

– Você de novo baixinha? Acho que hoje não é seu dia de sorte. – aquela voz ecoou novamente, olhei para cima e lá estava ele, mas não somente ele, pois a garota arrogante e o irmão também me encaravam.

– Tenho que concordar. – resmunguei, era uma grande verdade.

– Helen, você poderia ajuda-la? Acho que seria mais apropriado uma garota para isso. – ele disse dando uma rápida olhadela por onde o liquido escuro escorria, meu decote. Engoli em seco.

– Ah qual é Jace, por que eu? Ela não tem amiga não por acaso? – a garota loira, que agora tinha um nome, disse com sua voz arrogante, a olhei com descrença.

– Minha filha, mais fácil você não ter amigas aqui do que eu. Numa boa, se coloque no seu lugar porque quem mora aqui sou eu, então se não pode nem ao menos dar uma resposta educada então vá ser uma cavala lá na sua cidade. – falei confiante deixando-a calada, mas o silêncio entre nós não durou muito. Jace e Sebastian riram tão alto que chamaram a atenção de algumas pessoas que passavam.

– Você dobre sua língua pra falar comigo, sua sem sal! – gritou raivosa para mim, a olhei desafiadoramente e então Jace, acredito que sentindo a tensão do momento, se pronunciou.

– Tudo bem, chega Helen. Eu te ajudo garota. – disse primeiro olhando para Helen e por último pra mim.

– Não preciso da sua ajuda, me viro sozinha. – disse tentando parecer mais calma.

– Ao contrário dele pra mim não seria incomodo nenhum. – Sebastian disse, sua voz me deixando subitamente tensa.

– Eu nunca disse que era incomodo. – Jace pareceu levemente ofendido com a afirmação do irmão.

–Ótimo, agora vão brigar pra ver quem limpa a roupa da songa monga. – Helen bufou irritada.

–Aaaarg! Mas que droga, não quero a ajuda de nem um dos três, pra mim chega. Bando de loucos. – disse já saindo daquela conversa que não valia um segundo da minha atenção.

Andei apressadamente por todo salão, tive a impressão de ter sido chamada como “baixinha” ou “ruivinha”, mas pouco me importei e segui para o local onde larguei Izzy com o tal garoto dançarino. Meu vestido estava uma droga e agora eu só queria ir pra casa e esquecer a noite definitivamente desastrosa. Ao me aproximar notei que Isabelle estava nitidamente aos beijos com o carinha, eu não queria interromper, mas não iria ficar aqui de jeito nenhum.

– Izzy? – chamei tímida, ela desgrudou a boca do estranho. Seus lábios avermelhados por conta do recente beijo.

– Clary! Meu deus, o que houve com sua roupa? – perguntou-me espantada, o garoto que estava com ela voltou seu olhar para mim.

– Um idiota derramou uma bebida em mim. –resmunguei lembrando-me de Jace Herondale- Eu queria ir pra casa, se quiser ficar eu te dou dinheiro para o Táxi, já que prometi que voltaríamos com Luke.

– De jeito nenhum, eu vou com você. – ela me respondeu se levantando prontamente.

Olhou para o garoto e eu me afastei para dar um pouco de privacidade para que pudessem se despedir, aguardei o que me pareceu 5 minutos e enfim ela chegou do meu lado sorridente. Caminhamos em silêncio para fora da casa de Aline, eu já havia ligado para Luke enquanto esperava ela se despedir do garoto desconhecido.

– E então? Sabe o nome dele pelo menos? – perguntei quebrando o silêncio, já estávamos na calçada.

–Simon. – suspirou- Apesar do pouco tempo eu adorei, ele dança tão bem e quando menos esperei estávamos nos beijando. – contou-me claramente satisfeita, sorri.

–Pelo menos pra alguém a noite foi boa. – resmunguei.

– Ai Clary, foi uma pena mesmo terem derrubado bebida no seu vestido. Espero que dê para tirar a mancha. – ela olhou com um sorrisinho triste.

– O pior foi o trio de patetas que eu conheci. – declarei.

– Quem? Só não me diga que são os parentes de Aline! – disse boquiaberta.

– Eles mesmo, bom... os dois garotos eram, a menina eu não sei. Mas não era daqui. – respondi.

–Garotos? Ai meu deus, me conte tudo. – pediu animada.

–Não tem o que contar Izzy, o tal Jace roubou minhas bebidas, me salvou de uma dança com o irmão dele e depois fez o favor de acabar com o meu vestido e a idiota da garota que estava com eles foi uma chata purgante. – despejei.

– E você, como sempre, com esse jeito mal humorado.

–Izzy, não sou mal humorada, só não acho que deva tratar bem todo mundo que vejo pela frente, ainda mais quando são pessoas como esses três.

–E esse Simon? Não me lembro de nenhum Simon dessa cidade com aquela estatura. – disse tentando mudar o foco da conversa.

– Pois é ai que se engana, ele é Simon Lewis, o garoto que mora do outro lado da cidade.– me informou.

– Nossa, sério? Nem o reconheci, mas também ele não sai tanto assim.

–Verdade, nas férias sempre viaja.

– Bom, fico feliz que tenha sido legal pra você– disse com um sorriso.

–E eu prometo que as coisas vão ser melhores amanhã pra você Clary! Agora vamos.. Luke já chegou.- disse indicando a picape de Luke parada do outro lado da rua. É quem sabe o dia seria melhor, o jeito era torcer pra que fosse.

....

–Mas que droga. – resmunguei baixinho.

Meus pés doíam tanto por conta do salto alto que estava ficando quase impossível ficar de pé, mesmo depois de eu tê-los tirado, vai ver era a consequência pela minha falta de costume. Estava escovando meu dentes e penteando meus cabelos para enfim colocar o pijama e dormir, tínhamos deixado Isabelle na casa dos Lightwood e pude vislumbrar a sombra de alguém na varanda, certamente Alec, o irmão mais velho dela.

Era difícil imaginar como Alec poderia ainda estar solteiro, ele deveria estar prestes a fazer 19 anos, pois já havia abandonado sua casa para ir a universidade no ano passado. É exatamente por esse motivo que acho um tanto estranho ele não ter nenhuma namorada fixa, afinal deve haver milhões de garotas interessantes onde ele mora atualmente, em Oxford. Mas vai ver ele gostava de uma vida de liberdade, assim como eu gostava de ser livre. Alec é tão bonito com seus olhos azuis penetrantes que as garotas daqui morrem a seus pés, e posso dizer que até um ou outro menino também.

– Filha? – ouvi de repente a voz da minha mãe adentrar meu quarto, a porta do banheiro estava aberta.

– Oi. – respondi enquanto guardava a escova de dente, sai do banheiro e me deparei com ela já sentada na ponta da minha cama.

– Meu amor, amanhã iremos para a praia, tudo bem? Os pais de Isabelle nos chamou essa noite para fazermos algum programa em família. – ela disse sorridente.

– Tudo bem... – respondi separando meu pijama e vestindo-o.

– Vim avisar para que você não durma demais, será um domingo divertido. – sorriu e eu sorri de volta indo abraça-la. Ela me deu um beijinho na testa e logo em seguida me desejou boa noite.

Andei até minha cama e me aconcheguei, fiquei olhando através da janela uma lua enorme que se encontrava no céu. Suspirei, amanhã seria um longo dia, e espero que divertido. Fechei meus olhos e me deixei levar pelo mundo dos sonhos.