Ilusões escrita por BastetAzazis


Capítulo 5
Capítulo 5




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−5−

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Severus imaginava com um sentimento de culpa o que ela estaria pensando. Levantou-se da cama para abraçá-la, acalentá-la em seus braços, mas ela o repeliu com um gesto.

− Eu a procurei porque senti sua falta – ele respondeu então.

A resposta dela foi apenas uma risada cínica.

Sem ação, Severus começou a admirar a mulher em que Lysa se transformara. Ela estava linda, com a pele pálida como a dele e os olhos verdes intensos que contrastavam com o cabelo preto que emoldurava o rosto. A camisola vermelha completava a vista, insinuando as curvas perfeitas e convidando-o a tocar no tecido sedoso. Mas então, ele percebeu que alguma coisa estava faltando no braço esquerdo dela. Os Yaxley eram famosos entre todos os Comensais da Morte, mas Lysa não tinha a Marca Negra.

Ele franziu a testa ante a descoberta e lançou-lhe um olhar curioso.

− Eu pensei que você fosse uma de nós.

Lysa sorriu novamente, um brilho que ele não conseguiu traduzir no olhar dela.

− Eu não me chamo Bellatrix Lestrange. Jamais abriria mão da beleza para carregar uma marca horrível no meu braço – ela declarou, lembrando-se, divertida, do dia em que proferiu as mesmas palavras para o próprio Lorde das Trevas. Todos à sua volta haviam arregalado os olhos, assustados, esperando qual seria o castigo que o Lorde lhe imporia por tamanha falta de respeito. Para o espanto de todos, ele respondeu-lhe com uma risada desdenhosa, declarando que sentia falta de um pouco de espiritualidade entre seus servos. Meia hora depois, eles dividiam a mesma cama.

Severus levantou uma sobrancelha e continuou encarando-a, exigindo com o olhar que ela elaborasse sua resposta.

− Você está por fora das últimas fofocas, pelo visto – ela continuou, divertida. − Eu tenho certos privilégios com o Lorde.  E me recusar a ser marcada como um dos seus servos é um deles.

Um arrepio cruzou a espinha de Severus. Seu estômago pareceu revirar, e ele sentiu uma náusea crescente enquanto concluía que tais privilégios sugeriam que Lysa era amante do seu mestre. Fechou os olhos por um momento, e a imagem da sonserina irritante que sempre o perseguia em Hogwarts voltou à sua mente.

*-*-*-*-*-*

Eles tinham Poções logo pela manhã no dia seguinte. Severus entrou na sala ansioso para falar com Lily; ela já estava em seu lugar, mergulhada na sua cópia de Estudos Avançados de Poções. Quando se sentou ao lado dela e a cumprimentou, estranhou a forma com que ela se dirigiu a ele, apenas acenando com a cabeça, como se nada tivesse acontecido na noite anterior.

Minutos depois, Lysa também entrou na sala, demonstrando embaraço e um certo nervosismo. Mas Severus, preocupado em entender a indiferença de Lily, jamais teria notado a presença da prima logo atrás deles se não fosse o Prof. Slughorn.

− E então, Srta. Yaxley. – A voz do professor soou atrás de Severus. − Como está sua pesquisa sobre a Poção Polissuco? Espero que aquela amostra que lhe passei tenha ajudado-a a entender o efeito da sanguinária na cor e na espessura do produto final.

Severus virou-se bruscamente para trás quando ouviu as palavras Polissuco e amostra, encarando-a com a testa franzida e uma sobrancelha levantada. Lysa ficou vermelha instantaneamente e mal conseguiu balbuciar uma resposta para o professor.

− Cla- claro, professor. O- obrigada.

− Só espero que você não tenha tentado usá-la – ele acrescentou brincando. − Não gostaria de ver uma aluna minha brincando de ser outra pessoa.

− Não, professor – ela respondeu de cabeça baixa, tentando evitar o olhar surpreso e indignado de Severus.

O Prof. Slughorn seguiu para sua mesa, mas Severus continuou virado para trás, encarando Lysa até que ela tivesse coragem de levantar o olhar. Quando ela o fez, encontrou uma expressão de repulsa no rosto dele e desejou sumir da sala no mesmo instante.

Quando a aula acabou, Severus planejava obrigá-la a falar com ele num local tranqüilo, para tirar aquela história a limpo. Assim que ele se virou para trás, entretanto, ela já havia sumido. Uma de suas amigas lhe disse que ela não estava se sentindo bem e fora até a ala hospitalar; ele continuou procurando por ela o resto do dia, sem sucesso.

No final da tarde, quando todos já estavam pensando em seguir para o Salão Principal para jantar, ele observou da janela da biblioteca um vulto saindo do castelo. Ele a seguiu e a encontrou sentada sozinha à beira do lago, em meio à penumbra que se formava com o pôr-do-sol tardio do final da primavera.

− Foi você, não foi? – ele perguntou para as costas dela.

A única pista de que Lysa o ouvira foi o movimento dos seus ombros, quando ela se encolheu, abraçando os joelhos. Naquele momento, toda a raiva que Severus estava sentindo dela se esvaeceu, e ele percebeu que também estava envergonhado por ter sido tão precipitado, e até um pouco impetuoso, na noite anterior.

− Eu... errr... − Ele começou, sem saber realmente o que dizer, sentando-se ao lado dela. − Por que você fez aquilo? – perguntou sem conseguir encará-la.

O céu já estava escuro, apenas com uma réstia avermelhada no horizonte, lembrando o sol que acabara de se esconder. A noite parecia ainda mais sombria e pesava sobre Severus e Lysa, que permaneceu em silêncio e encolheu-se ainda mais contra os joelhos.

− Desculpe se eu... − Ele começou a falar porque não estava mais suportando o silêncio, mas então parou de repente, procurando as palavras.

− Você não precisa se desculpar – ela finalmente respondeu, olhando fixamente para o lago. − Você não teve culpa de nada.

Agora foi a vez de Severus ficar em silêncio. Não podia acreditar que Lysa fora capaz de se fazer passar pela Evans, principalmente por causa dele. Ela sempre fizera questão de mostrar a todos que o odiava. Por que fizera aquilo, então? Ela se entregara a ele tão facilmente; não conseguia entender. Estava acostumado à idéia de ser odiado pela prima, e não queria que sua vida mudasse assim tão repentinamente.

− Não se preocupe – Lysa continuou −, isso não vai mais se repetir.

Ela se levantou e já estava a caminho do castelo quando Severus se levantou e correu até ela, pegando-a no braço para fazê-la parar.

− Ontem, foi a primeira vez que eu... − ele se interrompeu, envergonhado. − Eu fiquei preocupado com você, se te machuquei ou...

Lysa estreitou os olhos e ele parou de falar assim que percebeu o brilho de ódio nos olhos verdes. Ela havia voltado à personalidade original a que ele estava habituado.

− Você é mesmo um imbecil, sabia? Também foi a minha primeira vez – ela acrescentou, virando-se em direção ao castelo antes que ele notasse as lágrimas em seus olhos.

Severus a observou caminhar a passos largos para o castelo, atônito com a revelação.

*-*-*-*-*-*

Anos depois, atônito ainda era a melhor palavra para descrever Severus quando ele ouviu outra confissão que Lysa acabara de lhe fazer. Ela, por outro lado, parecia divertida com a reação dele, como se estivesse saboreando uma vingança, um prato que vinha esperando alguns anos para ser experimentado.

− Acho que você deve ir agora, antes que alguém chegue e tenhamos que explicar como você veio parar no meu quarto – ela ordenou com uma voz cínica.

Severus podia estar encantado com a Lysa que desfilava à sua frente, mas não deixaria que ela o menosprezasse daquele jeito. Ele acabara de ter a prova de que ela ainda se deixava dominar totalmente na presença dele.

− A convivência com o Lorde a deixou presunçosa, minha cara – ele disse aproximando-se dela, um sorriso desdenhoso formando-se no rosto. – Mas eu me lembro de cada gemido que provoquei nesta cama. Eu sei que você é minha, sempre foi. − Ele segurou a mandíbula dela com a mão e fez seu rosto se aproximar como se fosse beijá-la. – Eu vou embora... quando eu quiser.

Lysa teve que lutar com todas as suas forças contra o desejo quase incontrolável de se entregar na promessa daquele beijo.

− Por favor, Severus – ela conseguiu balbuciar em meio aos encantos dele. − Vá embora. Se o Lorde desconfiar de alguma coisa...

− Você não se importou com isso na última hora, não é? – ele a interrompeu, os lábios ainda roçando nos lábios dela.

− Severus, por favor! – ela disse desesperada.

Ele a soltou e ela virou-se para a janela, sabendo que não conseguiria resistir a ele se continuasse encarando-o. Assim que conseguiu recuperar a calma, ainda de costas para ele, explicou:

− O Lorde planeja convocar todos os seus Comensais da Morte amanhã para celebrar o último ataque contra o Ministério. Você poderá relatar o que descobriu amanhã, se é o seu desejo alertá-lo quanto a esta profecia.

Severus não respondeu. Ela tampouco se virou enquanto ele colocou suas vestes e se aproximou dela, depositando um beijo terno em seus ombros, fazendo-a arrepiar-se até o pescoço, e então partiu.


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