Nerveland Terror escrita por Baby doll


Capítulo 3
Capitulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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Capitulo 2

As crianças se amontoavam umas em cima das outras para conseguir uma posição confortável ou apenas para ficarem mais próximas de Wendy. Ela havia colocado o que conseguira do almoço e do jantar, em cima de uma mesinha, e os pequenos atacavam sem dó nem piedade. Quando as palavras da garota começaram a envolver as crianças ali sentadas, um silêncio respeitoso surgiu. Todos estavam atentos para a estória.

– Todas as crianças crescem. Menos uma. – e foi assim que ela começou a aventura do herói favorito de todos. Wendy tinha o dom para contar estórias. Elas iam muito além de fantasia e imaginação. Elas eram as únicas coisas que restaram de sua mãe. Peter Pan, o menino que não crescia. Quem dera ela tivesse a mesma sorte. Vinte minutos já haviam se passado e todos continuavam atentos, como se assistissem seu programa de TV favorito, ou se admirassem seus pratos prediletos sendo cozidos.

– Foi então que Peter Pan passou sua faca a poucos centímetros do coração miserável de Gancho...- Wendy dançava com suas mãos pelo ar, como se realmente brigasse com uma pessoa invisível. A porta rangeu rapidamente mas logo se calou. A garota voltou seus olhos para a direção do barulho e viu João sentar-se ao lado das crianças. Ela sorriu brevemente e ele retribuiu, concordando que ela continuasse. Talvez naquele momento, uma chama de esperança para seu irmão ascendesse em seu peito. Ela prosseguiu com o conto. Tudo corria em perfeita calma, a não ser pelos coraçõezinhos dos pequeninos que aceleravam a cada vez que a estória ficava mais emocionante. Wendy estava concentrada na cena final e todos inclusive João prestavam total atenção.

– Sininho voou para ajudar Peter, porém, o menino a impediu com a mão. Aquilo era responsabilidade somente dele. Mesmo que a fada ficasse furiosa, ela sabia que nada poderia fazer para ajuda-lo. – A porta se abriu novamente, mas sem fazer barulho. Porém, uma voz grossa e rouca juntamente com palmas fez com que a menina se calasse e que todos olhassem para a mesma direção. Todos ali se arrepiaram quando viram a mesma imagem.

– Ora, ora, ora. O que temos aqui? – Sr. Trenton adentrou a sala olhando para cada criança assustada. – Acho que aqui não é lugar para crianças estarem, não é? E pelo que me lembro bem, mandei todos irem para seus quartos depois do jantar.

Ele caminhou mais a fundo na sala. Suas botas de couro fazendo o chão de madeira ranger. O homem parou bem em frente a mesinha com os restos da comida.

– Quem é responsável por isso?

Todos se mantinham em silêncio.

–Andem! Me digam! Quem é o responsável por essas coisas?

Nenhuma palavra foi dita, apenas se ouvia a respiração pesada de alguns.

– Muito bem. – ele sorriu malicioso – Já que ninguém quer falar, todos irão ficar de castigo. Três oras ajoelhados no milho, oque acham? Está bom ou preferem um pouco mais? Na minha humilde opinião, um pouco mais sempre é melhor, mas como estou feliz hoje, vou deixar que escolham.

No mesmo instante, Wendy se levantou.

– Fui eu. – ela mantinha os olhos abaixados. – Não os puna. Fui eu quem os chamei aqui e fui eu quem lhes dei a comida.

Sr. Trenton se aproximou da garota e segurou seu queixo elevando seu rosto e fazendo com que seus olhos encontrassem com os dela.

Miguel que estava quieto até o presente momento, notou a aflição no rosto da irmã. O menino era descido demais para a pouca idade. Ele avançou a frente mas João percebeu e o agarrou pela gola do pijama o trazendo de volta a seu lugar. O irmão mais velho abanou sua cabeça em um não.

– É mesmo? Que garotinha corajosa você, minha querida. – o tom de voz do Diretor baixou, quase como um sussurro.- Acho que toda essa coragem merece algo especial.

– Não! – uma voz fina e embolada, gritou. Todos olharam para a única criança em pé. João mais do que rápido olhou para seu lado e sentiu a falta de seu irmão. Miguel estava logo a frente na primeira fila de crianças.

– O senhor não pode fazer isso com ela, Gancho!

– Gancho? – o homem olhou para o pequenino. – Me diga, filho, qual é o seu nome?

– Miguel.

– Pois bem, Miguel. Por quê eu não posso fazer isso com ela?

– Porque ela é boa e estava apenas nos contando estórias. – o menino se sentiu feliz no que ele achou que seria a atitude mais correta a se fazer. Mas ele mau sabia, que aquela última palavra desencadeou memórias reprimidas na mente do Diretor e que por consequência, a sentença de Wendy.

– Estórias? – o olhar de Sr, Trenton estava perdido e seus olhos arregalados. – Wendy, minha querida. Já não conversamos sobre isso? – Sua fisionomia era agora beirando a loucura. Como a de um psicopata. A menina estava assustada e sua língua travara para resposta sair.

– Hein! Responda! – ele gritou. – Já não conversamos sobre essas malditas estórias?

– Sim, mas Sr. Trenton...

– Nada de mas! Você vem comigo! – o homem agarrou com força o braço de Wendy e a arrastou até a porta e então pelas escadas a cima.

– - Não, Wendy! Seu canalha, solta ela! – João gritou. Mas já era tarde demais, eles já estavam no terceiro andar da casa. Aquilo só fez com que a raiva do menino aumentasse mais. As crianças que antes estavam no pequeno quarto, agora saiam correndo para se esconder. João voltou e viu Miguel ainda em pé com uma expressão firme.

– -O que você fez? – João gritou. – Eu não falei pra você ficar quieto?

– Isso não iria adiantar.

– Iria sim! Você devia ter me obedecido, eu sabia o que estava fazendo!

– Ela precisava de ajuda, como o Peter Pan!

Os olhos de João estavam possessos de raiva. Não por causa de Miguel, mas por suas palavras ditas.

– Peter Pan? Miguel, já está na hora de você acordar para a vida! Você precisa crescer! Essas história são apenas ficção. Nada disso existe.

– Existe sim!

– Não Miguel, não existem. Escuta. – ele abaixou e pegou com as duas mãos o rosto do menino. – Vivemos no mundo real, onde existe dor, sofrimento, fome e desgraças. Aqui, não existem fadas ou meninos voadores. O máximo que pode acontecer, é você crescer e arranjar um emprego melhor. Mas é somente isso.

– Você esta mentindo, está mentindo! – os olhos do menino começaram a marejar e a escorrer pelos cantos do rosto. – Wendy nunca mentiria.

– Miguel...

– Não! – ele saiu correndo com as mãos em seu rosto.

João permaneceu ali no quarto. O garoto era muito forte em seu emocional, porém, quando ficou sozinho, suas lágrimas foram poucas para demonstrar tamanha angustia que encobria sua alma.


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Notas finais do capítulo

Coomentem!!



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