Nerveland Terror escrita por Baby doll


Capítulo 2
Capitulo 1


Notas iniciais do capítulo

Aqui esta outro capitulo, boa leitura!



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Capitulo 1

Era quase meio dia quando Wendy pode finalmente dar uma pausa. Ela se encostou em um carro vermelho desbotado e suspirou. Suas costas doíam e quase não sentia seus pés. Ela olhou seus dedos calejados pelo trabalho pesado de toda manhã. Era a regra do diretor do orfanato, todos os adolescentes de 11 até os 15 teriam de trabalhar no ferro velho que sustentava o casarão. O pior, era que haviam adolescentes que não aguentavam o trabalho e adoeciam. Nenhuma providencia era tomado nesses casos. Se não fosse por ela cuidar deles nessas horas, o orfanato estaria com uma taxa menor de crianças do que a atual. Wendy era a terceira mais velha ali. O primeiro era Kurty, um menino de 17 anos gordo e cheio de sardas. “Nojento e babaca” era a descrição que ela dava pra ele. O garoto trabalhava na cozinha e tinha muitas divergências com João, seu irmão que agora com 14 anos não levava desaforo pra casa. Quase sempre quando o nome de Kurty estava em alguma ocorrência na diretoria, a de João também fazia companhia. O segundo mais velho, era Thomas, um garoto de 16 que Wendy julgava até ser bonito. Olhos cor de mel e cabelos cor de bronze, o tipo que se achava superior apenas por ter a beleza reconhecida. Trabalhava arrumando pequenos estragos na casa. Ele era a paixonite das meninas do Orfanato, da rua e da escola. Mas apesar de tudo isso, Wendy sentia dó dele, parecia vazio. E por fim, a terceira, Wendy. A garota tinha longos cabelos ondulados, mas em uma cor indecifrável, ao sol eles eram avermelhados quase dourado. Na sombra, eram castanhos acobreado. Mas a maior parte do dia ela os mantinha amarrados em um rabo de cavalo e uma boina. Como ela ainda não tinha 15 anos, trabalhava no ferro velho. O orfanato era mantido por doações e o dinheiro que as crianças conseguiam ali. Por isso era bem difícil de alguém ter algo novo, como roupas. O que ela sempre usava era sua camiseta cinza com um colete preto, bermuda de couro marrom presa por um cinto preto. Também calçava luvas pretas cortada nos dedos. Por ter que andar em todo tipo de terreno as botas eram suas melhores amigas. E essa era sua vestimenta de cada dia.

Wendy voltou de seu breve torpor quando sentiu seu braço queimando pelo sol ardente.

– Ei! – ela gritou para o resto das crianças que ainda trabalhavam. – Almoço!

Todos largaram imediatamente o que estavam fazendo e saíram correndo em direção a rua, exceto por um garoto alto e magro que veio em sua direção e lhe jogou uma garrava com água.

– Está com fome? – ele perguntou enquanto abaixava seu óculos de sol.

– Não muita. – ela engoliu algumas gotas e gargarejou outra.

– A mesma de sempre, não é? – o menino riu e balançou a cabeça. – Quando vai pensar em você mesma e deixar os outros pra depois, Wendy?

– Do que está falando, João?

– Ora Wendy, você sabe bem do que. Sempre fala que está sem fome e quando chegamos no orfanato, você come apenas duas colheradas e deixa o resto pras crianças menores comer a tarde.

– Mas, João, elas sentem fome a tarde! E não podem comer nada. – sua voz expressava um tom de tristeza e preocupação. Eles pararam para esperar os carros passarem.

– Eu sei maninha. Mas o que eu estou querendo te dizer, é que você trabalha duro, e as crianças ficam paradas o dia inteiro. Se você não se alimentar direito, vai adoecer.

– E o que eu posso fazer? Eu me importo com eles! São pequenos e não merecem a vida que tem.

– Me responda, Wendy: e nós merecemos? – ocorreu uma pausa silenciosa enquanto João olhava nos olhos de Wendy - Porque, se você tivesse me escutado e fizesse o que eu propus á algumas semanas atrás, não precisaria fazer isso.

– Ora João! Pare com isso! Suas ideias são totalmente sem noção. – ela se virou e atravessou a rua.

– Sem noção? Elas são totalmente geniosas! – o menino correu atrás dela – Espere!

– Jura? E como invadir a cozinha durante a noite, pegar o máximo de comida possível e esconder tudo debaixo dos colchões, é uma ideia geniosa? – perguntou em tom de deboche.

– E você ainda me pergunta? Esse foi um dos melhores planos que eu já contei. E preste bem atenção que eu digo “contei”, porque os que eu nem falei são melhores ainda.

Wendy achou muito engraçado com que animação seu irmão contava suas ideias. Mas ela sabia que seus planos mirabolantes podiam ser muitas vezes perigosos. Por isso não dava muitos créditos.

– Não João. Sem essa! – Ela voltou ao seu caminho.

– Mas por quê?

– Porque não.

– Mas por que não?

Ela parou.

– João! – ela o olhou séria.

– Ah Wendy! Você nunca deixa eu fazer o que eu quero, que droga! – reclamou fazendo caretas.

Ele nem sabia, mas a garota ria internamente.

– Vamos. – ela o puxou pelo braço e voltaram para o orfanato.

Chegaram no momento certo, pois o diretor estava ao topo da escada preparado para descer. Se puseram atrapalhados em seus lugares e aguardaram enquanto Gancho descia. Esse era o apelido mais comum do Diretor em meio os pequenos. Ele, Gancho, o vilão mais temido por todas aquelas crianças órfãs. O terrível homem que assombrava cada história saída dos lábios de Wendy. Eles viam uma compatibilidade entre o vilão e o Diretor. A mesma crueldade. Talvez, porque a menina usasse de seus próprios tormentos e medos, para montar o vilão. Sr. Trenton adentrou a sala e os olhou um por um. Aquele olhar causava uma tremenda dor que iam do peito, até os ossos de Wendy. Quando finalmente sentou-se a copa da mesa, gritou:

– Kurty, o jantar!

O garoto mais do que depressa trouce um caldeirão fumegante. Serviu primeiro Sr. Treton e assim em diante. Quando terminou, voltou para a cozinha. O cheiro não era dos melhores, nem a aparência, mas era tudo o que tinham. Wendy apanhou sua fatia de pão e escondeu em seu bolso. Logo depois, veio á sobremesa, uma banana para cada um. Mais uma vez, a banana foi deslizada para seu bolso. Enquanto esperava que o resto das crianças terminassem de comer, Wendy sentiu um leve chute na perna e um bilhete foi colocado silenciosamente ao seu lado na mesa. A garota o abriu delicadamente e livre de suspeitas. Em letras bem garranchadas, o papel carregava a seguinte mensagem:

Hoje teremos estórias?

Ass: Lana J

Ela se virou em direção á pequenina menina do outro lado da mesa que a olhava com seus grandes olhos verdes, e confirmou com a cabeça. No mesmo instante, um sorriso banguela surgiu no rosto da garotinha.

∞ ∞ ∞

Já estava escurecendo, e os adolescentes haviam deixado seus serviços a praticamente uma hora. Wendy aproveitou o tempo livre para preparar as coisas que iria usar em sua estória. Afinal, fazia um bom tempo que ela não contava, teria que fazer algo especial para reparar a falta com os pequenos. Arrumou um gancho de guarda chuva, e dois cabos de vassouras que achara no ferro velho aquela tarde. Foi então que nesse instante a porta do quarto se abriu e um garotinho com cabelos ruivos passou correndo por ela e pulou na cama a sua frente.

– Wendy! Wendy! Wendy!

– Calma, Miguel! Assim você vai cair. – ela ria enquanto pegava seu irmão no colo.

– Lana me disse que você vai contar uma estória hoje! Isso é sério?

Ela gargalhou.

– É muito sério. – Miguel assumiu uma expressão de surpresa seguida por uma explosão de felicidade.

– Não acredito! Preciso contar isso pro Júlio e pro Tiago! – ele pulou da cama e correu em direção a porta.

– Ei, ei! Espera um pouco mocinho, volte aqui. – o menino deu meia volta e retornou.

– Sim! – disse espevitado e com um sorriso de orelha a orelha.

– Quero que avise para todas as crianças me encontrarem no quarto de hóspedes do segundo andar as oito. Tudo bem?

– Feito. – ele fez um sinal de joia com o dedo.

– Mas fale para eles manterem em segredo dos maiores, não queremos interrupções do Gancho, não é?

– Não mesmo. Pode deixar Wendy.

– Então vá, logo! Vá!

Ele saiu correndo com o sorriso tomando grande parte de seu rosto.

∞ ∞ ∞

Faltavam cinco minutos pras oito, e Wendy já estava no local combinado arrumando as coisas, quando João entrou no quarto.

– Wendy, posso falar com você?

– Claro, o que houve? – perguntou enquanto terminava de pendurar um lençol na parede. – Esse é o fundo branco da história, você não acha que eles vão gostar?

– Wendy, por que está fazendo isso?

Ela parou e se voltou para seu irmão que estava sentado em uma cadeira.

– Como assim?

– Por que fica inventando e contando essas estórias pra eles? Você sempre acaba se encrencando depois com o Sr. Trenton. Se fosse por motivos importantes, eu até entenderia, mas por estórias banais e fantasiosas? Ah maninha, isso é desperdício de vida.

– Motivos importantes? João, você percebe o que está falando? Essas estórias são tudo o que eles tem!

– Tudo bem, então por que não conta sobre as tragédias reais da vida? Como, o porque de estarem aqui. Por que seus pais os abandonaram?

– João, nem todos os pais abandonaram, alguns morrerão. Como, como os nossos.

– - Isso é abandono do mesmo jeito. Só que com uma válvula de escape diferente. – ele se levantou e encostou em uma cama – Wendy, cara, você fica ai inventando sobre Peter Pan, Gancho, Pininho e sei lá mais quem...

– Sininho.

– Saúde. Você não percebe que isso só vai prejudicar as crianças?

Wendy caminhou até a frente de João.

– Bem, meu caro irmão, eu conheço alguém que acreditava em todas essas coisas quando era menor. Se me lembro bem, você dizia que seria o próximo menino perdido.

João ficou em silêncio por menos de cinco segundos e então levantou.

– Pois é, mas eu cresci. – abriu a porta e a bateu atrás de si.

Wendy balançou a cabeça lamentando.

– Não, João, você não cresceu. – ela sussurrou.


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Notas finais do capítulo

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