Corpos e Corvos escrita por Laurique


Capítulo 15
" Anomalia "




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O rapaz que se dizia meu discípulo nos levou até a sala de segurança, onde ficavam as gravações das câmeras de segurança da lojinha.

– Porque nos trouxe aqui? – perguntou Shun observando o local.

– Que grosseria a minha? – O rapaz limpou as mãos que não estavam sujas na calça e estendeu para Shun. – Meu nome é Romeo, com “o” no final, aqui no Brasil costumam colocar “u”, o que é realmente muito irritante para mim. Sabe, teve uma vez no...

– Romeo, estes são Shun e Aline, ela também era uma de nós, você consegue reconhece-la? - Lhe interrompi.

– Infelizmente não mestre, eu não tinha contato com os outros sete, somente com o senhor.

– Tudo bem então, prossiga.

– Ah, certo mestre, me desculpe. – Ele caminhou até as televisões, pegou um controle e voltou até nos mostrar entrando pela porta da lojinha. – Eu sou uma espécie de vidente e nós videntes podemos ver o futuro através de algum objeto, como bolas de cristais e cartas, búzios e inclusive televisões. Antigamente eu tinha muita dificuldade para usar os meus poderes e o senhor me ajudou a controla-los.

– Eu também era um vidente?

Romeo riu-se.

– O senhor? Magina, o senhor “é” algo muito superior a isso, uma espécie mais antiga mas nunca me contou sobre seu passado, poder ver o futuro era um de seus poderes, mas o senhor se recusava a usá-lo. “A graça do amanhã, é não sabermos o que pode acontecer”, o mestre sempre me dizia isso.

– E graças a isso você caiu em uma armadilha. –Disse Shun atento as televisões.

Fiquei repetindo “A graça do amanhã é não sabermos o que pode acontecer”, inúmeras vezes, para que talvez eu pudesse me lembrar de algo, mas nada aconteceu.

– Chega de conversa, vamos ao que interessa, nós temos que encontrar Fenrir logo. – Nos alertou Aline.

–Tudo bem. – Romeo deu play e duas tvs nos mostraram entrando na loja. – Prestem bem atenção nessas duas filmagens. Parecem semelhantes né?

– Mas é claro, são filmagens de segurança. – disse eu.

O garoto me olhou com um “ar” de decepção, como se eu tivesse a obrigação de entender aquilo tudo. De repente as duas câmeras focaram em mim enquanto eu estava próximo a um filtro pegando um copo descartável para poder beber agua. Romeo pausou umas das televisões, eu me lembrava o que havia acontecido. O copo caiu de minhas mãos, mas eu o peguei, porém na tv ele caiu no chão e rolou com o vento.

– E o que tem de mais, Laurique deixou o copo cair, isso é algum superpoder? – Shun coçou a cabeça.

– Laurique, você está pálido, Laurique? – Aline me balançava levemente.

Meus olhos estavam fixos para a televisão, eu poderia jurar, eu havia pego aquele copo.

– Ele...ele não caiu no chão. – Disse, mas ninguém me ouviu.

– O que você disse? – Perguntou Shun.

– O copo! Eu o peguei, tenho certeza!

– Calma mestre, eu acredito no senhor, agora prestem atenção na outra tv.

Romeo deu play na outra televisão e então vimos uma cena diferente da primeira, dessa vez eu havia pego o copo, também vimos que Shun havia escolhido o chá de maracujá em uma das cenas e em outra escolheu de camomila.

– O que você fez conosco? - Perguntou Aline irritada para Romeo.

– Eu? Não fiz nada. Quem fez foi o mestre, esta é a prova de que ele é realmente meu mestre! – O garoto caiu em gargalhadas e se jogou na cadeira vazia do responsável por vigiar as câmeras.

Tentei juntar as coisas, mas não conseguia, porém Shun compreendeu como sempre.

– De alguma forma, você é capaz de alterar o futuro Lauri. – Me olhou de uma forma espantosa, como se eu fosse uma espécie exótica de animal.

– Quase isso, porém o futuro pode ser alterado por qualquer um, mas o destino não. Meu mestre é uma anomalia, não deveria existir, portanto a presença dele altera o futuro e o destino de todos a sua volta. O destino daquele copo era cair, Shun deveria ter escolhido o chá de maracujá ao invés do de camomila.

– O copo eu entendo, mas como o fato dele salvar o copo me fez mudar a minha escolha? – Shun me parecia confuso, o que era bem raro de se ver.

– O destino é uma onda, que se propaga como o som, por isso quando ele é alterado isso afeta as pessoas ao redor.

– As obrigando a escolher outra coisa? – Perguntou Aline.

– Não, dando a chance de escolher novamente.

Cocei a cabeça.

– Tudo isso é muito complicado.

– No começo sim, mas tenho certeza que quando o senhor recuperar sua memória, tudo fará sentido. – Romeo me confortou.

Sorri para ele. Aqueles olhos me fitaram por um tempo, pude sentir tristeza em seu olhar.

– Espero que quando o senhor volte, possa sorrir assim como hoje.

– Como assim?

Ouvimos um barulho, como se alguém estivesse tentando invadir o local. Romeo direcionou o controle até uma das televisões que transmitia imagens da câmera externa da lojinha, então foi possível ver quem era.

– Ah, é apenas o Tom, ele sempre é grosseiro assim, vou atende-lo e já volto, fiquem aqui.

Então esperamos, pelas filmagens o Tom parecia ser um humano, alto forte e valentão com uma jaqueta de motoqueiro e sem camisa por baixo. Romeo atendeu o rapaz.

– Olá Tom! – Romeo forjou um sorriso com esforço.

– Virjão! Você veio me atender pessoalmente, que honra! Onde estão seus funcionários? – Abriu um sorriso de escarnio e socou a mesa do balcão.

– Estão meio ocupados agora.

– Só você mesmo para deixar esses molengas fazerem o que quiserem aqui.

Tom comprou um maço de cigarros iria embora, mas parou por um instante examinando o local e depois se foi.

– Humano normal? – Perguntei a Romeo quando o mesmo retornou.

– Sim. – Sorriu para mim. - Podem ir agora, e tomem cuidado, quando saírem, verão que meus assistentes colocaram alguns suprimentos que vocês vão precisar.

– Tem chá? – Shun perguntou olhando para o rapaz enquanto saímos da sala.

– Sim, Shun, tem chá. – Romeo riu e todos nós o acompanhamos em uma orquestra de risos.

Ao chegarmos na porta de saída da lojinha agradecemos e voltamos a estrada para encontrar com Fenrir, pelo menos não tínhamos um longo caminho a percorrer, Salvador não era muito longe dali, porém os perigos na estrada poderiam deixar a viagem mais demorada do que imaginávamos.


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Notas finais do capítulo

Monstros revelados até agora:
Lhanna- Demônio indígena
Vampiro- O mais nobre de todos os monstros.
Humano- Imagem e semelhança de Deus.
Mentalista- Se alimenta de memórias de outros seres vivos ou que morreram a pouco tempo, também pode acessar memorias presas em objetos e lugares.
Demônio- Também chamado de anjo caído, é dividido em quatro classes: C, B, A e por fim S.
Anjo- Essa espécie de monstro é um pouco diferente do que dizem as religiões, pode brilhar fazendo parecer que tem asas, caso um comece a brilhar fuja, pois trata-se de um ataque mortal, é dividido em quatro classes: C, B, A e por fim S.
Vidente- Capaz de ver o futuro através de objetos ou em sonhos, até mesmo visões.



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