A face oculta do amor escrita por Dreamy Girl


Capítulo 5
Capitulo 5




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Um calafrio ainda percorria o corpo de Sakura quando ela seguiu Sasuke para o quarto que ele havia escolhido para ser seu estúdio. Sentia-se vazia, débil, como se nada no mundo pudesse fazê-la rir ou chorar. Melhor assim. Estava anestesiada contra as emoções que aquela missão degradante fatalmente lhe provocaria.

Entre o portão e a sala, nenhuma palavra foi dita. Todavia,no estúdio, Sasuke virou-se para encará-la, com um olhar estranho.

— Tire a roupa, Sakura.

Uma revolta louca surgiu dentro dela, mas foi vencida quando o rostinho frágil de Yuzuke veio-lhe à mente.

— Vire-se — foi tudo o que conseguiu dizer.

— Ora, não me venha com essa. — Sasuke riu, como se tudo fosse muito divertido.

— Por favor — ela murmurou, os lábios frios e lívidos. — Não é tão fácil como está pensando.

— Boa atuação, Sakura. Há três anos teria me convencido, mas não agora. Não vou cair nessa história de novo. Guarde a farsa da timidez para outro.

Sakura o fitou por um momento, sem dizer uma palavra. Como ele podia ser tão cruel, tão insensível? Sasuke estava encostado numa cômoda, as pernas musculosas cruzadas com displicência, as mãos nos bolsos da calça. Toda sua postura transmitia força, poder, rigor. .. E também masculinidade, aquele magnetismo que um dia quase a levara à loucura. Contudo, essa era uma parte de Sasuke que tinha de ignorar, se pudesse. Precisava pôr uma rédea nas emoções. Sasuke, agora. era um inimigo. Tinha que se lembrar disso e se comportar de acordo com a nova situação. No momento ele estava dando as cartas. Se não fizesse o que ele queria, a única chance de Yuzuke iria por água abaixo.

— Está bem — disse, apática, desabotoando o vestido. Seus olhos encararam os dele com firmeza, numa tentativa vã de intimidá-lo.

De algum modo conseguiu fazer com que suas mãos a obedecessem. Em poucos segundos, todos os botões estavam abertos. Sakura estancou, então, perguntando-se se o homem à sua frente não poderia voltar atrás, mas seu rosto não tinha qualquer expressão.

Deixou o vestido escorregar até o chão e fez menção de abrir o fecho do sutiã. Não. Não podia tirá-lo! Mas viu os olhos escuros sobre os dela, implacáveis. Quando a minúscula peça escorregou por seu corpo,teve ímpetos de cobrir os seios com as mãos. Contudo, com um esforço sobre-humano, manteve as mãos abaixadas.

Se tinha de ficar ali, na frente dele, como uma escrava prestes a ser comprada por seu senhor, pelo menos o faria com dignidade. Levantou o queixo, num desafio. Por fora era toda orgulho, enquanto, por dentro, sentia-se morrer aos poucos.

A noite que passara nos braços de Sasuke parecia ter acontecido em outro século. Como estavam distantes aqueles momentos de amor em que havia se exposto, não só aos olhos dele, mas à suas mãos, aos beijos avassaladores que a faziam perder o fôlego. Agora, no entanto, tudo o que sentia era um profundo desespero.

Quando os dois voltaram a se olhar, Sakura foi dominada por um sentimento que era mais forte do que tudo que já havia conhecido na vida. Ódio. Odiava Sasuke por tudo o que ele estava lhe fazendo. Tinha consciência de que ele a fazia sofrer de propósito, de que desejava humilhá-la ainda mais.

Um silêncio mortal pairava no estúdio. A tensão deixava o ar pesado e Sakura achou que acabaria louca, se aquilo durasse mais um minuto.

— E então? — explodiu num grito rouco.

— Então o quê?

— Passei no teste?

Os lábios bem-feitos se abriram num sorriso. Um sorriso que nada tinha a ver com a expressão dura do rosto dele. Sakura observou os dentes brancos brilhando contrastando com a pele clara e sentiu um calafrio subir-lhe pela espinha. Sasuke estava mais atraente e perigoso do que nunca.

Sem dizer nada, ele aproximou-se. Sakura permaneceu imóvel enquanto dedos quentes e habilidosos traçaram as linhas de seu corpo, desde o pescoço até a curva generosa dos seios, depois desceram mais, tocando-lhe a cintura, acariciando os quadris, coxas. . . Uma vez aquelas mãos pertenceram a um amante, fazendo carícias torturantes, exigindo uma resposta que nem ela mesma sabia poder dar. Agora, eram as mãos de um artista examinando as linhas, as formas e a textura de um objeto qualquer.

— Acho que serve — ele respondeu, implacável.

— Quando começamos?

“Deus! Isso tem mesmo que continuar?”, ela se perguntou, aflita. Todas aquelas palavras frias, cheias de rancor, aquele comércio nojento. . . E todo o tempo aquelas mãos transmitindo eletricidade para o corpo dela, a respiração quente de Sasuke incendiando-lhe o rosto.

— Amanhã, às dez.

— Ótimo. — Sakura deu um passo para trás. — Mas há um detalhe que ainda não discutimos.

Sasuke ergueu as sobrancelhas. Sabia o que ela estava querendo dizer, mas obrigou-a a pronunciá-lo em voz alta.

—O pagamento — Sakura falou, com a voz sumida.

— Quanto você deseja?

A despeito de sua decisão de permanecer inabalável, ela sentiu a garganta seca e engoliu com dificuldade.

— Mil dólares.

Num milésimo de segundo, Sakura pôde ver a surpresa nos olhos negros e suspirou, satisfeita. Agora era sua vez de chocá-lo.

— Não acha que está pedindo demais?

Ela enterrou os dedos nas palmas das mãos, impedindo que estas, mesmo agora, lhe cobrissem o corpo.

— Muito menos do que valho — disse, os olhos baixos.

Enquanto esperava pela resposta dele, sentiu os músculos do estômago se apertarem de tensão. Sua cabeça parecia que ia explodir. O preço que pedia era alto, muito alto. Mas era o que precisava para curar o filho.O que faria se Sasuke dissesse não? Se começasse a negociar, ela seria obrigada a ceder. Seu orgulho ferido não contava. Teria que aceitar o mínimo que conseguisse e depois encontrar outro modo de levantar a quantia.

— E então? — indagou, quando já não pôde suportar o suspense.

— Está certo. Mil dólares.

Até soltar o ar com alívio, não percebera que estava prendendo a respiração. Graças a Deus. As semanas seguintes não trariam nada além de degradação, vergonha, um poço imenso de infelicidade, mas aquilo era parte do preço que tinha de pagar pela saúde de Yuzuke. Por um instante esqueceu-se de que Sasuke era seu inimigo, de que devia manter a imagem de mulher fria e calculista. Quando o fitou, sem palavras, não sabia que seus olhos brilhavam com as lágrimas contidas.

De algum modo, Sasuke registrou aquela emoção, pois seus olhos se estreitaram. Fez menção de dizer algo, mas então pareceu mudar de idéia.

— Vista-se! — disse, áspero.

Começava a dar as costas para Sakura quando ela reencontrou a voz.

—Sasuke..

— O que é?

— Entendeu que não vai haver nada além da pintura?

— Que diabos está tentando me dizer agora? — ele explodiu.

Tarde demais, Sakura descobriu que deveria ter deixado essa discussão para outra hora, quando estivesse vestida e não tão vulnerável. Contudo, foi obrigada a continuar.

— Quando eu posar para você. . . bem, será apenas isso. — Ela amaldiçoou o nervosismo que fazia sua voz sair como um murmúrio.

— O que quer dizer? — Sasuke nunca se mostrara tão ameaçador.

—Quero dizer que não vai encostar um dedo em mim.

— Então está pensando que é você quem dá as cartas.

— No que se refere a mim, é verdade.

— Não se engane, Sakura. — As mãos dele agarraram seus ombros. Sasuke estava tão perto, que ela podia sentir o calor daquele corpo arder no seu.

— Solte-me!

— Só quando eu quiser

Sakura sentiu que ele a puxava para mais perto e o aroma másculo que exalava dele entorpeceu-lhe os sentidos.

— Por favor, Sasuke.

— Está me convidando para fazer amor com você?

—Não! — ela balançou a cabeça, desesperada.

— Sim — ele insistiu. — Tem pedido por isso desde o momento em que pisou neste estúdio.

— Não. . . Eu não quero. . . — Se ele continuasse, estaria perdida.

— Sabemos muito bem o que queremos.

Dizendo isto, Sasuke esmagou a boca de Sakura num beijo. Uma de suas mãos afundou no cabelo sedoso enquanto a outra passeava pelas costas dela, moldando-se às curvas de sua cintura, de seus quadris, descendo depois para as coxas firmes a fim de puxar o corpo nu e macio contra o dele. Seu toque, embora fosse uma punição, foi para ela como encontrar água fresca num deserto. Sakura, sem pensar no que fazia, passou os braços pela cintura dele e arqueou o corpo, provocante.

No mesmo instante ele afastou os lábios dos dela e empurrou as mãos que o seguravam, jogando-as para os lados. Sakura o encarou sem entender o que estava acontecendo. Mas seus olhos precisaram apenas de um segundo para registrar a expressão cruel que havia tomado conta do rosto de Sasuke.

— Amanhã, às dez em ponto. — Foram as palavras secas que se seguiram ao encanto do abraço. Sem dizer mais nada, Sasuke deu meia-volta e saiu do estúdio.

O sol aquecia o ambiente, mas ela sentiu o corpo gelado ao ouvir a porta bater atrás dele. Era um frio que parecia penetrar- lhe até os ossos. Por alguns minutos que lhe pareceram uma eternidade. ela continuou parada, incapaz de mover um dedo que fosse.Demorou para se dar conta de que estava no estúdio de Sasuke, quase totalmente nua. Suas roupas estavam jogadas no chão, esquecidas, Seus dedos tremiam enquanto ela se vestia, lutando com o fecho do sutiã, com os botões do vestido. Precisava sair logo dali.

Abrindo a porta do estúdio, examinou o corredor. Sasuke não estava à vista. Sakura não olhou para trás quando se dirigiu para o velho portão e ganhou a estrada em direção a sua casa. Levantou a cabeça buscando o resto de dignidade que ainda possuía. Tinha que manter as aparências, na possibilidade de Sasuke a estar observando.

Tivera a intenção de apanhar Yuzuke assim que saísse do chalé, mas não podia entrar na casa da sra. Inuzuka naquele estado. Não conseguiria esconder as emoções violentas que a atormentavam. A mãe de Kiba ficaria intrigada e fatalmente contaria ao filho. Pior ainda, Yuzuke ficaria assustado.

Ela morreria antes de deixar que qualquer coisa prejudicasse seu filho. Yuzuke já teria muita dor e sofrimento nos próximos meses; não precisava sofrer a tensão causada pelos conflitos entre os pais. Pais. . . A palavra parecia completamente fora de propósito.

Precisava ir para casa, havia sido tão humilhada por Sasuke, que se sentia fraca e com um terrível mal-estar. Nem mesmo a certeza de que só tinha aceitado aquela proposta absurda em benefício do filho conseguia aplacar o nojo que estava sentindo de si mesma.

Alcançando a pequena estrada que levava até o sítio, começou a correr. Quando chegou ao quarto, arrancou as roupas quase se auto-agredindo e caminhou para o banheiro. A água que jorrou do chuveiro era quente, um pouco quente demais, mas Sakura não fez nada para temperá-la. Foi com alívio que sentiu aque[a água batendo em seu corpo, lavando simbolicamente a humilhação a que Sasuke a havia submetido.

Quando já estava vestida com outra roupa, e tinha certeza de que jamais conseguiria usar aquele vestido cor-de-rosa de novo, saiu do sítio em direção à casa da sra. Inuzuka. Já estava quase chegando quando olhou no relógio. A mãe de Kiba não se importaria em ficar com Yuzuke por mais algum tempo. Os netos estavam longe e ela parecia gostar da companhia do garotinho. O dia estava bom para um passeio a pé e Sakura ainda sentia necessidade de ficar sozinha,

Uma brisa fresca soprava do oceano. O céu era de um azul metálico, contra as cores vivas da terra. Os dois lados da estrada eram tomados por chácaras de frutas. Sakura viu mangas maduras, pêssegos, ameixas e nectarinas. Passou também por uma plantação de abacaxis, cujas coroas formavam um corredor perfeito sobre a terra. Bananeiras cresciam em todo canto, e de vez em quando via um mamoeiro com seus frutos ainda verdes.

Uma carroça passou pela estradinha esburacada, fazendo barulho. Sakura viu que estava abarrotada com chapéus, cestas e bugigangas feitas de palha. Devia estar a caminho de uma das praias, onde as garotas que a conduziam exporiam os produtos na areia, para os turistas. As meninas gritaram seu nome e acenaram, mas Sakura mal pôde esboçar um sorriso. Normalmente, amava a agitação do litoral, o clima amigável e a camaradagem que havia entre as pessoas. Mas naquela tarde nada conseguia romper a concha de sua infelicidade.

Quando passou pela última chácara, o caminho ficou mais estreito depois de um emaranhado de troncos, onde minúsculas flores cresciam em profusão. A areia entrava pelas sandálias abertas à medida que Sakura caminhava na direção de um rochedo íngreme. Costumava visitar aquele lugar com Sasori. Seu irmão adorava o penhasco com sua vista deslumbrante para o mar. Às vezes, viam os navios enormes cortando a água azul. Como a vida era descomplicada e feliz naquele tempo!

No fim do caminho havia um banco, com certeza colocado ali por alguém que gostava tanto de apreciar a vista quanto Sasori. Já estava velho, a pintura descascando, e faltavam algumas tábuas. No entanto. de algum modo ele tinha resistido aos estragos causados pelos ventos e chuvas.

Sakura sentou-se e fixou os olhos no oceano azul. Uma brisa leve agitou-lhe os cabelos, quase uma carícía. Um barco pesqueiro navegava preguiçosamente, movimentando-se ao sabor das ondas. No horizonte, parecendo brinquedos, estavam dois navios. O garoto Sasori teria navegado com eles em pensamento, enquanto deslumbrava a irmã com histórias sobre os lugares que um dia iria visitar.Sasori não podia saber, naquela época, que jamais chegaria a ser um marinheiro, que estava destinado a passar a vida curvado sobre a prancheta, fazendo projetos e mais projetos. O mesmo valia para Sakura. Ela também estava muito diferente da garotinha travessa que se ajoelhava nas pedras, brincando com as anêmonas-do-mar. Será que ainda restava alguma coisa da menina que amava correr descalça pela beira da água, que gostava da vida e das pessoas, sem ter medo de sair ferida?

Não se importava que ele a pintasse como uma prostituta,sabia que na arte esses valores perdiam o significado. O que a humilhava era a situação criada entre eles, aquele jogo estúpido e hipócrita, e que a obrigara a mentir. Contudo, Sakura se esforçava para não pensar nisso. Tudo o que importava era que iria ganhar mil dólares, e que Yuzuke poderia ser submetido à operação que lhe devolveria a saúde. Agora o dinheiro estava garantido. Só precisava ter paciência e habilidade para reprimir o orgulho.

Podia fazer isso. Tinha que fazer isso! Encostou a cabeça no banco, fechando os olhos. Iria sentar na plataforma e deixar que Sasuke a desenhasse. Não fugiria dele, quando o futuro de Yuzuke estava em jogo.

No entanto, havia uma parte de seu ser que queria ficar longe daquele estúdio e da presença perturbadora daquele homem. Caso se descuidasse da emoção, estaria perdida. Acabaria se entregando a Sasuke de corpo e alma. Esse era um fato que já não podia mais negar.

Há três anos ela tinha se apaixonado por ele. Seu amor por Sasuke foi tão grande que a levou a vencer todos os escrúpulos. Mas agora não era mais a adolescente ingênua de antes. Era uma mulher que havia sofrido e trabalhado muito, que havia tido um filho doente e que, por isso, tinha sido obrigada a passar muitas noites em claro, preocupada com o futuro. Se ontem se perguntasse se Sasuke ainda significava alguma coisa para ela, a resposta teria sido muito simples. Ele era uma lembrança, uma lembrança viva no rosto de seu filho. Alguém que lhe havia trazido paixão e dor, que aparecia às vezes em seus sonhos, mas que representava muito pouco no seu dia-a-dia.

Em poucas horas tudo havia mudado. Sasuke não havia trazido consigo apenas humilhação e vingança. Sakura tinha de admitir que, mesmo depois de tanto tempo, ele ainda a tinha nas mãos. As lembranças do que acontecera naquela tarde ainda estavam vivas em sua mente. Além de escárnio e desprezo, nada havia acontecido naquele encontro. Ele aproveitou bem a oportunidade para demonstrar o domínio que tinha sobre ela. E, no entanto, seu corpo havia lutado contra a razão e ela chegou a desejar que aqueles instantes se prolongassem.

Sasuke já não era o mesmo homem de três anos atrás. Mudara tanto quanto ela. O tempo havia deixado sua marca nos olhos negros e na boca sensual, e o rosto carregara-se de austeridade e desconfiança. Além disso, o desejo de ferir, de zombar, estava além do que ela havia podido imaginar.

Observando o ir e vir das ondas, Sakura se perguntou o que havia provocado aquelas mudanças. Havia tanta coisa que não sabia sobre o homem que ela havia amado com todas as forças! A vida devia ter sido tão dura para ele quanto havia sido para ela, embora isso não transparecesse de imediato na aparência de Sasuke. No entanto, de acordo com os vários jornais, a carreira dele ia de vento em popa. Nunca seus retratos foram tão procurados como agora, alcançando somas que, para Sakura, eram uma fortuna.

Sobre sua vida particular, sabia pouco. Sasuke nunca aparecia sozinho nas páginas dos jornais, em exposições, nem em estréias de peças teatrais. . . Sempre havia uma linda mulher pendurada no braço dele e geralmente essa mulher era Bárbara. Era óbvio que a relação entre os dois estava mais forte do que nunca.

O vento soprou com mais força, desarrumando os cabelos de Sakura e espirrando água do mar em seu rosto, como se tentasse varrer sua melancolia. E conseguiu. Quando resolveu tomar o caminho de volta para casa, sentia-se melhor por ter se dado um descanso. Não que tivesse se livrado da tristeza, mas uma ponta de resignação pareceu se instalar dentro dela. De alguma maneira havia conseguido chegar a um acordo consigo mesma.

Posaria para Sasuke. Porém, tentaria se desligar emocionalmente de tudo quanto ele representava em sua vida. Com sorte seria bem-sucedida. Caso contrário, aprenderia a lidar com sua infelicidade. Toda vez que fraquejasse olharia para Yuzuke e pensaria que logo ele iria ficar bom, fazendo com que seu sacrifício não fosse em vão.

Na manhã seguinte, Sakura levantou cedo. ” Dez horas em ponto”, Sasuke havia dito, deixando bem claro que não era só ela quem estipulava as regras. Com certeza ele pretendia aproveitar bem a luz da manhã e não era o horário o que a preocupava. O pior seria ter de fazer as poses que ele quisesse, mesmo que estas acarretassem tensão ou desconforto. Além de tudo, teria que se sujeitar à ironia cortante da qual ele sempre lançava mão.

Uma noite maldormida não impediu que pulasse da cama ao ouvir o chamado de Yuzuke. Apenas um olhar para o rostinho bonito bastou para que uma onda de determinação a invadisse. Apertando o corpinho quente contra o dela, Sakura soube que não podia voltar atrás.

Satisfeita por ter levantado cedo, deu conta de suas tarefas rotineiras mais rápido do que de costume. Havia muito o que fazer no pomar e que não podia ser deixado para depois. O trabalho serviu como uma espécie de terapia, impedindo que ela ficasse remoendo a provação pela qual teria de passar.

Quando as galinhas já tinham sido alimentadas e o pomar vicejava após ter sido regado, Sakura fechou a porta da cozinha e tomou a estrada em direção à casa da sra. Inuzuka, levando Yuzuke pela mão. Ao passar pelo chalé de Sasuke, sequer voltou a cabeça. Não queria nem mesmo pensar nele.

A mãe de Kiba já estava esperando.

— Essas sessões vão demorar muito? — perguntou, enquanto levava Yuzuke para dentro da casa. Alguma coisa em seu tom abalou Sakura.

— Eu não tenho certeza.

— Não que eu me importe. claro. Mas Kiba queria saber.

Então a velha senhora havia discutido o assunto com o filho. E, pelo visto, ele não havia aprovado. Mas será que Kiba tinha o direito de fazer julgamentos? Sakura suspirou. Era bom saber que, pelo menos, tinha um amigo, mas assim mesmo a censura de Kiba cheirava a ciúme. Sua vida já estava complicada demais para enfrentar mais um problema, mesmo que fosse mínimo.

— Vou perguntar ao sr. Uchiha — respondeu um pouco ríspida.

— Não é necessário. —A sra. Inuzuka sorriu, eu adoro a companhia de Yuzuke.

De volta a sua casa ,Sakura olhou o relógio. Faltavam quinze minutos para as dez e ainda não havia decidido que roupa iria usar. Ao vasculhar o armário se deu conta de que nada do que possuía era adequado para o tema que Sasuke tinha em mente. Nem mesmo sabia o que usavam aquelas mulheres, cujo trabalho era passear pelas esquinas à noite, esperando atrair clientes. Mas não era tão ingênua a ponto de achar que qualquer traje se adaptaria às circunstâncias

Por fim, escolheu um vestido estampado bem justo, que há tempos já estava fora de moda, mas cujo decote generoso serviria bem aos propósitos do retrato. Os ombros morenos e delicados ficavam à mostra.

Doze minutos já haviam se passado. Sakura molhou o rosto afogueado com água fria e olhou-se no espelho. Os cabelos curtos não permitiam muitas inovações. Talvez Sasuke a imaginasse com eles penteados de lado, e uma flor vermelha atrás da orelha. Ela sorriu ao visualizar a cena, enquanto escovava os cabelos até que ficassem brilhantes.

A imagem no espelho não refletia sua idéia de uma ‘dama da noite”, linda e sedutora. Mas Sasuke que se preocupasse com os detalhes. No fundo, sabia que ele estava louco para dar asas à imaginação.

Seu coração batia desordenadamente enquanto subia a estrada. “Mantenha-se distante, indiferente . “, aconselhava a si mesma. Tudo o que Sasuke devia ver era uma concha vazia. Nenhuma das emoções que povoavan seu íntimo podiam ser reveladas. Só assim poderia sobreviver à experiência penosa que tinha pela frente.

Ao se aproximar do chalé, ergueu o queixo e obrigou os lábios a se abrirem num sorriso. Se Sasuke a estivesse observando, veria uma mulher jovem e despreocupada, interessada apenas em conseguir dinheiro.

Em um minuto, Sakura batia à porta. Sasuke abriu-a quase que de imediato Por um momento percorreu-a com os olhos. observando cada detalhe.

— Bem na hora — disse, seco.

Ela o encarou por trás dos longos cílios negros.

— Pensou que eu fosse me atrasar?

— Não pelo dinheiro que está pedindo. — Os olhos negros brilharam, zombeteiros. — Entre, Sakura.


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