A face oculta do amor escrita por Dreamy Girl


Capítulo 4
Capitulo 4




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Uma batida forte interrompeu os devaneios de Sakura. Com um gemido de desgosto, ela pensou em Sasuke. Não estava preparada para revê-lo. Mas não foram os olhos castanhos e frios que encontrou ao abrir a porta, e sim os olhos sorridentes de Kiba Inuzuka, o jovem veterinário da região.

— Por acaso viu algum fantasma? — Kiba riu, bem-humorado.

— Oh, não. — Sakura sorriu para o amigo, sem jeito. — Entre. Kiba.

— Esqueceu que prometi passar aqui quando estivesse voltado para casa?

— Não... claro que não. É que já é tarde e pensei que não viesse mais.

— Eu teria chegado mais cedo se uma determinada vaca não tivesse demorado tanto para dar cria. — Kiba franziu a testa ao ver a palidez da amiga. — Sakura, há alguma coisa errada?

—N-não... Verdade. Vou fazer um chá para você.

— Aceito. — Ele a olhou preocupado. — Levou Yuzuke ao médico?

— Sim. Ele vai ter que ser operado.

— Logo?

— Em poucos meses.

— Não é à toa que está tão pálida. . — Num minuto, Kiba estava ao lado dela. Quando seus braços a envolveram, Sakura encostou a cabeça no peito forte. Precisava de conforto.

— Eu sabia que a operação teria de ser feita mas, assim mesmo, foi um choque — confessou angustiada.

— Imagino. — Kiba ficou em silêncio por um instante. — O médico disse quanto vai custar?

— Disse.

— E isto também está preocupando você, não é?

— É.. — Sakura levantou a cabeça e olhou o amigo, com ar de determinação. — Mas vou dar um jeito.

— Vai falar com seu irmão?

—Não. — Uma sombra passou pelos olhos verdes. — Não, a menos que seja absolutamente necessário.

Quando sentiu a pressão da mão dele em seu ombro, Sakura soube o que estava por vir. Não conseguia entender por que Kiba nunca lhe despertava emoções, a não ser um misto de ternura e afeto. Era tão diferente do que sentia com Sasuke.

— Sakura, querida.Vou lhe perguntar mais uma vez.

— Não, Kiba — ela se afastou dele, com delicadeza.

— Por que não? Sabe que quero me casar com você. Não tenho muito dinheiro, mas poderíamos dar um jeito, Sakura — Os olhos castanhos-claros a olharam, aflitos. —Pelo menos tenho o direito de ajudar, não tenho?

Não era a primeira vez que Kiba a pedia em casamento, e como das outras vezes, Sakura tinha ficado tentada a aceitar. Talvez sua vida com ele não fosse excitante como teria sido com Sasuke; talvez jamais esquecesse a paixão louca que existira antes, mas ao menos encontraria um pouco de tranqüilidade. Não havia pessoa mais aberta e descomplicada do que Kiba. No entanto, sempre que ele fazia aquela proposta, a imagem de Sasuke se colocava entre eles.

Desta vez, a tentação de dizer “sim” estava mais forte do que nunca. Kiba adorava Yuzuke; jamais havia feito perguntas indiscretas a respeito do garoto e, sem dúvida, o amaria como se ele fosse seu próprio filho. Não seria o fim de seus problemas financeiros, mas Kiba lhe daria o apoio emocional de que tanto necessitaria nos próximos meses.

— Kiba. . . — ela falou, a voz embargada. — Sempre foi tão bom para mim.

— Bom?! — Uma sombra de frustração passou pelos olhos castanhos. — Sakura, eu te amo! Será que não entende?

— S-sim, mas... Por favor, Kiba, não me pressione. Eu não posso!

— Se existisse outra pessoa em sua vida, talvez eu entendesse. — Ele a encarou, intrigado. — Mas vive sozinha. Não há ninguém mais, pelo que eu saiba. Não pretende se casar nunca?

— Um dia, talvez. Mas por enquanto prefiro não pensar nisso. Venha, tome o chá antes que esfrie.

Resignado, Kiba concordou, sentando-se à mesa e pondo-se a falar sobre seu trabalho. Ficou satisfeito quando um sorriso amenizou a preocupação nos olhos verdes de Sakura. Ela contou as últimas travessuras de Yuzuke, falou da viagem e da consulta.

Finalmente, ele olhou o relógio e levantou-se para ir embora. Estava na porta, quando se voltou para ela.

— Vi uma luz naquele chalé, na parte alta da estrada. Sabia que ele havia sido alugado?

— Sim. — Ela virou o rosto, tentando parecer natural, mas Kiba a fitou, desconfjado.

— Já viu o novo inquilino?

— Rapidamente. — Sakura hesitou, amaldiçoando o rubor que lhe subiu às faces. — O nome dele é Sasuke Uchiha. Ele. . . ele é um artista.

— Sei... — Kiba permaneceu no mesmo lugar, observando o brilho intenso nos olhos da amiga. — Parece. . . agitada. Por acaso teve algum problema com esse cara? Ele lhe passou alguma cantada?

— Graças a Deus, não! lsto é. . . bem, é que fiquei surpresa de reencontrá-lo.

Uma nova expressão suavizou os traços bonitos de Kiba.

—Então já conhecia esse tal de Uchiha.

— Mais ou menos. — “Chega, Kiba, pelo amor de Deus!”, ela implorou em silêncio. “Não posso falar disso. Não agora. Talvez nunca!”

Kiba ainda olhava para ela, desconfiado. Era óbvio que percebera seu mal-estar e estava ansioso para fazer perguntas, mas em vez disso, com o tato e a delicadeza que faziam dele um homem encantador, aproximou-se e deu-lhe um beijo rápido.

—Durma bem, meu anjo. Passo aqui amanhã, se tiver tempo.

Ela estava exausta, louca para se deitar, mas assim mesmo o sono custou a vir, com tantos problemas e imagens povoando sua mente. Tanta coisa tinha acontecido em tão poucas horas.Não queria nem pensar no que ainda estava por vir.

A necessidade de Yuzuke ser operado tinha se tornado uma realidade. Precisava acostumar-se com a idéia, por mais apreensão que lhe causasse. A presença de Sasuke não era menos real. E teria que se adaptar a isto também, lutando para mantê-lo a distância. Precisava mostrar-se inflexível, sem deixar-se arrastar pela emoção. Devia ser a mulher madura que Sasuke esperava encontrar depois de três anos.

Não ia ser fácil. Naquela tarde, havia tido uma demonstração de como ele ainda podia dominá-la. Quando ele lhe puxou o corpo e os dois ficaram praticamente grudados, chamas de desejos, que ela não acreditava que ainda existissem, correram por suas veias. Sasuke agira tomado pelo ódio, pelo desejo de vingança, talvez, mas o corpo de Sakura havia respondido como se tivesse recebendo carícias de um amante.

Se pudesse se casar com Kiba! Era só dizer uma palavra e ele daria andamento nos papéis. Tantas vezes ele a tinha ajudado pensar com clareza, a enxergar as coisas de outro modo.

Não. Não podia fazer isso. Pelo menos até ter certeza de que estaria sendo leal com ele. E com ela mesma.

Mais uma vez, a imagem de Sasuke lhe voltou, clara e nítida. à cabeça. Ele aparecia com um sorriso sarcástico, satisfeito pelo desespero que provocava. Com um suspiro profundo Sakura pulou da cama e correu para a janela aberta onde pôde respirar o ar fresco da noite.

A chuva havia parado há algum tempo, e o céu já não tinha nuvens. Sentiu o perfume dos jasmins misturado com o cheiro bom de frutas maduras. Respirou fundo. Em algum lugar, um sapo coaxou dentro da noite. Ao longe, as ondas do mar batiam nas pedras, sem parar.

Poinsettia era o seu lar. Antigamente, costumava passar os fins de semana ali, com os pais, que gostavam de sair um pouco da agitação de Osaka. Aquele pequeno sítio era o seu refúgio,um paraíso onde pudera se levantar e começar vida nova. Nada nesse mundo iria arrancá-la daquele lugar. Nem mesmo Sasuke. Ele não deveria ficar por muito tempo no chalé mas, de qualquer modo, não deixaria que ele tornasse a estragar-lhe a vida.

Na manhã seguinte, Sakura estava trabalhando no pomar, ao mesmo tempo em que observava Yuzuke brincar debaixo de uma árvore. Ele soltava gritinhos de prazer quando conseguia chutar uma bola para dentro de um buraco na terra. O sol já estava alto, e o calor penetrava pelas roupas leves que usavam. Sakura fez uma pausa, correndo as costas da mão pela testa molhada. A alegria de Yuzuke tinha o poder de diminuir o seu cansaço. Um sorriso iluminou ainda mais o rosto rosado da criança. Ela não resistiu ao impulso de abraçar o filho.

Uma sombra formou-se no chão. Sakura ergueu a cabeça, assustada.

— Sasuke! — Soltando Yuzuke, ela se levantou de um salto,alisando a camiseta por cima da saia estampada.

— Olá, Sakura. — Os olhos negros pousaram sobre o garoto. — E este deve ser Yuzuke. — Sua voz não demonstrava nenhum carinho.

Yuzuke escondeu-se atrás das pernas da mãe, como se pressentisse uma ponta de hostilidade no homem que o olhava intensamente. Sakura engoliu em seco. Ambos estavam de testa franzida e a semelhança era inconfundível. Uma onda de pânico a invadiu, mas ela a combateu com firmeza. Não havia perigo de Sasuke ver o que ela via. As feições de Yuzuke, assim como sua pele e cabelos, eram as dela. Só uma pessoa muito observadora perceberia a semelhança de expressões e personalidades.

— Mamãe! — Yuzuke agarrou-se nela, assustado.

— Este é o sr. Uchiha — Sakura explicou, com cuidado. Para Yuzuke, Kiba era o “Tio Kiba”, mas ela não conseguia ver Sasuke sendo chamado de “Tio”, com tanta naturalidade. — Diga olá, querido!

—Não gosto Uchiha. — O garoto fez uma expressão de desgosto e a encarou.

Sakura teve uma vontade súbita de rir. Sasuke, quando estava zangado, apertava os lábios de um jeito muito semelhante.

lnesperadamente foi Sasuke quem riu. O contraste dos dentes brancos com a pele clara perturbou-a despertando lembranças.

— Ora, desculpe, Yuzuke — ele falou, balançando a cabeça. — Às vezes não é fácil fazer amigos.

Embora Yuzuke não houvesse entendido nada do que aquele estranho falava, pareceu ficar satisfeito e voltou a concentrar-se na bola, deixando para a mãe a tarefa de conversar com o ta sr. Uchiha.

As batidas do coração de Sakura ainda não tinham voltado ao normal. Apesar das decisões que havia tomado na noite anterior, não era fácil ficar indiferente à virilidade de Sasuke. Ele estava de jeans, o tecido grosso colando-se às pernas musculosas. A camisa, com os três primeiros botões abertos, mostrava o peito bronzeado e o pescoço forte. Seus olhos eram negros,alertas e inteligentes, e seu rosto tinha um brilho fresco de quem acabara de nadar. Se Sasuke tínha passado a noite “tão bem” quanto ela, não dava sinais disso.

— Trabalhando?

— Não está vendo? — Sakura respondeu, fria. — Não temos nada para dizer um ao outro, Sasuke. Acho melhor ir embora.

Um brilho estranho iluminou os olhos negros. Ele a observava com ironia, percorrendo o corpo de Sakura com indiscrição.

— Vim pedir uma coisa.

— Se é açúcar que está querendo, pode pegar um pouco no armário da cozinha. . . — ela zombou, abaixando-se para pegar as ferramentas.

Não estava preparada para as mãos que lhe seguraram os ombros, forçando-a a encará-lo.

— Essa atitude tão irônica não combina com você. O que aconteceu com a Sakura doce e meiga que conheci uma vez?

A proximidade dele a perturbava tanto, que o coração tornou a disparar, no mesmo instante. Por pouco, Sakura não fraquejou.

— Ela não existe mais.

Sasuke continuou a segurá-la, os dedos fortes quase lhe machucando os braços. A raiva contida naqueles olhos era tanta que ela ficou assustada.

—D-disse que tinha vindo pedir uma coisa, Sasuke. Então diga logo.

— Sim. Quero pintar você.

Ele só podia estar brincando. Sakura jogou a cabeça para trás. com uma risada nervosa. Os olhos que encontraram os dela continuavam irônicos, mas continham mais alguma coisa que ela não soube decifrar, e que lhe provocou um arrepio.

— Não pode estar falando sério, Sasuke.

— Pois estou.

Se pelo menos ele a soltasse! Era difícil pôr os pensamentos em ordem, presa daquele jeito. Quase podia ouvir as batidas do próprio coração. No entanto, precisava pensar, e depressa, pois aquele pedido cheirava a alguma armadilha.

— Ontem deu a entender que só iria pintar paisagens.

— Não preciso me limitar a um só tema. E então, Sakura?

— Já me pintou uma vez — ela falou, devagar.

— E foi uma experiência inesquecível.

Prendendo a respiração diante da ironia, ela se libertou dele, com um gesto brusco.

— Não vejo motivo para querer repetir a dose.

— Mas claro que há motivo. . . — a voz dele era suave, perigosa.

— Sasuke... esqueceu do que me perguntou há poucos minutos? Aquela Sakura não existe mais. — A aspereza da risada dele a irritou. — Sasuke!

— Deixe-me explicar. — Mais uma vez a suavidade. — A Sakura que pintei há três anos era uma garota linda, uma virgem no limiar de sua sensualidade. Ou pelo menos era isso que eu pensava. Só que eu não sabia como ela era leviana.

Devia esbofeteá-lo com toda a força, para acabar com aquele sorriso debochado. Porém, alguma coisa a impediu. Havia chocado Sasuke com a história que inventara e agora ele respondia à altura, querendo magoá-la. Se permanecesse calma e se recusasse a morder a isca, ele iria embora e a deixaria em paz.

— Vou pintá-la como uma garota de rua — ele continuou. tocando-lhe sugestivamente a curva dos seios. — Como uma linda dama da noite.

— Seu canalha! — Sakura empurrou-o com força. cega de ódio.

—Mãe!? — Yuzuke ergueu a cabeça, assustado com o tom violento da mãe.

— Não é nada, querido. — Sakura engoliu com dificuldade, fazendo um grande esforço para parecer natural. — Vá brincar. — Voltou-se para Sasuke. cerrando os dentes. — Cafajeste!Saia já daqui ou chamo a polícia.

— Como quiser. — Ele se afastou dela, sem pressa. —Se mudar de idéia, sabe onde me procurar.

Sasuke deu-lhe as costas e se afastou. Com os olhos embaçados pelas lágrimas, Sakura o viu sumir entre as árvores. Enxugou o rosto com raiva. Não importava o que Sasuke pensasse dela,não tinha o direito de tratá-la daquele modo, Se mudar de idéia , ele havia dito. Jamais mudaria de idéia; nem em un milhão de anos. Ele que esperasse sentado!

Havia muito trabalho para ser feito e não podia se dar ao luxo de correr para o quarto e trancar-se, como tinha vontade, as frutas estavam amadurecendo e não tinha condições de contratar ajudantes. “Maldito Sasuke Uchiha”, pensou, com raiva, enquanto voltava ao que fazia antes de ele chegar. “Como pôde vir aqui destruir a paz que levei tanto tempo para conseguir?”

Começou a colher as frutas, freneticamente. De vez em quando arrancava uma manga do galho com tanta força que lhe feria a casca macia. “Vá com calma”, censurou a si mesma. Precisava ter mais cuidado. Aos poucos, foi conseguindo manter o ritmo adequado, mas, enquanto colocava as frutas dentro do cesto, sua cabeça voava. Lá no fundo, ainda podia sentir a angústia roendo- lhe o peito. Ainda chorava por um amor que poderia ter sido muito bonito, mas que só lhe trouxe mágoas e sofrimento.

A manhã passou depressa. O sol brilhava alto no céu, sufocando a terra com seu calor. O ar estava tão abafado, que era difícil respirar. De quando em quando Sakura parava, ansiando por uma brisa que lhe refrescasse a pele suada.

Yuzuke estava muito quieto. Ele tinha brincado a manhã toda e agora estava encostado numa árvore, com jeito preguiçoso. Toda a energia dele parecia ter sumido, como por encanto. Sakura sentiu uma dor no coração ao olhar o filho. Preocupada demais com o que havia acontecido entre ela e Sasuke, havia passado uns bons minutos sem dar atenção ao menino. Sasuke era passado, disse a si mesma, com raiva. Não devia ter mais lugar nos pensamentos, nem na vida dela, o fato de ser o pai de Yuzuke já não significava nada. Ela estava mais do que decidida a manter aquele segredo.

Era perda de tempo pensar em Sasuke. Devia concentrar-se em Yuzuke. O que importava agora era a operação que devolveria a saúde total a seu filho, e o esforço que tinha de fazer para conseguir o dinheiro necessário.

Num momento de desespero ela havia jurado para o médico que conseguiria o dinheiro. Mas agora, cansada e abatida, a possibilidade de conseguir ajuda financeira lhe pareceu totalmente remota. No entanto, sabia que encontraria uma saída. Yuzuke precisava da operação! Se pedisse a Sasuke.. . Ele moveria montanhas se soubesse que era o pai do menino. Mas essa era a única coisa que ela não ia fazer; que não podia fazer.

Sasuke. . . A idéia surgiu devagar, aparentemente do nada. Enquanto se instalava em sua mente, Sakura permaneceu imóvel, quieta, com uma expressão indefinida nos olhos verdes que fitavam o corpinho frágil do filho. Não. Aquilo não era possível. Ou era? Não tinha resolvido que não havia nada que não fizesse por Yuzuke?

Claro que Sasuke poderia recusar; era uma possibilidade que tinha de encarar. Mas havia uma chance mínima de que ele concordasse.

Sakura deixou o trabalho no pomar mais cedo do que de costume. Após dar uma refeição leve para Yuzuke, junto com um copo de suco de laranja bem fresco, telefonou para a sra. Inuzuka, a mãe de, Kiba. Viúva, e com muito tempo livre agora que Kiba era o único filho solteiro, a velha senhora gostava muito do menino. Sempre se colocava à disposição para cuidar dele quando Sakura precisava. Também naquela vez não foi diferente. A mãe de Kiba pareceu contente ao dizer que tomaria conta de Yuzuke.

Logo que deixou o filho, Sakura voltou correndo para Poinsettia e para o espelho. Há tempos não dava atenção à aparência. Olhando-se agora, percebeu que não era só Sasuke que havia mudado naqueles três anos. Os olhos grandes e verdes já não eram tão sonhadores, porém ainda mantinham seu brilho. A pele continuava macia, embora sem o viço da adolescência. Antigamente, seus cabelos eram longos e levemente encaracolados; agora estavam curtos, pois não tinha mais tempo de cuidar deles. Já não era a garota ingênua e sonhadora que Sasuke havia pintado, mas nem por isso deixara de ser atraente, muitos homens em Konoha, Kiba, em particular, deixavam claro que ela era uma moça bonita.

Mas não havia mudado só na aparência. Há três anos era uma menina no desabrochar da feminilidade, com sede de vida e deamor. Agora, era uma mulher madura, consciente, preocupada com problemas que antes não podia imaginar que teria de enfrentar. Alguns de seus sonhos haviam sido despedaçados e, com eles, parte de sua confiança. Perguntava-se se ainda conseguiria amar. Não o tipo de amor que se sente por uma criança, mas aquele amor que só um homem sabe despertar. Já não tinha certeza. Assim, continuava a ser uma pessoa capaz de se apaixonar. E só havia descoberto isso na noite anterior. Precisava tomar cuidado para que Sasuke não a arrastasse para um mundo de emoções perigosas.

Olhou o relógio e caminhou para o banheiro, abrindo as torneiras. Uma ducha rápida, um pouco de xampu nos cabelos, e pronto. De volta ao quarto, parou, aflita, diante do guarda- roupa. Depois de uma eternidade, decidiu-se por um vestido rosa, sem mangas, bem simples, mas com um toque de romantismo. O modelo deixava à mostra os ombros palidos e a saia delineava os quadris redondos e a cintura fina. Sandálias de salto sustentaram as pernas esguias. O cabelo foi penteado de lado, cuidadosamente, e só um pouco de maquilagem completou o conjunto harmonioso que sua figura formava. A sombra aumentou os olhos verdes e o batom coral delineou os lábios carnudos e sensuais.

O coração de Sakura batia aceleradamente quando ela abriu o portão que levava ao chalé. Sasuke não estava à vista, mas um carro esporte cinza metálico estava parado ao lado da casa.

Um longo suspiro para dar coragem e então seu dedo apertou a campainha. O medo subiu-lhe à garganta, enquanto ela esperava. Só a saúde de Yuzuke a mantinha na porta, quando todos os seus sentidos incitavam-na a correr dali.

Estava a ponto de tocar a campainha mais uma vez, quando a porta se abriu e Sasuke a olhou, as sobrancelhas erguidas. Usava seu uniforme de trabalho; Sakura o conhecia muito bem. Uma vez chegara a pensar que aquela roupa o tornava estranha- mente frágil, mas logo descobrira seu engano. . . Fragilidade não era, com certeza, uma das características de Sasuke.

— Cortesia de vizinha? Confesso que não esperava vê-la tão depressa.

A ironia dele não facilitava as coisas em nada. Mas foi obrigada a sufocar a raiva que crescia em seu peito. Uma represália, naquela altura, só estragaria tudo. Umedecendo os lábios, formou um sorriso.

— Olá, Sasuke,

— Onde está Yuzuke? — Ele olhou atrás dela.

— Com uma vizinha. Não vai me convidar para entrar?

Com um gesto teatral, ele deu um passo para trás. Já na sala, Sakura virou-se para encará-lo. Não iria esperar que ele perguntasse o propósito de sua visita. Devia falar agora, e rápido, antes que sua coragem a abandonasse.

— Esta manhã disse que queria me pintar. —Um brilho estranho iluminou os olhos escuros.

— Isso mesmo. E você recusou.

— Pois agora aceito. — Sakura fitava a lareira, como se nunca tivesse visto uma. Vários segundos se passaram. Quando o silêncio se prolongou exageradamente, ela virou a cabeça e olhou para ele.

— E então?

Ele a encarava com firmeza. Demorou-se sobre os olhos verdes já não tão firmes, sobre os lábios que uma vez se abriram ávidos sob os dele. Então desceu, observando o decote e as curvas dos seios redondos sob o tecido leve do vestido.

— Esqueceu de como quero pintar você? — Sasuke perguntou, devagar.

Ela engoliu em seco.

—Não.

— Uma dama da noite— ele se demorou nas palavras, como se tivesse prazer em pronunciá-las. — Entendeu, Sakura?

— Entendi. — Ela respirava com dificuldade.

Os olhos que voltaram ao seu rosto tinham uma ponta de suspeita.

— Tem que haver um motivo. — A mão do moreno ergueu-se no ar, tocando seu pescoço. — Por que aceitou, Sakura?

“Deus, será que ele desconfia da verdade?”, ela perguntou-se. Ergueu a cabeça e o encarou, bem dentro dos olhos.

—Dinheiro — falou devagar.

Uma expressão que nunca havia visto antes tomou conta dos olhos dele. Era uma mistura de nojo, raiva e deboche. Abalada, ela desviou o olhar, mas a mão em seu pescoço subiu até o queixo, forçando-a a encará-lo.

— Por quê?

— Por que não? — Sakura deu de ombros. — Não estou nadando em luxo, como deve ter notado..

— Talvez não. Mas parece ter conforto.

— Conforto! Uma mulher quer muito mais do que conforto,Sasuke. Há muitas coisas que eu gostaria de ter. Roupas. . . — Sakura vasculhou a mente, à procura das palavras. — Jóias, perfumes...

— E se venderia por isso. — Ainda aquele olhar vigilante, como se ele não acreditasse nela.

Aquilo tudo a estava deixando em pedaços, mas, pelo bem de Yuzuke, passaria por cima de seu próprio orgulho.

— Toda mulher tem um preço... — ela o lembrou, com voz suave.

— Será que me enganei tanto assim? — Uma ponta de angústia substituiu a ironia. — Talvez eu fosse um idiota, Sakura, mas realmente pensei que era doce e inocente.

Ela engoliu o nó que se fez em sua garganta.

— Eu devia ser extremamente. . . cansativa.

— Cansativa? — Os olhos negros brilharam, perigosamente. — Esta aí uma acusação que eu jamais poderia lhe fazer. Mesmo agora.

O nó estava se tornando maior. Já era hora de mudar de assunto, antes que a emoção pudesse atrapalhar sua decisão.

— Aliás, você ainda não me respondeu. — Ela forçou um sorriso. — Vai me pintar ou não?

— Vou lhe dizer quando me responder uma pergunta.

— Sim? — Sakura esperou, tensa, mal conseguindo respirar.

— Por que precisa do dinheiro?

Ela umedeceu os lábios, nervosa.

— Acho que já disse. Sinto falta das boas coisas da vida.

— Acho que está escondendo alguma coisa de mim.

Os olhos de Sasuke estavam firmes, alertas. Não havia zombaria neles; apenas dúvida. Sakura obrigou-se a desviar o rosto; se não o fizesse, acabaria revelando todo o desespero que a consumia. Que bom se pudesse confiar nele, contar-lhe a verdade,buscar em Sasuke o apoio moral e emocional de que necessitava. Mas não podia fazer isso. A imagem de Yumi veio-lhe à mente. As palavras dela eram tão claras hoje quanto haviam sido há três anos. “Quando Sasuke descobriu que você nunca dormiu com outro homem, sentiu-se na obrigação de pedi-la em casamento. Ele não vai parar de me ver.”

— Não estou escondendo nada — respondeu, controlada.

— Tire a roupa.

— O... o quê?! — Sua calma fingida a abandonou por completo e ela o fitou, embasbacada.

— Tire a roupa. — Sasuke ordenou, impassível

— Por quê?

— Veio até aqui para propor um negócio. Tenho o direito de estudar o “material” com o qual vou trabalhar, antes de entrar num acordo..,

— Você... você sabe como sou. — A voz de Sakura saiu estrangulada.

— Sei mesmo?

— Você... você fez amor comigo... pôde me ver... —Não faça isso, Sasuke. Não torne as coisas tão difíceis!

—Não tenho mais certeza do que vi, naquela época. Lembro- me de uma garota inocente, em quem eu confiava. E nós dois sabemos que ela nunca existiu.

Sakura ergueu o queixo, os olhos verdes encontrando os dele num desafio.

— Mas, pelo que entendi, não é essa garota que o interessa agora.

Pensou ver os lábios dele se apertarem por um segundo, mas, quando Sasuke falou, sua voz não tinha qualquer expressão.

— Assim mesmo preciso saber se serve. Agora é mercadoria de segunda mão, Sakura Haruno. Dormiu com o tal de Hidan. Depois me seduziu pensando que arrumaria um pai para seu filho. A quantos homens se entregou depois disso? E quantos deixaram sua marca?

Só havia ódio quando ela ergueu a mão, só satisfação no tapa que ardeu no rosto moreno.

— Vá para o inferno, Sasuke Uchiha! — Sakura gritou, cega pela humilhação.

—Já estou nele há muito tempo — foi a resposta, para surpresa dela. — Então não quer mais que eu a pinte? — Sasuke ainda teve tempo de indagar, enquanto ela corria para o portão.

— Não! — Sakura gritou contra o vento.

Ele a alcançou antes que ela abrisse o portão, suas mãos fechando-se sobre o ombro delicado.

— Então seu orgulho é mais importante do que o dinheiro?

Ela estancou com o impacto daquelas palavras. O sol ainda estava forte, mas sentia o corpo gelado, a não ser onde aquelas mãos lhe tocavam. Yuzuke. . Havia deixado sua falta de controle estragar a única chance de Yuzuke.

Devagar, muito devagar, ela voltou-se para encará-lo. As lágrimas embaçaram-lhe os olhos mas, de algum modo, conseguiu contê-las.

— Está bem, Sasuke — disse, apática. — Você venceu.


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