A face oculta do amor escrita por Dreamy Girl


Capítulo 3
Capitulo 3




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Abriu a porta. Nenhuma palavra foi pronunciada quando seus olhares se encontraram. No fundo, Sakura vinha se preparando para esse encontro há muito tempo, mas assim mesmo precisou apoiar-se no batente da porta. Suas pernas quase não puderam sustentá-la. Os olhos de Sasuke estavam frios. Parecia haver aço na linha dura do maxilar e crueldade nos lábios apertados. Vestia calça escura e uma camiseta gelo que revelava a largura dos ombros e o peito forte com o qual tantas vezes ela havia sonhado.

— Entre. — Sakura foi a primeira a quebrar o silêncio. A expressão dele não se alterou enquanto a seguia pai-a dentro da cozinha. — Eu ia fazei- um chá agora mesmo —- conseguiu dizer trêmula.

Ao virar-se para a pia e encher a chaleira, fez um esforço sobre-humano para se recompor. Não sabia que a presença de Sasuke ainda a abalava tanto. Demorou-se o máximo que pôde com a chaleira e então virou-se para encará-lo. Ele estava de pé, atrás da mesa, olhando para ela. De repente, a pequena cozinha pareceu ainda menor, completamente tomada pelo tamanho de Sasuke. O cabelo escuro estava molhado pela chuva e, quando uma mecha caiu sobre a testa morena, ele a afastou com o gesto impaciente, do qual ela se lembrava tão bem.
—Não quer sentar? — Sakura convidou, constrangida.

— Posso? — Ele indagou, irônico.

Havia duas cadeiras de vime num dos cantos da cozinha. Quando finalmente se acomodaram, Sakura pôde sentir o perfume másculo e excitante que sempre fizera parte de Sasuke.

— Já faz tempo que não nos vemos — aventurou-se, quando o silêncio tornou-se insuportável.

— Muito tempo — Sasuke repetiu, sarcástico.

Sakura sentiu-se enrijecer. O tom daquela voz e a expressão do rosto aristocrático deixavam claro que ele ainda se lembrava de tudo o que havia acontecido. Na época, tinha ficado furioso. Ela não dera nenhuma explicação para a atitude que havia tomado.

— A. . . a água vai demorar um pouco para ferver.

— Posso esperar.

As palavras foram breves e precisas. Sakura desviou o olhar. incapaz de mantê-lo preso ao dele por muito tempo. Olhou as mãos morenas, os dedos longos do artista que, uma vez, desenharam uma garota no mais pleno vigor de sua inocência, as mãos de um amante, que havia descoberto os recantos secretos de seu corpo, despertando-a para um êxtase que jamais havia imaginado.

Podia sentir de novo a rigidez daquele corpo, como se ele a estivesse tocando: a força e sensualidade dos quadris estreitos, dos braços musculosos, das coxas rijas. O quanto não se tinha deliciado com o contato daquela pele quente contra a dela.

Será que Sasuke se lembrava? Involuntariamente seus olhos se ergueram e, ao ver o brilho nos olhos negros, teve a resposta.

Contudo, muita coisa precisava ser dita e Sakura não tinha como escapar disso. lá não tinha Sasori e Min para avisar Sasuke que ela não queria vê-lo.

— Eu sinto muito... — ela respirou fundo.

Uma risada amarga escapou dos lábios bem-feitos.

— Pensa que sou algum idiota, Sakura?

— Não, Sasuke, eu. . . — Diante da aspereza daquele olhar, sua garganta tornou-se repentinamente seca. Enterrou os dedos nas palmas das mãos, tentando impedi-las de tremer.

—Sei que ficou zangado.

— Se eu soubesse onde encontrá-la a teria matado, e com prazer — ele falou, áspero. — Não sei por que diabos fui pensar que você seria a última pessoa do mundo a me ferir.

Sakura engoliu em seco. Era óbvio que Sasuke ainda não sabia da visita de Yumi. Mas, embora isso pudesse explicar seu comportamento, não conseguiria nunca contar a verdade a ele. Ainda tinha vontade de morrer ao pensar que, às vésperas de seu casamento, Sasuke continuava a manter um caso com aquela mulher.

— Sinto muito — ela repetiu, constrangida. — Não sei o que mais poderia dizer.

— Nada — Sasuke completou, amargo. — Não tem como se desculpar pelo que fez.

Um silêncio mortal pairou entre os dois. Depois de tal começo, seria impossível continuar. Sakura ouviu o chiado da chaleira, com alívio.

Quando acabou de servir o chá, sentou-se novamente, mas não antes de afastar sua cadeira da dele um pouco mais. O silêncio era tanto, que tinha quase certeza de estar ouvindo as batidas do próprio coração.

— Por que está aqui, Sasuke? — murmurou, antes de levar a xícara aos lábios secos.

—Para pintar.

Ela o olhou, incrédula.

— Recebeu alguma encomenda em Okinawa?

— Nada disso. — O olhar dele a varreu num estudo aberto e detalhado, que cobriu desde o rosto delicado até as pernas esguias. Sakura soube, imediatamente, que Sasuke se lembrava das tardes em que ela ficava parada horas a fio, para que ele a pintasse.

— Quero experimentar novos temas.

—O mar?

—Talvez.

— Não precisava ter saído de Konoha para pintar o mar.

—Não — ele concordou, frio.

Mais uma vez o silêncio. Os olhos negros perderam-se nos dela, com um brilho estranho. Sakura sempre teve um sexto sentido em relação a Sasuke. Também daquela vez adivinhou o que ele estava querendo saber.

— Pensando bem, as praias de Konoha não são tão bonitas quanto as daqui — disse, num esforço para impedir que ele se manifestasse. — As daqui são praticamente virgens. Vai amar as dunas, as palmeiras.

— Poupe seus esforços — ele a interrompeu. — Quero saber da criança

O coração dela pareceu estancar.

— Criança? — murmurou, com voz sumida.

— O garotinho. — Os olhos negros estavam mais frios do que o aço. — Ele é seu, Sakura?

— Sim. . Yuzuke é meu.

Sakura cerrou os punhos sobre o colo e Sasuke buscou sua mão esquerda, forçando-a a abri-la. Não havia ternura ou cuidado no gesto; nada que justificasse o tremor que tomou conta dela sob aquele toque. Ele olhou a mão pequena e delicada por um momento. Quando a soltou, esta caiu sobre o colo de Sakura como um objeto inanimado, sobre o qual ela não tinha nenhum controle.

— Não é casada — ele disse, entre dentes.

— Não.

— E não era casada quando o garoto foi concebido.

Era uma afirmação, não uma pergunta.

— Não — Sakura respondeu de cabeça erguida, embora tivesse a impressão de que, de um momento para outro, pudesse desmaiar.

— Yuzuke tem dois anos, Sakura?

Ela o fitou, entre alerta e apavorada, como um animalzinho indefeso, prestes a ser devorado.

— Mais ou menos.

— Claro! — explodiu Sasuke. — Ele é meu filho, não é, Sakura? — Ela quase não conseguia respirar. O cheiro másculo que emanava dele a sufocava e o pequeno ambiente estava carregado de tensão. Suas têmporas começaram a latejar ao mesmo tempo em que seu peito se apertava.

— Ele é meu filho, Sakura?

“Sim! “, ela queria gritar. “Claro que ele é seu filho! Como poderia não ser? Não sabe que toda paixão que havia em mim explodiu no dia em que fizemos amor, na noite em que essa criança foi concebida?”

As palavras pareciam escritas em fogo em sua mente e em seu coração, mas não havia meio de conseguir dizê-las em voz alta. Atordoada, ela balançou a cabeça. A mão que buscou seu queixo a assustou. Obrigou-se a permanecer imóvel enquanto dedos longos e fortes desciam por seu pescoço.

— Preciso saber, Sakura — ele falou, baixo. — Mesmo você deve perceber isso.

A palavra “mesmo” ecoou dentro dela. Uma vez Sasuke a encarara como a garotinha ingênua que precisava de proteção. Depois a considerara uma adolescente caprichosa e estúpida que não tivera coragem de assumir um compromisso. Quando a veria como uma mulher adulta, com sentimentos e valores próprios? Na verdade, Sasuke jamais chegou a se interessar verdadeiramente por ela. Primeiro ele a viu apenas como alguém que tinha um olhar que ele precisava decifrar através da pintura. E, agora, ela estava sendo para ele a mulher que escondia um segredo. Segredo que envolvia uma criança.

Esses pensamentos a ajudaram a encontrar forças para responder a Sasuke com a firmeza necessária:

— Yuzuke não é seu filho, Sasuke.

Ele prendeu a respiração. Seu rosto parecia esculpido em pedra.

— Então quem é o pai dele?

Nada na voz dele revelava seu choque. Sasuke não era homem de se deixar abater; nem mesmo por um golpe daqueles. Mas ela sabia que, no fundo, o havia atingido. Respirou fundo. O interrogatório estava começando.

— E então, Sakura?

— O nome dele é Hidan. — Estranho como o nome lhe veio com facilidade, completando a mentira.

— Hidan? — Hidan. O único homem que amei de verdade.

— Pensei que amasse a mim, Sakura. — Não havia emoção alguma na voz dele, apenas uma profunda apatia.

— Pelo amor de Deus! — Ela soltou uma risada amarga. — Nunca falamos em amor, Sasuke. Nunca disse que me amava e . . e nem eu disse que amava você.

— Não precisava. Seu corpo disse tudo por você.

Havia fúria nos olhos negros. Sakura desviou o olhar, abalada. Suas habilidades de atriz tinham um limite.

— Foi apenas sexo — completou, seca. — Não pensou que existisse mais alguma coisa, pensou?

— Sua... — Sasuke agarrou seu pulso, com violência.

— Tinha suas mulheres, Sasuke, — Ela o fulminou com o olhar, sabendo que estava brincando com fogo, porém incapaz de evitar. — Por que você podia e eu não?

— Eu tinha vinte e sete anos e você dezoito! — ele explodiu, áspero. — E tinha o rosto de um anjo. Eu... Ah, meu Deus! — Sasuke estancou, angustiado.

— Você o quê? — Sakura mal podia respirar enquanto esperava pela resposta dele. Se ele dissesse, mesmo que só agora, que a amava, ela lhe contaria toda a verdade.

— Nada importante. — A angústia desapareceu e a voz dele tornou a ficar fria. — Você me enganou, Sakura. Agora é melhor contar o resto.

— Acho melhor mudarmos de assunto. — A última coisa que queria no mundo era continuar mentindo.

— Nada disso. — Dedos de aço voltaram a agarrar seu pulso. enterrando-se cruelmente na pele macia. — Comece a falar.

Não conhecia aquele Sasuke nem aqueles olhos frios como duas pedras de gelo. A intensidade do ódio daquele homem despertou o mesmo sentimento em Sakura. Que direito ele tinha de julgá-la? O comportamento dele tinha sido abominável, embora não soubesse que ela estava a par de tudo.

— Seu nome era Hidan — começou, com voz sumida. Parou, virando-se na cadeira, de modo a esconder os olhos verdes sob os longos cílios negros. Doía-lhe ter que inventar uma história, tanto quanto doeria para ele ter de ouvi-la.

— Continue — Sasuke ordenou, seco.

— Eu o conheci poucos meses antes de conhecer você e me apaixonei por ele. Amei Hidan com todas as forças.

Ela estancou novamente e arriscou um olhar para Sasuke. Os olhos dele permaneciam impassíveis, impossibilitando-a de observar-lhe a reação. Apenas a rigidez no maxilar e a palidez do rosto moreno revelavam que o que ela dizia o estava afetando de algum modo.

— Dormiu com ele? — Sasuke perguntou devagar. Sakura ergueu a cabeça.

— Muitas vezes.

A tensão entre os dois tornou-se quase palpável.

— Sua... — Sasuke recomeçou.

— Sua o quê? — Sakura sentiu que o sangue lhe subia às faces. — Está chocado por que lhe contei a verdade?

— Eu teria entendido se tivesse me contado no começo! Não era a primeira garota a ter um caso. Eu não a teria condenado por isso. Mas não. . . Era a virgem inocente, a garotinha doce e ingênua! — Os olhos dele a percorreram dos pés à cabeça, sem esconder o desprezo. — Não resistiu quando eu quis fazer amor com você, não é? Aliás, parecia querer aquilo tanto quanto eu. E eu pensando que havia se deixado levar por emoções puras..Deve ter rido de mim!

Era aquilo que restava da magia que os havia envolvido naquela noite? E pensar que jurara nunca se arrepender do que haviam feito! Tinha sido tudo tão bonito e cheio de amor.

Quando iria imaginar que depois só sobraria ódio e desprezo?

— Por que fez isso? — Sasuke ainda a fitava com ódio, como se quisesse parti-la ao meio. — Disse que estava apaixonada por esse tal de Hidan. Então por que me queria? Afinal de contas, o que há por trás desse rostinho de anjo? Por acaso estava querendo adicionar outro idiota à sua lista de conquistas?

Sakura não imaginava que ele pudesse ser tão cruel. Sabia que Sasuke estava ferido, mas aquela crueldade deliberada revelava um lado dele do qual jamais havia suspeitado. Uma dor rasgou- lhe o peito sem dó; contudo, também havia ódio e ressentimento dentro dela.

— Eu estava grávida — disse, sem pensar

— Por acaso Hidan a abandonou?

— Hidan jamais faria isso. Planejávamos nos casar ,mas ele morreu num acidente.

Estranho como as mentiras fluíam naturalmente de seus lábios. Sakura olhou através da janela, obrigando-se a ficar calma. A guerra não terminaria tão cedo. Agora precisava levar a farsa até o fim.

— Então precisava arranjar um marido. . . — Sasuke completou, amargo.

Ela voltou a encará-lo, um brilho provocador nos olhos verdes.

— Exatamente.

— E o que a fez pensar que eu colaboraria, Sakura? — O tom era neutro, mas ela podia ver a fúria contida nos olhos castanhos, a veia que pulsava furiosamente em sua têmpora.

—Sabia que era um homem digno — ela respondeu, com dificuldade. — Pensou ter me tirado a virgindade e, portanto. achava-se na obrigação de se casar comigo.

Prendendo a respiração, Sakura esperou que ele negasse o fato que a vinha perseguindo por quase três anos. Viu uma sombra passar pelos olhos negros. “Negue, Sasuke”, implorou, em silêncio. “Negue tudo e talvez possamos começar de novo!’

Inesperadamente ele sorriu; um sorriso rápido que curvou seus lábios, mas não chegou aos olhos.

— Bem pensado, minha querida Sakura. Só uma coisa continua me intrigando. Uma vez que havia me “agarrado”, por que me deixou escapar?

A dor que a invadiu chegou a ser física. Yumi havia dito a verdade.

— Eu. . . eu não pude continuar. — A voz dela falhou.

— Não vá me dizer que foi tomada por escrúpulos.

— Sim! — Sakura jogou a cabeça para trás, os olhos muito verdes e brilhantes. — Mas não por sua causa, Sasuke Uchiha. E sim por Hidan! Percebi que... que ainda o amava demais para. para me casar com outro homem!

Um silêncio constrangedor caiu sobre eles, mais uma vez. Sakura sentou-se na ponta da cadeira, mais ténsa do que nunca.

— Por que não teve coragem de me contar? Era o mínimo que devia ter feito. Em vez disso me mandou uma carta dizendo que não queria mais se casar. Fui procurar você, sabia? E Sasori falou que não queria me ver. Por acaso seu irmão a encorajou a fazer tudo aquilo?

— Não! Sasori não teve nada a ver com isso! — Ela o olhou com olhos suplicantes. — Por favor, Sasuke, tem que acreditar em mim! — Ela pôs a mão no braço moreno. — Sasuke...

Ele se desvencilhou dela, com um gesto brusco.

— Não pode querer que eu acredite em qualquer coisa que diga, Sakura. Não pode ser ingênua a esse ponto. Ainda mais você!

— Mas é verdade! — ela falou, angustiada. — Sasori nem sabia sobre o bebê. Sasuke, eu sinto muito, eu...

— Sente muito! — ele explodiu, furioso.

Num segundo saía da cadeira e avultava-se sobre ela, ameaçador, como um deus primitivo e raivoso. Obrigou-a a ficar de pé e esmagou seu corpo contra o dela, puxando seus quadris de encontro aos dele, com fúria. Aturdida, Sakura ergueu a cabeça, tentando protestar, mas as palavras morreram em sua garganta. Só pôde ver a linha dura dos lábios de Sasuke descendo sobre os dela com violência.

Contra toda a razão, deixou-se ficar ali, passiva. Ouviu um gemido escapar da garganta de Sasuke, mas não soube dizer se era desejo ou desgosto. Perguntou-se se ele estaria consciente das chamas que cortavam seu corpo impiedosamente.

Tão de repente quanto a agarrara, Sasuke a soltou. E a empurrou quase com asco. O movimento brusco pegou as pernas trêmulas de Sakura de surpresa, e ela foi bater contra a parede. Ele não fez nenhum gesto para ajudá-la. Ainda estava colada à parede quando ouviu a porta bater atrás dele. Escorregou para o chão aos poucos, apática, tremendo violentamente.

Desde o momento em que viu Sasuke, sabia que ele viria procurá-la. Sabia que não ia ser fácil enfrentá-lo, mas não tinhaidéia de que aquele encontro seria tão amargo. Há três anos não se encontravam e tinha esperanças de que o que sentia por ele houvesse acabado. Em menos de meia hora todas as suas esperanças haviam ido por água abaixo. Não podia negar a resposta febril que tinha acabado de dar. Mesmo quando Sasuke a apertou com ódio, sua própria raiva misturou-se a uma espécie de exultação que, de modo algum, trazia bons presságios.

Agora só podia rezar para que Sasuke deixasse o chalé, antes mesmo que o contrato de aluguel vencesse. Ele tinha dinheiro o bastante para arcar com um pequeno prejuízo. Os encontros que fatalmente teriam, já que estavam tão perto um do outro, só lhe trariam mais problemas.

Apática, Sakura levantou-se devagar e pôs mais água para ferver. Precisava de outra xícara de chá, pois tremia dos pés à cabeça. Dirigiu-se para o quarto de Yuzuke. O garoto ainda dormia. Graças a Deus ele havia dormido todo o tempo em que Sasuke estivera ali. Era criança demais para entender o que se passava, mas era extremamente sensível e a atmosfera carregada fatalmente o abalaria.

Sasuke... o pai de Yuzuke. E nenhum dos dois podia saber disso.

As luzes de fora já estavam acesas e iluminavam suavemente o quarto. Sakura olhou o filho que parecia estar ficando cada dia mais fraquinho. Os cílios compridos sombreavam o rostinho macio e uma mecha clara caía-lhe sobre a testa. Com cuidado e delicadeza, ela ajeitou-lhe os cabelos, antes de curvar-se para tocá-lo com os lábios. Uma ternura imensa a invadiu. Ao tomar conhecimento da gravidez ficou tão chocada que nem pôde pensar com clareza na criança que entraria em sua vida. Só depois que Yuzuke nasceu ela se deu conta de como havia desejado ter um filho, de como o amava, a ponto de dar a vida por ele, se necessário.

Contou a Sasori e Min quando já era impossível esconder o seu estado. Quando o bebê nasceu, eles se ofereceram para criá-lo, mas Sakura recusou com veemência. Aquele menino era seu maior tesouro, o único ser capaz de fazê-la viver. Jamais o abandonaria.

Sakura beijou o filho novamente e desta vez a carícia quase o despertou. Yuzuke murmurou algo e levou a mãozinha ao rosto ao mesmo tempo em que sorriu com doçura. O sorriso de Sasuke. Por um momento, a semelhança entre pai e filho foi tão grande que ela ficou sem poder respirar.

À primeira vista, os dois não eram tão parecidos. Sasuke tinha cabelos escuros e pele clara, enquanto Yuzuke era parecido com ela. Sakura suspirou, aliviada, Não queria que Sasuke descobrisse que o bebê era dele. No momento, ele acreditava na história que ela tinha inventado num impulso. Melhor assim. Se suspeitasse da verdade, ninguém conseguiria segurá-lo. Ainda mais se soubesse da situação de Yuzuke, da operação que estava por vir.

Pela primeira vez, Sakura perguntou-se se não estaria sendo injusta com o filho, toda criança necessitava de um pai.Se Sasuke soubesse que era o pai de Yuzuke, muito provavelmente não pensaria duas vezes a voltar a pedi-la em casamento.

De fato, ele poderia até insistir em fazer isso. E, embora Sakura soubesse que tudo seria uma farsa, como teria sido há três anos, ficaria propensa a aceitar. Suas defesas estavam abaladas. Faria qualquer coisa pela saúde e pela felícidade de Yuzuke. A princípio, a cirurgia lhe parecera um sonho ruim, mas a consulta daquela tarde lhe tirara as esperanças. Era mesmo necessária,

Por isso, mais do que nunca, precisava ser firme. A insegurança, tanto emocional quanto financeira, poderia muito bem levá-la a aceitar uma situação da qual poderia se arrepender mais tarde.

Uma sombra passou pelos olhos verdes que fitavam o garotinho adormecido. Estaria sendo egoísta em não contar a verdade a Sasuke? Estaria prejudicando Yuzuke, por não querer se casar? Mas como aceitar um casamento sem amor?

Pois Sasuke nunca a tinha amado. Ela, sim, o amou com todas as forças. Mas esse amor não existia mais. Não podia negar que ainda sentia-se atraida por ele, e que Sasuke só precisava tocá-la para obter uma resposta imediata. Porém, essa resposta era puramente física; uma questão de química. Não tinha, nem podia ter algo a ver com amor.

Yuzuke nunca poderia culpá-la por tê-lo privado de um pai. Afinal, ele não seria feliz numa casa onde não existisse amor nem calor humano. E, no entanto, a única necessidade que o menino tinha era a de fazer aquela operação.

E para isso era necessário dinheiro. Sakura sabia que precisava encontrar um meio de arranjá-lo, e depressa. Só tinha certeza de uma coisa: não era se casando com Sasuke que resolveria seu problema. Não, de modo algum ele poderia descobrir que Yuzuke era filho dele. Havia lutado sozinha até o momento e continuaria assim, mesmo que tivesse de se escravizar à mentira que havia inventado.


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