A face oculta do amor escrita por Dreamy Girl


Capítulo 2
Capitulo 2




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O dia seguinte era sábado. Enquanto se vestia para mais uma sessão, Sakura percebeu que estava mais lenta do que de costume. Uma sensação deliciosa tomava conta do seu corpo. Quando se olhou no espelho, notou que seus olhos tinham um brilho que jamais havia visto antes. Já tinha ouvido dizer, porém nunca acreditou totalmente, que o amor fazia milagres na aparência das pessoas. Pois a prova estava ali na frente dela.

“Não vá se arrepender” Sasuke havia dito. Ela não estava arrependida; jamais se arrependeria. Como podia lamentar uma coisa tão bonita?

Sakura perguntou-se se o relacionamento deles mudaria dali por diante. Sasuke comentaria a noite que passaram juntos ou mergulharia no trabalho como se nada houvesse acontecido? Lembrou-se dos retratos que ele havia desenhado, do ar etéreo em seu rosto. Agora esta expressão devia ter sido substituída por outra ainda melhor. Será que Sasuke conseguiria captar o enlevo, o brilho que vinha de dentro dela?

Suspirando, vestiu uma calça de linho creme e uma blusa de seda da mesma cor. Queria parecer mais feminina do que nunca para ele. A blusa caía levemente pelos ombros pequenos, delineando sutilmente os seios redondos e realçando a pele macia e levemente corada de seu rosto. O vestido branco estava no estúdio, pronto para ser usado na sessão.

Uma batida na porta a tirou de seus devaneios. O rosto bonito de Min apareceu no espelho. A expressão da cunhada não era das melhores e Sakura pensou ver uma ponta de preocupação nos olhos castanhos que, geralmente, demonstravam alegria.

— Algum problema, Min? — indagou, erguendo as sobrancelhas.

— Sasuke está aqui.

— Aqui? Sakura repetiu, boquiaberta. — Mas eu já estava indo para o estúdio. Ele não precisava vir.

— Disse que quer falar com você. E com Sasori. — Min correu os olhos pelo rosto corado e pelas mãos trêmulas da cunhada, visivelmente intrigada. — Sakura, aconteceu alguma coisa?

Nem mesmo para Min, a quem era tão chegada quanto a Sasori, Sakura podia contar o que havia acontecido. Não por vergonha. Apenas sentia que o que acontecera entre ela e Sasuke devia ficar entre eles. Não importava a mais ninguém.

— Não é nada, Min. — Ela sorriu, e a moça deu de ombros ao ver o brilho intenso nos olhos verdes. — Estarei pronta em um minuto.

Sasuke estava na sala, conversando com Sasori. Sakura pensou que seu coração fosse estourar ao vê-lo ali, tão forte, tão real. Usava uma calça azul-marinho esporte e uma camisa azul-clara que lhe realçava a pele clara e os ombros largos. Jamais conseguiria ficar imune à masculinidade dele, disso Sakura tinha absoluta certeza. Teve ímpetos de correr para Sasuke e beijá-lo, como na noite anterior. Mas a presença de Sasori a obrigava a ser discreta.

Os dois homens viraram-se ao vê-la entrar. Ambos estavam estranhamente sérios e Sakura se deu conta da tensão que pairava na sala. De súbito, sem nenhuma razão aparente, viu-se tremendo.

— Sentem-se. — Sasori dirigiu-se às duas moças, indicando o sofá.

Sakura ficou grata pelo apoio que encontrou no estofado. Alguma coisa lhe dizia que talvez fosse precisar de até mais do que isso. Lançou um olhar a Sasuke, mas ele estava impassível.

— Quero me casar com você, Sakura. — Foi tudo o que ele disse.

Ela o fitou perplexa. Prendeu a respiração e o sangue pareceu sumir como por encanto de seu rosto. Aquilo estaria mesmo acontecendo?

— Sakura...

Mais uma vez ela ouviu seu nome: o som parecendo vir de milhas de distância. A cor voltou-lhe à face e, ao mesmo tempo, ela reencontrou sua voz.

— Oh, sim, Sasuke. Claro que sim.

Um curto silêncio seguiu suas palavras. Pela primeira vez, Sakura tomou consciência da estranheza da situação da formalidade da proposta, com a presença do irmão e da cunhada. Olhou de um para outro, apreensiva.

— Sasuke quis que eu e Min estivéssemos presentes. — Sasori quebrou o silêncio, como se adivinhasse o que ela estava pensando. Então, após lançar um olhar enigmático para o outro homem, a encarou, com firmeza. — Só tem dezoito anos, Sakura. E eu me sinto responsável por você.

Toda aquela formalidade lhe pareceu abominável. Não era assim que gostaria de ter sido pedida em casamento. Não quando havia amor, um amor apaixonado de ambos os lados. Só mais tarde se lembraria de que Sasuke jamais dissera que a amava.

Estava a ponto de dizer o que pensava quando Sasori a interrompeu.

— Você é jovem demais, Sakura.

— Mas sei muito bem o que quero — conseguiu dizer, finalmente, olhando para Sasuke. Ele a fitava inexpressivamente os olhos negros ilegíveis.

— Podiam esperar um pouco.

— Não, Sasori. — Uma onda de determinação a invadiu e ela se levantou, caminhando para Sasuke. Os braços que a envolveram lhe deram ainda mais confiança. — Quero me casar. E logo.

Sasori e Min deixaram a sala depois disso. Sasuke passou a falar sobre o casamento e a respeito da vida que levariam juntos, mas Sakura mal ouviu o que ele dizia. Era humanamente impossível concentrar-se em qualquer coisa, quando aquilo tudo ainda lhe parecia tão irreal. Naquele momento, só conseguia pensar na alegria sem fim que sentia. O homem que amava e ao qual se havia entregue sem pudores tinha acabado de pedi-la em casamento. Repartiriam suas vidas, seus planos seus sonhos. Haveria noites e noites de amor, e os dias seriam preenchidos com o trabalho de ambos. O futuro descortinou-se à frente dela como uma estrada larga e cheia de sol.

—.. . e quando vai ser? — Sakura o ouviu dizer, percebendo que Sasuke repetia a pergunta.

— Hum? — Ela o fitou, os olhos parados, distantes.

— Não ouviu uma palavra do que eu disse, não é, querida?

— Poucas — admitiu, mergulhando a cabeça no peito moreno.

— Perguntei quando gostaria de se casar. — Sasuke sorriu, apertando-a nos braços.

Sakura ergueu a cabeça, os olhos cheios de alegria e de determinação.

— O mais cedo possível.

— Tem certeza? Desse modo não vai conseguir fazer grandes preparativos.

— Não preciso de grandes preparativos, Sasuke — ela afirmou com convicção. — Tudo o que quero é ser sua mulher.

A data do casamento foi marcada para duas semanas depois. Sasori continuava hesitante, achando que Sakura e Sasuke haviam se precipitado. Além disso, temia o fato de a irmã se casar com um homem muito mais velho do que ela.

Min, no entanto, respeitou os sentimentos da cunhada e mergulhou com gosto nos preparativos. Havia tanto o que fazer e tão pouco tempo! Sasuke havia insistido em arcar com as despesas, mas Sasori, tendo um repentino acesso de orgulho, opôs-se à idéia, com teimosia. Sua irmã se casaria com tudo o que tinha direito e pelo menos o enxoval seria por conta dele.

Animadas, Sakura e Min foram à cidade fazer compras. Numa das lojas da alvoroçada Konoha, em Osaka, encontraram um vestido de noiva em crepe chanel de corpinho justo e decote princesa, velado por uma pelerine com os ombros bordados com minúsculas pérolas. Exatamente o que Sakura queria: simples e bonito.

Entendendo que o tempo da noiva estava totalmente tomado, Sasuke resolveu fazer uma pausa nas sessões. Afinal, teriam todo o tempo do mundo depois que estivessem casados... Para a alegria de Sakura, vinha vê-la todos os dias. Ela, por sua vez, mal podia esperar para estar nos braços dele. O magnetismo de Sasuke era tanto, que por qualquer motivo via-se ardendo de desejo. Certa vez, não resistiu e deslizou as mãos sob a camisa de seda, fazendo-o estremecer.

— Sabe o que está fazendo comigo? — ele indagou rouco, puxando-a pelos quadris.

— Conte-me... — provocou Sakura, vibrando ao tomar consciência da felicidade com que conseguia excitá-lo.

— Sua bruxinha... — Sasuke mordeu uma de suas orelhas.

— Depois não me diga que eu não avisei.

— O que estamos esperando?

Sakura não conseguia pensar em nada, a não ser no desejo louco, na necessidade que tinha de sentir aquele corpo contra o seu.

— Não, senhora. . . — Ele a afastou, com firmeza. — Você é uma diabinha me tentando, mas ainda me resta uma gota de escrúpulo. . . pelo menos no que diz respeito à minha futura mulher.

— Ora meu amor, não seria a primeira vez. . . — ela o lembrou com uma ponta de malícia no olhar.

— Isso é verdade. Mas até então eu não sabia. . . — ele estancou, e Sakura viu quando uma sombra passou pelos olhos castanhos.

— Só mais quatro dias, meu anjo. — Sasuke sorriu, os dentes perfeitos contrastando com a pele morena. — Pode crer Sakura, essa espera é tão difícil para mim quanto para você.

Mais quatro dias. Três,dois. Os dias eram cheios, mas Sakura mal podia dormir à noite. Sentia falta de Sasuke. Queria estar com ele, queria poder tocar a pele nua e quente daquele corpo moreno que tanto amava. Mas a espera valeria a pena. Só mais dois dias e então ficariam juntos para o resto da vida.

Havia acabado de provar o vestido pela quinquagésima vez quando a campainha tocou. Sasori estava no trabalho e Min ficaria fora a manhã toda. Seria Sasuke? Não, ele também devia estar trabalhando. Ino talvez? Com uma pontada de remorso, percebeu que, desde o dia da festa, não teve mais tempo de conversar. Precisava remediar isso, o mais cedo possível.

Correu para a porta, curiosa. Uma mulher estava parada no degrau. E não era Ino. Os olhos eram de um azul quase turquesa a pele clara e aveludada, os cabelos negros e brilhantes presos num coque. Era a imagem da elegância, pensou Sakura, olhando involuntariamente para a própria roupa, o jeans surrado e a camiseta larga que usava.

— Srta. Haruno? — Um sorriso gelado revelou dentes perfeitos. — Você é a srta. Haruno? Será que poderíamos ter uma conversa?

— Não quer entrar? — Sakura convidou, entre educada e cautelosa. — Ahn. . . Acho que não nos conhecemos

— Eu gostaria de nem ter chegado a conhecê-la. — Os olhos azuis a percorreram dos pés à cabeça com desprezo, e Sakura sentiu-se enrijecer. — A garotinha inocente que se deixou seduzir. Exatamente como Sasuke descreveu.

— Você. . . você conhece Sasuke?

— É óbvio que sim.

— E ele me descreveu? --- Sakura indagou nervosa, sentindo os lábios secos.

— Com certa dose de divertimento e. . . ironia.

— Não acredito em você. — Ela explodiu perplexa.

— Pois acredite no que quiser. — A mulher deu de ombros. — Continue usando seus óculos cor-de-rosa, se isso a faz mais feliz.

As unhas de Sakura enterraram-se nas palmas das mãos.

— Não sei nem mesmo seu nome, “senhora”.

— Yumi . Esse nome lhe diz algo?

— Não.

— Mas vai dizer — a outra falou, confiante. — Pode ser, que nunca chegue a ouvi-lo dos lábios de Sasuke. Ele é muito... — Yumi fez uma pausa, sorrindo — . . . esperto para fazer isso. Mas outras pessoas lhe falarão de mim. Em sussurros, em cochichos. . . — Ela riu. — Oh, sim, srta. Haruno. Ainda vai ouvir muito sobre mim, muito.

—O que está tentando me dizer? — Sakura não entendia como conseguia manter a calma. Dentro dela, alguma coisa muito preciosa começava a se estilhaçar. Mas não deixaria aquela mulher perceber isso.

— Pensei que fosse óbvio. —— Yumi soltou urna risadinha irônica. — Sasuke e eu somos amantes.

— Não. — A palavra emergiu cheia de dor dos lábios lívidos de Sakura.

— Oh, sim, minha querida. Sou a amante de Sasuke, ficou muito chocada?

Sasuke e aquela mulher de olhos frios como gelo, que era o sarcasmo personificado? Sim, estava chocada. Mais do que isso. Estava enojada.

— Absolutamente, “senhora” — De algum lugar conseguiu arrancar um resto de dignidade —, nunca esperei que Sasuke fosse celibatário. Tinha que haver mulheres em sua vida. Mas agora tudo isso está acabado.

Alguma coisa brilhou nos olhos azuis que a fitavam. Admiração? Dificilmente. Surpresa? Talvez. Mas Sakura não ligava, nunca havia encontrado urna pessoa tão desprezível quanto Yumi. Queria mais era acabar com aquela conversa e se ver livre daquela mulher.

— Acabado? — A outra repetiu, mordaz. — Aí é que se engana menina.

— Não é possível. . . — De repente, toda sua segurança foi por água abaixo e Sakura contemplou a mulher, incrédula.

— Sasuke e eu temos um ótimo relacionamento. Ele é um amante incomparável. Mas isso você já deve saber. — Outra risada. — Ou não? Talvez sua “experiência” seja tão limitada que não tenha nem mesmo meios de fazer comparações.

Sakura cerrou os punhos fora de si.

— Saia já desta casa — disse, entre dentes.

— Assim que eu tiver terminado — Yumi continuou imperturbável. — Diga-me, srta. Haruno, se importaria se seu marido continuasse a manter um relacionamento amigável comigo, depois do casamento?

— Ele jamais faria isso. Sasuke me ama. Por isso me pediu em casamento.

— Tem certeza?

— Tenho— Sakura tinha a resposta na ponta da língua, mas alguma coisa na voz daquela mulher a atingiu. — O que está tentando me dizer?

— A verdade. Sabe por que Sasuke pediu para que se casasse com ele?

— Porque ele me ama — Sakura falou, quase indiferente. Não podia admitir para aquela mulher que Sasuke nunca havia dito que a amava.

— Talvez ele tenha sido obrigado a fazê-la acreditar nisso. — Os olhos azuis a percorreram mais uma vez. — É jovem demais, Sakura Haruno, ingênua demais. Tenho certeza de que Sasuke jamais encontrou alguém tão. . . Bem, foi uma pena ter topado com ele.

“Acabe com isso de uma vez! “, Sakura implorou em silêncio. “Diga logo o que tem a dizer. . . o que tenho que ouvir! E saia logo desta casa, da minha vida!”

— A noite que passou com Sasuke foi a primeira vez para você, não foi?

Sakura permaneceu em silêncio. Contudo, algo em seus olhos devia ter dado a Yumi a resposta esperada. Os lábios vermelhos se abriram mais uma vez, num sorriso satisfeito.

— Virgens não são muito o tipo de Sasuke, querida. Quando ele descobriu que nunca havia dormido com um homem antes, sentiu-se culpado, e obrigado a se casar.

— Não! Não é nada disso! — O protesto emergiu cheio de dor. — Sasuke lhe disse isso?

Uma ponta de hesitação alterou o rosto impecável de Yumi, mas Sakura estava atordoada demais para perceber.

— Sim — a moça respondeu, evasivamente. — Sasuke me contou.

Arrasada, Sakura voltou-se para a janela. Seus olhos estavam embaçados pelas lágrimas que tentava segurar. Seu corpo tremia descontroladamente. A parte de seu ser que podia pensar, amar e sentir havia sido tomada pela angústia e por uma dolorosa sensação de perda. Não pensou nem mesmo no impacto que seu estado deplorável teria sobre a mulher que a observava atentamente.

Dedos frios tocaram seu ombro.

— Tinha que saber, srta. Haruno. Assim como pode ter certeza de que Sasuke não vai parar de me ver.

— Mas. . . mas vamos nos casar! — O nó na garganta quase a impediu de falar.

— Ele estará ligado a você apenas por um pedaço de papel. E a mim por muito mais — Yumi disse, com suavidade. — O que pode lhe oferecer, srta. Haruno? Uma criança ingênua que não sabe nada do mundo. Esse escrúpulo inoportuno de Sasuke não vai impedir que ele acabe se cansando. Comigo ele tem prazer, uma vida sexual excitante. Acha mesmo que Sasuke vai desistir disso tudo? E então, Sakura, ainda vai se casar com ele?

Sakura virou-se com raiva, desvencilhando-se da mão que a segurava. Seu rosto parecia esculpido em cera. As lágrimas continuavam presas em seus olhos verdes, fazendo-os brilhar como nunca.

— Não lhe devo nenhuma resposta — disse, controlada. — Seja qual for minha decisão, ela ficará entre mim e Sasuke.

— Mas..

— Isso é tudo o que tenho a dizer. Saia já daqui, Yumi. Agora!

Quando a porta se fechou, Sakura dirigiu-se para a janela. Normalmente gostava de apreciar a vista, o jardim tropical, o oceano incrivelmente azul. Agora tudo lhe parecia tétrico.

Tinha que pensar, e pensar rápido. O casamento era dali a dois dias. Não havia tempo para incertezas ou indecisões. Yumi teria falado a verdade? Sua crueldade era tão intensa quanto sua beleza. Não poupara esforços para feri-la.

Poderia conversar com Sasuke, claro. Seria a atitude mais sensata. Podia contar-lhe o que havia acontecido e então ririam juntos daquele absurdo. Amava Sasuke, e confiava nele. Pelo menos havia confiado até aquele dia.

Se tivesse um pouco mais de certeza do que estava sentindo, pegaria o telefone e diria a Sasuke que queria vê-lo. Se ao menos soubesse que tudo aquilo não passava de uma invenção daquela mulher! Yumi parecia ser do tipo que não hesitava em mentir. O problema é que muito do que ela havia dito tinha um toque de verdade. Como poderia afirmar uma coisa daquelas se o próprio Sasuke não tivesse lhe contado?

Era verdade que era virgem quando se entregara a ele; era verdade que só depois disso Sasuke a tinha pedido em casamento. Era verdade que nunca havia dito que a amava. . . E também era óbvio que uma mulher experiente como Yumi tinha muito mais a oferecer a ele do que uma garota ingênua de dezoito anos.

Sakura correu para o telefone e começou a discar. No último número, parou. Não poderia falar com ele agora. Se tentasse, provavelmente explodiria em lágrimas. Sasuke acabaria por consolá-la, de um modo ou de outro, e o casamento continuaria de pé. Contudo, as dúvidas e as suspeitas permaneceriam. Toda vez que ele saísse, ficaria se perguntando onde e com quem ele estaria.

Foram dois dias de inferno, até que ela finalmente decidiu desistir do casamento. Não teve coragem de enfrentar Sasuke pessoalmente, nem por telefone. Aos poucos, as palavras de Yumi foram se tornando mais e mais contundentes, a ponto de fazê-la passar mal, só de lembrar. Convenceu-se de que fazia o melhor rompendo com Sasuke sem maiores explicações.

Três semanas mais tarde, Sakura descobriu que estava grávida. Nesse meio tempo, muita coisa havia acontecido: a carta que explicava a Sasuke sua decisão, a visita dele. Ele havia ficado furioso quando soube que ela não desejava vê-lo. Sem contar a raiva de Sasori e a preocupação de Min.

Então decidira construir vida nova, no sítio dos pais que ficava na costa sul de Osaka. Sasori e Min ainda tentaram dissuadi-la. Diziam que o sítio era muito isolado, que estava em péssimas condições, e que Sasori até pensara em vendê-lo. Seu irmão não conseguia entender que precisava de um lugar onde pudesse deixar que as feridas cicatrizassem, um lugar onde pudesse chegar a uma conclusão sobre tudo o que acontecera. Além disso, Sasuke jamais poderia encontrá-la lá. Já deixara bem claro que ele não deveria saber de seu paradeiro.

Min se mostrara mais compreensiva, embora concordasse com o marido de que Sakura estava errada em se isolar tanto. Às vezes seus olhos castanhos pousavam no rosto abatido da cunhada, intrigados, como se desconfiasse de que Sakura não lhe tinha contado toda a verdade.

Uma parte de Sakura ansiava por se abrir com a moça a quem amava como se fosse a irmã que nunca havia tido. Mas havia outra parte, uma parte mais forte dela, que insistia em dizer que devia enfrentar seus problemas sozinha.

Sua primeira reação ao saber que estava grávida havia sido de puro pânico. Teve vontade de correr para as pessoas que amava: Sasori, Min. . e Sasuke. Contudo, após o choque inicial, soube que não recorreria a nenhum deles. Não era difícil imaginar qual seria a reação de Sasuke. A nobreza de sentimentos que o obrigara a pedi-la em casamento, sem pensar duas vezes, voltaria com mais força. Pois agora não se tratava mais de um caso de “virgindade perdida”, e sim de uma criança, cujo pai era ele.

Decidiu que também não contaria nada a Sasori e Min. Não por enquanto. A verdade não poderia ser escondida de sua família por muito tempo, mas, com um ímpeto de independência e teimosia, Sakura resolveu que criaria o filho sozinha. Enfrentaria qualquer coisa.

E de algum modo havia conseguido, embora não sem dificuldades. Pôde contar com o dinheiro deixado pelos pais. Não era muito, mas, com os lucros que a plantação de frutas do sítio lhe rendia, conseguira sobreviver dignamente.

Agora Yuzuke estava com dois anos. Sasori e Min, que a princípio mostraram-se profundamente magoados por não terem sido informados de sua gravidez, adoravam o sobrinho. Para surpresa de. Sakura, o povo de Okinawa também a recebeu de braços abertos. Havia muitas pessoas na cidadezinha que a conheciam desde pequena, mas ninguém pareceu chocado com sua situação.

Por muito tempo, Sasuke esteve presente em seus sonhos, levando-a quase ao desespero. Agora, no entanto, isto acontecia cada vez com menos frequência. Seu maior problema, no momento, era a saúde do filho. Yuzuke havia nascido com um problema de coluna que, embora não fosse muito grave, não deixava de lhe causar grande preocupação. Ela não podia esquecer que ele precisaria de uma cirurgia. A data foi confirmada na consulta que fez naquela tarde. Se tudo desse certo, a operação aconteceria em poucos meses.

E isso significava muito dinheiro. Dinheiro. . . que Sakura não tinha. Não podia nem mesmo recorrer a Sasori, pois sabia que o irmão atravessava dificuldades. E se ele soubesse da situação delicada de sobrinho, sem dúvida moveria mundos e fundos para tentar ajudar. Sakura não queria isso, pois tal ajuda, com certeza, os sacrificaria. Precisava arranjar outro modo de conseguir o dinheiro.

A tempestade tropical descarregou sua fúria na terra e no mar. A chuva açoitava as árvores, impiedosamente. Os trovões ribombavam no céu carregado e, embora o mar ficasse a quase um quilômetro dali, Sakura podia ouvir a violência do quebrar das ondas. No entanto, não se deixou abalar pelo quadro assustador que via à sua frente. As tempestades eram rotineiras por ali, naquela época do ano. Eram violentas, mas breves. Logo o sol voltaria a brilhar entre as nuvens, e a terra ganharia nova vida e frescor.
O que a preocupava era a presença de Sasuke, tão perto. O que o havia trazido até ali? Não a certeza de que a encontraria, disso Sakura estava certa. Não havia razão para que Sasuke fosse procurá-la. No entanto, a presença dele era mais um problema. . . e dos grandes.

Yusuke já dormia há mais de uma hora, quando uma batida na porta rompeu o silêncio. Sakura sentiu-se enrijecer. Não precisou pensar muito para saber quem estava ali. No fundo, já o aguardava.


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