A face oculta do amor escrita por Dreamy Girl


Capítulo 1
Capítulo 1




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Um ônibus tomou a estrada larga da Osaka mais rápido do que de costume, tentando alcançar o terminal antes que mais uma tempestade tropical descarregasse sua fúria. A poucos quilômetros da cidadezinha de Konoha parou, por instantes, para que duas pessoas pudessem descer: uma moça e um garotinho.

Em outra situação, muitos passageiros teriam se interessado pela figura esguia, de aparência frágil e graciosa sob a saia rodada. Cabelos curtos, de um rosa muito bonito, emolduravam um rosto oval e delicado. Os olhos, sob sobrancelhas bem desenhadas, eram grandes, claros, tão verdes como o mar turbulento. Naquele momento, no entanto, todos os pensamentos estavam voltados para a tempestade que ameaçava cair e, quando o ônibus voltou a se movimentar, ninguém lançou sequer um olhar na direção de Sakura Haruno e seu filho. O calor era insuportável. Bem típico da região litorânea de Natal, na África do Sul, onde o clima tropical estendia-se por quase todas as estações. O céu estava carregado de nuvens negras, o ar abafado; o vento curvava as bananeiras e revolvia o oceano, provocando montes de espuma. Não podia haver hora pior para andar a pé com uma criança. Muito menos com uma de dois anos e tão frágil como Yuzuke. Quando uma lufada de vento varreu a terra, Sakura tomou o filho nos braços. Do ponto de ônibus até sua casa eram quase dois quilômetros. Uma jornada nada fácil no momento. Preocupada em manter o garoto protegido da ventania, ela o apertou contra o peito, tentando ignorar o cansaço.

O vento ficou mais forte, tornando a caminhada ainda mais difícil. Na metade do caminho, Sakura avistou um chalé, um pouco acima da estradinha arenosa e irregular. Sabia que a casa estava vazia há meses. Talvez houvesse uma porta destrancada ou uma janela aberta. Se pudesse parar para tomar fôlego, longe da ventania e da poeira, o resto da jornada não seria tão árduo.

Colocando o filho no chão, abriu o portão enferrujado que rangeu, num protesto. Erguia Yuzuke nos braços novamente, quando um homem saiu de trás do chalé. Àquela distância, não pôde distinguir os traços do rosto moreno, mas, aterrorizada, percebeu que nem era preciso. Por um momento, ficou paralisada. Viu o corpo forte, os cabelos escuros rebelando-se ao vento, o andar seguro trazendo-o na direção dela. Sasuke Uchiha.

Ele não a viu de imediato. Porém, quando seus olhos pousaram na figura frágil e assustada de Sakura, as passadas largas hesitaram, por um segundo. Era óbvio que a havia reconhecido. Ela não precisou ver a expressão dele para saber disso. Viu quando ele apertou o passo, ouviu quando ele chamou seu nome, mas as palavras perderam-se na ventania.

Sakura não esperou que ele as repetisse. Agarrando o filho, correu para longe dali, O choque e o medo deram-lhe forças, de modo que mal se deu conta do esforço sobre-humano que fazia enquanto cobria o resto da distância até o sítio. Quando chegou em casa e pôs Yuzuke no chão para trancar a porta, sentiu que estava tremendo. Fechou os olhos e encostou-se no batente, o coração aos saltos.

— Mã. . Mami!

Por um momento, tudo o que conseguiu ver foi a ameaça da tempestade, o vento, Sasuke. Contudo, a vozinha ansiosa a arrancou do estado de choque e ela abriu os olhos, fitando, confusa, a pequena mão que lhe puxava a saia. Viu um beicinho curvar os lábios do filho. Yuzuke percebera sua agitação, claro, e parecia assustado. Enternecida, ela o ergueu nos braços mais uma vez, pressionando o rostinho pálido e macio contra o seu.

Aquela criança era tudo o que possuía na vida, O garotinho de cabelos lisos negros e olhos grandes, idênticos aos dela, tinha todo o seu amor. E preocupação, também. A saúde delicada do filho angustiava-a cada vez mais. Ao pensar nisso, esquecia-se de tudo. Até mesmo de Sasuke Uchiha. .. o pai dele.

As primeiras gotas de chuva açoitaram o telhado e as vidraças, enquanto o vento continuava a levantar nuvens de poeira e envergar as árvores. Yuzuke tinha adormecido rapidamente. Antes mesmo de terminar o copo de leite quente, os olhinhos verdes já piscavam, revelando o seu cansaço. Tanto a viagem até Konoha quanto a volta haviam sido extremamente cansativas para ele. Sem falar na consulta médica a que o pobrezinho fora submetido, e que o incomodara até às lágrimas.

Chovia forte quando Sakura terminou sua última tarefa. Dirigiu-se para a janela da cozinha, observando as mangueiras do pomar curvarem-se sob a força da ventania. Apesar das chuvas rotineiras, àquela hora costumava ser sossegada. Hora em que descansava após o trabalho do dia todo. Naquela tarde, no entanto, Sakura não conseguia dominar sua inquietação. E não sem motivos. Além da ansiedade e preocupação com a criança que dormia no quarto ao lado, viu-se tomada por uma estranha nostalgia ligada ao homem que era o pai de seu filho, O homem que nem mesmo sabia da existência do pequeno Yuzuke.

Pela primeira vez, desde o momento em que viu Sasuke no jardim abandonado do chalé, Sakura conseguiu pensar. E lembrar-se de como tudo havia acontecido.

Tinha acabado de completar dezoito anos, quando foi convidada para a festa das bodas de prata dos pais de Ino, sua melhor amiga.

A princípio, as duas ficaram a um canto, trocando novidades e fazendo comentários sobre os convidados. Foi então que, de repente, os olhos de Sakura pousaram no homem alto e moreno do outro lado do salão. Seus cabelos escuros e os traços perfeitos e aristocráticos destacavam-no das outras pessoas. Conversava com uma linda moça que parecia esforçar-se para prender a atenção dele. Ela falava e gesticulava muito, sorrindo encantadoramente. No entanto, ele parecia não ver a hora de se livrar dela. A postura rígida e a visível indiferença no rosto bonito revelavam sua impaciência.

— Quem é aquele homem? — Sakura perguntou à amiga.

— Sasuke Uchiha. É um retratista famoso. — Ino suspirou.

—Não é um “gato”?

Sakura riu da expressão, pensando que era pouco para aquele homem. Ele era simplesmente maravilhoso.

—Deve estar com uns vite e poucos anos. — Ino disse enpolgada e deu de ombros. — Venha. Vamos comer alguma coisa.

— Agora não. Estou sem fome. Vá você.

Sakura permaneceu onde estava, os olhos cravados em Sasuke. Não era muito dada a encarar as pessoas daquele modo, mas o magnetismo que emanava dele era tão forte que não podia evitar. Inesperadamente, ele ergueu a cabeça e a pegou em flagrante. Havia tanta gente na sala, que ela estava certa de passar despercebida. Quando seus olhares se encontraram, Sakura teve vontade de morrer, de tanta vergonha. Todavia, seus olhos se negaram a desviar-se dos dele. Era como se uma corrente invisível pairasse entre os dois.

O olhar dele fez com que prendesse a respiração. Antes que pudesse disfarçar seu embaraço, viu as sobrancelhas escuras erguerem-se interrogativamente, ao mesmo tempo em que um leve sorriso surgia nos lábios bem-feitos. Tudo aconteceu tão rápido que a moça que o acompanhava nem se deu conta do que ocorria.

Sakura virou a cabeça, à procura de Ino. Estava tremendo, e nem sabia ao certo por quê.

— Senhorita Haruno? — A voz era grave e vibrante.

Era incrível, mas, assim que ouviu aquela voz, ela soube a quem pertencia. Virou-se, surpresa, os olhos verdes mais brilhantes do que nunca.

— Como sabe meu nome? — murmurou, dizendo as primeiras palavras que lhe vieram à cabeça.

Os olhos escuros brilharam, divertidos.

— Não foi difícil descobrir. Imagino que saiba o meu.

— Oh, sim! — Mais uma vez as palavras saíram atabalhoadamente, para o desespero dela.

— Posso lhe oferecer uma bebida?

Era exatamente do que estava precisando: um copo para disfarçar-lhe o tremor nas mãos.

— Uma limonada, por favor.

Devia ter pedido algo mais forte! Será que nunca aprenderia a dizer a coisa certa? Sakura engoliu em seco enquanto o observava dirigir-se para o bar. Sasuke Uchiha. Tinha se lembrado do nome imediatamente. Era muito conhecido nos círculos artísticos de Osaka e ela até chegara a ver alguns de seus trabalhos. Com certeza, Sasuke era aquele tipo de homem que só anda em companhia de belas mulheres. A linda morena que o acompanhava até poucos minutos era uma prova disso. Resignada, Sakura pensou que, para ele, não passaria de uma garota ingênua e inexperiente.

Quando o viu atravessar o salão em sua direção, sentiu que voltava a ficar tensa. “Mostre a ele que pode ser tão sofisticada como qualquer outra!” disse a si mesma. Ergueu a cabeça e abriu seu melhor sorriso. Mas até esse simples gesto saiu ansioso e inseguro.

Buscava, desesperadamente, algo para dizer, quando ele tomou a iniciativa.

— Quero pintar você.

— Eu?! — Ela o fitou perplexa.

— Você.

Sasuke a olhava intensamente e Sakura esforçou-se para agir com naturalidade.

— Ora, mas não sou assim tão bonita.

— Não de acordo com os padrões convencionais de beleza— ele concordou, sorrindo.

— Como assim?

Algo brilhou nos olhos negros, como se Sasuke acabasse de fazer uma descoberta inesperada.

— Não sei... — murmurou, correndo um dedo pelo rosto macio de Sakura, traçando o contorno dos olhos verdes e descendo para os lábios carnudos e bem delineados.

Ela fez um grande esforço para permanecer imóvel. Esperou que ele dissesse mais alguma coisa, mas Sasuke deixou o braço cair ao lado do corpo.

— E então, Sakura?

Como seu nome soava natural, vindo daquela boca!

— E então? — ele repetiu, e ela se deu conta de que não havia respondido.

— Se é isso que quer. . . — murmurou, engolindo com dificuldade.

— É isso o que quero.

— E... quando devo ir ao seu estúdio, Sr. Uchiha?

— Sasuke — ele a corrigiu. — Ainda não a quero em meu estúdio, Sakura.

— Oh... — Ela o olhou confusa.

— Antes preciso conhecê-la. — Ele fez uma pausa, estudando-lhe o rosto e Sakura viu uma ponta de divertimento nos olhos negros. — Já vi a garota assustada — continuou demonstrando ter uma percepção alarmante —, e também uma pequena amostra da mulher que existe em você. Mas suspeito que nenhuma das duas é a verdadeira Sakura Haruno. . . É a Sakura real que desejo conhecer.

Assim tudo havia começado. Depois da festa, encontraram-se muitas vezes. No início, ela ainda insistia em camuflar sua verdadeira personalidade, tentando parecer mais velha e experiente. Mas, pouco a pouco, Sasuke conseguiu fazê-la relaxar e mostrar o que realmente era.

Passaram a frequentar as praias desertas de Konoha, onde as areias douradas e a beleza natural da paisagem eram um convite ao prazer. Nadavam juntos, caminhavam de mãos dadas pela beira da água e à noite, quando retornavam à cidade, Sasuke sempre a levava a algum lugar aconchegante, onde pudessem jantar e dançar. E ele dançava como um sonho. Quando a puxava para si, Sakura sentia-se derreter. Gostaria de poder ficar ali para sempre, com o corpo leve e dócil contra o dele.

De repente, havia descoberto que desejava muito posar para Sasuke porque estava apaixonada por ele. E essa revelação lhe havia trazido alegria e tristeza ao mesmo tempo. Estava sentindo coisas que jamais poderia imaginar possíveis. No entanto, sabia que aqueles momentos de magia chegariam ao fim quando os retratos estivessem prontos.

Para ela, as saídas com Sasuke eram fontes de amor e encantamento. Para ele, apenas um modo de conhecer mais a fundo sua modelo. Assim, podia vê-la de todos os modos: sorrindo, séria, pensativa. E os longos dias passados na praia serviam para que se familiarizasse com as curvas e formas de seu corpo.

Estavam dançando, quando ele a beijou pela primeira vez. Sakura sentiu os lábios quentes em seus cabelos e, quando pendeu a cabeça para trás, surpresa, suas bocas se encontraram. Foi um beijo suave, que não exigia nada além do que ela queria dar. Já fora beijada outras vezes, mas nunca daquele modo e, apesar de sua relativa inexperiência, pudera perceber a paixão e o desejo contidos no abraço que a envolvia.

Com a pista à meia-luz, não tivera vergonha de passar os braços pelo pescoço de Sasuke. Queria que aquele beijo continuasse, continuasse... Sentiu que os braços dele a apertavam e, então, à medida que mãos quentes moviam-se por suas costas e quadris, o beijo foi se tornando mais ardente.

Os lábios dele deixaram os dela devagar, para roçarem a pele macia de seu rosto e descerem por seu pescoço. Os acordes suaves pareciam embriagá-los e Sasuke tocou os cabelos sedosos com a boca, puxando-a para mais perto. Sakura fechou os olhos, sentindo a respiração entrecortada quando as pernas fortes moveram-se contra as suas, com uma sensualidade quase insuportável.

Precisava ficar mais perto dele. Sob o tecido macio da camisa, podia sentir a pele quente de Sasuke, mal sabendo o que fazia, abriu os primeiros botões e correu os lábios pelo peito moreno. Ele soltou um gemido abafado e Sakura pôde sentir-lhe as batidas do coração contra o rosto.

Sasuke não chegou a amá-la. Não podia amá-la. Mesmo porque, ela jamais poderia competir com as mulheres do mundo dele. Todavia, Sakura tinha certeza de que ele não havia ficado indiferente a ela. Só de saber que mexera com Sasuke, já sentia uma satisfação absurda.

A noite na pista de dança foi decisiva no relacionamento dos dois. A partir dali, quando saía com Sasuke, Sakura notava que ele já não a via como uma simples modelo. Havia algo mais em sua voz, algo mais em seu olhar, que fazia com que o coração dela ficasse aos saltos. Sasuke a acariciava com mais frequência e, toda vez que a beijava, seu abraço tornava-se tão intenso quanto o dela.

Ela o amava tanto, que não queria nem mesmo pensar no dia em que os retratos chegassem ao fim. Porque nesse dia o relacionamento estaria terminado.

As sessões eram periódicas. Duas vezes por semana, Sakura deixava a casa do irmão em Konoha para ir até onde Sasuke vivia e trabalhava. A casa, construída em uma das montanhas que cercavam a cidade, tinha uma vista maravilhosa do mar. Apenas o estúdio dava para os fundos, pois Sasuke não queria se distrair com a paisagem, mas era bem espaçoso e iluminado.

Sasori Haruno, o irmão de Sakura, e sua mulher, Min, a acolheram após o acidente de carro no qual ela tinha perdido os pais. Sakura sabia que ali era amada e querida, mas, a seu ver, ficaria com o irmão apenas temporariamente. Sentia-se grata pela preocupação que Sasori tinha por seu bem-estar; no entanto, queria viver sua própria vida, queria ser independente.

A princípio, Sasori se opusera às sessões, mas Sakura, pela primeira vez na vida, tinha resolvido não fazer caso das objeções do irmão. Era verdade que, de algum modo, Sasuke ainda era um enigma para ela; mas isso fazia parte do fascínio que o envolvia.

Sakura só sabia de uma coisa: Sasuke jamais seria capaz de fazer algo que pudesse feri-la.

Nunca ficava cansada quando posava para ele, pois amava vê-lo trabalhando. No estúdio, com um lápis e um papel na mão, Sasuke era outro homem.

Numa sexta-feira à tarde, observava, enlevada, a dedicação com que ele se entregava ao trabalho. Na parede, dois retratos já estavam pendurados, quase prontos. Ambos já estavam vendidos. Sasuke trabalhara neles toda a semana e, no entanto, sua disposição não diminuíra. Sakura sabia o quanto a exposição que estava por vir significava para ele, em termos de pura satisfação pessoal.

De vez em quando Sasuke erguia a cabeça para conferir algum detalhe do esboço. Às vezes, pego de surpresa pelo olhar embevecido de Sakura, sorria encantadoramente. Então voltava a se concentrar no trabalho, parecendo alheio a tudo e a todos.

Mas ela não se importava. Mais tarde, quando escurecesse, chegaria a sua vez. Deixariam o estúdio e subiriam para a cozinha, onde preparariam juntos uma refeição leve, regada a vinho. Sentaria perto dele e, quando a mão de Sasuke a tocasse, já não seria mais a mão de um artista, e sim a de um amante.

O tempo não atenuara seu desejo por ele. Aproveitava para observar Sasuke quando ele estava curvado sobre o trabalho. A calça cáqui caía-lhe como uma luva, enfatizando a rigidez das pernas musculosas, enquanto o suéter justo delineava os ombros largos. Suas mãos moviam-se com leveza sobre o papel. As mesmas mãos que podiam levá-la às alturas podiam também despejar magia numa folha em branco. Cabelos escuros e brilhantes caíam sobre a testa morena, para serem jogados para trás vez ou outra, num gesto que já se tornara característico. Sakura ansiava por correr os dedos por aqueles cabelos, mas obrigava-se a permanecer quieta. Amava Sasuke, e o admirava, quase com reverência. Sabia que, quando ele estava trabalhando, nada mais importava.

Às vezes perguntava a si mesma se conseguiria encontrar outro homem como Sasuke. As mãos morenas, a boca sensual e os olhos negros, aqueles olhos incríveis que, de um momento para outro, tornavam-se alertas, observadores, acariciantes. . . Tudo isso fazia parte dele, de um modo especial. O corpo atlético exalava uma aura de poder e confiança inigualáveis. Apenas uma palavra poderia definir a força que emanava dele: masculinidade.

Muitas mulheres sentiam-se atraídas por Sasuke Uchiha, Sakura desconfiava. Mas que tipo de mulher Sasuke acharia atraente? Para ser amada por ele, uma mulher teria que ser muito, mas muito especial. E em Sakura, que tinha certeza de sua própria inexperiência, tal ideia causava uma dor profunda.

— Sonhando acordada? — Sasuke a arrancou de seus devaneios.

Ela não tinha percebido que ele levantara a cabeça. Ele estava sorrindo e Sakura sentiu o coração bater mais depressa.

— Acho que sim.

— Devia ser alguma coisa muito especial. . . apesar de estar com um ar meio melancólico. — Ele a olhou intensamente, como se ansiasse por adivinhar seus pensamentos.

— Só estava pensando na vida. . . — Ela sorriu, embaraçada. Sasuke era observador demais para o seu gosto. Só faltava adivinhar o que ela estava pensando! Se adivinhasse, com certeza o relacionamento deles chegaria ao fim mais cedo do que se previa.

— Como está indo o trabalho? — perguntou, mudando de assunto.

— Muito bem.

— Posso vê-lo?

— Se quiser.

Sakura o fitou, surpresa. Até então, Sasuke nunca a deixara ver nenhum de seus esboços. Agora, apesar da aparente indiferença em sua voz, ela percebeu que havia algo mais em seu olhar. Algo que fez com que seu coração disparasse. Não sabia por que, mas sentia que alguma coisa iria acontecer. Desviou o olhar, tentando afastar aquela ideia absurda da cabeça. Seu amor por Sasuke atribuía a cada gesto, a cada palavra dele, significados nem de longe justificáveis.

A saia esvoaçante do vestido de chiffon branco farfalhou graciosamente de encontro às pernas esguias, quando ela desceu da plataforma. Sasuke continuou a fitá-la, impassível. A folha sobre o suporte era apenas uma entre muitas. Lentamente, Sakura olhou uma a uma, sem entender muito bem o que via, sem saber o que dizer. A garota dos retratos era muito jovem, muito vulnerável. Sua expressão era uma mistura de inocência e doçura, resultando numa aparência etérea que, como Sasuke dissera aquele dia na festa, não estava muito de acordo com os padrões convencionais de beleza. Será que havia um lado de seu ser que nem ela mesma reconhecia? Então era assim que Sasuke a via?

Virou-se para ele, engolindo com dificuldade, os olhos verdes brilhando de emoção. O rosto moreno também tinha uma expressão que ela jamais havia visto. Ternura? Afeição? Talvez ambas. E mais alguma coisa.

Queria dizer algo, mas, quando abriu a boca para falar, as palavras quase não saíram:

— Você. . é assim que você me vê?

— Assim mesmo.

A expressão de Sasuke era uma mistura de tensão e ansiedade. Sakura não conseguiu mais pensar. Só tinha consciência do quanto suas emoções eram desencontradas.

— Sasuke. . . — ela disse num sussurro, à medida que ele se aproximava. — Sasuke, por favor, beije-me.

Os lábios dele desceram sobre os dela, gentis a princípio, e então com uma ânsia que exigia uma resposta. Os lábios de Sakura abriram-se dóceis, sedentos, e seus braços o enlaçaram, as mãos mergulhando nos cabelos escuros e fartos.

Os braços que a envolviam retesaram-se por um momento e a soltaram. Sasuke ergueu a cabeça. Sakura abriu os olhos, confusa e desapontada. O rosto moreno continha um vazio que ela não conseguiu entender.

— Sasuke? — murmurou a voz embargada pela emoção.

— Sabe quantos anos eu tenho? — ele indagou, um pouco áspero.

— Vinte e sete.

— E você tem dezoito, Sakura. É apenas uma criança!

Então era isso. Devia ter imaginado. Sasuke havia desenhado uma criança. Por isso o ar etéreo, a inocência. Ideal, talvez, para a exposição, mas não para que sentisse vontade de fazer amor. Quando se tratava de uma relação mais íntima, ele queria uma mulher...

Mas ela era uma mulher! Tinha as emoções e as necessidades de uma mulher!

Não houve embaraço nem vergonha quando Sakura pressionou o corpo contra o dele. Só sabia que precisava provar uma coisa a Sasuke. Ouviu seu nome emergir de um gemido e, de repente, as mãos dele a puxavam para si, com fúria. Quando seus lábios tocaram os dele a chama do prazer correu por suas veias mais uma vez, num doce tormento.

Arqueou o corpo, quase instintivamente, sentindo o desejo crescer em Sasuke. Suas curvas suaves moldavam-se às linhas fortes do corpo dele com perfeição, como se jamais pudessem estar em outro lugar. Exultante, Sakura percebeu que ele também a queria. Agora, já não havia brandura nos lábios que exploravam, sugavam, atormentavam a maciez de sua boca e de seu pescoço, descendo para arrancar o tecido mole do vestido, em busca de seus seios. Só havia paixão e desejo fazendo com que todas as fibras de seu ser vibrassem. Não havia razão; apenas a consciência de que amava aquele homem e de que desejava ficar perto dele, ser parte dele.

Não o impediu de afastar o vestido de seus ombros, deixando que este escorregasse até o chão, indolente. Ficou diante dele, os seios redondos e firmes brilhando a luz do entardecer. Não fez menção de esconder o corpo com as mãos, pois havia uma espécie de adoração nos olhos de Sasuke que a impediu de fazer isso. E queria que ele a visse. . . por inteiro.

— Sakura... Sakura, você não tem idéia do que está acontecendo.

Mais uma vez ele se afastou ainda perseguido por escrúpulos.

— Sei muito bem o que está acontecendo, Sasuke. — Não havia culpa. Apenas uma felicidade que quase chegava à loucura na voz dela.

— Eu sou um homem, Sakura. — A voz dele tremeu. — Se eu lhe tocar agora, não vou conseguir parar mais.

— Eu não quero que pare.

Mais tarde, ela se perguntou que fim levaram todos os princípios que a haviam guiado até então. Mas, naquele momento, não permitia qualquer tipo de pergunta. Só existia o amor, e uma necessidade incontrolável de expressá-lo.

Do estúdio para o quarto, era apenas um lance de escada. Sasuke a ergueu nos braços, apertando-a contra si, com adoração. Sakura encostou o rosto no peito moreno, tonta com o perfume másculo que emanava dele. Ele a colocou na cama e a olhou. Um segundo depois, deitou-se sobre ela, com um suspiro.

— Não vá se arrepender depois, Sakura — disse rouco. — Não vá se arrepender.

Já era noite alta quando acordaram um nos braços do outro.

— Sakura. . - — ele indagou, num sussurro, voltando a acariciá-la. — Foi a primeira vez?

Havia algo de estranho em sua voz e ela o fitou, confusa. Os olhos escuros a olharam inescrutável. Ele estava preocupado, pensou, e uma nova onda de ternura a invadiu. Sasuke temia tê-la magoado.

— Sim — admitiu. — Foi a primeira vez.

Sakura pensou ouvi-lo gemer, mas não houve tempo para indagar por quê. Num segundo ele se curvava sobre ela, e um beijo afogou as palavras.


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