Shiver escrita por Aurora


Capítulo 19
You Can Own This Day


Notas iniciais do capítulo

Sim, demorei bastante para continuar, me perdoem, não vai acontecer de novo. Para compensar, fiz um bem maior e com altas pegações :3 Espero que gostem!



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O jazz suave escolhido por Luka escorria pelo lugar de luz erma. Todos lá dentro pareciam ter deixado as preocupações na porta, o que incluía Miku.

Sentia-se bem, completamente a favor do casamento de sua mãe, mesmo que no momento, fosse a última coisa que passasse em sua cabeça.

Escorava seu ombro em Rin, ambas sentadas no sofá carmim. Puxou o tornozelo mais para perto, tendo cuidado com a saia do vestido. Desarmou o fecho do salto, o tirando devagar e o colocando no chão, repetindo o processo com o outro pé.

A loura ao seu lado estava com os olhos fechados e cabeça recostada no sofá, mas estava bem acordada. Seus pés balançavam suavemente ao som da música, junto a cabeça.

Miku se levantou, carregando os sapatos para um lugar onde ninguém pudesse tropeçar neles.

Encostou-os a parede próxima a varanda, coincidentemente onde Kaito estava. Tinha tido a consideração pelos outros de se ausentar para um ambiente aberto onde pudesse aproveitar seu Marlboro sabor menta.

Sua mente mal teve o tempo necessário para processar a informação, pois seu lobo a impulsionou para frente, abrindo a porta de correr e passando para fora, fechando-a logo a seguir.

Kaito recostava os cotovelos na mureta de pedra que servia de proteção, enquanto não parecia nada preocupado com a presença dela ali. Tinha sua atenção voltada para outra coisa.

Não tinha muito o que dizer. No final das contas, era culpa da criatura com quem dividia um corpo estar ali agora, e sua vontade era de sair dali como se nada tivesse acontecido. Mas ao invés disso, decidiu levar as coisas com um pouco mais de maturidade.

– Algum problema? – Miku esperou alguns instantes antes que começasse a se aproximar devagar.

Kaito não respondeu. Na verdade, mal parecia ter notado que ela estava ali.

Ela andou mais alguns passos curtos na sua direção, tentando ver se ele só a estava ignorando. Não era o que parecia.

Deitou as mãos sobre o balaústre de um marfim fadado, espichando um pouco o pescoço para ver o que o mantinha tão distraído. As pálpebras estavam abaixadas e ele respirava devagar, como se tentasse fazer silêncio.

– É mais fácil ouvir com os outros sentidos desligados. – sua voz saiu calma e baixa, e seus olhos se abriram. Olhou na sua direção, o que fez Miku desviar o olhar instantaneamente.

– E o que queria ouvir?

Kaito abaixou o rosto para a rua, como se apontasse a resposta. Do outro lado, Miku conseguiu ver o mesmo casal fumante de mais cedo, os dois ainda parecendo bastante curiosos a respeito do que acontecia no apartamento.

– Nunca é bom deixar que cheguem perto demais, Miku. – Kaito falou, proferindo um olhar cortante como uma navalha para os dois. – Lembre-se disso.

Miku olhou para o casal mais uma vez, antes de assentir quietamente.

A calmaria reinou novamente entre os dois, e Miku inflou as bochechas com ar, incomodada. Queria parecer interessante e agradável, e provavelmente estava sendo apenas tediosa. Sentiu suas sobrancelhas se franzindo ao olhar para baixo. Porque se importava tanto de qualquer maneira?

– Tudo bem? – a voz de Kaito a acordou de seus devaneios, fazendo com que ela olhasse em sua direção. – Você está fazendo caretas há um tempo.

Sentiu seu rosto queimar em vergonha. E se tivesse dito algo em voz alta sem perceber?

Kaito riu ao ver o dilema que sua mente estava enfrentando. Passou o braço sobre seu ombro com um sorriso, a puxando e conduzindo-a para fora da sacada.

– Relaxe. – a palavra escapou de forma agradável, fazendo com que ela de fato relaxasse. – Vamos para dentro, beba um pouco, finja estar bêbada e durma um pouco.

Seu corpo se recostava numa pilastra que servia para sinalizar a entrada da cozinha, enquanto ria de Rin e Gakupo cantando alto no caraoquê portátil que Len tinha guardado em seu carro. Sabia que o exagero de Gakupo era pura fachada, mas o êxtase que Rin presenciava era mais que legítimo.

Luka, na cozinha, ria para si, enquanto servia-se um pouco de vinho. Len estirava-se no sofá, tentando se manter acordado para quando sua vez chegasse. Ao seu lado, Kaito escorava seu braço esquerdo sobre o recosto do sofá, enquanto eventualmente sua mão direita transportava o whisky de seu copo para sua boca.

Mantinha os olhos anis em Miku, e os lábios mantinham-se espichados num sorriso esbanjando relaxamento. Não sabia se era um motivo de desconforto ao um bom sinal, mas ela evitava deixar evidente que tinha o tinha notado observando-a.

Seus olhos avulsos quase não interpretaram a imagem que captavam. Rin, numa dança exasperada em meio a música, pisou para trás em falso, tropeçando na mesa de madeira que servia de apoio para taças e garrafas de vidro.

O objeto se virou para trás, e tudo que sustentava veio junto. O som de vários itens de vidro se quebrando simultaneamente fez que ela estremecesse, acordando para a realidade.

Rin pendeu o corpo para frente imediatamente, com uma mão sobre a boca e outra sobre a barriga, como se segurando algo de sair.

– Não me sinto bem. – sua voz saiu embargada e tremida, quase assustada. Gakupo lançou um olhar discreto e rápido para Luka, como se esperasse por instruções do que fazer. A mulher deu uma acenada com a cabeça, se aproximando com expressão preocupada.

– Acho que já vi dias melhores. – Gakupo apoiou-se nos joelhos, enquanto seu rosto adotava uma expressão enjoada.

– Olha essa bagunça – Rin ergueu o corpo novamente, olhando para os cacos de vidro espalhados pelo chão. – desculpe, Miku, vou arrumar isso...

– Não se preocupe – Miku avançou com um sorriso – vou dar um jeito nisso num instante. Mas você não parece muito bem.

– Talvez você devesse ir à um hospital tomar um pouco de glicose, Rin – Kaito aproximou-se do grupo, parecendo preocupado. – Não pode ficar forçando seu corpo com tanto álcool. Luka, leve ela e Gakupo para uma dose, e deixe o Len em casa, eu ajudo Miku a arrumar tudo.

Luka assentiu, pegando seu casaco e sendo acompanhada pelo resto do pessoal para fora. Quando a porta se fechou, Miku foi até a cozinha pegar uma sacola onde colocaria todos os maiores pedaços de vidro.

Ambos se abaixaram e começaram a recolher com cuidado os cacos, colocando todos dentro da sacola. Por sorte, o vidro não havia se quebrado em pedaços muito pequenos, então a maioria deles foi facilmente recolhida.

Miku se levantou para jogar fora os restos de vidro, quando um raio cortou o céu com ferocidade, absurdamente perto de seu apartamento. As luzes farfalharam um pouco, nada sério.

Seguiu seu caminho até a lixeira, vendo pelas janelas que os raios se tornavam cada vez mais frequentes.

Enquanto voltava para a sala planejando mentalmente algum agradecimento educado para dar a Kaito, um barulho seco e oco preencheu todo o prédio, e as luzes piscaram antes de se apagarem de vez.

Era claro que um raio havia atingido seu prédio, e o gerador provavelmente se sobrecarregou.

– Miku? – a voz de Kaito saiu do breu, e ela parou de andar. Não estava nada acostumada com o novo ambiente, e estava com medo de se esbarrar num pilar ou móvel.

– Sim?

– Onde você está? – pelo barulho de tecido sendo esfregado em tecido, Miku deduziu que Kaito havia levantado do chão.

– Hã... – ela tentou se lembrar de onde estava antes que as luzes se desligassem, mas a memória de devaneios não era uma grande ajuda. Estendeu os braços em várias direções, tentando achar algo para se agarrar. Suas mãos encontraram uma parede sólida e sem beiras, o que foi até confortante. – Acho que estou entrando na sala. Ou na cozinha. Não tenho certeza.

– Fale de novo. – a voz de Kaito agora estava mais a sua esquerda – Vou tentar te achar.

– Deveria procurar velas.

– Não preciso de velas.

– Elas estão na cômoda perto da varanda.

Não preciso de velas! quase como se para contrariar, Miku ouviu o barulho de algo se chocando com madeira, e a voz de Kaito praguejando.

– Acho que precisa de velas agora. – ela riu imaginando a cena, e pela voz, ele ria também.

– Calada! Estou chegando perto. Eu acho. – bem, sua voz estava próxima, mas Miku não disse mais nada. Queria ver se ele se perderia no escuro se sua voz não se manifestasse mais. – Miku? Miku? Miku, responda! Eu sei o que está fazendo, e não vai funcionar!

Ela teve que morder o lábio para segurar o riso. Sentia como uma criança brincando de esconde-esconde, e a sensação era boa.

Como uma surpresa, Miku sentiu seu corpo ser empurrado por um peso maior para baixo, mesmo não tendo sentido quase nada ao se chocar contra o chão. Seus olhos se fecharam na hora, e ela manteve os braços juntos ao corpo como se andasse em uma montanha-russa.

– É, te achei. – a voz de Kaito soou acima de seu corpo, fazendo que seus olhos se abrissem, mesmo que não pudesse ver nada. A simples ideia de que Kaito estivesse sobre seu corpo no escuro a deu arrepios, e não no jeito ruim.

– O que está fazendo? – falou mais baixo do que deveria, encolhendo-se um pouco.

Conseguiu ouvir uma risada escapando.

– Algo que quero fazer há muito tempo. – assim que a frase foi finalizada Miku sentiu um contato macio e quente em seu pescoço, e foi quando percebeu que Kaito havia posto seu rosto lá.

Realmente não tinha ideia de como responder a isso, mesmo que sentisse que seu corpo pertencesse apenas a seus instintos naquele momento.

O toque era leve e responsável por deixá-la num estado de pré-êxtase. Sentia que ele subia o rosto na direção de seu próprio, com uma velocidade que dizia “você ainda pode me dizer se quiser que eu pare”. Mas ela não queria que parasse.

O momento em que ele finalmente a beijou foi o mesmo em que as correntes da timidez e vergonha se romperam e ela finalmente pudesse relaxar. Era como se esperasse por aquilo a mais tempo do que gostaria de admitir.

Os dedos escorriam entre os cabelos curtos de sua nuca, enquanto as grandes mãos passeavam por seu corpo como se tivessem há muito a permissão para tal.

Estava entregue. Mesmo que se perguntassem sua resposta seria uma negação, sabia que a partir daquele instante, pertencia a ele e a mais ninguém.

O modo em que Kaito a pressionava contra o chão apenas fazia com que ela quisesse mais. Sabia que era intenso demais para um primeiro contato daquele tipo, mas ela queria que ele a tomasse. E algo a dizia que não era um desejo apenas do momento.

As luzes voltaram com ardência e quase a queimaram. Afastaram-se imediatamente, como se os olhos do mundo tivessem se voltado para eles.

Kaito a olhava nos olhos, e ela conseguia ver nas íris azuis que ele estava se controlando.

– Eu poderia te devorar. – a voz saiu rouca e quase pesarosa.

Ela engoliu em seco, apoiando-se nos cotovelos para se sentar.

– Está indo muito rápido. – ela disse, mesmo que quisesse que tudo fosse muito rápido, e demorasse uma eternidade para acabar.

– Funciona assim onde eu venho. – voltou a enterrar o rosto em seu pescoço, sem economizar beijos ou sussurros ali.

– Me leve para jantar. – falou, querendo afastá-lo mas sem forças para tal. Kaito afastou-se por si só, a encarando com um sorriso no rosto.

– Te levar para jantar?

– Isso. – ela concordou, colocando a mão sobre seu rosto e olhando para baixo, sorrindo. – Seja engraçado e critique a comida. Depois me leve para sua casa, me mostre seus desenhos e seus livros favoritos de Hemingway. Olhe nos meus olhos por um tempo sem dizer nada, e então sim, serei sua para fazer o que quiser.

Kaito suspirou, olhando bem para ela antes de responder.

– Sábado. Oito horas. Nada de atrasos.


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Notas finais do capítulo

Espero mesmo que tenham gostado. Talvez eu continue nessa semana, comentem!



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