Shiver escrita por Aurora


Capítulo 18
A Rush of Blood to the Head


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/533911/chapter/18

O cheiro forte de amaciante e perfume exagerado impregnava cada canto da loja, quase a deixando sem ar.

Sua mãe, do outro lado, rodopiava dentro de um vestido branco e pomposo, que não era exatamente adequado.

– O que acha? – ela perguntou, falando diretamente para Miku. Luka estava ao lado da mãe, fingindo estar gostando das vestes escolhidas.

– Acho que está ostensivo demais para alguém que vai se casar de novo na sua idade.

A mulher emburrou-se imediatamente, fazendo um bico grande e vetando-se ao espelho, como se no fundo concordasse, mas estivesse envergonhada demais para admitir.

– Miku! – Luka repreendeu. Cruzou os braços e encarou a irmã, como se esperasse desculpas.

– O que?! Ela sabe disso, não é nenhuma criança para ficar brincando de vestido de conto-de-fadas!

Luka bufou, voltando-se para a mãe como em busca de consolá-la.

Miku não estava com paciência alguma para aquilo. Havia finalmente achado um pequeno “estúdio-apartamento” no centro e ainda precisava encaixotar tudo para ir embora.

Levantou-se do banco em que sentava e foi para fora da loja. O clima frio era tortuoso, mas aquilo não a incomodava de verdade.

Puxou o celular para fora do bolso e mandou a mesma mensagem para quatro pessoas.

“Será que seria pedir muito uma mãozinha na mudança hoje?”

Desceu os degraus da varanda carregando uma caixa média que servia de suporte para uma caixa pequena. Colocava algumas caixas em seu carro e outras no jeep de Gakupo, enquanto todos a ajudavam.

Não passava de duas da tarde quando Len levou para fora a última caixa da mudança. Alguns raios frágeis de sol escapavam dentre nuvens, como que um consolo.

– Muito obrigada mesmo, pessoal! – ela esfregou as mãos uma na outra, tentando aquecê-las. – Não fazem ideia do quanto me ajudaram hoje.

– Não há de quê – Rin respondeu, se mostrando inofensivamente superior como sempre. – porque não arrumamos tudo agora e fazemos um jantar para comemorar? Sabe? Freedom, girl¹!

– Não vejo porque não! – ela sorriu, afinal, era o mínimo que podia fazer para agradecer. – Rin e Len, vocês me ajudam a arrumar o apartamento enquanto eu cozinho. Quando estiver tudo pronto, o resto do pessoal vem e fazemos um reggae genuinamente americano, que tal?

Não houve objeções. Rin, Len e Miku seguiram para o estúdio no centro, enquanto cada qual foi para sua casa.

Quando chegaram, até que não se depararam com uma cena tão feia. O apartamento era adorável. Um típico estúdio americano, com as paredes de tijolos vermelhos, colunas e poucas divisões de cômodos.

O casal ariano ficou encarregado em desempacotar as coisas enquanto Miku mostrava suas grandes capacidades culinárias com apenas um balcão vazio, uma geladeira com poucos ingredientes e um fogão.

Seis da tarde, com o trabalho terminado, Rin e Len se retiraram para voltarem mais tarde, e Miku foi se arrumar.

Tomou uma ducha apressada, pondo-se a escolher uma roupa a sua disposição. Um vestido vermelho e justo foi sua ida, junto com saltos negros e arrumados. Fez a mesma maquiagem de sempre, borrifando perfume nos pulsos e atrás das orelhas.

Teve a impressão de ter ouvido seu celular vibrar sobre a recém-montada cômoda, se dirigindo até lá. O tomou em mãos, mas não antes de olhar pela janela. Viu na rua um homem e uma mulher tragando cigarros. Seria uma cena comum em qualquer cidade, se eles não estivessem parecendo obcecados até demais a respeito de seu apartamento.

Deixar o pensamento de lado pareceu a melhor escolha no momento, e ela voltou-se para o celular novamente.

Não havia nada de novo, mas logo uma ideia surgiu em sua mente.

Antes que pudesse decidir entre executá-la ou não, seus dedos já trabalhavam sobre a tela. Sem perceber o que fazia, a mensagem já havia sido enviada.

“Você vai vir hoje, não é? Espero que já esteja tudo bem com o que aconteceu na floresta semana passada.

Xoxo²

Miku.”

O som de mensagem enviada fez que ela percebesse o que havia acontecido. Havia acabado de mandar uma mensagem extra sugestiva para Kaito, e a queda da ficha foi equivalente a um tapa no rosto.

Ótimo! Agora ele vai achar que eu sou uma vadia desgarrada e insensível! Perfeito!

A aparência de uma nova mensagem em sua tela fez que todos os pensamentos se esvaíssem e um frio vazio preenchesse seu peito com ânsia.

“Espero que sim. Evito pensar no que aconteceu, e espero poder ir. Quero vê-la. Estava linda hoje mais cedo.

Xoxo

Kaito.”

Seu coração quase saiu pela boca ao ler a mensagem. Não se lembrava a última vez que alguém havia a feito sentir algo do tipo, e tudo que conseguiu fazer foi jogar o celular na cama e respirar fundo.

Seria uma longa noite, afinal.

O relógio vintage que decorava sua cozinha marcava dez e quinze. Gakupo e Luka eram os únicos que haviam chegado, conversando descontraidamente enquanto Miku ajustava alguma música agradável em seu estéreo.

O som saía com suavidade quando a campainha tocou. Ela se apressou em abrir a porta, se deparando com as “almas gêmeas”.

Uma pontada de decepção a atingiu, mas ela não deixou isso se mostrar.

– Entrem, por favor! – ela abriu espaço para que eles passassem.

– Que cheiro delicioso! – Len elogiou, não disfarçando ao respirar fundo o aroma da casa.

– Espero que gostem de ravióli, porque é a única coisa que cozinho bem!

Eles se sentaram no sofá quando Miku foi checar na cozinha para ver se Gakupo e Luka conseguiam fazer tudo. Gakupo abria uma garrafa de champanhe enquanto Luka procurava por taças dentro das caixas.

Miku avançou na direção da irmã, já sabendo onde cada coisa estava.

– Desculpe – ela sorriu, tirando seis taças de uma caixa pequena – não tive tempo de desempacotar tudo ainda.

– Não se preocupe. Você arrumou tudo muito bem para quem teve só uma tarde, além de que o ravióli parece maravilhoso. – Luka sorriu, levando as taças para que Gakupo as enchesse.

A campainha tocou novamente e Miku pediu a licença do casal para atender a porta.

Ao abri-la, encontrou Kaito parecendo apressado e um tanto molhado.

– O que aconteceu?! – sua expressão desmoronou-se ao vê-lo. O puxou para dentro, fechando a porta logo atrás.

– Espero que goste de Romanée. – ele sorriu, entregando a ela a garrafa de vinho que carregava. Ela a tomou e colocou sobre a mesa de jantar mas ainda aguardando uma resposta. – Acho que não percebeu a chuva lá fora.

– Você deve estar congelando – ela não pediu permissão para arrancar o blazer molhado de Kaito. – vou colocar na secadora. Em vinte minutos deve estar novo em folha.

Ele sorriu, avançando gentilmente para dar um beijo corrido em sua testa.

– Você é um anjo.

O rubor em todo seu rosto pareceu não querer ser contido de maneira alguma. Ela avançou rapidamente para a lavanderia bagunçada de sua casa, fechando a porta logo atrás. Colocou cuidadosamente o blazer dentro da secadora, escorando-se na parede logo em seguida.

Um sorriso pimpolho surgiu em seus lábios e ela piscou.

A noite é uma criança. Vamos ver o que ela trouxe.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vocabulário: ¹Freedom, girl - Libertade, garota
²Xoxo - gíria americana equivalente a "beijos e abraços"



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Shiver" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.