Shiver escrita por Aurora


Capítulo 17
We're Burning Down the Highway Skyline


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem desse capítulo, não aconteceu muita coisa na verdade, mas eu pretendo compensar no próximo!



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Ela abriu a porta da loja com força, sentindo o vendo forte se chocar contra seu corpo pequeno instantaneamente.

Luka e Gakupo correram na sua direção com expressões claramente preocupadas.

– O que foi aquilo? – Gakupo perguntou espiando rapidamente dentro da loja e olhando novamente para Miku.

– Um cara entrou na loja querendo assaltar o caixa – ela tomou ar antes de continuar, sentindo as pernas tremendo, extasiadas de adrenalina. – e atirou nele cinco vezes. Para que lado eles foram? Vocês viram?

– Você não vai atrás deles, está maluca? – Luka repreendeu com um olhar exaltado. Miku arqueou as sobrancelhas e recuou um passo.

– Claro que vou!

– Esse cara estava armado! E se fizer alguma coisa com você?

– Não vai, está assustado demais pra pensar em sequer fazer alguma coisa comigo. Eu vou ficar bem, relaxe.

Assumindo que nem Luka ou Gakupo lhe informariam para que lado haviam seguido, Miku acossou uma trilha muito leve de sangue que saía do chão de concreto do posto e se dirigia para um início de reserva aos fundos.

Apressou o passo para que não ficasse para trás. Sua maior preocupação não era se Kaito estava bem, pois ela sabia que estava. A aflição era que ele fizesse algo que fosse se arrepender depois. Estava transtornado em raiva, não havia dúvidas, e se chegasse ao assaltante antes dela, só a ideia do que ele podia fazer transtornava seu estômago.

A parte de floresta que se seguia a sua frente era curta e ela percebeu a presença de algumas pequenas cabanas com famílias exasperadas nas portas. Estava seguindo no caminho certo.

Um homem gordo e sem camisa se recostava na grade de sua varanda com uma garrafa de cerveja entre dedos.

– Com licença – ela chamou, tentando esconder a ansiedade nascente – o senhor viu dois homens passando por aqui?

– Todos viram. – ele se referiu às outras pessoas apontando com a garrafa, dando um sorriso amarelo e amargo logo depois. – Rapazes estranhos. Um estava tão ensanguentado quanto uma vaca dando a luz. O outro parecia ter visto o Diabo em carne e osso.

– Para que lado foram?

– Para o sitiozinho dos Greene. É logo por ali, com cercas pequenas e velhas e algumas galinhas. Não tem erro.

Agradeceu com um aceno e começou a correr na direção que lhe fora apontada. Não tardou muito para que a vista descrita se revelasse, cercas pequenas com aspecto frágil entre árvores altas, uma casa pequena e sem cuidado algum, parecendo há muito abandonada. Contou sete galinhas extremamente alvoraçadas com alguma coisa e logo sua audição apurou-se o bastante para que captasse o baixo ruído de uma respiração um pouco cansada, vindo de trás da casa.

Um poço antigo e de pedras se mostrava, com a madeira de suporte para baldes parecendo estar realmente forçada. Uma corda se dependurava dali para dentro do poço, parecendo fazer uma força grande para não se romper. Olhando para o lado, viu Kaito curvado para frente, abaixado no chão, sozinho. Havia jogado a camisa tingida de vermelho para longe, e sua mão repousava sobre o tórax.

Miku avançou em sua direção, deixando todo o resto de lado.

– Você está bem? – ela se abaixou ao seu lado, só então ouvindo como a própria pergunta havia soado patética no contexto. Reparou que à frente de Kaito, duas pequenas balas de ferro amaçadas e comprimidas estavam caídas no chão, e que ele praticamente fazia força para que as outras saíssem.

O próprio som do ferro se rastejando entre a carne macia fazia com que ela sentisse a agonia na própria pele. Seu corpo expulsava a matéria estranha de forma extraordinária, e mesmo que parecesse estranho, Kaito não parecia sentir quase nada.

O barulho das pequenas peças ferruginosas se chocando no chão fez que seus dentes se trincassem. A última parecia não querer sair, então ele simplesmente a puxou para fora, a jogando perto das outras.

Com um suspiro de alívio, Kaito soltou seu corpo sobre o chão, se deitando e fechando os olhos. Um sorriso raposo surgiu, e de pálpebras baixas, ele assentiu.

– Não podia estar melhor.

O som de uma corda rangendo por exercer muita força se destacou na atmosfera e Miku voltou rapidamente sua atenção para o poço.

Sua mente começava a ligar os pontos com facilidade, e ela sentiu sua boca se tornando uma linha e as pálpebras se abaixando um pouco.

– Onde está o homem?

Não houve resposta. Tudo que teve foi o som da respiração cansada de Kaito e dos galhos das árvores tocando uns aos outros.

Ela começava a se levantar para ir na direção do poço quando a mão de Kaito alcançou seu pulso e a puxou de volta. Seus olhos estavam abertos e pareciam olhos de gatos, em um tom mais claro e esquivo, de algumas perspectivas até feroz.

– Você não vai querer ver aquilo.

– Ele não pode ficar lá. Crianças moram a poucos metros daqui, não devem crescer com uma imagem dessas cravadas em suas lembranças.

– Eu o tiro de lá. Só me dê dois minutos para recuperar o fôlego.

Batendo com a pá sobre a terra recém-cavada, Kaito terminou o túmulo improvisado do assaltante.

Não havia deixado que Miku visse o corpo do homem momento nenhum. No fundo da casa havia achado a pá e alguns gravetos. Alguns metros para longe do pequeno sítio inabitado, cavou fundo, colocando o corpo lá dentro.

Mesmo não sendo um homem religioso, tinha construído uma cruz de madeira improvisada, colocando sobre o indigente.

Miku estava desapontada. Mesmo que não tivesse aprovado o que Kaito havia feito, ela mesma não conseguia pensar no que teria feito em seu lugar.

Não era uma questão de vingança realmente dita, ela sabia disso. Tinha a ver com a adrenalina do momento e a crescente raiva por uma tentativa de homicídio, e ela tentava entender isso.

Olhando para Kaito, três ou quatro metros de distância, via que ele se arrependia. E era isso que a dava um pouco de alívio, saber que ele não era um homem de sangue frio que sentia prazer nesse tipo de coisa.

Ele se aproximou com cuidado, passando longe do túmulo improvisado.

– Vamos. Vou te deixar com a Luka para que tome seu rumo. – sua voz era angustiada e seus olhos estavam apagados.

– O que você vai fazer?

– Preciso falar com Al. Ele não vai gostar nada de saber disso, mas é minha obrigação.

Ela viu o que Kaito sentia naquele momento. Estava envergonhado. Com vergonha por ter feito o que fez, e ela sabia que a pior punição viria dele mesmo.

– Eu posso voltar sozinha, não se preocupe. – Miku tocou seu ombro e tentou da o sorriso mais reconfortante que tinha em estoque. Ele pareceu agradecido. – Não se corroa com isso. Acidentes acontecem, e nós os superamos.

Ele se afastou devagar, sem olhá-la por um instante.

– Não foi um acidente.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim! Comentem, digam o que acharam e o que querem para o próximo, que até agora está em branco!



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