Shiver escrita por Aurora


Capítulo 15
Blue Eyes and Wandering Lips


Notas iniciais do capítulo

Sim, continuei superrápido, mas fazer o que? To empolgada!



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Suas mãos estavam geladas por baixo das cobertas, e ela enterrava o nariz no travesseiro numa tentativa desesperada de esquentá-lo.

Seu aquecedor, no outro lado do quarto, fingia que estava aquecendo alguma coisa, quando na verdade só fazia muito barulho por nada.

Jogou as cobertas para o lado rapidamente, antes que pudesse se arrepender. O frio a banhou inteiramente, entrando em seus pulmões e congelando até o que ela acreditava ser sua alma.

Trotou nas pontas dos pés até o tapete que ficava na frente do seu armário, assobiando de alivio quando sentiu que estava quente. Agarrou uma blusa de frio, um casaco grosso, jeans e um Vans que algum dia havia sido vermelho.

Vestiu-se apressada, escovou os dentes e saiu do quarto. Desceu os degraus de três em três, chegando ao térreo em questão de segundos.

Estava prestes a sair de casa para o trabalho, quando uma imagem estranha a parou.

Dezenas, talvez centenas deles. Brancos, azuis, rosas e com bordas douradas, bolos de todos os tamanhos e formas, massas e recheios.

Miku tinha certeza que sua expressão deveria estar hilária, e desejou graças por ninguém estar lá para vê-la.

– Mãe? – ela perguntou, ouvindo duas vozes femininas vindas da cozinha. Driblou alguns bolos, tendo cuidado para não derrubar nenhum. Dentro da cozinha, sua mãe conversava com uma mulher. Era jovem, cabelos Chanel castanhos e olhos amendoados. Usava um terninho, saltos, segurava uma prancheta num antebraço enquanto o outro acenava, rindo de uma piada.

Como se tivesse pisado em um prego, Miku parou de andar imediatamente. Ela não era uma pessoa qualquer. Era tão lobisomem quanto ela. E de um status muito, muito maior.

O terror a preencheu por completo, mesmo que ela não soubesse o porque exatamente. Aquela mulher não parecia ameaçadora de maneira alguma.

– Filha! Maravilha, bem na hora. Estávamos decidindo que bolo usar no casamento. Porque não se junta a nós?

A desconfiança não era difícil de ser notada. A mulher sorriu para ela de forma tão amigável que Miku quase esqueceu que estava com medo.

– Não posso.- ela levantou as chaves do Spyder, balançando-as. – Tenho trabalho.

– Me chamo Meiko – completamente fora de contexto, a mulher se apresentou, erguendo a mão e avançando na sua direção. Foi tão de repente que Miku não pôde evitar tropeçar para trás também, como se a mulher apontasse uma arma na sua direção.

Ao perceber o quão estranho havia soado, apertou a mão de Meiko, forçando o melhor sorriso que tinha para dar.

– Miku. – se apresentou, soltando-se da moça o mais rápido possível.

– Vou ser a organizadora do casamento de sua mãe. Acho que ainda vamos ver bastante uma da outra.

– Ótimo. – não teve a intenção de soar desinteressada e provavelmente desconfortável, mas foi o que aconteceu.

– Ora, o que há! – como se tivesse intimidade para isso, a mulher passou o braço por trás de seu corpo e a abraçou, outra vez, completamente fora de contexto. – Parece que tem medo de organizadoras de casamento!

Tendo cuidado para ser discreta, se afastou da mulher e deu outro de seus maravilhosos sorrisos que deveriam rendê-la o Oscar.

– Só estou um pouco atrasada mesmo. Vejo vocês em breve, espero.

Estacionou seu carro na vaga de funcionários e entrou pelas portas do fundo. Pendurou seu casaco em seu armário e colocou o traje da lanchonete, prendendo os cabelos e avançando direto para o caixa.

– Bom dia, chefia. – cumprimentou a Gumi, quando passou por ela.

– Miku, ainda bem que chegou. Escute, eu vou viajar por três dias e se não for muito incômodo, gostaria que tomasse conta da loja enquanto isso.

– Sem problemas.

– Certo. Vou daqui a uma semana, deixo as chaves e todo o resto na sua casa quando estiver indo, ok?

Miku assentiu, voltando-se para o caixa enquanto batucava com as unhas sobre a madeira.

Como costumeiro, o movimento só começou realmente por volta das dez da matina, quando as pessoas vinham para tomar café ou só conversar mesmo.

Olhando pela vidraça, Miku viu uma moto preta parando no outro lado da rua, e um certo motoqueiro indiscriminado passar pela porta e ir direto para o caixa.

– Bom dia senhor, o que vai querer? – ela fez só para provocar. Kaito riu, colocando o capacete sobre o balcão e se debruçando sobre ele.

– Só vim ver como está pior atendente que essa loja já viu.

– Cuidado, é essa atendente que leva sua comida.

Ele riu novamente, a fitando por alguns instantes antes de voltar a falar.

– Sério, só vim ver como você estava. Passei na sua casa, mas você não estava, então só pude presumir que viria para cá.

– Estou bem. Eu ia até ver o doutor besta, mas meu ombro estava tão bom que não achei necessário. Só estão as aparências, porque mal sinto nada.

– Maravilha. Nesse caso, as boas notícias pedem boa comida para acompanhar. Porque não tira vinte minutos de folga e comemos um dos bolos de mel que são a especiaria da casa?

Mesmo que se sentisse lisonjeada, e que quisesse muito aceitar, não podia. Já havia faltado o trabalho várias vezes, e Gumi não deixaria de jeito nenhum.

– Pode ir. – a voz da chefe foi uma enorme contradição perante o que ela havia acabado de pensar, e só então ela percebeu que Gumi estava ouvindo a conversa o tempo todo. – Eu levo o bolo. Não precisa se preocupar, não estamos com todo esse movimento.

Mesmo que repreendesse muito a chefe por isso, não tinha como negar. Sentou-se com Kaito numa mesa do lado de fora, soltando os cabelos aliviada.

– Uma maravilha que hoje não esteja chovendo. – como se estivessem numa incrível falta de assunto, Kaito achou importante ressaltar, fazendo com que ela risse.

Conhecia bem esse tipo de conversa. Ele estava constrangido. Será que acha que é um encontro?

Um pensamento brotou em sua cabeça com tanta velocidade que ela não pôde impedir os lábios de transmiti-lo.

– O que você quis dizer ontem sobre aquele papo de irmãos?

Ele arqueou as sobrancelhas e abriu um sorriso, surpreso.

– Se prendendo a pequenos detalhes, huh? – cruzou os braços, estirando-se na cadeira.

– Diga.

– Não tem nada para dizer. Al e eu somos irmãos, é isso.

– Ah, prevejo com meus dons psíquicos de mulher-lobo que essa é uma daquelas histórias dramáticas e antigas, não é?

Outra risada, um olhar distante e concessão.

– Certamente. Só temos o mesmo pai, eu nasci de outra mulher. Já faz tanto tempo, mal me lembro direito o que aconteceu.

– Você não pode simplesmente despertar minha curiosidade e tentar enterrá-la logo depois, sabia?

Ele suspirou enquanto sorria, olhando para ela.

– Eu era um corsário. Nasci em 1733, na Holanda, durante o inverno. Quando eu era menino, meu pai sempre levava a mim e a Al para vermos o mar, quando ele viajava. Era um artista, e sempre vinha de lá pra cá, levando sua arte para seu apadrinhador. Eu devo ter sido o único da família que se apaixonou daquela forma pelo oceano. Claro que a história teve muitos detalhes, mas eu sabia que queria pertencer ao mar. Quando tinha idade, o governo holandês me deu uma carta de corso, e um capitão com navio.

Ele parou de falar quase imediatamente quando a porta se abriu e Gumi saiu da lanchonete, trazendo consigo os dois bolos de mel. Kaito esperou que ela entrasse e então, continuou sua história.

– Mas o tempo foi passando. Foi passando e cada vez mais, eu via que Al estava diferente. Quando fiz vinte e um anos, estava na Inglaterra, recebi uma carta dizendo que meu pai havia falecido. Foi a primeira vez em anos que tinha que ficar longe do mar, para atender ao enterro. Foi tudo muito rápido. Quando voltei para Holanda, Al já havia se transformado. Não demorou duas noites para que eu virasse um também. Bem, não tem muito mais o que dizer. Precisava caçar sempre, além de ter surtos o tempo todo. Não há muitos usos para um lobo enorme no meio do oceano.

– E então?

– E então Al conheceu Gakupo que aportava na França clandestinamente. Ele já era lobo muito antes de nós. Tinha trazido novas sobre o “mundo novo”. Viemos para a América onde cada um exerce sua função desde então. Achamos melhor fazer Al o alfa. Era o mais controlado. Tudo vêm sido bem rotineiro desde então. – ele tentou segurar uma risada – Até você se meter numa briga com outro alfa.

– Enquanto a isso, desculpe...

– Não se desculpe. Estávamos precisando de algo assim há muito tempo.

Uma golfada de ar forte chochou-se contra ela, fazendo com que seu cabelo voasse junto com ele. Miku riu e foi habilidosa para arrumá-lo novamente.

– Que cheiro é esse? – Kaito pronunciou-se do nada. Começou a respirar fundo o ar, como um cachorro farejador. – Esse perfume. Está sentindo?

Ela franziu as sobrancelhas e respirou fundo. Sentia uma olência fraca, mas nada que parecia digno de atenção.

Kaito levantou-se e foi na sua direção. Sem permissão alguma, tomou suas mãos e começou a cheirá-las, realmente como se fosse algum tipo de cão.

Subiu até seu pescoço e, mesmo que ela soubesse que ele fazia aquilo sem malícia alguma, as outras pessoas podiam não saber.

Se afastou com pressa, quase que assustado.

– Onde conseguiu esse perfume?

Ela puxou os cabelos e os farejou, mas não sentia nada demais.

– É muito ruim?

– Só uma pessoa usa esse perfume. E você não vai querer encontrar com ela.


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Notas finais do capítulo

Sim, tá enorme, desculpa! Espero que tenham gostado!